FanFic: "Como não se apaixonar?" (+18) - CONTINUAÇÃO - Parte 1

Autora: Marícia Jackson

Autora: Marícia Jackson

OBS: Olá,meninas!! Infelizmente o tópico original da Fic está com problemas e devido à isso tive que abrir outra postagem,então a continuação estará aqui. Para ler os capítulos anteriores é só voltar no post original

Fic do capítulo 1 até o 25, nesse link Capítulos anteriores

Beijos e boa leitura! :*

Capítulo 26

Michael

      Isso só pode ser um pesadelo. Mercedes não podia ter visto esse beijo. Por que ela teve que aparecer justamente quando Dominique me agarrou? Sim,porque foi isso que aconteceu. Eu estava conversando com alguns amigos quando Dominique me chamou para dançar uma música com ela. 
    A princípio é claro que arrumei uma desculpa para recusar,mas ela insistiu tanto e eu, como já estava de saco da festa,aceitei seu convite para poder me distrair. Só que eu não imaginava que ela iria me agarrar e roubar um beijo meu. Eu fiquei sem ação e mais ainda quando escutei a voz ditadora do meu pai confrontando Mercedes.
Eu queria ir atrás dela, implorar para que me escutasse,mas a confusão era tão grande que conseguir me desvencilhar do meu pai foi uma tarefa quase impossível. 
    O tapa que recebi dela não doeu mais do que a forma como ela olhava pra mim,com nojo e desprezo. Nem o ataque do meu pai ou as futuras consequências me importavam. O único medo que me apavora é de Mercedes me expulsar de vez da sua vida.
    Eu ainda estava ajoelhado na calçada,me sentindo apático com toda a cena que havia desenrolado quando senti meu braço sendo puxado violentamente. Os olhos do meu pai queimavam como brasa, de puro ódio.

-Você vem comigo! - vociferou

-Mas o que é isso? - exasperei quando seus seguranças me pegaram pelo braço. Eu estava sendo tratado como um criminoso

   Eles me puxavam pelo braço, mantendo a displicência. É óbvio que meu pai não admitiria um escândalo na sua festa,mas eu sabia que seu castigo seria o mais severo que eu possa imaginar. 
Senti meu corpo estremecer quando ficamos a sós em seu escritório. Meu pai trancou a porta e permaneceu de costas para mim, mantendo o silêncio. Eu não sabia o que dizer ou o que falar. Mas uma coisa é certa, eu não vou negar que conheço Mercedes e mais, contarei que nós dois somos namorados.

-Sabe.. Eu sempre soube que um dia você me ia me trair.. - disse espantosamente calmo, ainda de costas para mim - Só não esperava que seria desse jeito..

-Pai, do que você está falando? - ele se virou, me fitando como se eu fosse um cínico

-Chega do teatro,chega.. Eu já sei de tudo. Sei que está se enroscando com aquela desgraçada que quer me destruir. Me odeia tanto ao ponto de se misturar com aquela maldita?

-Por que você acha que tudo que faço é pra te confrontar? Eu amo a Mercedes com todo meu coração! - Leon gargalhou em deboche

-Que ama o que! Você mal saiu das fraldas,idiota! Eu nunca vou te perdoar por essa afronta!

-Foda-se o que você pensa! - gritei pondo pra fora um pedaço da revolta que tenho guardada por tantos anos. Leon permaneceu de olhos arregalados,assustado com a minha atitude

-Como é?

-É isso mesmo! Cansei,Leon, cansei de toda a merda que é viver ao seu lado. Cansei das suas cobranças, das humilhações que você sempre me faz passar, definitivamente cansei!

-Só pode estar louco pra falar assim comigo! Você é um verme, Michael, uma peste traidora! - ao contrário do que eu esperava,não me senti desencorajado a lhe enfrentar. Eu já fui humilhado tantas vezes que virou costume

-Se eu sou um verme com toda certeza eu puxei você! - rebati,recebendo dele um ardido tapa na cara- Sua agressão não vai me intimidar. Você é a maldade em pessoa, é desprezível, egoísta e se não fosse por Mercedes,eu estaria contaminado pelo seu vírus!

-Deixa de ser idiota,Michael! Essa vadia está com você só pra me atacar, ainda não percebeu?

-Eu pouco me importo com o que você pensa! Só eu e Mercedes sabemos o que sentimos e eu vou ficar com ela sim, você querendo ou não!

-Eu te mato antes disso! - estaquei diante de sua ameaça. Eu nunca consegui entender o ódio que Leon sente por mim e agora isso está mais que evidente

-Você é um monstro! Eu vou sair dessa casa hoje mesmo, não fico nem mais um minuto perto de você! - Leon saiu do meu caminho, permitindo-me sair da sala

Mas ao abrir a porta fui surpreendido por quatro homens de perfil musculoso,trajando branco. Algo está muito errado aqui e eu já começava a me apavorar.

-O que é isso,pai? - o encarei esperando a resposta

-Nunca imaginei que chegaria a esse ponto.. - respondeu em puro cinismo - Mas você precisa de ajuda médica,filho. - continuou dizendo enquanto acendia o charuto. Foi então que a minha ficha caiu

-Não, isso não está acontecendo! Pai, eu não preciso de ajuda nenhuma!

-É pro seu próprio bem,mano.. - a voz afável de Edgar surgiu na sala. É claro que ele também está envolvido nisso

-O que? Edgar,você enlouqueceu?

-Eu? Tem certeza? Quem está se envolvendo com barra pesada é você! E arrisco a dizer que ele com toda certeza deve ter virado um usuário.

-Cala a boca,seu desgraçado! - explodi de ódio,partindo pra cima dele

Os enfermeiros mais que depressa, vieram me imobilizar. Quanto mais eu tentava me desvencilhar,mais eles me apertavam com força. Minha garganta estava apertada,eu me sentia completamente impotente.

-Podem levá-lo. - ordenou meu pai, para o meu desespero

-Não,pai! Por favor, não faz isso comigo! Eu imploro! - ele me ignorou - Edgar, conta a verdade pro papai! Diz pra ele que eu não sou louco, diz!!

-Você vai ficar bem,maninho..

Reuni toda a força retida dentro de mim e consegui empurrar os enfermeiros,mas eles foram mais rápido e me derrubaram no chão, fazendo com que meus berros fossem abafados.

-Me solta!! Me solta, por favor! - berrei o mais alto que pude

   Dessa vez eles me imobilizaram no chão mesmo, amarrando meus pulsos com algo parecido com uma corda. Meu coração parecia pular pra fora, era como se eu estivesse afogando em um mar tempestuoso. Quanto mais eu implorava por ajuda,mais meu pai ignorava, repetindo o mantra de que eu precisava me curar.
Em determinado momento senti fincarem uma agulha em meu braço e então a sensação de impotência se tornou ainda pior, as vozes me pareciam arrastadas e indiferentes. 

-Me ajuda pai.. Me ajuda... - implorei com a voz embolada. Eu sentia um nó na garganta que me impedia de falar - Pai.. Socorro, pai!! - minhas lágrimas desciam em torrentes

   Eu me sentia como uma criança em meio a uma guerra, que implorava pela proteção dos pais, mas a realidade era exatamente o contrário. Eu sentia uma verdadeira guerra dentro de mim, estava sendo bombardeado e massacrado por todos os lados e justamente pela pessoa que deveria me transmitir proteção.

-Não,pai.. Eu imploro.. - foram as últimas palavras que consegui pronunciar

  Minhas pálpebras pareciam pesar duas toneladas. Eu só conseguia enxergar vultos e ouvir vozes desconexas. De repente tudo parou dentro de mim. As vozes se calaram e tudo que eu enxergava era uma imensidão obscura.

Capítulo 27

Mercedes

-Merche,abre a porta!! - Gina gritava pela décima vez

      Depois do ocorrido na casa de Michael, vaguei pelas ruas da cidade até chegar na ponte do Brooklyn, onde estacionei a moto e me sentei na viga de concreto. Observar a imensidão que me cercava sempre me fez bem, cultuo esse hábito desde quando coloquei meus pés em Nova York.
    Depois de passar a madrugada toda remoendo as cenas que eu vi, finalmente reuni coragem e me levantei assim que o Sol surgiu. Era hora de encarar minha realidade e claro, esperar até o momento de Michael vir correndo implorando por perdão pela porra que ele fez.
  Quando chego em casa encontro uma Gina assustada e com vontade mais que justa de me esganar por deixá-la sem notícias. Mas eu estava tão aturdida que a primeira coisa que fiz foi entrar no banheiro, tomar um banho e me trancar aqui por exatas duas horas.

-Mercedes, está me preocupando, por favor!! - sua voz já estava embargada e não era justo que eu a deixasse aflita desse jeito

-Satisfeita? - perguntei ao abrir a porta. Gina analisou minhas feições e não demorou nem meio segundo para que eu começasse a chorar nos seus braços

Nunca vi minha amiga tão revoltada como agora que contei tudo que aconteceu. Mas ainda assim, ela consegue ser mais sensata do que eu, pois se eu ver Michael sou capaz de espancá-lo!

-Não é possível que ele tenha feito isso! Cara, esse moleque se humilhou aos seus pés pra por tudo a perder?

-Sabe o que mais me machuca? O fato dele ter ligado pra essa otária aqui que foi correndo atrás dele para ver aquela cena nojenta!

-Desgraçado! Agora sou eu que o proíbo de aparecer aqui! - Gina enxugou minhas lágrimas e beijou minha testa - Você precisa dormir.. Passou a noite toda em claro,meu amor..

-Acho que não vou conseguir.. Minha cabeça está a mil!

-Vou te dar um remedinho pra te deixar mais tranquila.. Estarei aqui ao seu lado ok?

-Uhum.. - assenti. Tomei um comprimido e me deitei confortavelmente na cama, permitindo que o sono me vencesse.

Uma semana depois

   Depois de dois dias trancafiada dentro de casa, decidi reagir e encarar minha realidade. E agora uma semana depois,não consigo esconder a mágoa por Michael não ter nem sequer telefonado pra mim. Ele simplesmente desapareceu e isso me angustia profundamente.
Será que depois do flagra,Michael se cansou de mim? Decidiu acatar as ordens do pai e me riscou da vida dele? Sim porque é isso que Michael está fazendo comigo. E se ele quer assim, não há nada que eu possa fazer..

-Merche, por que está mexendo com essa parafernália? - Gina indagou ao me ver afundada nas caixas do depósito da loja

-Preciso ocupar minha cabeça! - peguei uma toalha fina para secar meu suor - Detesto ficar parada!

-Está assim por causa do Michael.. Mas não era isso que você queria? Que ele te deixasse em paz?

-Pro inferno, Gina! - explodi - Acha mesmo que é isso que eu queria? Que ele sumisse do mapa,e pior, sem dar uma porra de explicação! Ele não tinha o direito de me foder desse jeito, não tinha!

-Shhi.. Fica calma.. É lógico que eu sei que está sendo difícil pra você, vejo como está sofrendo,mas..

-Mas..?

-E se você o procurasse? - olhei seriamente para Gina e ri em deboche

-Tá tirando com a minha cara né? Acha mesmo que depois de ter sido traída e humilhada eu ainda vou correr atrás dele? Nunca!

-Não tô dizendo pra rastejar aos pés dele,mas só para entender o que aconteceu. E se o Leon o castigou? Sim, pois pelo jeito que ele falou com certeza ele já sabe de vocês dois. - refleti por um tempo,mas logo tratei de mudar o rumo da conversa

-Eu duvido! E quer saber? Eu cansei! Não quero saber nada sobre Michael e é bom que ele continue longe de mim. - encerrei o assunto e fui até o balcão atender o cliente, que por sinal era conhecido

-Mercedes? - Heitor clamou sorridente - Quanto tempo,não é?

-Oh sim.. - forcei um sorriso - Como vai,Heitor?

-Bem e você? Não parece estar com uma carinha boa..

-Está tudo certo. - respondi com altivez - Deseja alguma coisa?

-Hm.. Vim ver as novidades e claro, conversar com você. - eu já estava sem nenhuma paciência e não ponderei as palavras

-Será que não percebeu que estou ocupada?

-Me desculpe,eu só..

-Eu que peço desculpas. - suspirei - Eu estou em um dia ruim e acabei descontando em você.. É melhor a Gina te atender.

-Não,espera.. - ele pegou na minha mão - Por que não me dá um voto de confiança,hum? O que custa conversar um pouco? Vai se sentir mais relaxada..

-Quer saber? Tem um café aqui perto.. Preciso mesmo acender um cigarro,estou com os nervos a flor da pele! - ele riu

-Bom, então é melhor irmos logo.. - mesmo sem a mínima vontade de ter que aturá-lo, eu precisava distrair, e naquele momento só Heitor poderia me ajudar

  Ficamos por cerca de uma hora no Café conversando sobre absolutamente tudo. Ele contou que nasceu em Madri, mas com cinco anos veio morar em Miami com os pais, e que recentemente ele decidiu se mudar para Nova York. Até aí tudo bem,a única coisa que me irritava era sua insistência em dar em cima de mim, no seu jeito sutil.

-Bom, com tudo que estou descobrindo, você me parece ser uma mulher bem difícil de lidar.. - ele riu

-Nem tanto.. Eu sou sincera e se uma coisa não está do jeito que eu gosto,eu falo mesmo!

-E está certa.. - concordou - Posso fazer uma observação?

-Claro. - respondi dando de ombros

-Você é uma garota muito interessante e se me permite, é lindíssima.. - suspirei, disfarçando meu tédio - E obviamente, você não deve estar sozinha. Tem namorado, certo?

-Eu.. - cocei minha cabeça, tentando encontrar a resposta. Afinal, nem mesmo eu sei se estou namorando com Michael, já que ele simplesmente sumiu do mapa

-Mercedes?

-Ah, eu.. Olha, eu não quero falar sobre vida pessoal,pode ser? 

-Tudo bem.. Pelo que vejo esse assunto é delicado pra você..

-Pois é. - deixei o dinheiro em cima da mesa e me levantei

-Me desculpe se fui indelicado, Mercedes..

-Não esquenta.. Eu realmente preciso ir.

-Ok. Eu posso ligar pra você? Não quero perder o contato.

-Certo.. - Heitor se levantou e veio ate mim, onde beijou delicadamente o dorso da minha mão

-Te acompanho até a galeria.. - apenas assenti e o segui

- Obrigada,Heitor.. Estava mesmo precisando de outra vibe.. - ele riu

-Fico feliz por ter ajudado.. Até mais!

-Até.. - ele se despediu de mando um demorado beijo na minha testa e se afastou sorrindo

 Um mês depois

Maysa

   Não tem cabimento estar há mais de um mês sem notícias do meu irmão. Michael simplesmente desapareceu e tudo que meu pai diz é que ele está viajando. Mas é óbvio que isso é mentira! Michael nunca viajaria sem me dizer e outra, as aulas da faculdade já começaram. Alguma coisa de errado está acontecendo e eu não vou parar até descobrir.

-Tenho certeza que alguma coisa aconteceu naquela festa. - conclui, lançando um olhar apreensivo para Corine

-Também não vejo outra resposta.. Michael jamais faria uma coisa dessas sem nos dizer! Acha que seu pai está escondendo algo de nós?

-Com toda a certeza! Meu coração aperta só de pensar.. Tem dias que venho observando meu pai. Certas ligações ele não atende na minha frente e já cansei de ver ele e Edgar de segredinho.

-O que pensa em fazer?

-Investigar meu pai. Corine, me avise assim que ele for para a empresa. Vou revirar o escritório de cabeça para baixo!

   Assim como pedi, Corine avisou-me quando meu pai saiu. Era minha única oportunidade de estar sozinha em casa e eu teria que achar alguma coisa.Entrei no escritório e mais que depressa tranquei a porta, estaria mais segura. Abri todas as gavetas, revirei a mesa e não encontrei nada que pudesse ser suspeito. Olhei para a tela do computador e percebi que o monitor estava ligado. Foi então que tive a ideia de vasculhar seu email.
   Abri todas as conversas e acabei encontrando uma mensagem que me chamou atenção. Era um email contendo dados para depósito bancário

-Cliníca Psiquiátrica Dr. Jacob Lawal.. Mas o que é isso? - anotei numa folha de bloquinho o telefone de contato da Clínica

  Algum motivo tem para meu pai estar pagando uma Clínica de reabilitação e por mais que eu não queira admitir, tenho a mais segura intuição de que meu irmão está envolvido nisso e agora vou até o fim para esclarecer essa história.

Capítulo 28

Maysa

 Depois de levar comigo o número de telefone da clínica,pedi que Corine telefonasse para sondar. Eu como médica sei muito bem que tipo de clínica é essa e sei também onde fica, mas tenho medo de ser reconhecida como filha de Leon Jackson e eu não posso por tudo a perder.

-E então, Corine conseguiu descobrir qual o médico que está coordenando a clínica?

-Sim, se chama Dr. Eric Smith.

-Meu Deus, o Eric!

-Conhece?

-Sim, nós fizemos faculdade juntos.. Agora vai ficar mais fácil descobrir o que está acontecendo..

-Mas tome cuidado.. Maysa, acha que Michael está internado nessa clínica? - perguntou com a voz embargada,mas infelizmente tive que dar a confirmação

-Pra ser sincera, sim.. Tudo leva a crer que meu pai fez essa monstruosidade,mas estou pedindo a Deus para que eu esteja errada..

 Após pensar numa boa tática, peguei o carro e segui para a clínica. Eu precisava manter a calma ou colocaria tudo a perder. Enquanto adentrava no local, analisei minuciosamente cada paciente que estava no jardim, imaginando que, por ventura, poderia encontrar Michael no meio deles.

-Deseja alguma coisa, senhorita? - a recepcionista perguntou, me fazendo despertar

-Sim, estou procurando o Dr. Smith. Ele se encontra?

-Sim.. Mas não sei se pode atendê-la no momento. - a jovem discou os números no telefone - Qual o seu nome?

-Diga que é a Maysa, ele vai saber quem é. - ela assentiu e dirigiu sua atenção ao telefone - Pode entrar, senhorita.

-Obrigada. - sorri agradecida e caminhei até o consultório. Escutei um "pode entrar" e abri a porta. Eric me olhou surpreso

-Maysa? Como está, querida? - ele se levantou para me cumprimentar

-Estou bem Eric e você?

-Ótimo.. O que te traz aqui? Quer encaminhar algum paciente pra cá?

-Não,na verdade quero falar com você a respeito de um paciente que tenho certeza que está internado aqui.

-E quem seria?

-Meu irmão. Michael Jackson. - Eric se recostou na cadeira, provavelmente assustado com minha afirmação

-Seu irmão? Deve estar enganada, Maysa.. - me inclinei sob a mesa, socando-a

-Escute aqui, eu não estou com tempo para ouvir mentiras! Sei muito bem que está sendo pago pelo meu pai e, ao menos que queira ter seu diploma caçado, sugiro que me conte toda a verdade!

-Tudo bem, tudo bem! Só não me envolva em problemas.. Seu pai apenas pediu minha ajuda.

-Ajuda para jogar meu irmão nesse hospício?

-Ele disse que o Michael estava se envolvendo com drogas e tinha um comportamento suspeito.. - tentou se explicar

-Ah faça- me o favor! Você é um profissional e sabe muito bem que é mentira! Se fez os exames corretos já sabe que meu irmão não usa nenhum tipo de droga!

-Eu não podia contrariar o Leon! Além do mais, seu irmão apresentou um comportamento revoltoso quando chegou.

-Mas é claro que iria! Que ser humano aceitaria numa boa ser trancafiado num lugar como este?

-Ele está recebendo o tratamento adequado..

-Cala a boca! - gritei  sem dar a mínima para quem ouvia do lado de fora - Você vai me levar até meu irmão e eu irei tirá-lo daqui. E se por acaso você comunicar ao Leon Jackson eu lhe processo na mesma hora! Você sabe que tenho influência no corpo médico dessa cidade e acabo com sua carreira num estalar de dedos!

-Não diga isso alto, por favor.. Eu te levo até o quarto do Michael, mas não pode levá-lo daqui!

-Isso é o que nós vamos ver! - ameacei - Agora me diga logo onde meu irmão está!

-Tudo bem.. Eu levo você..

  Senti uma vontade incontrolável de chorar ao ver meu irmão sedado, jogado na cama do quarto. Estava visivelmente mais magro, abatido e com o semblante sofrido. Só de imaginar o que meu irmão passou por todo esse tempo, me doeu profundamente.

-Oh maninho.. O que fizeram com você? - acariciei seus cachos - Eu prometo que vou tirar você daqui, ok? Eu te amo,meu bem..

-Merche.. - murmurou com a voz embolada

-Não,querido.. Sou eu,a Maysa.. - Michael apertou os olhos e ao constatar que era eu ali, me olhou apavorado

-Maysa, me tira daqui.. Por favor! - pediu, ofegante

-Eu vou tirar, só precisa esperar um pouquinho.. Você nunca mais vai voltar pra cá,certo? Confie em mim, meu anjo..

-Merche..

-Quem é Merche,Michael?

-Cadê ela...? Eu preciso pedir perdão.. - Michael começou a se alterar

-Calma,calma.. Eu vou trazê-la aqui, certo?

-Você promete? - sua voz estava enfraquecida e seus olhos cheios d'água

-Prometo.. Eu volto logo,Mike.. Confie em mim.. - Michael apertou minha mão,mas logo adormeceu devido à medicação

 Enxuguei minhas lágrimas e respirei fundo. Finalmente minha ficha caiu e descobri que meu pai é muito pior do que eu pintava. Nunca poderia imaginar que ele teria coragem de jogar o próprio filho no hospício como se fosse um psicótico. Mas eu vou tirar meu irmão desse inferno, vou protegê-lo  com todas as minhas forças.

- E então,Maysa? - Corine correu aflita até mim

-Infelizmente minhas suspeitas estavam certas.. Michael realmente está internado nessa clínica.

-Ah meu Deus.. - nos abraçamos forte e nos permitimos chorar - Meu menino deve estar sofrendo tanto.. Você o viu?

-Sim.. Está tão fraco.. Mas eu vou tirá-lo desse lugar de qualquer jeito!

-E você vai falar com seu pai?

-Não ainda.. Primeiro tenho que tirar Michael de lá e colocá-lo em um lugar seguro. Corine, quem é Merche?

-Mercedes? Você falou com ela?

-Não.. O Michael que repetia esse nome sem parar. Quem é essa moça?

-É a namorada do Michael..

-O que? Mas eu nunca soube disso!

-É uma história muito longa.. É melhor eu contar de uma vez.

 Depois de tudo que Corine me contou, tive a certeza de quem poderia me ajudar a salvar Michael. Pelo que Cori disse, Michael e Mercedes são completamente apaixonados um pelo outro e agora sim entendo as mudanças de comportamento do meu irmão, na verdade eu deveria agradecê-la. E agora vou correr atrás de Mercedes, pois só ela pode me ajudar.

Mercedes

   Deus, um mês e meio sem nenhuma notícia de Michael! Há duas semanas atrás, decidi engolir o orgulho e ligar para Michael,mas seu telefone só caía na caixa postal. Não satisfeita, fui até sua casa e uma das empregadas disse que ele estava em Paris com a família Collins.
  Então minhas suspeitas estavam certas. Michael havia se cansado de mim e de todas as dificuldades que estávamos enfrentando. Ele decidiu seguir seu caminho e na vida dele não tem lugar pra mim.
 Eu tento mostrar que isso não está me abalando,mas é a mais pura mentira. Não teve uma noite em todos esse tempo que eu não tenha chorado até cansar. Nunca imaginei que ficaria tão dependente de Michael e o que mais me irrita é o fato de pensar cada vez mais nele, como se ele estivesse precisando de mim,quando na verdade ele está de férias com a nova namorada.

  Hoje acordei sem a mínima vontade de trabalhar. Permaneci jogada no sofá zapeando os canais da TV sem ao menos prestar atenção no que aparecia na minha frente. A campainha tocou uma, duas, três vezes e a pessoa continuou insistindo.

-Merda.. Gina, já disse que hoje eu.. - me calei ao encarar a elegante mulher na minha frente - Pois não?

-Você é a Mercedes?

-Sim,por quê? - a mulher abriu um sorriso de alívio

-Você precisa me ajudar.. Precisa ajudar o Michael!

-Hã? É..entra.. - abri a porta por completo e permiti que ela entrasse - Sente-se.

-Obrigada..

-Aceita alguma coisa?

-Não, obrigada. A única coisa que quero é conversar com você. Me desculpe,eu não me apresentei. Meu nome é Maysa, sou irmã do Michael.

-Oh sim.. - suspirei pesadamente - Veio passar recado dele?

-Você sabe que Michael está sumido, não sabe?

-É claro que sei. E sei também que ele está em Paris com a família da namorada..

-Quem te disse isso?

-Algum empregado da sua casa. Mas isso nem era preciso,afinal depois daquele beijo..

-Olha Mercedes, eu não sei do que está falando,mas te garanto que a última coisa que Michael está fazendo é se divertir.

-Pode me explicar? - ela suspirou

-Mercedes, Michael está internado em uma clínica psiquiátrica. - me petrifiquei ao ouvir a notícia

-Ele o que?

-Meu pai teve a coragem de internar Michael como um louco! Ele está todo esse tempo vivendo um inferno e apenas hoje eu descobri.

-Meu Deus.. - me sentei no sofá para absorver a notícia. Não, isso não podia ser verdade

-Eu juro que não entendo porque meu pai fez isso.. Ele inventou que o Michael está com distúrbios e pior, que é usuário de drogas! Não tem cabimento isso!

-Foi por minha causa.. - concluí

-Como?

-Na noite da festa o Leon me flagrou no portão e obviamente viu minha briga com Michael. E se ele fez isso foi para castigá-lo.. Por que eu não fui atrás dele, por que? - Maysa me abraçou ao me ver chorando

-Não se culpe,ok? Se quiser contar o que aconteceu, eu estou aqui..

-Eu vi os dois se beijando..

-Eles quem? Michael e Dominique?

-Sim.. Eu fiquei louca quando vi. E pra piorar o desgraçado do seu pai apareceu e tudo virou uma confusão. Eu fiquei puta da vida com o Michael e deixei a raiva falar mais alto..

-Não é hora de pensar nisso,ok? Vocês terão tempo de conversar, mas agora temos que deixar o Michael em segurança.

-Eu quero vê-lo, por favor!






-Nós vamos.. Mas fique calma, Mercedes.. Mesmo sedado ele não para de chamar por você






-Sério? Maysa, me leve até ele.. - implorei mais uma vez

-Certo. Pode ir agora?

-Mas é claro! Troco de roupa em um minuto!

(...)

   Minha ficha parecia ter caído no momento em que entramos na clínica. Era surreal imaginar que o meu Michael estava internado neste inferno como se fosse um louco, e pior, por minha causa. 
 Maysa permitiu que eu entrasse sozinha no quarto e eu não sei se isso foi bom ou ruim. Meu coração estava dilacerado ao ver a imagem de Michael. Ele estava sentado na poltrona, vestindo uma calça de moletom e uma blusa de algodão, ambos de cor branca. Seus olhos estavam fechados e eu pude perceber como ele estava abatido.
 Me ajoelhei de frente à ele e juntei suas mãos contra a minha. Percebi que seus pulsos estavam machucados e os braços tomados de rocheões. Não suportei vê-lo dessa forma e comecei a chorar copiosamente. Michael mexeu uma das mãos e  eu levantei minha cabeça imediatamente.

-Merche.. - respondeu em um sussurro

-Estou aqui, meu amor.. Me perdoe por ter sido tão orgulhosa enquanto você precisava de mim.. 
 
 Michael tinha muita dificuldade em conseguir falar, em vez disso ele chorava assim como eu. Ele se inclinou lentamente, puxando meu rosto com as mãos trêmulas. Seu olhar era uma mistura de felicidade, alívio e paz. Nos abraçamos com tanta força que cheguei até a pensar que nada disso estava acontecendo,como se tudo tivesse voltado ao normal, e se depender de mim é isso que vai acontecer. Nunca mais cometerei o erro de deixá-lo, afinal nós somos um só.

Capítulo 29

Mercedes

    Ver Michael naquela situação me doeu profundamente.Nunca imaginei que o veria nessas condições e pior, saber que a culpa foi toda minha,pois por conta do meu orgulho eu não fui atrás para saber o que estava acontecendo. Com muito custo consegui deitá-lo na cama.Michael murmurava palavras desconexas,mas rapidamente voltou a dormir. Continuei velando seu sono enquanto chorava baixinho.

-Como ele está? - Maysa perguntou ao caminhar para o outro lado da cama

-Eu não sei..O que fizeram com ele?

-São os efeitos do remédio.. E com toda certeza usaram práticas agressivas para domá-lo.

-Como sabe disso?

-Eu sou médica,Mercedes e consigo imaginar o que meu irmão passou aqui dentro. O que não consigo entender é como meu pai teve coragem de fazer uma monstruosidade dessas..

-Foi por culpa minha..Ele acabou descontando no Michael e agora ele está preso nesse inferno graças a mim!

-Não diga isso.. Nós vamos tirar o Michael daqui.. - garantiu

-Como?

-Tenho métodos seguros para lidar com o Dr. Smith,mas pra isso também preciso da ajuda de outra pessoa importante.

-Quem? - Maysa suspirou pesadamente

-Nossa mãe.. Só ela pode nos ajudar..

-Maysa,me desculpe perguntar,mas por que vocês não convivem com a sua mãe?

- Desde que me conheço por gente ela e meu pai viviam em pé de guerra. E certa vez,depois de uma briga feia ela decidiu viajar pelo mundo.. Desde então nós a vemos raramente e só mantemos contato por telefone.

-Como o Michael reagiu à isso?

-Ele foi o que mais sofreu.Michael sempre foi apegado à ela.. Meu pai nunca o suportou,então ele se fechou. Mas como eu já era mais velha,decidi que iria o proteger contra tudo. - respondeu enquanto acariciava os cachos de Michael

-É lindo seu amor por ele..

-Digo o mesmo de você..Vejo nos seus olhos que você ama o meu irmão. Sabe,Michael nunca foi de me contar sobre seus relacionamentos,mas eu sei quando ele está gostando de alguém. E eu juro que nunca vi meu irmão tão apaixonado como está agora..

-Eu o amo muito e prometo que vou cuidar dele. - assegurei

-Eu sei que vai.. Hoje a meia-noite vamos tirá-lo daqui. Sei que deveria esperar a autorização da minha mãe,mas não posso deixar que Michael continue aqui..

-Eu também não suportaria vê-lo trancafiado nesse lugar..Mas o que pretende fazer?

-Simularemos uma fuga e você ficará com ele.

-Mas e o seu pai descobrir? Porque ele vai procurar até no inferno!

-Isso é verdade..Não sabe de nenhum lugar em que o Michael possa ficar?

-Na verdade sim.. - pensei - Ele pode ficar escondido na casa da Gina.

-Tem certeza?

-Sim, a Gina é de confiança,não se preocupe.

-Por mim tudo bem..

-Vou chamar meus amigos da galeria,tenho certeza que eles vão concordar em ajudar.

-Perfeito! Vou alugar uma SUV pra vocês virem pra cá. E esperem a minha ligação.

-Pode deixar.. Hoje vamos tirar você daqui,meu amor.. - lhe dei um beijo suave em seus lábios, me sentindo confiante

(...)

   Assim que voltei ao Brooklyn,me reuni com o pessoal do galpão e expliquei resumidamente o que estava acontecendo. Todos se prontificaram a ajudar,até mesmo Jon concordou. Gina deixaria o apartamento pronto para receber Michael enquanto nós íamos para a clínica.

-Quando vamos entrar? - Tommy perguntou

-Temos que esperar a ligação da Maysa.. Meninos, não tenho palavras para agradecer o que estão fazendo.

-Não precisa agradecer. - disse Jon - Apesar de eu não ir muito com a cara desse mauricinho,eu sei que você gosta dele..

-E amigos são para isso. - Tommy completou - Estamos juntos nessa! - sorri agradecida. Meu celular vibrou e eu rapidamente atendi

-Fala,Maysa..

- Merche,acabei de falar com o Eric. As câmeras de vigilância foram desligadas,mas tomem bastante cuidado. Estacionem a SUV próximo ao portão dos fundos, a chave já está na fechadura. E mais uma vez,tome muito cuidado!

-Deixa comigo. - guardei o celular e dei as instruções para os meninos

    Eu,Jon e Tommy seguimos em direção à clínica enquanto Bred esperaria dentro da SUV para dar partida quando voltássemos. Entramos com muito cuidado pela porta dos fundos e seguimos pelo corredor mau iluminado da ala dos pacientes. Verifiquei se alguém vinha e fazendo o mínimo de barulho possível,abri a porta do quarto.Michael dormia em um sono profundo,provavelmente sob efeito dos sedativos.

-Como vamos levá-lo? - Jon perguntou enquanto sentava Michael na cama

-Na cadeira de rodas. - empurrei a cadeira próxima à Michael e segurei firme enquanto Tommy e Jon o colocava na cadeira. Enrolei uma manta em Michael e novamente verifiquei se alguém vinha - Beleza, podemos ir.

Respirei aliviada quando finalmente conseguimos sair da clínica. Já estávamos atravessando o jardim, indo em direção ao carro. Bred ligou a SUV,mas uma voz aguda nos fez paralisar.

-Hey,vocês!! - o homem gritou. Olhei para trás de relance e percebi que era um segurança

-Correm!! - Jon gritou

    Apoiei meu braço nos ombros de Michael,tomando cuidado para que ele não caísse. Jon me ajudou a colocá-lo no banco de trás,mas o medo do segurança nos alcançar me assolava. Tommy ajudou a pegar Michael e minha única ideia foi de jogar a cadeira em direção ao segurança,o que nos deu tempo para entrar no carro e partir dali.
    Só consegui controlar minha respiração quando já estávamos longe da propriedade da Clínica. Eu não conseguia acreditar que tinha dado tudo certo e que Michael finalmente estava livre daquele hospício.

(...)

-Cuidado com a cabeça dele! - alertei enquanto Tommy e Jon o deitavam na cama

-Pronto.. Conseguimos! - Jon comemorou

-Mais uma vez,muito obrigada! Não teria conseguido sem a ajuda de vocês.

-Não precisa agradecer,Merche.. - Jon disse - Na verdade, você pode me agradecer passando o número da gata da sua cunhada..

-Vá se ferrar,Jon! - soquei seu ombro,nos fazendo rir

-É melhor a gente ir, qualquer coisa pode chamar.

-Obrigada meninos.. Boa noite! - me despedi deles e voltei minha atenção para Michael, que permanecia do mesmo jeito

-Ele vai ficar bem.. - Gina afirmou

-Quanto tempo vai demorar pra ele acordar?

-Não vai demorar muito.. - a voz de Maysa surgiu no quarto - Cheguei logo depois de vocês.. Fizeram um ótimo trabalho!

-Acha que o segurança vai nos reconhecer?

-Estava muito escuro e sem as câmeras será impossível. Dr. Eric vai cuidar para que meu pai não saiba tão rápido,pelo menos até dar tempo de falar com a minha mãe.

-O importante é que ele está salvo..

-Com certeza. E quanto ao estado dele,não se preocupe. Logo o efeito do remédio vai passar e Michael recobrará a sanidade. Prescrevi uma receita com vitaminas para ele se hidratar. Amanhã eu volto para examiná-lo novamente e trarei roupas.

-Pode deixar que vou cuidar dele.. Maysa,muito obrigada por ter me contado. Se não fosse você eu estaria até agora sem notícias..

-Eu é que agradeço por tudo que tem feito ao meu irmão e eu sei que ao seu lado ele está seguro. Agora você precisa descansar..

-Ela tem razão. - disse Gina - Eu vou ficar na casa do Tommy para vocês ficarem mais a vontade..

-Obrigada,de coração!

-Imagina, qualquer coisa pode nos chamar!

   Depois que Gina e Maysa foram embora, tomei um banho revigorante, me enrolei na toalha e voltei para o quarto. Cobri minha boca com as mãos ao ver Michael piscando os olhos e olhando para mim. Caminhei até ele e me ajoelhei ao pé da cama. Michael tentava se sentar,mas logo tratei de acalmá-lo.

-Hey,você está muito fraco..

-Onde eu estou..? - sua voz continuava embolada

-Na casa da Gina.Acabou o pesadelo,meu amor..E você nunca mais vai voltar para aquele lugar.

-Você jura..? - apertei firme sua mão

-Eu juro!

-Merche,me perdoa..Eu..

-Shhi.. Você não tem que pedir perdão por nada.. Eu que não deveria ter sido orgulhosa como fui, mas agora o que importa é que está aqui comigo. Não vou mais sair do seu lado.

-Você promete?

-Prometo! - me deitei ao seu lado,com Michael encostando sua cabeça em meu peito. Ele parecia uma criança indefesa,agarrado em mim. E eu o protegeria com todas as minhas forças.

(...)

  Já haviam se passado quase dois dias e Michael vem apresentando melhoras consideráveis. Maysa veio examiná-lo e me garantiu que ele está cada dia melhor. Ela também comentou que Leon ainda não sabe do ocorrido,mas que assim que ele voltar de viagem será inevitável a notícia. A parte boa é que finalmente ele conseguiu contato com Mirian,sua mãe, e em breve ela estará embarcando para os EUA.

   Estava terminando de preparar o café da manhã de Michael,que ele insiste em não comer. Fiz exatamente tudo que Maysa prescreveu e estava prestes a levar para o quarto,mas quase derrubo a bandeja ao ver Michael me observando.

-Bom dia.. - disse com a voz mais firme

-Você me assustou! - ele riu - Bom dia.. - Michael me envolveu em um abraço apertado - Como se sente?

-Bem melhor.. Acho que minha cabeça está começando a entrar nos eixos..

-Graças a Deus!

-Também estou me lembrando de tudo.. - murmurou em um tom de voz dolorido

-Senta aqui.. - puxei Michael para o sofá e ele se sentou, trazendo-me para o seu colo - Imagino como deve ter sofrido.. Quer falar sobre isso?

-Foi terrível.. - seus olhos encheram-se de lágrimas,olhando fixamente para o chão - Pensei que fosse ficar louco..

-Não pense mais nisso,acabou! Não vou deixar que volte pra lá nunca mais!

-Mas você precisa saber a verdade. Naquele momento quando você me viu com a Dominique,eu juro que fui pego de surpresa.Mas você apareceu justamente naquela hora..

-Apareci porque você me mandou mensagem.

-Como? - estendi o celular para Michael,que franziu o cenho ao ler a mensagem - Eu não te mandei isso.

-Como não?

-Eu não mandei é sério. E outra,acha mesmo que se eu tivesse mandado essa mensagem,ainda por cima indicando o local,eu estaria aos beijos com a Dominique?

-Desgraçada..Foi tudo armação dessa vadia!

-E eu acreditando nas boas intenções dela..

-Se eu não tivesse feito um escândalo seu pai não teria descoberto.. - Michael afagou meu cabelo, beijando minha testa

-Ele já sabia,princesa.. Como eu não sei.. Estava tudo armado,a internação, os enfermeiros..

-Eu sinto muito..

-Mas sabe, nada que passei lá me doía mais do que ficar longe de você, imaginando o que estava pensando de mim.

-Pensei que tinha ido embora com a Dominique..

-Nunca! Aí sim poderia me internar! - ele riu - Coisas como isso que aconteceu servem para me dar a mais pura convicção de que o meu amor por você é muito maior do que eu poderia imaginar.

-Eu amo tanto você,tanto.. E é ao seu lado que quero passar o resto da minha vida! - Michael deslizou os lábios pelo meu queixo até chegar aos meus

Invadi sua boca com uma vontade urgente, expressando toda a saudade presa dentro do meu peito. Michael correspondeu na mesma intensidade, encaixando minhas pernas na sua cintura.

-Senti tanta falta de você, do seu cheiro.. - murmurou com os lábios friccionados no meu pescoço,mas inesperadamente ele se afastou para me encarar

-O que houve?

-Tenho que te fazer uma pergunta.

-Tem que ser agora? - ele riu quando revirei os olhos

-Quanto mais reclamar,mais vou demorar..

-Ok, fala..

-Merche, quer se casar comigo? - disse sem rodeios, me deixando de boca aberta. Por sorte suas mãos estavam segurando firme a minha cintura

-Hã? O.. o que você disse?

-Perguntei se você quer se casar comigo. Me responde logo,amor.. - choramingou,mordendo o lábio inferior. Eu estava chocada, sem saber o que dizer ou fazer, nunca, NUNCA esperei ouvir isso de ninguém!

-Quando diz casar.. É tipo.. ser sua esposa?

-Hmm sim.. E eu tipo,serei seu marido..

-Ai meu Deus! - comecei a rir abobalhada, com as mãos na cabeça -Não sei que merda estou prestes a fazer,mas eu aceito! - Michael abriu um sorriso tão grande que me deixou hipnotizada

-Jura? É melhor eu gravar isso, senão depois você diz que é mentira..

-Deixa de ser bobo! Acho que nunca fui tão surpreendida em toda a minha vida.. - Michael afastou meus cabelos e me beijou vagarosamente

-E é só o início da nossa felicidade, eu prometo! Sei que somos jovens demais,mas eu sei que nascemos um para o outro..

-Foda-se nossa idade.. - ele riu - O que importa é viver o hoje e se for pra ser como sua esposa, que seja!

  Michael se levantou do sofá comigo em seu colo e me rodopiou pela sala. Acho que nada que eu disser vai descrever o que estamos sentindo. De pensar que há alguns dias atrás eu estava certa de que havíamos rompido e hoje estamos noivos! Eu nunca vou deixar de me surpreender com as voltas que a vida dá e apesar disso provocar um certo receio, estou feliz demais para pensar no futuro, pois só Deus sabe o que ele reserva.

Capítulo 30

Michael

    É notável que nos últimos meses minha vida tem mudado drasticamente,desde voltar para Nova York até conhecer Mercedes. Até então eu estava ciente do amor que sinto por ela,se não fosse totalmente comprovado nesse mês que passei trancafiado numa clínica psiquiátrica. Eu suportei cada momento de terror que vivi graças à Mercedes,porque eu sabia que ela se sentiria orgulhosa de ver a força que desenvolvi para enfrentar esse pesadelo. 
 E agora mais uma vez ela me salvou do meu pai, do poder que impera essa família, e o mais importante, salvou-me do meu próprio eu. Já estava predestinado desde o dia que eu a conheci que Mercedes era exatamente tudo que faltava em mim, o bálsamo para dar um sentido a minha existência e hoje,digo e repito com todas as letras que essa mulher é a minha vida e é com ela que pretendo passar o resto da minha vida como minha esposa.
 Confesso que foi uma decisão bastante inusitada,se levar em conta que nem eu ou Mercedes temos o perfil ideal de um marido e uma mulher exemplares. Mas se eu consegui domá-la até aceitar meu pedido de namoro,por que não arriscar?
 E surpreendentemente ela aceitou. Eu já não tinha palavras para agradecer a Deus por colocar essa marrenta na minha vida e ainda mais agora que ela aceitou se casar comigo. Eu sei que enfrentaremos o "apocalipse" quando meu pai souber,mas o que realmente está me preocupando no momento é a roupa que usarei na cerimônia!
 Sei também que a partir de hoje entrarei em uma nova fase da minha vida,deixarei de ser um adolescente para dar lugar a um homem. Não serei mais sustentado pelo meu pai e isso é como um peso a menos nas minhas  costas. Que terei dificuldade em me adaptar, disso tenho certeza,mas também tenho confiança de que vamos ser felizes vivendo à nossa maneira.
 Passamos boa parte da manhã fazendo planos para o nosso casamento, e claro, Mercedes reprovou boa parte deles.

-Por que não quer se casar na igreja? - questionei. Merche, que estava deitada nas minhas pernas se levantou para me encarar

-Olha pra minha cara,Michael. Jamais entrarei numa igreja, é muito mico! - respondeu escondendo o rosto no meu pescoço

-Seria a cena mais linda de se ver, sério mesmo. Mas tudo bem, eu aceito. E com você me caso em qualquer lugar,mas o mais importante é.. Quando vamos nos casar?

-Bom, você que me pediu em casamento,então quem decide é você.

-Certo.. Quero me casar o mais rápido possível, só que pra isso eu tenho que sair daqui né?

-Calma amor, a Maysa já está falando com a sua.. - Mercedes se calou

-O que está me escondendo?

-É que...a Maysa pediu ajuda da sua mãe pra tirá-lo da clínica. - me levantei da cama e parei de frente a janela

  Falar da minha mãe sempre me doía e eu não estou preparado para me envolver com ela novamente. Senti as mãos de Merche envolver minha cintura e fechei meus olhos instantaneamente ao sentir seu perfume.

-Imagino como é difícil pra você falar dela.. Mas ela te ama,meu amor.

-Ama? Que tipo de amor é esse? Ou melhor,que tipo de mãe é essa que abandona os próprios filhos?

-Já parou pra pensar que ela pode ter algum motivo pra isso? - desvencilhei-me dos seus braços e virei para encará-la

-Motivo,Mercedes? Sério que você acha que existe um motivo plausível para abandonar a família?

-Eu não disse isso.. - murmurou. Ergui seu rosto delicadamente com as mãos,fazendo-a olhar para mim

-Me desculpe. Eu não queria descontar em você.. - Merche me abraçou

-Eu te entendo amor.. E estou aqui pra te apoiar em tudo. Mas pense no que eu disse.. Isso pode servir como uma reaproximação entre vocês.

-Quem sabe.. - suspirei - Mas você acha que vai dar certo?

-Claro que sim,ela é sua mãe e tem tantos direitos quanto o seu pai. Além do mais você provavelmente vai  passar por exames que vão confirmar que você está com a saúde em perfeito estado.

-Deus te ouça.. Acha que vai demorar muito?

-Bom,até seu pai dar conta que você fugiu,tenho certeza que já teremos a autorização da sua mãe, então não se preocupe que logo você estará livre novamente.

-Livre pra me casar com você.. - Mercedes sorriu,voltando a me abraçar

-Confesso que estou ficando ansiosa com isso.. Que loucura vamos fazer!

-Vai valer a pena,princesa.. Vai valer.. - encaixei Merche em meu colo,guiando-a até a cama. Abri os botões da sua camisa,mas para o meu azar a campainha tocou

-Merda.. - praguejou baixinho, tendo seus lábios grudados nos meus. Mercedes se afastou e com uma carranca na cara, foi até a sala, seguida por mim

-Deixa que eu abro.. - falei

-Não! E se for seu pai? Michael, sempre que tocar a campainha você não atenda,hein?

-Pode deixar.. - bufei. Mercedes abotoou a blusa e abriu a porta minimamente

-Gina! Pode entrar.. - elas se abraçaram e em seguida Gina veio me cumprimentar

-Como se sente,Michael?

-Melhor a cada dia. Gina, muito obrigado por me deixar ficar aqui. Sei que estou dando trabalho,mas será por pouco tempo.

-Imagina,Michael! Você agora faz parte da nossa "família" e aqui um ajuda o outro.

-Quando você diz "família" é no sentido literal mesmo.. - Mercedes murmurou. Gina arregalou os olhos e encarou a amiga

-O que você está dizendo? - Merche se aproximou de mim e pegou na minha mão

-Eu e Michael vamos nos casar. - Gina abriu a boca em um O, completamente abismada

-Oh meu Deus!! Pera aí, Merche você está...grávida? - engoli seco com a pergunta,assim como Mercedes. Deus eu não tinha pensado nisso!

-Merche,você está grávida,amor?

-Não! Vocês dois enlouqueceram? De onde tiraram isso?

-Ué, um casamento repentino não tem outra explicação! - Gina justificou

-Amor,você tem certeza que não está..?

-Não,Michael! Mas que porra! Esqueceu que o pedido veio de você?

-Não,mas é que..

-Eu não estou grávida,tá legal? Só queremos nos casar!

-Gente,eu vou chorar! - Gina choramingou emocionada - Minha melhor amiga vai se casar, é o fim do mundo!

-Também estou sem acreditar,Gina.. - falei - Pensei que iria precisar de muita lábia para convencê-la..

-Eu não sou tão difícil.. E só aceitei porque é você.. - Merche enlaçou meu pescoço e, ignorando a amiga, puxou-me para um beijo demorado

-Eu estou aqui.. - Gina pigarreou - Podiam esperar até o casamento né?

-Gina,você está sobrando,amiga.. - ri baixinho devido a minha timidez. Ainda não estou acostumado com a pouca vergonha de Mercedes

-Eu tô vazando,mas ó,quero estar por dentro dos preparativos!

-Pode deixar,gatinha! - mal percebemos que Gina havia saído, pois logo estávamos engalfinhados um no outro

-Onde paramos,hein? - sussurrei em seu ouvido

-Acho que nos botões da minha camisa..

-Oh sim, então é melhor continuarmos..ou você faz do tipo que espera pra depois do casamento?

-Nem morta.. Não sei como aguentei passar um mês todinho longe de você..

-Longe de mim ou longe de sexo?

- Longe de sexo com você.. - respondeu distribuindo uma série de beijos no meu peito,subindo para o pescoço

-Você me deixa louco,Mercedes.. - pressionei seu corpo contra o meu, fazendo com que sentisse o volume da minha ereção, que já chegava a doer

-Amor.. - Merche gemeu ofegante. Ajoelhei-me aos seus pés, em seguida abrindo o zíper da sua saia jeans

 Acariciei sua intimidade ainda por cima do tecido da calcinha de rendas. Com os dentes, a desci lentamente deixando sua intimidade totalmente exposta,implorando pela minha língua.
 Merche se apoiou na parede ao sentir os primeiros espasmos em seu corpo. Apertei suas coxas para mantê-la quieta enquanto minha língua sugava seu clítoris com pressão. Sua voz saía com extrema dificuldade e seus gemidos me levavam ao ápice da excitação.

-Me dê sua mão.. - Merche fez o que ordenei

  Guiei sua mão à sua própria intimidade e ela mesma soube o que fazer. Mercedes penetrou dois dedos na sua entrada e com o indicador,passou a brincar com o clítoris, estimulando-o  lento e provocante. Seus gemidos agudos denunciavam seu primeiro orgasmo.

- É bom,não é? - provoquei

-Muito..

-Mais que a minha língua te fodendo? - desafiei,dando uma longa chupada em seus lábios vaginais

-Ooh!!  Sua língua é perfeita.. Me chupe mais,por favor.. - sorri vitorioso e voltei a me concentrar em suas pernas abertas. Merche continuava a se tocar com mais velocidade

-A-an.. - impedi seus dedos de se moverem - Agora é comigo.. - suguei seu clítoris,finalizando com um longo chupão

-Oh meu Deus! - Merche gritou e em segundos ela estava gozando na minha boca

 Terminei de me deliciar com seu sabor e me levantei,ainda mantendo minhas mãos presas em sua cintura. Mercedes estava trêmula e ofegante,mas seu olhar desejoso parece ter duplicado. Grudamos nossas bocas em um beijo violento eu aproveitei para terminar de despi-la e me livrar das minhas roupas.

-Preciso de você,amor.. Agora.. - suplicou

 Encaixei suas pernas em torno da minha cintura e as ergui mais um pouco,deixando-a pronta para me receber. Introduzi meu membro pulsante em sua intimidade quente e apertada, e tanto eu quanto Mercedes gememos em uníssono. Minha carga sexual estava no limite e a qualquer movimento eu poderia gozar.
 Quando me senti aquecido por sua intimidade, passei a me movimentar lentamente, sendo acompanhado por Mercedes que rebolava em sincronia. Apoiei seus braços nos meus ombros e agora,minhas mãos livres migraram para os seus seios rígidos. 

-Isso.. Oh meu Deus, não sei o que é melhor.. - grunhiu sentindo tanto o prazer do meu membro a penetrando quanto aos seus seios sendo apertados e mordiscados por mim

 Mercedes pressionava minha cabeça contra os seus seios, deixando-me ainda mais estasiado. Uma nova carga elétrica percorria pelas minhas veias, impulsionando-me a meter com mais força. O barulho do choque dos nossos corpos aumentava a cada estocada mais violenta, as gotas de suor desciam em camadas finas pela nossa pele.

-Eu vou gozar.. Porra,Merche! - gemi em um grito gutural quando atingi o clímax, levando Mercedes para o seu segundo orgasmo

  Permaneci com as estocadas fortes e profundas até sentir todo meu líquido se misturar com o dela. Continuamos a se esfregar um no outro,absorvendo o máximo do torpor que nos invadia.
 Merche saiu do meu colo,mas permaneceu abraçada à mim,em um silêncio confortável enquanto recuperávamos o fôlego. Eu podia ouvir nossos batimentos acelerados e a nossa respiração descompassada. Afastei uma mecha do seu cabelo que estava grudada em seu rosto.

-Você fica fodidamente sexy quando goza.. - sussurrei em seu ouvido

-Me deixa viciada em você..

-Que tal eu sustentar esse vício debaixo do chuveiro,hum? - Merche mordeu o lábio em resposta. Novamente a encaixei em meu colo e a levei para o banheiro.

Capítulo 31

Mirian

   Voltar para Nova York depois de tantos anos me causou um misto de sensações. Feliz por retornar à minha cidade natal e rever meus filhos,mas medo,muito medo da reação da minha família, principalmente de Leon.
    Ninguém será capaz de entender os motivos que me levaram a abdicar da presença dos meus filhos,mas uma coisa é certa,se tomei essa decisão foi unicamente pelo bem deles. E se agora estou arriscando meu acordo com Leon é pelo profundo amor que sinto por Michael.
Desde que ele nasceu,senti uma forte ligação entre nós,não que eu desgoste de Maysa e Edgar, amo-os da mesma forma,mas Michael é o que mais se parece comigo. Sua profunda sensibilidade e compreensão sempre me encantaram e ter que me afastar dele foi como uma faca em meu coração. 
    Não sei qual será sua reação ao me ver,pois dos três Michael é o que mais sentiu pelo afastamento. Me sinto em paz pelo fato de Edgar e Maysa manterem o contato comigo, mas o que sempre me preocupou foi Michael. Conheço meu filho e sei que quanto mais dor há em seu coração, mais ele se fecha em seu mundo e poder ajudá-lo me deixará um pouco aliviada, pois para vê-lo feliz sou capaz de tudo, até mesmo provocar a ira de Leon.
    Assim que o avião aterrizou, segui para o saguão do aeroporto. Abri um enorme sorriso ao ver Maysa me esperando com certa ansiedade. Deixei as malas para trás e corri de encontro a minha filha,que me recebeu de braços abertos.

-Meu amor,que saudade!! - salpiquei beijos por todo seu rosto, inalando o aroma floral dos seus cachos
-Quanto tempo,mãe.. Será possível que só posso vê-la quando temos algum problema? - me doeu profundamente enxergar tristeza em seus olhos

-Minha linda,é tão difícil explicar.. - suspirei - Não me condene,por favor.. Deixe-me matar a saudade de você! - voltei a abraçá-la com todas as minhas forças - Eu te amo tanto,minha princesa..

-Eu também te amo,mãe.. E quem sou eu para julgá-la? Até porque agora temos assuntos bem mais sérios.. - disse apreensiva

-É melhor sairmos daqui.. - Maysa assentiu e seguimos para o seu carro

(...)

-Ainda não consigo acreditar que Leon teve a coragem de colocar nosso próprio filho em um hospício! - falei assim que o garçom do Café se afastou. Maysa bebericou o chá e me encarou em seguida

-Ele teve.. Me dói dizer,mas meu pai é um monstro! Não sei como Michael suportou esse inferno..

-Michael é mais forte do que pensa,mas ele precisa de nós para ajudá-lo. Sei que estou longe de ser a mãe perfeita,mas farei tudo que tiver ao meu alcance para vê-lo feliz.

-Eu sei que vai.. Você é nossa única esperança.

-Me diga, o que tenho que fazer?

-Primeira coisa, assine essa autorização. Eu consegui o laudo médico original e veja só, Michael está em perfeita ordem mental!

-Disso eu sempre tive certeza.Onde assino? - Maysa indicou onde eu deveria assinar. Entreguei a ela os documentos devidamente assinados

-Obrigada..

-É mais que minha obrigação. O que será do Michael agora?

-Ele está livre. Não pode ser considerado um incapaz,pois temos as provas que precisamos. E se exigirem novos exames, faremos sob meus comandos.

-Graças a Deus! Meu filho não merece passar por isso..

-Não deixaremos! - assegurou, apertando minha mão - Não imagino qual será a reação do meu pai. Ele já deve estar ciente do ocorrido.

-Deixa ele comigo. Teremos uma conversa muito séria.. - afirmei, sentindo uma pontada de receio devido ao nosso futuro confronto

-Você fala como se tivesse medo dele.. Juro que tento entender que diabos aconteceu entre vocês..

-Se Deus permitir um dia poderei lhe contar.. - respondi, enxugando minhas lágrimas - Agora é melhor nós irmos,quero falar com Leon agora mesmo.

-Tem certeza que quer fazer isso agora?

-Sim,pois também quero ver Edgar e claro, o Michael.

-Então isso quer dizer que você vai embora novamente?

-Sim.. Eu vim às pressas,meu anjo. Deixei minha boutique nas mãos da gerente e ela precisa de mim.

-Tudo bem, se quer assim.. - Maysa acenou para o garçom e ele logo retornou com a conta

(...)

   Por os pés na minha casa novamente foi uma sensação inexplicável. Tantas coisas mudaram desde que parti, que me faz ver o quanto eu perdi,principalmente o crescimento dos meus filhos. 
Leon ainda não havia chegado da empresa,o que aumentou meu nervosismo. Deus sabe qual será sua reação ao saber da minha volta. Mas o que acalmou meu coração foi ver Edgar descendo as escadas.      Ele paralisou ao me ver, provavelmente assustado. Quando saí de casa ele tinha apenas seis anos e vê-lo como um homem encheu meu coração de orgulho e felicidade.
Permanecemos eu,Maysa e Edgar esparramados no sofá da sala de estar. Ocupei-me em escutar tudo o que contavam sobre seus últimos anos, os estudos e todas as novidades. É claro que estaria perfeito se Michael estivesse conosco,mas compreendo que nossa conversa será delicada.

-Vocês são tão lindos.. - falei pela décima vez,mantendo-os agarrados em mim - Como vocês cresceram tão rápido?

-O tempo não espera,mãe. - Edgar disse

-Sim,eu sei.. Nunca vou me perdoar por ter perdido os melhores anos das suas vidas.. E a do Michael também.

-Por que tem que falar desse maluco? - Edgar praticamente vociferou

-Não admito que fale assim do seu irmão! - o repreendi - Você devia estar o apoiando,Edgar!

-Eu não tenho culpa por ele ter se envolvido com drogas,ou seja lá o que ele tem na cabeça!

-Edgar,chega! - Maysa gritou - Você sabe muito bem que nosso irmão é completamente normal, mais até que nós dois juntos!

-Não venha defender esse otário!

-Edgar.. - murmurei abismada ao ver seu comportamento - Como pode falar assim do seu próprio irmão?

-Fica na sua! - disparou contra mim, dando as costas e subindo apressado para o quarto

-Maysa,desde quando Edgar e Michael vivem em guerra?

-Não tem guerra nenhuma, Edgar que do nada passou a implicar com Michael.. O pior é que ele sempre soube da internação!

-Como é que é?

-Michael contou que no dia em que saiu daqui direto pra clínica, papai e Edgar assistiram à tudo.

-Não posso acreditar nisso.. Meu próprio filho prejudicando o irmão.. Parece que eu escutei o Leon em seu tom de voz. - Maysa me encarou com o semblante preocupado - Eu terei uma conversa séria com Edgar.

-Se acha que vai ajudar.. - fomos despertadas da nossa conversa pela voz estridente de Leon

-Mas o que você está fazendo aqui? - virei-me para encarar seus olhos tomados de ódio

-Vamos para o escritório,Leon. - ordenei. Maysa nos olhou de cenho franzido,mas naquele momento era impossível explicar alguma coisa

   Boa parte da fúria de Leon foi descontada na esmurrada que deu na porta. Para ele,meu retorno é uma ofensa à sua honra, e em parte ele tem razão.Mas nada justifica a monstruosidade que ele fez com o meu filho e mesmo sendo perigoso, não voltarei atrás.

-Como tem coragem de aparecer nessa casa? Já não ordenei que ficasse longe daqui?

-Eu é que pergunto como você teve coragem de internar nosso próprio filho em um hospício!!

-Olha só.. Agora resolveu dar uma de mãe preocupada? Me poupe, Mirian! - debochou

-Eu sempre me preocupei com os meus filhos, você sabe muito bem disso! Ou esqueceu que você me obrigou a afastar deles?

-Quer mesmo falar disso,Mirian? - perguntou em um tom ameaçador - Você escolhe.

-Tudo bem,Leon.. O que vim falar será breve. Acabo de dar a autorização para tirar Michael daquela clínica.

-Só pode estar blefando! - gargalhou - E mesmo que você dê dezenas de autorizações,elas serão inválidas,visto o estado em que ele se encontra.

-Ah,você acha? Pois ele me pareceu estar muito bem,longe daquele inferno! - Leon perdeu a fala juntamente com a mudança da cor do seu rosto,que adquiriu um tom de vermelho fogo

-O que foi que você disse?

-Que já faz dias que Michael está livre e você que se julga o esperto foi o último a saber!

-Não,não é possível.. - ele andava de um lado para o outro, visivelmente contrariado - Ele não teria como fugir..

-Mas conseguiu! E assim que eu soube vim correndo pra cá. Você pode fazer o que quiser comigo,mas com meu filho não! - gritei, apontando o dedo indicador em sua direção

-Tem noção da merda que você fez? Me diga onde ele está agora!! - berrou,sacudindo-me pelos braços

-Ainda não sei e mesmo que soubesse não diria! Michael passará por exames autenticados para provar sua sanidade. E nem você e ninguém vão prendê-lo novamente!

-Ah Mirian.. Não devia ter me desafiado.. - riu - Já sabe o que lhe espera,não é?

-Eu pouco me importo! Se quiser escancarar a verdade,fique a vontade. Mas é melhor se acostumar com a fama de...

-Cala essa boca! - vociferou, transferindo um tapa em minha bochecha. Acariciei o local da agressão e o encarei

-Nem seus tapas me machucam mais, Leon. Eu não tenho medo de você!

-Vá embora daqui antes que eu faça uma besteira. Desapareça das nossas vidas! Se ainda não notou, seus filhos lhe desprezam e se souberem a verdade aí sim irão te odiar. É isso que você quer?

-Não!! Não faça nada contra eles.. Eu irei embora,mas feliz pela minha missão ter sido cumprida. - peguei minha bolsa e a apoiei em meu ombro - Nunca mais importunará o meu filho. Nunca! - dei meu ultimato e deixei a sala

Confrontar Leon não foi tão difícil como pensei. É claro que sua reação foi das piores,mas me senti forte o bastante para impor meu papel de mãe,mesmo temendo as consequências.

(...)

Depois da difícil conversa com Leon, tive que me despedir de Edgar. Por eu ter ido embora quando ele ainda era muito novo, nunca tivemos uma relação tão forte como com Michael e Maysa, mas isso nunca foi um empecilho para nós dois.
    Edgar sempre vinha passar as férias comigo e seu jeito amável e descontraído nunca me causaram preocupação,mas também era notável que sua expressão mudava quando falávamos de Michael e hoje depois da sua reação, percebi o que eu mais temia, Edgar sente ódio do irmão. É doloroso para uma mãe perceber isso,mas hoje quando fui me despedir dele,o repreendi pelo seu comportamento e a forma como falava do irmão me deu calafrios. Tudo que mais peço à Deus é que isso seja apenas uma fase da adolescência.
  Depois de me despedir de Edgar, desci as escadas e encontrei uma Maysa aflita me esperando.

-Mãe, o que foi aquilo? - perguntou assustada pelo jeito que Leon me recepcionou

-Não foi nada,meu anjo.. O que importa é que agora seu pai deixará Michael em paz.

-Como pode ter certeza? Ou melhor, isso tem a ver com a forma que ele falou com você?

-Não,não.. Você sabe como é seu pai.. - disfarcei - Mas o que realmente me preocupou foi o comportamento do Edgar. Eu nunca o vi assim!

-Ele tem mudado muito,mãe.. Ou fomos nós que não percebemos..

-O que está insinuando?

-Nada, só acho que quem deveria cuidar da saúde mental é o Ed. Eu amo meu irmão e é por esse motivo que quero o bem dele. Sabe, essa competição desenfreada com o Michael está passando dos limites!

-Por mais que me doa,devo concordar com você. Mas isso também pode ser uma fase.. Edgar tem apenas 17 anos,é imaturo.. Ele sente ciúmes do Michael,isso é normal..

-Bem,você é a mãe e se pensa desse jeito,cabe a mim concordar. - Maysa soltou um suspiro de frustração

-Eu só peço para que cuide dele.. Sei que Michael tem precisado de mais atenção,mas por favor, não deixe de lado o Edgar.

-Deixa comigo..Mas você já vai? Mãe,você acabou de chegar!

-Eu sinto muito,mas prometo que voltarei logo,sim?

-Tudo bem.. - suspirou

-Mas antes de ir,preciso ver o Michael. Onde ele está,Maysa?

-Eu te levarei até eles..

-Eles? - perguntei sem entender. Maysa apenas riu

-É uma longa história.. Vem, eu vou te contando no caminho,só peço para que não se assuste com a pessoa que vou te apresentar..

-Está me deixando curiosa! Mas sabe, o que está me afligindo é a reação do Michael. Acha que ele vai me receber?

-Michael tem um coração enorme,sei da mágoa que ele sente,mas ele vai te ouvir. Preparada? - perguntou ao pegar na minha mão

-Vou estar..

Capítulo 32

Michael

    Não tem nada pior do que ficar o dia todo sozinho sem por a cabeça pra fora da janela. Me sinto como se estivesse trancafiado na clínica, pois simplesmente estou preso nesse apartamento. É óbvio que há uma diferença gritante,pois aqui tenho paz e claro, Mercedes. Só que a minha noiva parece ter se esquecido de mim,se levar em conta que ela foi embora antes de eu acordar e até agora nada. 
   Já havia terminado de ler um livro que Maysa trouxe para mim, que tinha servido como um passatempo. Me levanto,vou até a janela e observo a chuva fria do fim de tarde. Eu daria tudo para estar do lado de fora, vivendo como um homem normal, mas acho que nunca conseguirei me livrar do castigo que é ser um Jackson.

-Posso saber que carinha é essa? - virei-me ao escutar a voz de Mercedes. Ela estava encostada na parece,me olhando com um sorriso travesso

-Essa cara é de quem está farto de ficar trancado aqui dentro e pra piorar,abandonado pela própria namorada e futura esposa! - fingi uma indignação. Merche riu da minha cara e se arrastou até mim, enlaçando meu pescoço

-Você fica lindo nervosinho.. Mas eu posso me defender?

-Tente.. - revirei os olhos

-Eu tive que ir no Queens buscar encomendas da loja e quando voltei tive que trabalhar.. Poxa amor, senti tanto sua falta.. - sussurrou distribuindo beijos no meu pescoço

-Eu não acredito em você.. - murmurei

-Sabe, eu passei o dia todo pensando naquela transa deliciosa que tivemos ontem a noite..

-Mercedes,você joga sujo.. - minha voz saiu cortada por conta dos espasmos que meu corpo emitia. É incrível como Mercedes consegue me excitar tão facilmente

-Eu sei e você gosta,mas pode abaixar esse fogo,ouviu? - disse ao apertar de leve meu membro ao infiltrar a mão dentro da minha calça, arrancando-me um longo gemido

-Como pede isso logo agora? Você quer me deixar louco,não é?

-Juro que adoraria ter você dentro de mim agora,mas você tem visitas.

-Eu? Mas não podem saber que estou aqui!

-Hmm acho que esqueci de mencionar que você não precisa mais se esconder.. - afirmou ao dar as costas. Agarrei sua cintura e a puxei para mim

-Hey, que história é essa,mocinha? - perguntei totalmente surpreso

-Bom,eu ia deixar para as suas visitas contarem,mas eu não resisti.. Você está livre,meu amor! - Merche pulou no meu pescoço, vibrando de felicidade

-Mas.. como assim? - ri abobalhado. O semblante de Merche mudou com o toque da campainha

-Antes de abrir,você precisa se preparar..

-Quem está aqui,Merche?

-Sua mãe.. - engoli seco com sua revelação. É surreal saber que minha mãe está do outro lado da porta e eu definitivamente não estou preparado para vê-la

-Não,você deve estar enganada.. Minha mãe não se deslocaria de tão longe atoa..

-Não é atoa Michael, é por você! Ela enfrentou a fúria do seu pai para te defender. E se você está livre daquela clínica é graças à ela..

-Merche,você não sabe de porra nenhuma! - gritei

-Sim,de fato eu não sei! Eu não te conheço tanto quanto a sua amiguinha Dominique,mas só te digo uma coisa. Eu fui abandonada pelos meus pais biológicos, vivi até meus sete anos em uma porcaria de orfanato nojento,fui adotada por dois babacas e desde então eu me viro sozinha. Eu não sei o que é o amor de uma mãe, o que é ser acolhida e protegida e sabe, eu daria tudo pra receber um terço do amor que ela sente por você..

-Mercedes..

-Mercedes nada! Você devia agradecer à Deus pela sua mãe não ser como o diabo do seu pai! Você é só um moleque de 21 anos que não conhece nada da vida, inclusive a história da sua mãe. Deveria parar de julgá-la e aproveitar a mãe que você tem! Não queira saber como é viver largado.. Pensa bem no que eu disse! - Merche terminou a bronca e me deixou falando sozinho, abrindo a porta com força

Eu não tive nem tempo de respirar ou pensar no que Mercedes disse, pois em um átimo de segundo vejo minha mãe entrar na sala,ladeada por Maysa, que quebrou o clima estranho ao vir me abraçar.

-Mano, como se sente?

-Bem.. - respondi automaticamente mantendo meus olhos fixos no chão. Eu não conseguia olhar nos olhos da minha mãe

-Eu..vou deixá-los a sós.. - Maysa beijou minha testa e me transmitiu confiança em seu olhar

O momento que mais temia chegou. Estou de frente com a minha mãe e não tenho noção do que fazer e pra piorar acabei descontando na Mercedes. Minha cabeça está embaralhada e minha vontade é de sumir.

-Oi, meu filho.. - disse,quebrando o silêncio - Você está tão..

-Crescido? Sim,estou.. Os anos não perdoam não é mesmo? - por mais que eu tentasse eu não conseguia agir de outra forma

-Você tem razão. - ela sorriu, disfarçando algumas lágrimas que caíam - Mas o que eu quero mesmo dizer é que você está se transformando em um homem lindo.. Meu homenzinho.. - diz aparentando estar emocionada

-Para de me chamar assim,ou melhor, pare de agir como se tivéssemos uma agradável relação entre mãe e filho!

-Meu amor,eu sei que você tem motivos de sobra para estar ressentido,mas não me olhe assim..

-E você quer que eu me sinta como? Você foi embora quando eu tinha nove anos caramba! - extravasei socando a parede com o punho fechado

-Você tem toda razão,meu bem.. Mas você tem que saber que eu não escolhi isso!

-Meu pai pode ser um desgraçado, mas dizer que ele te proibiu de nos ver já é demais,né?

-Se conhecesse seu pai saberia que ele teria coragem sim!

-E por que ele faria isso? Vamos,me diga!

-Eu não posso.. - fechei meus olhos e respirei fundo tentando manter a calma

-Então que diabos está fazendo aqui? Quer que eu agradeça pelo que fez? Ok, obrigada por me tirar da clínica, compensou todos os anos que passou sem dar as caras!

-Michael não fale assim comigo, por favor! Você ainda é muito novo pra entender certas coisas e..

-A mesma desculpa de quando eu era pequeno, é impressionante! Quando vai deixar de ser uma mulher fútil e assumir os seus erros?

-É justamente por isso que estou aqui,meu filho. Se pra você é difícil, pra mim foi muito pior! Não há nada mais doloroso que se afastar de quem ama e sim,estou sendo duramente castigada por isso. Não quero que pense que lhe tirei da clínica esperando seu perdão, só quero que veja que eu te amo e tudo que eu fiz foi apenas para protegê-lo!

  Seu rosto à essa altura estava banhado de lágrimas, e por mais mágoa que eu sinta,porra ela é a minha mãe e eu a amo com todo meu coração. De repente veio a minha mente a lembrança de todos os momentos que vivemos juntos, de todas as vezes em que ela me defendeu do meu pai e de tudo que me ensinou no curto período que permanecemos juntos.
    Eu sei que não conseguirei perdoá-la da noite para o dia,mas tudo que Mercedes despejou na minha cara me serviram de alerta. Eu deveria agradecer por ter pelo menos ela e Maysa ao meu lado e não afastá-la ainda mais de mim. Eu não faço ideia dos motivos que a levaram a agir dessa forma,mas acredito que há um significado. Quando amamos alguém somos capazes de fazer coisas que aos outros olhos possam ser duvidosas. Digo isso,pois, por amar Mercedes fui capaz de mentir, magoá-la e quase perdê-la pelo simples desejo de protegê-la e eu consigo enxergar uma semelhança em relação à minha mãe.

-Eu não vou conseguir passar uma borracha nisso tão facilmente, por favor entenda. Eu sei que não sou ninguém para julgá-la,sei também que pode ter sido sofrido pra você tanto quanto pra mim. Eu te amo,mãe e mesmo que agora não tenhamos uma boa relação,quem sabe um dia essa mágoa possa ter um fim?

-Eu sei.. - disse em meio a um sorriso - Só de poder enxergar a ternura em seu olhar,já alegra meu coração. Só peço que também tenha paciência comigo,pois um dia eu me abrirei inteiramente pra você. A única coisa que não pode duvidar é do amor incondicional que sinto por você.

-Eu sei.. Eu também amo você independente de tudo..

-Eu posso te abraçar? -pediu com a voz embargada. Assenti na tentativa se bloquear as lágrimas

   Ela abriu os braços para mim e me abraçou forte e calorosamente. Era o mesmo abraço,o mesmo cheiro e a mesma emoção de quando eu era criança. Eu poderia passar horas agarrado em seu colo,pois ali eu sentia que era amado e protegido, assim como estou sentindo agora. Parece que todos os problemas e angústias haviam se dissipado. Uma paz imensa invadiu meu peito e um largo sorriso despontou em meus lábios.
  Depois de um breve tempo, me desfiz do seu abraço. Seus olhos azuis brilhavam na mesma intensidade que eu via há doze anos atrás. Ela beijou o dorso da minha mão e se preparou para virar de costas.

-Mãe? - ela se virou para me encarar - Quer vir no meu casamento?

-O..o que? - eu ri da expressão abismada em seu rosto - Michael, como assim casar?

-Certo,eu não estava esperando por isso.. - pigarreei e me dirigi ao lado de fora do apartamento. Maysa estava encostada na parede,mas não vi sinal da Mercedes

-Aconteceu alguma coisa,mano? - perguntou preocupada

-Não,não.. Onde está a Mercedes?

-Não sei,acho que foi para o apartamento dela..

-Merda.. - levei minha mão à nuca, me lembrando da nossa pequena discussão - Ela tava com a cara ruim, digo, brava?

-Hmm não.. Ela só disse que queria deixar você e a mamãe a sós.. Vocês brigaram?

-Não,é que.. - suspirei - Eu fui meio babaca com ela.. Mas eu queria apresentá-la à nossa mãe.

-Sério? Então vocês se acertaram?

-Não totalmente,mas eu decidi abrir meu coração..


-Eu fico muito feliz pela sua decisão, mas não se preocupe, mamãe terá tempo de sobra para conversar com sua noiva.. Deus, ainda não consigo acreditar que você vai se casar!

-Pois é.. - ri - Eu nunca desejei tanto uma coisa como me casar com a Mercedes.. Falando nela, preciso vê-la. Pode fazer companhia pra nossa mãe?

-Claro! Nós voltaremos para te ver e logicamente,para o seu casamento!

-Obrigada,Maysa.. por tudo mesmo!

-Imagina,meu anjo.. Sabe que eu te amo muito.

-Eu também te amo.. Dê um beijo nela por mim. - nos despedimos com um abraço carinhoso e agora, como estou livre,caminhei tranquilamente para o apê de Mercedes

   Depois da conversa com a minha mãe,eu me senti mais leve,não pelo fato de não precisar mais me esconder e sim,por permitir dar uma chance a uma relação que eu imaginava estar perdida. 

  Toquei a campainha por diversas vezes e nada de Mercedes atender. Decidi então abrir a porta e por sorte não estava trancada. A sala estava silenciosa,assim como o resto da casa,mas a claridade vinda do seu quarto me chamou atenção.
   Tirei minha jaqueta de couro, jogando-a por cima do sofá. Dirigi-me ao fim do corredor e entrei no quarto. Abri um sorriso apaixonado ao ver Mercedes em pé de frente para a cama,com a perna esquerda firmada no colchão. Ela passava um creme hidratante em sua coxa e não percebeu minha presença. Sem que ela notasse,me aproximei dela e levei minha mão até seu quadril, ajudando a espalhar o creme em sua pele.
   Merche fez menção de se virar,mas a impedi,enterrando meu rosto em seu pescoço. Guiei minha mão em cima da sua e entrelacei nossos dedos.

-Tão cheirosa.. - sussurrei baixinho em seu ouvido. Merche se arrepiou

-Por que está aqui? - perguntou em um tom de voz calmo

-Porque segui seu conselho e queria dividir isso com você,além de pedir desculpas pela forma como eu falei.

-Tudo bem,Mike.. Não fiquei chateada por isso e sim pela sua teimosia.

-Então não precisa mais puxar minha orelha.. - Merche se virou para mim

-Como assim? Você e sua mãe conversaram?

-Sim e eu pensei em tudo que me disse. Apesar de ainda sentir ressentimento,ela é minha mãe. Nossa relação não vai melhorar da noite pro dia,mas eu quero tentar. - Mercedes acariciou minha bochecha e sorriu

-Eu sabia que ia pensar melhor! Você vai ver como vai te fazer bem ter dado essa nova chance pra ela.

-E você não quer dar uma nova chance pra mim?

-Não sei.. Você acha que merece? - perguntou fazendo seu famoso biquinho que tanto me encanta

-Me diz você.. - respondi ao me ajoelhar

-Que porra você tá está fazendo? - riu. Peguei sua mão direita delicadamente e percebi como ela estava trêmula

-O que eu deveria ter feito no dia que te pedi em casamento. - tirei do bolso o anel que Maysa me presenteou e mostrei para Mercedes,que ficou boquiaberta

-Ah meu Deus..

-Posso? - perguntei,pedindo permissão para colocá-lo em seu dedo

-Cla..claro! Caramba,eu não estava esperando por isso..

-Eu sei... Adoro te surpreender! - após colocar o anel em seu dedo, beijei o dorso da sua mão e fitei seu olhar emocionado. Merche me ajudou a levantar,puxando-me para um abraço forte

-Amo você.. - disse salpicando beijos por todo o meu rosto

-Eu te amo mais,futura esposa.. Agora,que tal tirar isso aqui..? - desfiz o nó do seu roupão e em segundos ela estava despida

-Aprova o que está vendo?

-Oh sim.. Mas preciso aprovar outra coisa também.

  Empurrei seu corpo contra o colchão,atacando seus seios com meus lábios quentes. Mercedes me ajudou a tirar minha roupa e logo estávamos nos amando com a intensa paixão que nos une cada vez mais.

Capítulo 33

Mercedes

   Desde o dia que Michael me deu o anel de noivado,minha vida virou uma loucura. Combinamos de nos casar no fim do mês e já se passou uma semana desde então. A minha sorte é que conto com a ajuda da Gina, Maysa e da minha sogra. Caramba,essa palavra ainda é nova no meu vocabulário. Mas enfim, o grande dia está chegando e eu já não tenho mais unhas para roer de tanta ansiedade.

-Amor,o que você tá fazendo? - estranhei ao ver Michael debruçado em uma montanha de jornais

-Estou vendo os classificados. - respondeu sem ao menos olha para mim. Me sentei em cima da mesa,obrigando-o a me encarar

-E pode me dizer pra que?

-Bom, são para duas coisas. Emprego e apartamento.

-Como? - Michael soltou a caneta e migrou suas mãos para as minhas coxas

-Merche,a partir de agora eu não terei mais o dinheiro dos meus pais, o que é uma benção. A minha mãe ofereceu ajuda de custo,mas eu recusei. Agora somos só nós dois e o papel do marido é sustentar a casa.

-Eu não tinha pensando nisso.. - me levantei de imediato

-Nisso o que,amor?

-Michael você agora não vai ter como frequentar sua faculdade e..

-Shii.. - Michael me calou com o polegar - Eu ainda sou muito novo, além do mais tudo que eu não queria era cursar administração! - afirmou, rindo descontraidamente

-Mas eu me sinto mal por isso.. Poxa, Michael você tem tudo, quer dizer,tinha.. Como você vai se acostumar a viver desse jeito?

-Querida,eu vou conseguir. Eu sei que é uma realidade diferente da minha,mas eu vou me acostumar. Eu tenho você,Mercedes e isso pra mim basta!

-Você tem razão.. Sei que teremos dificuldades,mas vamos conseguir!

-É assim que se fala! - disse apertando a ponta do meu nariz

-Agora que história é essa de apartamento?

-Bom,nós vamos casar e eu pensei que seria bom se começássemos nossa vida em uma nova casa. O que acha?

-Eu adorei,mas como vamos ter dinheiro pra isso? - Michael deu um sorriso torto e tirou do bolso da calça uma chave,que reconheci ser de um carro

-Isso responde? - riu - Eu vou vender a Porsche que ganhei de presente da minha mãe, e com o dinheiro vamos conseguir comprar um apê pequeno e os móveis que precisamos.

- Mas você vai ter coragem de vender seu carro?

-Ele não tem mais necessidade pra mim.. E como foi presente da minha mãe,não vejo problemas em usar essa grana.

-Sendo assim, nem eu.. E também eu posso colocar meu apartamento pra alugar.. Não posso vender porque não tenho documentos,mas alugo pra alguém de confiança. Vai nos ajudar com as despesas..

-Boa..Mas não vamos falar de dinheiro agora.. - disse ao me pegar no colo - Temos uma festa pra fazer, e como a senhorita faz questão de se casar aqui, temos que agilizar os preparativos!

-Está tudo encaminhado.. As meninas estão cuidando de tudo!

-Muito bem.. Então, próximo tópico, nossa lua de mel. - abri minha boca em um O

-Lua de mel? Tá falando sério?

-Mas é claro que sim! Não é porque será um casamento fora dos padrões que não teremos uma lua de mel. Onde você quer ir?

-Mike eu não faço questão disso, por mim qualquer lugar ao seu lado será maravilhoso!

-Mas eu faço questão,mocinha! Prometi que faria de você a mulher mais feliz desse mundo e é isso que irei fazer!

-Ai Michael, parece um sonho.. - suspirei,enlaçando seu pescoço - Nunca fui tão feliz em toda minha vida!

-Eu digo o mesmo,princesa.. E nós vamos ser muito felizes,eu prometo! - Michael sorriu,mas de repente seu semblante escureceu-se

-O que houve?

-Tenho que te pedir uma coisa.. - murmurou

-Pode pedir,amor..

-Quero que vá comigo na casa do meu pai. - me afastei minimamente para raciocinar sua proposta - Eu vou entender se não quiser ir comigo, mas eu preciso desse reencontro. Vou começar uma nova vida e eu faço questão que ele saiba que vamos nos casar!

-Olha,eu realmente acho que seria bom pra você,mas está preparado pra isso? Seu pai vai enlouquecer quando souber!

-Eu não me importo. Preciso enfrentá-lo e mostrar que não sou mais o Michael de antes. E se ele surtar, o problema não será nosso.

-Pode contar comigo. - peguei na sua mão,transmitindo a confiança que ele necessita - Vamos enfrentá-lo de cabeça erguida e seguir com a nossa vida.

-É por isso que eu te amo.. - Michael me apertou em seus braços, enchendo meu rosto de beijos

-Para,Mike! Faz cócegas.. - respondi com dificuldade. Michael me pegou no colo, levando-me para o quarto

-Parei,sua chata! - resmungou - Então, acha que podemos ir hoje?

-Quando você quiser. E eu prometo que ficarei na minha. Você sabe que sou esquentada,mas o lance é entre você e seu pai,então vou tentar ficar na minha.. - Michael riu - Do que está rindo?

-Você se controlando? É impossível! Mas sabe,eu gosto desse seu jeito.. É sexy.. -Michael roçou os lábios na minha nuca, eriçando meus pelos

-Não faça isso.. Temos compromisso, esqueceu?

-É.. eu não esqueci.. Vamos enfrentar a fera!

-Que tal se tomássemos um banho juntos,aí você vai poder relaxar, recarregar as energias..

-Ótima ideia! - disse enquanto se despia

   Pra falar a verdade eu não sei se será bom procurar o pai dele, mas por outro lado Michael precisa fazer isso para mostrar que sabe caminhar com as próprias pernas. Eu cobrei tanto isso dele e agora finalmente ele está me provando que mudou. Eu sei que Leon vai querer fazer um inferno na nossa vida e em parte isso me dá medo. Mas nós conseguimos superar tantas adversidades que Leon Jackson será apenas um detalhe.

Capítulo 34

Michael

  Com Mercedes ao meu lado me sinto forte o bastante para enfrentar meu pai. E agora,de frente ao portão da minha antiga casa, respiro fundo e fecho os olhos, juntando a coragem necessária para sair do carro.

-Você vai conseguir.. - Mercedes disse ao apertar minha mão. Suspirei e abri meus olhos para fitá-la

-Eu vou sim.. Vamos lá. - destravei as portas do carro e de mãos dadas com Mercedes, direcionei-me para a entrada principal

-Podíamos ter entrado pelos fundos. - Merche cochichou no meu ouvido

-Não senhora,essa casa ainda é minha. Não somos obrigados a entrar pela cozinha!

-Seu metido.. - zombou,rindo de mim

A sala estava silenciosa e nem havia sinal do meu pai,mas provavelmente ele está trancado em seu escritório. Escutei um barulho vindo do corredor,mas respirei aliviado ao ver Corine correr até mim.

-Oh meu Deus,Michael!! - fui recebido por seu caloroso abraço - Eu quase morri de preocupação!

-E saudades,não sentiu?

-É claro que senti! - respondeu enxugando as lágrimas - Graças a Deus você está bem! - Corine me encheu de beijos até reparar em Mercedes - Michael,ela é a..

-Sim,ela é a Mercedes. - respondi olhando-a com orgulho - Finalmente posso te apresentar a minha noiva.

-Quando sua mãe contou eu não acreditei! - Corine se aproximou de Merche e lhe envolveu em um abraço carinhoso - Seja bem vinda,querida. Estou muito feliz por conhecê-la e você é mais linda do que Michael me disse!

-Imagina.. - respondeu envergonhada - Fico lisonjeada por ouvir isso.. Michael fala muito de você,quer dizer, da senhora.

-Oh querida,pode me chamar de "você" mesmo, assim não me sinto tão velha!

-Que isso, você tá com tudo em cima!

-Mercedes! - a repreendi - Desculpa Cori,é que a minha noiva é um pouquinho desbocada,sabe? - me expliquei, beliscando a cintura de Mercedes

-Ai!! -gritou,devolvendo um tapa no meu ombro - Você sabe que eu sinto cócegas,Michael! - continuamos rindo da nossa palhaçada, esquecendo que Corine estava na nossa frente,pigarreando

-Ah.. foi mal,Cori.. - disse,me retratando - Mas falando nisso, quero você no nosso casamento, hein?

-Mas é claro que eu vou! Jamais perderia o momento tão lindo da sua vida.. E eu tenho certeza que essa mocinha linda vai te fazer muito feliz!

-Já me faz,Corine.. - afirmei, beijando a bochecha de Mercedes - Essa aqui eu não largo nunca mais!

-Parabéns,vocês merecem!

-Obrigado.. Corine,meu pai está aí?

-Está sim.. Vocês pretendem falar com ele..?

-Sim. - respondi - Não quero mais viver escondido e está mais do que na hora dele saber do nosso casamento.

-Eu entendo e acho que você está certo. Mas tome cuidado.. Você sabe que seu pai não vai concordar com isso

-Eu sei e estou preparado. Nada do que ele disser vai mudar minha decisão. Está no escritório?

-Sim.. - respondeu abaixando a cabeça

-Vamos,Merche? - ela assentiu, pegando na minha mão

  Nem ao menos me dei ao trabalho de bater na porta. Queria terminar logo a conversa para não ter que ficar no mesmo ambiente que o homem que fora capaz de me jogar em um hospício.
Leon estava sentado em sua enorme poltrona de couro,com um charuto entre os dedos e os olhos fixos no notebook. Ele abaixou os óculos de grau e se levantou de súbito ao me ver.

-Olha só quem apareceu! - bradou com o trivial deboche de sempre, ainda sem notar a presença de Mercedes, que estava atrás de mim

-Surpreso em me ver? - puxei Mercedes para frente,de modo que ficássemos lado a lado - Ou melhor.. em nos ver? - meu pai nos olhou como se visse a própria aberração na sua frente. Mercedes permaneceu segurando firme a minha mão

-Não,isso só pode ser um pesadelo.. Como tem a coragem de trazer essa maldita aqui?

-Se não sabe a casa também é minha,você querendo ou não! - respondi austero - Eu só vim aqui para que você saiba que a sua monstruosidade não me destruiu. Felizmente eu tenho pessoas ao meu lado que me amam e nunca mais precisarei reivindicar nada de você!

-Quem está ao seu lado? A perdida da sua mãe e essa marginal?

-Não ouse falar assim delas! - vociferei. Mercedes segurou firme meu braço, tentando me controlar

-Chega a ser ridícula essa cena.. - disse rindo - Acha mesmo que vou permitir que continue se envolvendo com esse tipo de gente? - Leon lançou um olhar de desprezo para Mercedes

-E é esse tipo de gente que vale muito mais que você! -Mercedes respondeu

-Ah estava na hora da revoltada se pronunciar.. - riu novamente - Realmente acha que meu filho sente algo por você? Quanta ilusão..

-Sim,ela sabe pai. Tanto sabe que hoje estamos noivos! - seu sorriso morreu ao ouvir minha revelação

-O que disse?

-Isso mesmo que ouviu. Eu e Mercedes vamos nos casar! - Leon gargalhou

-Quer mesmo que eu acredite nisso? Ok.. E você acha que eu permitirei essa palhaça? Ou melhor, que você traga essa garota para dentro da minha casa?

-Não precisa se preocupar.. - sorri tranquilamente - Só vim aqui para lhe deixar informado,pois pretendo não pisar aqui nunca mais!

-É mesmo? E acha que vai viver do que? Da mesada do papai?

-Será que ainda não entendeu que eu não preciso de você? - gritei, comprimindo meus lábios

-Chega dessa palhaçada,Michael! - gritou ainda mais alto - Se insistir nessa loucura eu te deserdo!

-Ótimo,faça isso! Porque eu não quero um tostão do seu dinheiro sujo! Caminharei com as minhas próprias pernas e nunca mais dependerei de você!

-Você realmente está enfeitiçado por essa mulher.. - me olhou horrorizado - Não percebe que ela quer destruir nossa família? E você como um idiota está caindo direitinho!

-Eu não preciso usar o Michael para lhe atingir,até porque a vida estará encarregada de te derrubar por si só. Sabe,eu juro que chego a cogitar a hipótese do Michael não ser seu filho,pois não é possível que um homem tão bom como ele possa ter o mesmo sangue de um demônio!

-Eu vou acabar com você! - ameaçou, partindo para cima de Mercedes. Mais que depressa, o agarrei pelo colarinho, afastando-o dela

-Se encostar um dedo nela eu esqueço que o senhor é meu pai! - Leon se afastou, virando-se para a janela

-Pois pra mim pode esquecer. Porque sou eu quem esqueço que sou seu pai. Se decidir ir embora com essa mulher,você morrerá pra mim!

-Faça o que quiser.. é  uma pena escutar isso do meu próprio pai, mas será melhor para todos nós. Ficarei livre de você! - puxei Mercedes pela cintura, levando-a para a fora do escritório

-No fundo você sabe que isso não dará certo.. - afirmou tranquilamente, ainda de costas pra mim - Você vai enjoar da vidinha miserável que vai levar e quando se cansar,voltará correndo pra cá..

-Pense o que quiser,não tenho que lhe provar nada! Vamos,Mercedes. - ela assentiu,envolvendo o braço na minha cintura

  Eu tremia dos pés à cabeça,mas não de medo. Eu sentia ódio, nojo, raiva.. O que Mercedes disse realmente tem razão. Como eu pude nascer justamente como filho de Leon? Eu preferia mil vezes ter crescido sem os pais,como Mercedes, do que ter esse homem como pai. Mas agora acabou, me sinto livre das correntes de Leon, é como se eu tivesse nascido de novo.

-Tá tudo bem amor, está tudo bem.. - Merche me acalentou quando enterrei meu rosto em seu pescoço, chorando copiosamente

-Eu o odeio,odeio! - grunhi, apertando-me em seus braços

-Esqueça ele,meu bem.. Ele nunca mais vai se meter na sua vida. Não chore mais.. - Merche enxugou minhas lágrimas, em seguida beijando minha testa

-Vamos embora,por favor. Não suporto mais esse lugar!

-Tudo bem,depois nós falamos com a Corine.. - Merche me puxou pelo braço enquanto íamos para o carro

(...)

   Voltamos para casa em silêncio. Por mais que evitasse,eu me sentia quebrado por dentro. Apesar de tudo aquele desgraçado é meu pai e eu o amo. Acho que o bloqueio que eu sentia desde criança devido à carência do seu amor,se rompeu e eu me deixei levar.
     Mercedes tomou banho comigo, insistiu para que eu comesse algo e, não vendo resultados,abriu sua preciosa garrafa de Jack Daniels, me fazendo beber dois copos cheios. Ao me ver mais relaxado,Mercedes se deitou comigo na cama, enchendo- me de beijos.

-Se sente melhor?

-Muito.. Ficarei melhor se continuar me beijando desse jeito.. - respondi fitando seus lábios inchados

-Você não presta! -riu - Mas é sério,você está bem? Fiquei tão preocupada com o jeito que você ficou..

-Já passou.. Eu sabia que seria difícil,mas agora eu me sinto aliviado. Amor,você não acreditou no que ele disse né?

-Sobre o que?

-Que eu vou me cansar dessa vida e vou desistir..

-É claro que não,Michael. Você já me deu provas suficientes de que devo confiar em você. Não caia na pilha daquele velho..

-Obrigado por ter ido comigo.. Sem você eu teria fraquejado.

-Você é muito mais forte do que pensa e é por isso que eu te amo!

-Te amo do fundo do meu coração..

-Eu sei.. Agora eu quero te ver feliz. Vamos nos casar amanhã , esqueceu?

-Jamais! Vai ser o dia mais feliz da nossa vida e eu quero que seja perfeito!

-Vai ser.. Mas pra isso você tem que descansar,dormir bastante..

-Namorar bastante.. - corrigi, subindo sua camisola e distribuindo beijos na sua barriga

-Nada disso! - Merche se cobriu - Nossa próxima transa tem que ser depois do casamento!

-Desde quando? - perguntei incrédulo

-Desde sempre! Sua mãe disse que é a tradição..

-Minha mãe me paga! - ameacei em tom de brincadeira

-Relaxa amorzinho.. Falta só algumas horas.. - respondeu, virando pro canto

-E vai me deixar assim?

-Assim como? -perguntou,fingindo estar desentendida

-Mercedes.. - praguejei

-Vai dormir,Michael..

   Merche apagou o abajur e o que me restou foi deitar também. Tirei a camisa e a calça e nada adiantou. A risadinha abafada de Mercedes me deixava ainda mais quente e, infelizmente só um banho gelado conseguiu me "acalmar".

Capítulo 35

Mercedes

 Puta merda,o dia do meu casamento chegou! Ainda não consigo acreditar em como as semanas voaram e hoje estou eu a ponto de me unir ao Michael. Não será uma união  civil,mas o que importa é que vamos morar juntos e seremos sim marido e mulher.
 Com a ajuda da Gina,selecionamos alguns apartamentos para visitar e hoje,antes da cerimônia,Michael e eu iremos escolher qual apê vamos morar.

-Amor,vamos logo! - reclamei. Porra,Michael está a horas se arrumando e olha que ainda nem é para o casamento

-Estou indo! - gritou de volta. Michael parou na minha frente,terminando de abotoar a camisa - Você não tem paciência nenhuma!

-Se você não lembra ,nosso casamento será de noite,não temos todo o tempo do mundo!

-Tá bom.. E ai, está com as chaves? - Michael sorriu ansioso

-Uhum! Pronto pra conhecer nossa nova casa?

-Muito! Não vejo a hora de ter nosso próprio cantinho.. - Michael me pegou pela cintura,encaixando- me em seu colo

-Vamos ter.. Caramba tem tanta coisa pra fazer! Temos que escolher o apê,mobiliá-lo..

-Amor,calma! - Michael riu - Uma coisa de cada vez,ok? Hoje vamos escolher o apartamento,depois vamos casar e sairemos em lua de mel.. Aí sim resolveremos tudo, pode ser?

-Você tá certo.. Caramba,estou parecendo uma bobona!

-Por que?

-Ah toda entretida com casamento.. Pareço uma garotinha! Sério, eu nunca pensei que fosse me casar um dia!

-E eu nunca pensei que me casaria com uma maluca feito você! Mas a vida é mesmo genial.. Olha o que fez com a gente?

-É inacreditável! - falei ao abraçá-lo - Mas agora vamos antes que fique tarde!

(...)

 Visitamos quatro apartamentos até agora e nenhum me agradou. Uns eram grandes demais e outros ficavam longe da galeria. Já estava perdendo as esperanças quando Michael me aparece com uma chave em sua mão.

-Onde arrumou isso? - perguntei

-Com a Maysa. Ela e mamãe visitaram algumas imobiliárias e descobriram um apê a venda aqui no bairro. Me parece que fica a algumas quadras da Galeria.

-Ótimo! Vamos lá..

 De fato o apartamento fica perto do galpão. E o melhor de tudo é que eu gostei dele. Não é muito grande, mas é super confortável, e eu já começo a me imaginar morando aqui com Michael.

-O que achou? - Michael perguntou ao sair de algum cômodo

-Perfeito! O tamanho é ideal e eu achei lindo! Fora que o preço está super em conta.

-Eu também gostei.. Precisa de uma pintura,mas isso nós tiraremos de letra! Qual o cômodo que você mais gostou?

-Aqui ó.. - puxei Michael pelo braço e o levei ao nosso futuro quarto - Nosso antro de perdição! - Michael gargalhou

-Antro de perdição? Pensei que fosse nosso quarto.. - sussurrou sensualmente no meu ouvido

-E será.. Mas é que eu penso em fazer muitas,muitas coisas aqui..

-Hmm bom saber.. Mas,por que não testamos agora,hum? - Michael deslizou os dedos pelos meus seios, apertando com uma leve pressão

-Mike,o que foi que eu disse ontem? - murmurei

-Amor,eu não estou aguentando mais.. - Michael guiou minha mão até seu membro. Me surpreendi pelo tamanho da sua ereção - Não me deixe assim..

-Por que tem um pau tão gostoso? Não tem como eu dizer não pra você.. - me virei de frente para Michael. Abri o zíper da sua calça e revelei seu membro endurecido para fora da cueca

 Michael passou a massageá-lo lentamente  enquanto eu observava com água na boca. Me ajoelhei na sua frente e deixei que minhas mãos trabalhassem em seu membro. Um gemido rouco escapou de seus lábios quando Michael arqueou a cabeça para trás. Aproximei minha boca e distribuí beijos por toda a extensão. Michael puxou meus cabelos,me pressionando contra seu pênis.
 Lentamente o introduzi na minha boca, chupando devagar. As pernas de Michael estavam bambas e saber que eu sou a causadora disso me deixou mais excitada.

-Porra,Merche! - grunhiu quando suguei seu membro com mais força

 Tentei colocá-lo todo na minha boca mas ainda sim tinha boa parte para fora,onde permaneci masturbando. Seu membro pulsava cada vez mais forte. Engoli o máximo que pude, sugando-o para dentro da minha boca. Michael gemeu ainda mais alto quando sentiu seu pau tocar o céu da boca. Ele continuou a empurrar, forçando o cada vez mais fundo. A todo momento ele avisava que iria gozar me deixando louca para provar seu líquido quente.
  Passei a chupar com mais rapidez, seu membro entrava e saía da minha boca, completamente lambuzado pela minha saliva.

-Oh Merche..Isso,isso! Adoro foder sua boca,sabia? - parei para fitá-lo e logo voltei a chupá-lo. Michael gemeu alguns palavrões, jorrando jatos quentes de sêmen na minha boca

 Sua respiração estava ofegante e as pernas tremiam. Me levantei com sua ajuda, chupando seu líquido que estava em meus lábios. Gotas de suor escorriam em seu rosto,os cabelos desgrenhados o deixavam irresistivelmente sexy.

-Você é delicioso.. - murmurei. Michael me revistou com o olhar, como se eu estivesse nua

-Dê uma volta..  - ordenou. Fiz o que ele pediu e quando me virei de costas,recebi um ardido tapa na bunda

 Não tive tempo nem para reclamar. Michael me virou de frente e com um único puxão tirou minha blusa, revelando meus seios rígidos para ele.

-Sem sutiã.. É assim que eu gosto.. - Michael mordeu o lábio inferior. Num piscar de olhos, senti meu corpo ser prensado na parede. Seus olhos negros pegariam fogo a qualquer momento tamanho o desejo que eles emitiam

 Michael passou a língua pelos lábios e em seguida abocanhou meu seio esquerdo. Enquanto prosseguia com a prazerosa tortura, ele levantou minha saia jeans e afastou a calcinha. Senti seu membro me preencher de uma só vez,eu não sabia o que me dava mais prazer, sua língua que me torturava ou seu membro me alargando deliciosamente.

-Meu Deus.. - apertei meus olhos quando senti seu pau me penetrando até o fundo. Michael estocava forte e ininterruptamente

-Está gostando,não é? - perguntou em um tom de voz provocante

-Muito.. Continue,amor.. - supliquei

-Quero que fique de quatro pra mim, ok? - ordenou. Obedeci sua ordem e empinei minha bunda, recebendo outro tapa

-O que vai fazer comigo, Sr. Jackson?

-Só uma prévia do que será nossa lua de mel.. Agora quietinha..

 Michael se aproximou de mim e eu me arrepiei ao sentir seu membro me roçar. Ele apertou minha cintura com as mãos e em um único movimento se enterrou em mim. Eu gritava e gemia ao mesmo tempo enquanto seu pau me preenchia. Com uma mão ele me segurava firme e com a outra, estimulava meu clítoris.

-Eu vou gozar,amor.. - avisei, sôfrega

-Eu sei.. - ele riu maliciosamente - Mas vai ser comigo! - afirmou,metendo com ainda mais fome

-Amor,por favor.. - choraminguei quando ele saiu de dentro de mim

-É pelo que fez comigo ontem a noite.. Não sabe a porra da ereção que fiquei quando você recusou a transar e pior, quando ficou apenas de calcinha..

-Me perdoa,mas agora continue.. - implorei. Michael introduziu mais um dedo na minha intimidade, arrancando outro longo gemido meu

-Você é gostosa demais,Mercedes.. Está me deixando viciado nessa delícia aqui.. - disse ao beliscar levemente meu clítoris

 Michael cravou os dentes no meu ombro no mesmo instante em que me penetrava novamente. Ele voltou a estocar ferozmente, chocando sua pélvis contra minha bunda. Meu corpo todo se amoleceu quando meu orgasmo explodiu junto com de Michael. Seu líquido misturado ao meu escorria pelas minhas coxas. 
 Michael me puxou para deitar em seu colo. Ficamos em silêncio enquanto nossa respiração se normalizava. Meu coração batia acelerado e minhas pernas continuavam bambas.

-Bem.. Acho que concordamos em ficar com esse apê.. - disse ainda sem fôlego

-Com certeza.. - ri - Se agora foi assim,imagina quando tiver uma cama aqui.. - Michael riu

-Vou passar o dia todo trancado aqui com você.. - respondeu ao parar de beijar minha nuca

-Vai ser delicioso... Oh porra! - olhei para o relógio e praguejei

-O que foi?

-Vamos nos casar daqui há duas horas! - me levantei rapidamente e catei minhas roupas

-Hey,me espera! - disse,rindo do meu desespero

(...)

- Eu não vou me maquiar! - falei pela décima vez. Maysa tentava a todo custo me maquiar,mas eu estava irredutível

-Por favor,Merche.. É o dia do seu casamento, o que te custa?

-Maysa eu já aceitei usar o vestido a contra gosto,agora me pintar já é demais! Eu detesto maquiagem, só serve pra borrar!

-Mercedes você é linda,a maquiagem só vai realçar sua beleza.. Prometo que vou pegar leve..

-Deixa,amiga.. - Gina insistiu - Imagina só a cara que o Michael vai fazer ao ver você vestida como uma princesa!! - fiz uma careta proposital para Gina

-Dona Mirian, me ajuda! - apelei para a minha sogra,que ria o tempo todo

-Me desculpe querida,mas vou ter que concordar com as meninas.. Você vai amar o resultado!

-Já vi que sou voto vencido.. - bufei - Tudo bem,manda ver. Mas se eu ficar que nem uma palhaça acabo com vocês! - elas riram

-Relaxa,Merche.. Você vai ficar belíssima! Mas tenho que ser rápida, pois por conta da sua pirraça, já estamos atrasadas!

-Meu Deus,coitado do meu filho! - Mirian levou as mãos à boca - Se bem o conheço,ele deve estar a ponto de infartar!

-Não se preocupe,mãe. A Cori está com ele.. Mas é melhor você ir. Diga à ele que Merche está quase pronta! 

  Depois da maquiagem finalizada eu estava pronta. Me olhei no espelho e não acreditei no que via. Não,essa não sou eu! Vestida de noiva e com um buquê em mãos!

-Gente, eu estou com dor de barriga.. - choraminguei

-Ah não,sem desculpas! - Maysa disse - Não é hora de ter dor de barriga,é hora de se casar!

-Amiga.. - Gina me abraçou emocionada - Está tão linda que não tenho nem palavras! Você e Michael serão muito felizes,tenho certeza!!

-Obrigada.. Na verdade obrigada as duas por todo o apoio e carinho. Se não fossem vocês eu e Michael não estaríamos vivendo isso.. Eu amo vocês!

-Nós também! - Gina respondeu. Nos envolvemos em um abraço triplo e depois do chororô descemos para a galeria
 
  Minhas pernas não me obedeciam e se não fosse Tommy entrando comigo pelo salão,provavelmente eu estaria estática. Arfei emocionada ao ver Michael me esperando mais a frente. Ele estava incrivelmente lindo!
 Os cabelos soltos e escovados, um belíssimo óculos escuro,trajando uma calça de couro preta e uma jaqueta toda elaborada, da mesma cor. Seu sorriso se tornou amplo e eu o vi tirar os óculos para observar minha aproximação. Seus olhos estavam cheios de lágrimas tamanha fascinação. 
  Tommy e eu paramos em frente à Michael e eu o vi apertar sua mão, dizendo alguma coisa na qual não consegui prestar atenção. Ele voltou com os óculos ao rosto,lhe devolvendo o ar sexy.
 Michael pegou na minha mão e eu percebi que ele suava frio assim como eu. Seu sorriso estava ainda mais largo e encantador.

-Você está maravilhosa.. - balbuciou






-Você também.. - consegui responder de volta






  Permanecemos com as mãos entrelaçadas e os olhos fixos um no outro. Nem nos meus mais secretos sonhos poderia imaginar a emoção que estava sentindo. Estou ao lado da minha alma gêmea,do homem que escolhi para ser meu, o que me fez despertar o sentimento mais forte e puro que existe. Serei a esposa de Michael Jackson, o único que ocupará todo o espaço no meu coração até o fim de nossas vidas.

Capítulo 36

Michael

    Quando Mercedes apareceu no meu campo de visão tudo ao meu redor desapareceu. A minha ficha caiu e foi então que eu percebi que toda a felicidade que sempre sonhei finalmente está aqui na minha frente. A mulher da minha vida prestes a ser definitivamente minha.

  Mesmo nós não fazendo questão de uma cerimônia religiosa,minha mãe insistiu para que fôssemos abençoados. Ela convidou o padre da paróquia que ela sempre ajudou e agora estamos nós, ajoelhados diante de sua imagem,aguardado a tão esperada pergunta.

  Após o longo sermão do padre nem eu e Mercedes aguentávamos mais de ansiedade. O meu medo era Mercedes perder a paciência e ser indelicada com o pobre senhor. Mas ela parecia tão emocionada que acho que nem falas ela tinha.

-Estamos diante da união de Michael Joe Jackson e Mercedes María Chavez. E diante das testemunhas desse enlace matrimonial devo perguntar se é de livre e espontânea vontade que estão aqui, dispostos a compartilhar toda sua vida um com outro, pelo resto de suas vidas.

-Sim,padre. - iniciei - Eu aceito me casar com Mercedes. - tirei do bolso da minha calça a  caixinha da nossa aliança - A partir de agora lhe entrego não só esta aliança, como também minha alma e coração. - encaixei o anel em seu dedo, beijando o dorso de sua mão em seguida - Essa é a prova de que o amor que sinto por você é mais forte que eu imaginava. E isso aqui é para sempre! - afirmei, apertando sua mão. Merche enxugou uma lágrima que havia rolado, levantou a cabeça e me encarou

-Eu sabia que ia chorar.. - murmurou - Michael,pra você eu digo sim quantas vezes for preciso.  Não canso de dizer como tive sorte em te conhecer e mais que isso, por você ter me escolhido como sua esposa. Eu sei que aprenderemos juntos a viver essa nova fase,mas vamos superar. Eu te amo muito e é ao seu lado que quero passar o resto da minha vida! - Merche terminou seu pequeno discurso ao colocar o anel no meu dedo. Sorrimos satisfeitos um para o outro.

  

    O padre fez o sinal da cruz para nós e entendemos isso como " Já acabou,podem se beijar!". E foi isso que fizemos. Levei minha mão à sua nuca e a puxei de encontro a mim. Eu esqueci que estávamos diante do bairro todo,pois nosso beijo se tornou intenso e indecente. O padre pigarreeou enquanto os convidados nos aplaudiam em coro. 

  Desgrudamos totalmente sem fôlego e fomos atacamos por uma chuva de arroz.

-E eu achando que isso só tinha em novela! - Merche resmungou ao tirar um punhado de grãos de arroz do seu decote

-Deixa amor,faço questão de tirar um por um daí de dentro.. - sussurrei em seu ouvido

  

    Recebemos os parabéns de todos os nossos amigos, pois agora fui "adotado" pelos amigos de Mercedes e agora vejo como me sinto confortável com toda essa gente. Aqui é meu lugar,disso tenho certeza!

-Ah meu filho.. - minha mãe choramingou, me abraçando emocionada - Acho que meu coração não vai aguentar de tanta felicidade!

-Imagine eu! - respondi, apertando-me em seus braços - Muito obrigado por ter vindo. Não sabe como significou pra mim..

-Eu é que agradeço por me permitir participar deste momento.. - Merche, que estava entretida com Maysa e Gina, veio até nós

-Dona Mirian,obrigada por tudo. Se não fosse sua ajuda esse casamento não tinha saído!

-Só Mirian,meu bem.. Afinal agora somos da mesma família! - mamãe puxou Merche para um abraço carinhoso - Desejo toda a felicidade para vocês... Michael, cuide bem da Mercedes,hein? Agora você é um homem de família!

-Pode deixar,mãe. Vou cuidar direitinho dessa mocinha aqui.. - Merche se aninhou em meus braços, suspirando rente ao meu pescoço

(...)

     A melhor parte foi, sem dúvida, a festa. A banda do Tommy ficou encarregada de cuidar do som e eu perdi a conta de quantas músicas dancei com Mercedes. Por fim eu já estava desarrumado, com a gravata frouxa e os cabelos desgrenhados. Mas Mercedes foi além. A danada tirou o vestido e ficou apenas com uma parte dele, quase que transparente. Só não senti ciúmes porque durante toda a festa ela não tirava os olhos de mim e eu a mesma coisa.

   Como pegaremos estrada daqui a poucas horas, decidimos sair de fininho,mas antes nos despedimos dos mais íntimos. E agora finalmente estamos a sós. Só eu e minha esposa.

  Como não poderia deixar de ser, fiz questão de carregar Mercedes em meu colo, afinal eu não posso romper a tradição.

-Sei que ainda não é nossa casa, mas o que vale é a intenção.. - me expliquei enquanto entrava com Mercedes no seu apartamento

-Eu estou tão feliz que o resto é detalhe.. Amor, tem noção disso? Estamos casados!

-Parece um sonho! - Merche gemeu quando a deitei na cama, logo fechando os olhos - O que pensa que está fazendo,Sra. Jackson?

-Bebê,eu to cansada né? Além do mais eu bebi muito vinho.. - murmurou virando-se para o canto

-Vou te dar uma colher de chá, afinal teremos uma viagem bem longa..

-Não vai me dizer mesmo,seu desgraçado?

-Que coisa feia xingar o marido no primeiro dia de casado.. tsc tsc - fingi estar decepcionado - E só por causa disso não vou contar! - afirmei, livrando-me da roupa que vestia. Mercedes se calou, me analisando minuciosamente

-Marido...? - ri

-Fala,querida.. - disse, inclinando- me sob o colchão

-Nós dançamos muito.. suamos muito.. Acho que precisamos de um banho bem demorado.. O que acha?

-Mas pera aí, não era você que estava cansada?

-Sim,mas eu seria muito tola em deixar meu marido dando sopa por aí..  - Merche se sentou na cama e engatinhou até mim - Quero aproveitar cada minuto como sua esposa.. - acariciei seus braços enlaçados no meu pescoço

-Então vem comigo que eu te darei a solução.. Mas antes me deixe tirar esse vestido, ou melhor, as sobras do que foi um vestido.. - Merche ficou em pé,virando-se de costas para mim. Seu fino vestido de seda caiu sob seus pés,revelando a sedutora lingerie branca que vestia

-Aprovado? - perguntou, notando meu olhar devorador sob seu corpo

-Perfeita.. Merche eu quero você agora..

-Eu também,Mike.. - murmurou com os lábios grudados nos meus. Seus dedos hábeis se encarregaram de me livrar da boxer

  E ali,fundidos um no outro, experimentamos uma nova sensação, muito mais prazerosa do que sempre provamos. Pois naquele momento o nosso amor encontrou um novo caminho a seguir. Não estamos compartilhando apenas gemidos e orgasmos. Estamos compartilhando um pedaço do nosso coração a cada beijo trocado e a cada onda de prazer. Agora mais do que nunca sei onde é meu lugar nesse mundo, e será sempre dentro do coração de Mercedes.

Capítulo 37

Mercedes

-Psiu! Está na hora de acordar! - escutei sua voz afável próxima ao meu ouvido

-Ah não! - resmunguei

    Viro-me para o canto, escondendo meu rosto por baixo dos travesseiros. Não é possível que Michael esteja me acordando a essa hora! Senti seus lábios molhados tocar minha panturrilha. Seu beijo foi subindo pela minha perna, finalizando no meu bumbum. Me arrepiei instantaneamente.

-Querida,esqueceu que temos uma lua de mel nos esperando? - tirei o travesseiro do meu rosto e lhe encarei de olhos semicerrados

-Mike, eu to com sono.. Esqueceu a hora que fomos dormir?

-Hmm não,mas a culpa não foi inteiramente minha.. - Michael mordeu o cantinho do lábio, com um sorriso safado pairando

-Fizemos amor quatro vezes! Se eu não engravidei ontem, não engravido nunca mais! Ai que horror! - tampei minha boca com as mãos

-O que? Não passa por essa cabecinha que um dia a senhorita vai engravidar? - engoli seco. Pera aí, gravidez? Filhos? Maternidade?

-Ah.. Eu.. pra falar a verdade,não. - me sentei na cama, desviando os olhos de Michael

-Mercedes não precisa ficar assim não. - sorriu fraco - Eu sei que jamais pensou nisso.. - deu de ombros

-Não é isso amor,é que eu só tenho dezoito anos! Não me vejo esperando um filho,sem contar que pra criar uma criança é preciso muita estabilidade tanto emocional quanto financeira.

-Você está certa. Mas vem cá, por que estamos discutindo isso? - ri - Caramba, não tem nem 24 horas que  estamos casados e já estamos falando de filhos! Mas amor, não se sinta mal,ok? Eu também não quero ter filhos agora, mas só quero que saiba que daqui a uns dez anos eu quero te ver barrigudinha.. - Michael riu

-Ah que lindo, quer me ver gorda né? Mas.. daqui a dez anos eu topo ter um bebê e sabe o que é melhor?

- Uhmm.. O que?

-Temos uma década pela frente para praticar.. - me sentei em seu colo, aninhando-me em seus braços

-Você sempre tem ideias maravilhosas.. Mas, se continuar preguiçosa desse jeito esse tempo será diminuído para dois anos!

-Você é um porre! - resmunguei, beliscando seu braço

-Au!! Escuta aqui, branquela, se não levantar agora eu vou viajar sozinho! - ameaçou,tentando me fazer medo

-E você terá coragem de ficar longe de tudo isso aqui..? - falei,me espreguiçando devagar, afastando o lençol que cobria minha nudez

-Isso é golpe baixo,Mercedes Jackson.. - Michael se inclinou sob meu corpo, mas para provocá-lo, levantei-me rapidamente

-Me espere aqui e nada de entrar no banheiro! - corri antes que ele pudesse me alcançar

(...)

   Colocamos certa quantidade de roupas em duas mochilas e jogamos no porta-malas do carro de Michael. Eu insisti para irmos de moto,mas Michael queria se despedir do carro, fora que seria mais confortável para nós.

  Antes de seguirmos para nossa  viagem,a qual Michael se recusa a revelar, pedi para que fizéssemos uma coisa que com toda certeza significará muito para nós dois.

-Merche, tenho duas perguntas pra você. Primeira, por que pediu que eu trouxesse meus objetos preferidos?  E por que estamos no alto de um precipício?

-Eu já vou te responder, agora vem comigo. - mesmo hesitante, Michael assentiu,pegando sua maleta e saiu do carro

- O que está arrumando,Mercedes? - perguntou ao me ver ajoelhar no chão de terra

-Sente aqui e me ajude. - Michael assim fez - Isso aqui é como se fosse um pacto,entende? Nessa caixa vamos guardar todos os objetos que representam algo para nós, e mais que isso, nossos planos para o futuro.

-Nossa,amor.. É lindo.. Eu já vi isso em um filme e confesso que tive vontade de fazer,mas agora com você.. É fantástico!

-Eu sei.. Esses serão os nossos planos para o futuro. E aqui, no alto dessa montanha, eles estarão na mão de Deus.

-Com certeza.. Ele ainda está reservando muitas dádivas para nós.. - afirmou apertando minha mão

-Está sim.. Ok,vamos começar. Qual a primeira coisa que quer colocar?

-Certo.. - Michael tirou do bolso a palheta que eu havia lhe dado junto com o violão - Se lembra quando nos conhecemos? Você me surpreendeu ao me dar seu violão.. - riu - Além dele, você me presenteou com sua palheta da sorte. Graças a ela eu venci aquele concurso. Vai ser difícil ficar sem ela, mas eu já tenho você que é meu tudo!

-Michael.. - senti meus olhos se  encherem de lágrimas

-Essa palheta além de me dar sorte, também significa o que eu quero do futuro. Vou realizar meu sonho de ser músico e terei você ao meu lado.

-Sempre! Eu tenho certeza que seu sonho vai se realizar. Você tem um dom e estarei nessa junto com você!  - Michael depositou a palheta na caixa e em seguida me deu um terno beijo nos lábios

-Eu sei que vai.. Agora é sua vez!

-Ok.. - tirei da mochila a chave reserva da minha moto - Minha moto sempre representou liberdade pra mim e é esse o meu maior sonho. Mas com você eu aprendi que amar é ser livre e é assim que eu quero viver pelo resto da minha vida!

-Eu te amo, minha Mercedes..

-Eu também te amo muito!

    Continuamos lotando a caixa com os nossos pertences. Além da palheta e da chave da moto, incluímos fotos de nós dois juntos, um cordão que Michael me presenteou quando nos conhecemos e o que mais me encantou, cartas que escrevemos um para o outro relatando sobre nossos sentimentos e nossos sonhos para quando formos adultos.

-Está pronto! - fechei a pequena caixa de madeira, coloquei em um saco plástico e com a ajuda de Michael, cavamos um buraco na terra e enterramos a caixa

-Quando vamos desenterrar? - Michael perguntou

-Vamos abri-la nesse mesmo dia daqui a exatos dez anos. Vamos fazer um balanço da nossa vida hoje e no futuro. Combinado?

-Combinado! Sabe.. cada dia que passa vejo que me casar foi a loucura mais sensata que cometi nessa vida. - afirmou, bagunçando meu caminho

-Isso significa que ainda vamos cometer muitas loucuras juntos.. Mas diante dessa caixa, nós faremos uma promessa. Seja lá o que for que nos aconteça durante todos esses anos nós voltaremos aqui, certo? - falei estendendo minha mão. Michael sorriu e a apertou

-Eu prometo. Sei que vamos mudar muito com o passar do tempo,mas continuaremos sendo os mesmos. Nosso coração nunca perderá a essência!

-Nunca..

    Michael me ajudou a levantar e me puxou para um abraço apertado. Enterrei meu rosto em seu pescoço, inalando o delicioso aroma do seu perfume. E ali fizemos uma promessa para a vida toda. Senti uma necessidade inexplicável de fazer esse trato, é como se fosse uma bússola para que, por alguma trama do destino, ocorra de nos perdermos um do outro.

Capítulo 38

Michael

   Descobri que viajar na companhia de Mercedes é a melhor coisa desse mundo. Só que agora, ela é minha companheira pra vida toda. 
Como Merche já não aguentava mais de ansiedade, acabei contando para onde iríamos: Long Island, uma ilha que fica próxima a Nova York. Por mim ficaríamos nessa Ilha para sempre,mas como isso não é possível, o jeito é aproveitar ao máximo nossa estadia.

-Cara, esse lugar é incrível! - Merche repetia a cada dez minutos, olhando o mar com admiração

-Eu sabia que você ia gostar. Esse lugar veio à minha cabeça assim que pensei na lua de mel.

-Obrigada.. Sabia que eu nunca tinha visto o mar?

-O que? Não acredito que a experiente Mercedes nunca pôs os pés na areia! - brinquei em tom de deboche

-Para de me encarnar! Eu não tinha grana pra isso, seu linguarudo! - Merche abriu um sorriso bobo ao olhar para o meu dedo anelar, marcado pela aliança

-O que olha,hum?

-Eu já achava suas mãos sedutoras e agora com esse anel.. Está me deixando louca! - sussurrou no meu ouvido

-Garota,eu preciso manter o foco na estrada.. - choraminguei - Mas fique esperta,pois assim que chegarmos eu vou te dar o trato que merece. - ameacei

-Uau.. Falando nisso,amor, onde vamos ficar?

-Eu ainda não te contei,mas vamos ficar na casa de praia da minha mãe. Ela insistiu para ficarmos lá e eu não vi problema.. Tudo bem pra você?

-Claro,meu bem. Adoro sua mãe e eu sei que ela quer nossa felicidade. E eu espero que você não se afaste dela!

-Não se preocupe. Graças aos seus conselhos eu aprendi a compreendê-la. Viu como não posso mais viver sem você? - Merche sorriu, apertando minha bochecha

-Eu também não sei viver sem você.. Michael!! - Mercedes gritou como uma criança que acaba de chegar na Disneylandia - Estamos pertinho da praia!!

-Quer ir lá? - Merche olhou pra mim com os olhos brilhando, assentindo positivamente. Estacionei o carro e tive que correr para alcançá-la

  Mercedes estava maravilhosamente linda dentro de um vestido floral que voava por conta do vento. Ela jogou as sandálias pro alto e correu para mais perto do mar.

-Amor, por que parou? - perguntei ao vê-la paralisar

-Eu estou com medo.. E se o mar me puxar? - ri

-Eu seguro sua mão. - afirmei, me aproximando dela - Vem. - Merche me deu a mão e eu a guiei até a areia molhada

   Foi a cena mais encantadora que já vi quando Mercedes sentiu a água tocar seus pés. Ela deu um gritinho e pulou no meu colo. Para ela parecia ser coisa de outro mundo e até pra mim que já estava acostumado com o mar, foi uma sensação totalmente diferente.

-Vamos dar um mergulho, princesa?

-De roupa? - me olhou incrédula

-E desde quando você liga pra isso? Por acaso a senhorita está com medo? - Merche abaixou a cabeça, tentando disfarçar

-Lógico que não! - ri - Merda, não consigo mentir pra você..

-Não mesmo! Não se preocupe,ok? Estou com você.. Além do mais nossa casa fica bem ali. - apontei para o casarão próximo a praia - Agora chega de desculpas,mocinha!

Encaixei Mercedes no meu colo e a passos lentos entramos na água. Merche me apertava com força, como se eu fosse soltá-la a qualquer momento.

-Amor, eu não vou te soltar.. - falei tentando tranquilizá-la

-É que eu não sei nadar..

-Estou aqui pra isso,baby. Agora relaxe,ok? Deixe seus braços soltos, estou segurando sua cintura.. - Merche fechou os olhos e permitiu ser guiada por mim

  Aos poucos Mercedes foi perdendo o medo, se sentindo mais confortável a cada vez que explorávamos o mar. A essa altura ela queria que eu a soltasse,mas como eu conheço minha esposa, de forma alguma a deixaria encarar as ondas sozinha. Continuamos dentro d'água nos divertindo e claro, namorando.

-Está anoitecendo, querida.. É melhor entrarmos.

-Ah Mike.. - resmungou - Está tão bom..

-Nossa,pra quem não queria nem entrar.. Mas é sério, você vai acabar gripando com essa roupa molhada. E eu prometo que amanhã bem cedo nós voltamos. Não está com vontade de entrar um pouquinho..? - perguntei sugestivamente. Merche mordeu o canto do lábio e sorriu

-Adoraria.. - encaixei Mercedes no meu colo, deixando a praia mais que depressa

      Depois de tomarmos um banho juntos, insisti para que Mercedes ficasse no quarto descansando. Essa é a nossa primeira noite devidamente casados e eu quero que todos os nossos momentos sejam especiais, tal como agora. 
   O jantar já estava quase pronto, as flores postas em seus devidos lugares e finalizei a decoração adicionando uma iluminação amena no ambiente. Me conferi no espelho pela décima vez antes de chamar Mercedes,mas o aroma do seu perfume denunciou sua presença.

- O que aconteceu por aqui? - Mercedes analisava atentamente a decoração da sala de jantar

-Um presentinho para nós.. Aprovado? - Merche sorriu ao pegar um ramo de rosas vermelhas

-Sabe, você me fez gostar das flores.. É impossível não pensar em você quando vejo uma.

-Fico feliz por isso.. É sinal de que estou conhecendo a doce Mercedes que está escondida aí dentro. - respondi, tocando seu peito

-Eu te amo... - Merche levou minhas mãos à sua cintura, puxando-me para um abraço terno

-Eu também te amo. E vou te amar muito mais se provar a comida que eu fiz..

-Você cozinhou? Oh meu Deus, essa eu tenho que ver, ou melhor, provar!

-Então vem comigo.. - arrastei a cadeira para Mercedes se sentar, que parecia estar encantada com tudo a sua volta e obviamente, eu me senti satisfeito por estar cumprindo a promessa de fazê-la feliz.

(...)

  Nosso jantar ocorreu maravilhosamente bem. Relembramos a conturbada época em que nos conhecemos até o início do nosso namoro. Não deixamos de fazer planos para o futuro, sem cobranças,mas sim sonhos sendo compartilhados entre nós.
   Ainda ficamos bebendo na varanda por meia hora,pois não tardou de estarmos enroscados um no outro,desejando estar na cama.

-Amor vamos entrar.. - Mercedes pediu com a voz manhosa - Quero te mostrar uma coisinha..

-O que quer me mostrar, hum? - perguntei após dar um longo chupão em seu pescoço

-Vem que eu te mostro.. - ela puxou minha mão e com um sorriso travesso, a segui

   Mercedes pediu para que eu ficasse deitado à sua espera enquanto ela se arrumava. Minha ansiedade só aumentava com o passar dos minutos,pois sei que Mercedes sempre consegue me surpreender. De repente a luz do quarto foi apagada, restando apenas a iluminação fraca do abajur. 
    Avistei sua silhueta caminhando ao centro do quarto. Recostei-me na cabeceira da cama,sentindo meu corpo se arrepiar. O aroma marcante do seu perfume se aproximava cada vez mais perto de mim. 
   Mercedes novamente acendeu a luz e agora pude ver claramente a perfeição à minha frente. Merche vestia um hobby fino de seda preta, cinta-liga,meias da mesma cor e um salto agulha. Pela primeira vez a vi usar uma maquiagem marcante, destacando seu belo par de olhos azuis.

-Uau.. É você mesmo? - perguntei boquiaberto

-Eu disse que ia te surpreender..

   Merche parou de frente pra mim e lentamente desfez o laço do hobby, que logo estava caído aos seus pés. Arfei inúmeras vezes ao ver sua pele pálida destacada pela lingerie preta. Só percebi que tocava uma música de fundo quando Mercedes começou a dançar sensualmente. 
   As primeiras peças a serem tiradas foram as meias. Merche apoiou uma perna de cada vez em cima do cama e finalizou jogando as peças na minha direção.

-Hm.. Strip-tease.. - sorri maliciosamente

-Sim,mas eu vou querer sua ajuda.. - Merche fez sinal para que eu me levantasse. Ela fez um giro, acompanhada do meu olhar curioso - É todo seu.. - disse apontando para si mesma

-Então eu posso fazer o que quiser, certo? - Mercedes assentiu, fechando os olhos - Seus seios são perfeitos demais para ficarem escondidos. - em um único puxão rasguei seu sutiã ao meio. Merche deu gritinho pelo susto

   Levei minhas mãos aos seus seios, apertando-os vagarosamente. Eles estavam quentes,rígidos e avermelhados por conta da pressão dos meus dedos. Continuei os massageando,beliscando de leve seus mamilos. Merche gemeu alto ao sentir minha língua tocar o seio esquerdo. Seus dedos se infiltraram no meu cabelo,enroscando-se nos fios.

-Isso é tão gostoso.. - murmurou

   Ainda brincando com seus seios, deitei Mercedes na cama, preparando-a para o meu próximo passo. Afastei minimamente para encará-la. Mercedes envolveu sua mão na minha nuca e nos envolvemos em um beijo apaixonado. Ela me olhou sem entender quando me levantei.

-Está calor,não acha? - perguntei, direcionando-me para a mesinha onde se encontrava o champanhe. Afundei minha mão no balde e tirei uma pedrinha de gelo

-O que vai fazer com isso? - Merche me olhou surpresa ao ver o gelo em minha mão

-O certo seria o que vou fazer com você. - ri - Apenas relaxe,ok?

-Michael..

-Shhi..

Mercedes se arrepiou ao sentir o contato gelado da pedra de gelo tocar seu seio. O mamilo logo voltou a se enrijecer e para aliviar a temperatura fria, suguei-o demoradamente.

-Cacete.. - gemeu,mordendo o lábio com força

   Continuei descendo a pedra de gelo pelo vão dos seus seios, barriga até finalmente alcançar o ponto que eu queria. Os olhos de Mercedes brilhavam como duas faíscas, o que provocava mais ainda o meu tesão. 
   Desci lentamente sua calcinha, abri suas pernas,tendo a visão da sua intimidade molhada. Mercedes gritou quando deslizei o gelo pela sua virilha e intimidade.

-Oh meu Deus! - gritou ainda mais alto 

Continuei roçando o gelo em sua intimidade e só parei quando seu clítoris estava inchado o suficiente. Descartei o que restou do gelo e voltei minha atenção à suas pernas. Encostei minha língua no seu clítoris gelado e lambi com precisão. Mercedes se contorcia sem parar e eu precisei contê-la.

-Continue, amor.. Continue.. - pediu sôfrega

-Você é muito gostosa,baby!

    Suas pernas tremiam e seu coração parecia bater acelerado,o que denunciava seu primeiro orgasmo. Continuei as chupadas com mais força e intensidade, penetrando minha língua até o fundo. Mercedes apertou suas coxas em torno da minha cabeça, pressionando-a contra sua intimidade.

-Michael eu vou.. Ooh!! - Merche soltou um gemido rouco enquanto derramava seu líquido na minha boca

    Eu queria continuar provocando-a, mas já não aguentava mais a ansiedade. Meu membro latejava dentro da cueca, como um pedido desesperado para estar enterrado nela. 
    Mercedes me ajudou a tirar a boxer e contemplou satisfeita ao ver meu membro se desenrolar na sua frente. Me sentei na cama e a trouxe para o meu colo. Um gemido rouco escapou dos meus lábios ao sentir meu membro preenchê-la até o fundo. Logo Mercedes começou a rebolar em cima do meu pênis. A guiei pela cintura ajudando a quicar com mais rapidez.

-Gostosa,vê como engole meu pau? - Merche gritou quando espalmei sua bunda

-Mais fundo,amor.. Isso!!

   Nossos corpos se chocavam um contra o outro em perfeita sincronia, nossas línguas em um duelo violento e intenso. O prazer nos dominava de tal forma que tudo ao nosso redor parecia ter desaparecido. 
    Inverti as posições e me deitei por cima do seu corpo. Mercedes abriu mais as pernas para o meu membro lhe tocar até o fundo. Estoquei incessantemente sem deixar de beijá-la um minuto sequer. Meu sangue fervia nas veias, o coração batendo desenfreadamente. Gememos juntos quando o clímax nos atingiu e continuamos os movimentos até o torpor cessar.
   Abracei Mercedes pela cintura, distribuindo beijos em seu pescoço. Ela afastou os cachos que cobriam meu rosto e me beijou delicadamente. Encostei minha testa na sua e fechei meus olhos, sorrindo como um bobo. Merche contornou meus lábios com o dedo e sussurrou um " Eu te amo" no meu ouvido. 
    Ali eu vi que não precisava de mais nada na vida, pois já conquistei o mais importante. Só de pensar que daqui pra frente acordarei todos os dias ao lado de Mercedes me faz ter ânimo e força para qualquer coisa que eu tenha que enfrentar a partir deste momento.

Capítulo 39

Mercedes

   Os últimos quatro dias que passamos na casa de praia foram sem dúvida, os mais perfeitos da minha vida. Parecia um verdadeiro sonho,só eu e Michael longe de todos os problemas. E infelizmente agora é hora de voltar e eu mal posso esperar para estar na nossa nova casa. Enfim,como marido e mulher.

(...)

  Acho que passei a maior parte da viagem dormindo,pois só acordei quando Michael me cutucou delicadamente,informando que havíamos chegado. Devo todo esse cansaço à intensa lua de mel que tivemos. Fizemos amor praticamente por todas as horas do dia,seja no quarto, na piscina ou na praia. Tenho que me lembrar de agradecer a Deus pelo marido insaciável que ele me presenteou.

-Enfim chegamos.. - Michael suspirou, apertando minha mão - Não sabe como esperei por isso. Ter minha própria casa, com a minha esposa..

-É,mas falando em casa.. Ainda temos tanto o que fazer. E a culpa é toda sua! - respondi, beliscando seu braço

-Au!! Por que a culpa é minha?

-Porque você me convenceu de deixar pra arrumar nosso apê depois da viagem,seu preguiçoso!

-Hmm relaxa,meu amor.. - disse com a voz manhosa, tentando me abraçar - Eu vou te ajudar em tudo! 

-Vai mesmo? Porque temos que pintar as paredes,montar os móveis e fazer uma boa faxina.

-Sim senhora! - Michael bateu continência - Mas antes a gente podia descansar um pouquinho né?

-Nada disso! Descanso só depois de tudo arrumado. - ordenei

-Deus, eu tenho uma esposa tirana! - Michael choramingou. Abri a porta e o puxei para fora do carro

   Antes de podermos subir para o nosso apartamento,passamos por um longo interrogatório de Gina, que queria saber todos os detalhes da nossa viagem. Quando ela finalmente nos liberou, conseguimos seguir para o nosso novo lar.

(...)

-Amor,vem ver! - ouvi o grito de Michael vindo de algum cômodo. O encontrei admirando a parede recém pintada - E então? O que achou da minha obra de arte?

-Que isso,hein? Já encontramos uma profissão pra você. - Michael se virou e abriu um sorriso largo

Ele estava simplesmente adorável com os cabelos amarrados em um coque, vestindo um macacão jeans e uma regata branca. Mas o mais engraçado é que tanto as roupas quanto o rosto estavam sujos de tinta.

-Sua boba.. - Michael franziu o cenho ao me ver rindo baixinho -O que foi?

-Nada,é que parece que você pintou mais a cara do que a parede. - Michael passou os dedos pela bochecha e reparou que estavam sujos

-Ah então está achando graça,né? E agora? Está engraçado também? - perguntou ao lambuzar o pincel de tinta no meu rosto

-Seu desgraçado! - revidei, jogando a lata de tinta na sua roupa. Michael me puxou pela cintura e acabamos travando uma guerra em meio a toda a bagunça

-Chega! - Michael se jogou no chão, esbaforido - Olha o que você fez, bagunçou tudo que eu arrumei!

-Fresco! - rebati, dando um soco de leve em seu ombro - Mas é sério, nossa casa está linda.. Do jeitinho que eu estava imaginando..

-Fico feliz por isso,meu amor. E é só o início.. Espera só ao ver nossa casa devidamente pronta!

-O que estamos esperando então? Ainda falta muitas coisas,Mike e nem montamos os móveis! -Michael suspirou

-Sim,Senhora Jackson..

(...)

    Tínhamos tanto o que fazer que nem vimos que já havia anoitecido. Assim que Michael terminou de pintar as paredes, começamos a montar a mobília. Por sorte tivemos a ajuda dos nossos amigos do galpão, pois sem eles, demoraríamos uma eternidade. 
   Já se passavam das duas da manhã quando finalmente tudo estava pronto. Ainda faltavam trazer o restante das roupas e objetos pessoais,mas deixamos para buscar na manhã seguinte. Mesmo cansados, não podíamos deixar de comemorar. Tommy trouxe caixas de cerveja e pizza,e acompanhados de muita música festejamos até as cinco da manhã.

(...)

Acordei com a claridade do sol vinda da janela. Olhei para o relógio e marcavam dez horas da manhã. Apesar do cansaço e da ressaca, não pude deixar de sorrir ao ver tudo ao meu redor. Me espreguicei na cama e ri como uma garotinha de quinze anos.

-Bom dia,gata.. - abri meus olhos ao ouvir a voz de Michael

-Bom dia amor.. Vem aqui.. - Michael tinha uma caixa em suas mãos e a deixou em cima da mesa para vir até mim. Ele engatinhou na cama e beijou minha testa

-Como foi sua primeira noite em seu novo quarto?

-Hmm perfeita porque você está aqui comigo.. Mas que caixa é essa? - apontei para a mesa

-Ah, como eu acordei cedo fui até seu antigo apartamento e trouxe o que restava. Agora não falta mais nada!

-Que marido atencioso eu tenho.. E eu posso saber o que tem dentro?

-Mas é claro! Comprei alguns porta-retratos pra encher nossa casa com fotos nossas. O que acha?

-Sério? Eu quero ver! - me levantei em um pulo e levei a caixa até a cama - Amor.. tem fotos nossa no casamento e essa aqui foi no dia que você ganhou o concurso de música!

-Uhum..Foi a Gina que me ajudou nisso. Eu perguntei se ela tinha fotos nossas e ela me passou essas. Eu nunca vou esquecer esse dia.

-Nem eu! Você venceu o primeiro show de talentos que participou.

-Sim,mas não é só por isso.. Esse dia é especial pra mim porque nos declaramos um para o outro. Tudo começou a partir dali..

-Eu sei..Também nunca vou me esquecer. Eu te amo muito,meu amor e te agradeço por ter entrado na minha vida.

-Eu é que agradeço. Você é meu anjo,garota.. - Michael afastou meu cabelo e beijou meu pescoço - E agora eu preciso de você mais do que nunca. - meu coração oscilou quando seu semblante se entristeceu

-É claro que vou te ajudar em tudo, meu amor. Mas por que está falando assim?

-Porque agora começa a realidade, Mercedes. Eu não tenho mais a proteção do meu pai, tenho que andar com as minhas próprias pernas. E eu tenho que esfregar na cara dele que eu consigo ser independente!

-Você não tem que provar nada pra ninguém! E meu bem, não adianta ficar ansioso. Mas você tem que saber que essa vida na qual está entrando tem suas dificuldades.. Agora nada vai vir do céu  e teremos que lutar muito para conquistar nossos objetivos.

-Acha que eu vou conseguir?

-Nós vamos. - corrigi - De agora em diante é "nós". Não quero que se preocupe com isso,vamos viver um dia de cada vez,ok?

-Você tem razão. E eu prometo que vou me esforçar muito para ser digno do seu amor.

-Você já é,querido. E eu sei que vamos ser felizes,mesmo que as dificuldades apareçam..

-Vamos sim,já estamos sendo.. Eu vou te amar pra sempre,Mercedes. Para sempre..

   Michael beijou o dorso da minha mão e me abraçou tão forte que senti a aflição eu seu tom de voz. Eu detesto me sentir desse jeito, feliz,mas ao mesmo tempo com um aperto no peito. É aquela terrível sensação de que quando tudo está indo perfeitamente bem,algo ruim pode vir e desmanchar tudo que estamos construindo.

Capítulo 40

Michael

 No dia seguinte da mudança decidi procurar emprego. Quero logo resolver isso antes que as contas cheguem. Eu sei que Mercedes sempre conseguiu se virar sozinha, mas agora é diferente. Eu devo ser o homem da casa e jamais permitirei que minha esposa me sustente.
 Eu não tinha ideia de onde procurar trabalho ainda mais por nunca ter trabalhado,mas espero que meu currículo escolar ajude em alguma coisa.

-Onde pretende procurar emprego?

-Ainda não sei,Merche. Hoje vou levar o carro para o comprador e aproveito para visitar alguns escritórios. Quem sabe não tenho sorte e consigo um emprego? - Mercedes ajeitou o nó da minha gravata

-Eu tenho certeza que vai conseguir! Você é inteligente, simpático e.. lindo.. - Merche deslizou os lábios pelo meu pescoço

-Amor é melhor parar,pois eu não vou me controlar.. - murmurei, migrando minhas mãos para as suas coxas

-Eu não consigo.. Mas, tudo bem. - ela suspirou -  Vamos comemorar muito quando você chegar! - seu sorriso radiante me encheu de esperança. Respirei fundo e tomei Mercedes nos meus braços, lhe beijando com todo meu amor

-Eu te amo e tudo que faço é por você, por nós dois.

-Eu sei,amor e eu te desejo muita sorte! Está levando o currículo?

-Está guardadinho dentro da pasta! Bem,está na minha hora. Até mais tarde!

-Até.. Vai dar tudo certo. Eu te amo! - me despedi de Mercedes e segui para Nova York

(...)

 Após deixar o carro na concessionária, segui para o escritório de contabilidade que, segundo os classificados, estavam precisando de um atendente. Enchi o peito de ar e caminhei para o elevador. Não era um escritório muito robusto,pois a maioria dos escritórios de contabilidade prestam serviços para as empresas do meu pai e de jeito nenhum quero relações com ele. 
  Eu já estava sentado do lado de fora da sala a quase meia hora. Em instantes eu seria chamado para uma entrevista e eu pedia a Deus para estar seguro e confiante para essa conversa.

-Sr. Jackson, o Dr. Pherban está à sua espera. - a secretária informou. Me levantei rapidamente, ajustei o terno e a segui até a sala que me aguardavam - Pode entrar! - ela sorriu e saiu fechando a porta em seguida

-Olá,seja bem vindo! - Dr. Pherban se levantou da cadeira com um sorriso largo

-Obrigado por me receber, Dr. Pherban! - falei ao apertar sua mão

-Quando me disseram que Michael Jackson estava aqui eu não acreditei. É uma honra receber o filho de Leon Jackson! - sorri em frustração. Como eu poderia achar que meu sobrenome não influenciaria?

-Agradeço o elogio, mas não vim em nome da Construtora. Na verdade é muito pelo contrário.. - ri timidamente. Pherban me olhou surpreso e fez menção para eu sentar de frente a ele

-Bem, eu realmente achei estranho quando me informaram que era uma entrevista de emprego..

-Pois é. Acontece que eu me desliguei da empresa e agora estou me virando sozinho. Sei que trabalhei pouco tempo por lá, mas te garanto que posso me sair muito bem no trabalho que eu exercer.

-Sr. Jackson..

-Pode me chamar apenas de Michael! - pedi

-Certo,Michael. É realmente surpreendente receber como empregado o herdeiro de uma fortuna  incalculável como a sua, mas sabe que isso é admirável? Pois até onde eu sei você não precisa desse emprego.

-Acredite,eu preciso sim.. - ri - Eu sinceramente espero que o senhor me entenda. Como disse, não tenho muita experiência,mas garanto que sou esforçado! - assegurei com convicção

-Percebe-se.. Bem,Michael o trabalho não é muito difícil,assim como o salário não será tão alto dentre o que deve estar acostumado a ter.

-Eu aceito o que quiser me pagar, de verdade. Acabei de me casar e sabe.. estou começando uma nova vida..

-Olha só! Casamento traz grandes responsabilidades ainda mais quando se é tão jovem..

-O senhor tem razão. É por isso que quero estabilizar minha vida financeira o quanto antes! Ah, e saiba que pretendo iniciar a faculdade em breve! - prometi, mesmo sabendo que não me prestarei a esse sacrifício nem fodendo

-É assim que se fala! Sem estudo não será ninguém,mas você está no caminho certo.-  Pherban se levantou e estendeu a mão para que eu apertasse - E quando começa?

-O.. o senhor está falando sério? - digo sem acreditar

-É claro que estou! Vamos fazer uma experiência. Se você se sair bem está contratado.

-Nossa,muito muito obrigado! Não sei como lhe agradecer!

-Imagina.. Quem sabe não trazemos a Construtora Jackson pra cá? - ele riu

-E eu posso começar amanhã mesmo!

-Ótimo! Amanhã lhe espero as oito, certo?

-Certo! Até amanhã e mais uma vez, obrigado.

- Eu que agradeço por ter um membro da família Jackson na nossa equipe! - sorri fraco, tentando esconder meu desapontamento

    Nos despedimos cordialmente e eu segui para o ponto de táxi mais próximo. É claro que estou feliz por ter conseguido esse emprego, mas tá na cara que ele só me aceitou por conta do meu sobrenome. Ele nem ao menos abriu meu currículo! Parece que sair da sombra do meu pai está cada vez mais impossível.

(...)

   Já estava anoitecendo quando cheguei no Brooklyn. Estava acostumado a voar nas pistas com a Porshe,mas agora vou ter que me acostumar a depender de transporte. O pior de tudo foi na hora de pagar a corrida. Foram quase cem dólares cobrado, o que me faz concluir que terei que recorrer ao metrô e ônibus. Mas agora estou tão feliz pelo meu emprego, que isso é o de menos.
 Antes de voltar pra casa,passei em um restaurante e encomendei nosso jantar,além de comprar uma garrafa de vinho. Tenho certeza que Mercedes vai vibrar de alegria quando eu contar a novidade.

  Abri a porta cuidadosamente e nem sinal de Mercedes. Deixei as sacolas em cima da mesa e tirei o paletó e gravata. A luz do quarto estava acesa e com um sorriso apaixonado em meus lábios,segui pelo corredor. 
 Mercedes terminava de abotoar o sutiã e eu tive que me controlar muito para não atacá-la ali mesmo. Quando terminou de vestir o blusão, o qual roubou de mim, ela se virou de costas para o espelho e acabou notando minha presença.

-Já disse o quanto você é linda? - eu a fitava, hipnotizado pelos seus olhos azuis

-Assim você me deixa sem graça.. - Merche corou. Ela tirou a toalha da cabeça, sacudiu os cabelos molhados e se aproximou de mim

-Nunca cansarei de dizer, minha linda.. - enlacei meus braços em torno da sua cintura e lhe abracei

-Amor,como foi seu dia? Você demorou e eu presumi que tivesse acontecido alguma coisa..

-E realmente aconteceu. - Merche me encarou com o olhar apreensivo

-Então fala,amor. Já estou nervosa, roí todas as unhas! - acabei rindo do seu desespero

-Então se prepare para o que vou dizer..

-O que?

-Eu consegui o emprego! - Merche arregalou os olhos e no mesmo instante seus lábios preencheram-se com um sorriso enorme

-Eu sabia,meu amor! Sabia que você ia conseguir! Eu pedi tanto à Deus que te ajudasse... - Merche pulou no meu colo, me abraçando com força

-Ele me ajudou,na verdade vocês dois! Devo tudo à você,minha princesa.. - distribuí uma série de beijos  no seu rosto até encontrar seus lábios, os quais beijei com intensidade e paixão

-Meu amor.. Me conta, tudo! Onde vai trabalhar?

-Será em um escritório de contabilidade. Eu mostrei meu currículo e ele se interessou muito!

-Graças a Deus! E ele te reconheceu? Afinal seu pai é famoso..

-Não.. - menti - Ele não comentou nada comigo, acho que não percebeu..

-Ah que bom! Ninguém merece ser reconhecido como filho daquele traste.. Ai amor, foi mal.. - disse desconcertada

-Tudo bem, querida.. E você está certa, que bom mesmo que ele não percebeu. Bem,vamos pra sala? - mudei o rumo da conversa

-Hmm vamos.. Tem surpresinha,é?

-Mas é claro que sim! Eu não disse que iríamos comemorar? E se prepare,pois nossa noite só está começando.. - Merche mordeu o lábio e puxou minha mão, levando-me para  sala

   Eu sei que menti para Mercedes, que não contei o real motivo da minha admissão. Eu não quero que ela pense que estou conquistando meus objetivos tão facilmente só porque sou um Jackson. E Mercedes jamais enxergará insegurança em mim, pois eu agora serei um homem de verdade como sempre deveria ter sido.

Capítulo 41

Michael

   Deitado nesta cama com Mercedes dormindo serenamente em meus braços consigo ter uma pequena dimensão do que se tornou minha vida nesses últimos meses. Minha vida estava mais que planejada antes de conhecê-la. Eu estava saindo daquele inferno de internato prestes a me trancafiar em uma faculdade que eu simplesmente detestava e ainda por cima ter que aturar a pressão do meu pai.
   Mas de repente minha vida virou de cabeça para baixo desde o dia que pus meus olhos em Mercedes. Ela conseguiu modificar todo meu ser,o que eu fui e o que estou sendo. E o apoio que recebo dela tem sido fundamental para minha adaptação à esse novo estilo de vida.
   O sol nem ao menos tinha nascido e eu já tinha que me levantar. Com muito cuidado, me levantei da cama para não acordar Mercedes. E mesmo morto de cansaço eu estava feliz para o meu primeiro dia de trabalho. Após o banho, volto para o quarto e escolho meu melhor terno. Percebo que Mercedes está me observando.

-Desculpe se te acordei.. - digo ao me aproximar da cama

-Imagina, eu queria mesmo te ver antes de sair para o trabalho. - Merche se sentou e fez sinal para que me sentasse também

-Me deseje sorte..

-Faça você a sua sorte! - respondeu - Você é capaz, tenho certeza. Agora vá,antes que você se atrase no primeiro dia!

-Você está certa! Eu te amo! - me levantei em um pulo para terminar de vestir o terno

  Me despedi de Mercedes e segui para a estação de metrô. Provavelmente chegarei no escritório dentro de duas horas, então decidi aproveitar esse tempo para compor, já que faz um bom tempo que não venho o fazendo.

(...)

   Até que me saí bem no meu primeiro dia,apesar de não gostar muito de mexer com números,só que ainda não posso me dedicar exclusivamente à música,porque afinal não sou mais um homem rico que tem tudo nas mãos. Agora se preciso de dinheiro eu tenho que batalhar por ele.

-Michael, pode vir aqui? - estava sentado na mesa do escritório quando Pherban me chamou

-Sim, senhor. O que precisa?

-Tem um antigo cliente nosso lá fora e como estamos ocupados você poderia atendê-lo? Não é difícil, você só precisa atualizar os dados dele.

-Claro, deixa comigo! - cumprimento formalmente o senhor e faço menção para ele sentar.

 Assim que terminei a tarefa, me levantei para voltar ao escritório,mas uma voz conhecida me deixou sem ação.

-Michael? - viro e constato o que já imaginava. Edgar - Que mundo pequeno, irmãozinho.. - ele riu

-O que faz aqui? - perguntei sem a mínima paciência

-Sabe, quando papai me contou a afronta que você fez ao se casar com uma marginal eu não acreditei.

-Claro que não acreditou. Na certa vocês pensaram que eu continuaria sendo o covarde de antes,não é mesmo?

-De fato sim. Mas isso não te torna machão,pois nós sabemos que uma hora você vai se cansar.. Eu daria tudo pra ter visto esse "casamento"..

-É uma pena não ter ido.. - respondi com ironia - Foi simplesmente perfeito me casar com a mulher da minha vida. - não entendi porque o olhar de Edgar se reverteu a um ódio assustador

-Você não vai ficar com ela,não vai!

-E por que não? Qual o seu problema comigo? Ou melhor, com a Mercedes? Por acaso a conhece?

-Não é da sua conta! - gritou - Só digo uma coisa, Mercedes não é mulher pra você. Ela nunca vai aceitar ficar com um fresco feito você! - não consegui me controlar e acabei o puxando pelo colarinho. Eu precisava entender o interesse dele por Mercedes,sendo que ele nem a conhece

-Eu te proíbo a tocar no nome da minha mulher! Não sei porque diabos você tem tanta convicção ao falar dela,mas sugiro que fique na sua antes que eu faça uma besteira! - Edgar sorriu cinicamente

-Ok, você quem manda.. - respirei fundo e o soltei - Mas pense bem no que eu disse.. Vamos ver quanto tempo dura seu castelo de areia! Boa sorte, maninho.. - Ed ajustou a gola da camisa e virou as costas, rumando para a saída

   Passei o resto do dia sem me concentrar no trabalho. Não pelo fato de Edgar ter me visto ou o que ele fará depois disso, e sim pela forma como ele falou de Mercedes. Eu tentava de todas as maneiras dissipar da minha mente a hipótese de Edgar e Mercedes já se conhecerem,mas eu vou tirar essa história a limpo.

Edgar

   Quando meu pai contou que Michael havia fugido da clínica e se casado com Mercedes já era tarde demais, pois se eu soubesse disso antes, esse casamento nunca teria acontecido. Deus sabe o ódio que sinto de Michael e depois disso, esse sentimento se tornou ainda mais forte. Michael desde pequeno só sabe ferrar com a minha vida e tirar o que é meu,mas agora já é demais. Mercedes tem que ser minha de qualquer jeito!
    Eu poderia muito bem ter usado minhas táticas para tirá-la de Michael, mas eu tenho que ser cuidadoso. Sei que meu plano só dará certo se eu tiver paciência, além do mais eu sei que essa porcaria de casamento vai se definhar. Michael é mimado demais para suportar a pobreza e eu sei que quando a realidade bater na porta, ele vai pedir arrego. 
     Eu já tinha ideia do que fazer. Papai não gostará nada de saber que Michael está trabalhando sem a ajuda dele e tenho certeza que ele dará um jeito nisso..

-Pai, posso entrar? - pedi licença para entrar em seu escritório. Meu pai parecia muito concentrado com um sorriso triunfal nos lábios

-Mas é claro! - estranhei seu inusitado bom humor

-Parece bem humorado.. Aconteceu alguma coisa? - perguntei ao me sentar de frente à ele

-Sim. Finalmente está se aproximando o dia para enxotar aquela marginal e sua corja do galpão. Falta pouco para tudo aquilo ser meu e aí sim me vingar daqueles dois!

-Falando no Michael, tenho uma novidade para te contar sobre ele.

-Pois diga.

-Bem, hoje fui visitar um amigo que trabalha na contabilidade do Pherban e adivinha quem eu encontro trabalhando lá? O Michael.

-O que? - ele tirou os óculos de grau para me encarar - Quer dizer que esse moleque conseguiu um emprego.. - disse rindo despreocupadamente

-Que cara é essa,Sr. Jackson? - ri - Aposto que vai se meter,não é?

-Só o colocarei no seu devido lugar. Vou apenas deixar claro que ele não pode vencer uma guerra contra mim. Mas deixa, amanhã ele terá uma bela surpresa. É inútil ele tentar trabalhar! - gargalhou - Ele só pode ter se esquecido do pai influente que ele tem..

-Ele precisa de uma lição. E esse ar de superior que ele tem vai acabar rapidinho..

Michael

   Já marcavam 20:00 quando finalmente cheguei em casa. Estava cansado, estressado e com uma terrível pulga atrás da orelha. Precisa esclarecer essa dúvida de uma vez por todas.
Abro a porta e vejo Mercedes trajando apenas a toalha de banho. Eu queria muito agarrá-la ali mesmo e matar a saudade que sentia,mas minha inquietação era maior que isso.

-Amor! - ela correu até mim e me abraçou - Quero que me conte tudo! - ela se inclinou para me beijar, mas eu me afastei

-Por que não disse que conhecia o meu irmão? - Merche me olhou sem entender a pergunta

-Como?

-Responda! De onde você conhece o Edgar! - gritei, sacudindo seus braços

-Quer me soltar? - Mercedes me empurrou e rapidamente vestiu a camisola - Você bebeu,Michael? De onde tirou isso?

-Apenas me responda. - pedi, tentando controlar o nervosismo

-Eu não sei do que está falando, porra! Eu lá vou saber quem é o seu irmão? E outra, eu nunca vi ele na minha vida!

-É mesmo? Por que ele me pareceu muito seguro ao falar de você, e muito enciumado,se me permite dizer!

-Você só pode estar drogado, não há outra explicação! - Mercedes riu sem humor, passando por mim. Agarrei seu braço, obrigando-a a olhar pra mim

-Eu quero a verdade. Agora. Vocês tiveram um lance,não foi? Só isso explica a raiva dele ao saber do nosso casamento. Aquele filho da puta comeu você! - tombei a cabeça após receber um ardido tapa de Mercedes. Ela aproveitou para me empurrar e só o que consegui ver foi ela correr porta a fora sabe Deus para onde.

  Avistei uma garrafa de cerveja na bancada e a arremessei contra a porta, vendo os cacos de vidro se espatifarem no chão. Soquei o balcão tentando descarregar a fúria que tomou conta de mim, na tentativa de controlar o ciúme obsessivo que instalara no meu peito. Eu enlouqueceria só de imaginar que Mercedes ja pertenceu a outro homem, ainda mais se esse homem for meu irmão.

Capítulo 42

Mercedes

   A pior coisa que existe nessa vida é ser acusada de algo que não fez. Eu nunca vi Michael tão descontrolado como hoje, nem ao menos consegui entender o que ele dizia. Só sei que eu não podia ficar ali escutando tanto desaforo. Mesmo de camisola saí de casa e bati na porta de Gina, que me acolheu na mesma hora.

-Beba a água. - disse me estendendo o copo - Tente me explicar novamente,ok?

-Explicar o quê se nem eu entendi? - solucei - Michael está fora de si! Disse que eu conheço o irmão dele e escondi. Viu como ele está perturbado?

-Muito! Você nunca falou do irmão dele. Como chama mesmo?

-Eu não lembro. Estava tão apavorada com a reação dele que não devo ter escutado direito. Mas também isso não importa!

-Amiga, eu sinto muito. Mas vocês precisam conversar. Não podem deixar as coisas desse jeito. Ele devia estar nervoso com a provocação do irmão.

-E eu com isso? Eu não tenho culpa da família filha da puta que ele tem! - respirei fundo e fechei meus olhos - Eu posso dormir aqui? Não tenho estômago pra ficar perto dele depois do que me disse.

-Claro. Desde de que me prometa que amanhã vocês vão conversar.

-Que seja. - dei de ombros - Me arruma um lençol que eu me ajeito aqui mesmo.

-Certo. Espera, estão batendo na porta. - Gina se levantou para atender e não demorou muito para escutar a voz de Michael

-Eu sei que ela está aí,me deixe entrar! Eu preciso falar com ela!

-Entra.. - Gima bufou. Me levantei do sofá quando Michael entrou na sala. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, com um semblante arrependido que não me comoveu nem um pouco

-Está fazendo o que aqui? Veio fazer barraco na casa da minha amiga também? - cruzei meus braços e tentei esconder as marcas dos dedos de Michael. Ele notou e deixou uma lágrima cair

-Meu amor.. Me desculpe por isso. - murmurou ao tocar meu braço, mas eu rapidamente me afastei

-Desculpa por agir feito um animal? Eu quero que saia daqui agora! -ordenei

-Eu só vou embora com você. Por favor, nós precisamos conversar! - ele nem parecia o louco de minutos atrás

-Eu não quero falar com você, vê se entende! - gritei

-Gente,me desculpe por me meter, mas continuar essa discussão não vai ajudar em nada! É melhor deixarem essa conversa para amanhã..

-Não! - Michael afirmou - Não vou deixar Mercedes aqui, ela tem casa e marido! - ri

-Ah não.. Agora além de louco você também é machista?

-Merche,não piore as coisas.. - Gina pediu

-Eu não sou machista, só estou implorando para que volte pra casa! Eu preciso conversar a sós com você.. Por favor.. - respirei fundo e acabei cedendo. Não adianta prolongar essa discussão

-Certo. Gina me desculpe pelo incômodo. - lhe dei um abraço apertado e passei por Michael sem nem dar ao trabalho de olhar pra ele

-Vista isso. Está frio. - Michael me agasalhou com seu paletó

    Seguimos para casa em um silêncio cruciante. Eu ainda estava assustada com a sua atitude, e o pior de tudo é que não tenho ideia do que ele está falando. A essa altura minha raiva já havia passado, dando lugar à magoa. 
    Assim que entramos na sala, tratei de jogar seu paletó no chão e virei as costas,mas senti suas mãos puxando delicadamente minha cintura. Seu olhar arrependido quase chegou a me sensibilizar.

-Me escute, por favor. - suplicou

-Só escuto se tirar suas patas de cima de mim! - Michael se afastou, obedecendo minha ordem. Me sentei no sofá, fechando os olhos. Michael se sentou na mesinha de frente para mim

-Me perdoe,Mercedes. Eu estava fora de mim e acabei te magoando..

-Eu só quero entender de onde você tirou essa história! Como pode duvidar de mim?

-Eu sei,eu sei.. Mas é que eu fiquei louco,Mercedes. Edgar fez de tudo para me envenenar e..

-E você feito um idiota decidiu descontar em mim, não é? - eu tentava a todo custo não chorar na frente dele

-Sim,eu fui um idiota. Deixei o ciúme me cegar..

-Michael, na boa eu não acharia ruim se você viesse me perguntar, só que você não fez isso, você afirmou!!

-Você tem toda razão, eu exagerei e muito! Eu estava louco quando fiz aquilo com você. Do fundo do meu coração,me perdoa. - Michael secou as lágrimas que banhavam seu rosto

-Tá,chega com isso. Será que agora dá pra explicar que merda é essa?

-Acabei encontrando meu irmão no escritório. Ele como sempre quis me provocar e quando falei do nosso casamento ele ficou louco. Disse que eu não sou homem pra você.. Sabe, o jeito que ele falava de você com tanta convicção me fez achar que vocês já se conheciam.

-Olha aqui,Michael, eu nunca vi o imbecil do seu irmão na minha frente e muito menos ouvi falar dele, agora se você acredita ou não o problema é todo seu. - me levantei do sofá,mas Michael me segurou pelo braço

-Eu acredito! É claro que eu acredito,meu amor. Vejo nos seus olhos que está sendo verdadeira e eu sei que você jamais mentiria pra mim!

-Que bom pra você! - me soltei dos seus braços e segui para o quarto, mas antes parei e me virei para encará-lo - Na sala ou no quarto, o que escolhe?

-Como?

-Anda logo,estou com sono. Decida onde vai dormir!

-Pera aí,você tá querendo dizer que não vamos dormir juntos hoje?

-Exatamente. Estou irritada demais para dividir a cama com você.

-Tudo bem. - Michael bufou - Eu durmo na sala. Vou dar o tempo que você precisa para me perdoar. - Michael veio até mim e beijou minha testa - Boa noite,Mercedes.

-Boa noite.

   Vesti meu casaco, peguei meu cigarro e subi para o terraço enquanto Michael tomava seu banho. Eu não estava nem um pouco afim de cruzar com ele. Ainda estou muito magoada com seu ataque de ciúmes e me manter afastada evitará possíveis discussões e a última coisa que quero é brigar novamente.
    Passei quase uma hora olhando para o céu e só decidi entrar quando o frio estava congelante. Ao descer percebo que somente a luz do abajur estava acesa. Michael estava encolhido no sofá e aparentava estar em um sono profundo. Também pudera, ele acordou as cinco da manhã, fora o dia estressante que ele teve.
   Mesmo magoada pra caramba, eu não conseguia ignorá-lo. Peguei uma coberta e com cuidado joguei sob seu corpo. Me agachei de frente à ele e acariciei seus cabelos, captando cada detalhe perfeito do seu rosto.

-Eu te amo, Michael. - sussurrei - Tudo que te peço é que não destrua nosso casamento.. - repousei um leve beijo em seus lábios e em seguida na sua testa

  Mesmo sensibilizada com sua fragilidade, meu lado endurecido falou mais alto. Me levantei e rapidamente fui para o quarto. Seria difícil dormir sem ter seus braços envolvidos na minha cintura, sem sentir sua pele quente contra a minha. E isso me preocupa, pois tenho medo que esse amor tão avassalador acabe nos destruindo.

Capítulo 43

Michael

 Na manhã seguinte eu estava visivelmente mais calmo,porém com uma terrível dor na coluna. Realmente passar a noite em um sofá pequeno é pra derrubar qualquer um. Só que meu maior problema não era o sofá e sim minha relação com Mercedes. Não sei qual será sua reação ao acordar, se continua magoada ou se está mais calma. 
 Felizmente eu voltarei só a noite, acho que será tempo suficiente para nós dois pensarmos melhor e quem sabe, conversarmos civilizadamente como marido e mulher.
   Eu pretendia me levantar, tomar um banho e sair para o trabalho,mas  falhei miseravelmente ao ficar parado na porta do quarto observando Mercedes dormir. Eu queria lhe dar um beijo,mas não achei prudente. Suspirei desanimadamente e segui para o banheiro.
  Após o banho,volto ao quarto, visto meu terno e penteio meus cabelos frente ao espelho. Já estava na hora de ir para o trabalho e de jeito nenhum eu sairia sem dar um beijo em Mercedes. Me sento com cuidado na cama e inclino-me para depositar um beijo em sua testa, mas para minha surpresa  sinto sua mão tocar meu rosto e seus lábios encontrarem os meus. Iniciamos um beijo calmo que foi se intensificando e tornando-se urgente.

-Merche, me perdoa.. - murmurei ao me afastar

-Shhi.. -  ela sorriu,com os lábios vermelhos - Eu te amo.

-Eu também te amo. Sempre! - permanecemos abraçados por algum tempo.

- Boa sorte no trabalho.

-Obrigado! - respondi, beijando o dorso da sua mão - Te vejo mais tarde?

-Claro que sim.. - respondeu sorrindo, voltando a se deitar na cama. Viro-me para ir embora - Psiu!

-O que?

-Nunca mais me deixe dormindo sozinha!

-Você.. - ri - Espere só quando eu chegar em casa!

(...)

 Depois de ver novamente um sorriso de Mercedes para mim, foi como se me enchesse de energia. Eu sei que a vida de casado não é um mar de rosas, que há muitas brigas, mas também sei que uma reconciliação não é algo impossível de acontecer.
  Assim que chego no escritório sou recebido pelo próprio Pherban. Percebi que seu semblante estava preocupado, o que me fez pensar que eu tenha feito algo de errado.

-Bom dia, Dr. Pherban! - falei o mais natural possível

-Bom dia,Michael. Poderia me acompanhar até a minha sala?

-Claro! - respirei fundo, tentando manter a calma

-Sente-se. - pediu

-Desculpe, Dr. Pherban, mas aconteceu alguma coisa?

-Aconteceu.. - ele suspirou e me encarou - Infelizmente não vou poder continuar com você.

-Mas.. eu não entendo,eu fiz algo errado?

-Não,pelo contrário. Você é um excelente profissional,mas convenhamos que é complicado ter um Jackson trabalhando aqui.

-Já entendi. - ri, sabendo exatamente o que estava rolando - Foi o meu pai,não é? - Pherban se calou - Tudo bem Pherban, pode falar.

-Me desculpe,Michael. Mas não posso confrontar Leon Jackson. Seu pai é um dos homens mais poderosos do continente e sinceramente, eu não quero problemas com ele.

-Pherban, está tudo bem. Não precisa se desculpar. Eu deveria imaginar que isso aconteceria..

-Me desculpe de verdade. Se tiver algo que eu possa fazer para te ajudar..

-Imagina,Pherban. Eu que agradeço pela oportunidade. Mas sabe, eu só fico feliz de saber que mesmo tentando me prejudicar, Leon não vai conseguir o que quer. - me levantei da cadeira e peguei minha mochila - Até mais e, novamente obrigado.

 Sorri timidamente e deixei a sala o mais depressa possível. Eu estava tão arrasado que assim que estivesse sozinho, com toda certeza  explodiria de raiva, frustração e decepção, e a melhor decisão que tomei foi ir direto para um bar.

(...)

    Devo ter passado praticamente o dia todo debruçado em um balcão bebendo até gastar meu último centavo. Só me lembro de acordar no meio de uma montanha de sacos de lixo,fedendo como um gambá e com uma terrível dor de cabeça. Depois de três tentativas, consegui me levantar. Voltei para o bar,que a essa altura já estava lotado.
    Não,eu não ia voltar a beber. Sei que apesar de ter aliviado a sensação de merda que eu sentia, a bebida não ia resolver meus problemas. Consegui achar na mochila alguns trocados que por sorte foram suficientes para voltar pra casa. Nem quero imaginar como está Mercedes sem notícias de mim à essa hora da noite.
 Com certa dificuldade,consegui abrir a porta. A bebedeira já havia cessado,mas ainda me sentia zonzo, como se um trator tivesse passado em cima de mim. Cambaleando, entrei na sala e dei de cara com uma Mercedes aflita,andando de um lado para o outro.

-Michael? - me joguei no sofá, ignorando-a. Merche se aproximou e percebeu com mais clareza o meu estado - Mas que merda você fez? - gritou, socando meu peito

-Eu bebi! Por acaso é novidade pra você?

-Você encheu a porra da cara, seu babaca!

-Quer saber por que fiquei chapado? Eu perdi a droga do emprego! - Merche se calou e subitamente se sentou ao meu lado

-Como assim? Você estava indo tão bem e ..

-Leon Jackson. Esse nome responde sua pergunta? - felizmente estávamos mais calmos. Eu odiaria brigar novamente com ela, ainda mais pelo fato de Mercedes ser a única pessoa desse mundo que me entende profundamente

-Eu não acredito.. Filho da puta! Como ele soube?

-Edgar contou,tenho certeza. Mas isso agora é o de menos. Estou fodido, Mercedes.

-Hey.. - Merche puxou meu rosto para encará-la - Deixa disso,cara. Esqueceu que somos dois fodidos?  - ri. Eu amo essa mulher pelo simples fato de me fazer sentir bem até nos meus piores momentos

-Amor, como eu vou fazer agora sem emprego?

-Eu não sei,mas vamos dar um jeito como sempre temos feito. Não vai se abalar por isso né? Pensa pelo lado bom, você não precisa mais se vestir como um nerd engravatado num emprego de merda! - gargalhei

-Disso você tem razão..

-É assim que eu quero te ver. - Merche me estendeu um cigarro - Precisando relaxar? - perguntou, arqueando a sobrancelha. Sorri, aceitando sua oferta

-É o que eu estou precisando. - ri

-Agora tira essa roupa que está fedendo a gambá! Espera.. tenho uma ideia.

-Diga.

-Acho que você não relaxou o suficiente. Sabe, toda vez que me sinto um lixo eu vou pra ponte do Brooklyn.

-Espera, você quer que eu me mate pulando da ponte? - ri

-Claro que não né? Vem, eu te explico no caminho. Só te garanto que teremos um pouco de aventura! - Mercedes puxou meu braço,mas eu a parei

-Obrigado,viu? De verdade, você é tudo que eu tenho. Obrigado por ter me escolhido, ou melhor, por me aturar!

-Todo mundo tem sua cruz.. - brinquei - Mas eu te amo e mesmo que em alguns dias nossa vida seja uma merda, eu vou continuar lutando para que dê certo,eu prometo.

-Eu também prometo. Eu te amo! - apertei sua mão e me levantei, aninhando Mercedes em meus braços  - Vamos pequena,vamos enfrentar mais um perrengue..

-Juntos.

-Juntos.

Capítulo 44

Mercedes

-Mais uma vez,Michael! - larguei a garrafa de vodca e o puxei pela mão

-Ok. Você venceu, Sra. Jackson! - respondeu, sorridente, vindo logo atrás de mim

   Me doeu muito ver o estado em que Michael se encontrava quando chegou em casa. Michael detesta bebidas e se ele se embriagou foi por ter chegado ao seu limite. Mas o que mais me choca é ver que todos esses ataques são feitos pelo próprio pai. Definitivamente não consigo enxergar esse amor altruísta que o sangue impera. E pra piorar a mãe de Michael nem aqui está para ajudá-lo para defendê-lo e eu me sinto ainda mais na obrigação de cumprir a promessa de fazê-lo feliz não importa as circunstâncias. Eu o amo demais para perdê-lo, eu enlouqueceria.

   Quando chegamos no pequeno precipício da costa litorânea, Michael tremeu dos pés à cabeça. Eu não ia voltar atrás na minha ideia e eu sabia que essa loucura o faria muito bem. Depois do primeiro pulo na água,Michael se soltou e não queria parar mais. Só voltamos para as pedras quando o cansaço nos atingiu em cheio, ou melhor, depois que cansamos de fazer amor.

-Temos que repetir isso.. - disse quase sem fôlego

-Pular do precipício ou transar no meio do nada?

-Quem sabe os dois,mas a última opção sem dúvida nenhuma! - ri - Obrigado,meu amor. Não imaginei que me animaria tanto depois dos últimos dias.

-Estou aqui pra isso,Michael... Não esqueça que antes de esposa, eu sou sua amiga. Sempre!

-Eu sei,por isso me sinto completo com você..

-E por que essa cara preocupada?

-Você sabe o porque.. Preciso de um emprego, rápido!

-Amor, não precisa desse desespero! Nós vamos ficar bem.. Amanhã se estiver mais calmo você procura esse bendito emprego,ok? Ah, e não esqueça que amanhã é véspera de natal!

-Oh meu Deus! Amor, será o nosso primeiro natal juntos!

-E será o primeiro de muitos!

-Pode ter certeza disso,gata! - Michael não esperou que eu respondesse, pois logo nossas bocas se uniram em um beijo urgente e intenso

(...)

   No dia seguinte,Michael acordou mais cedo que o normal, decidido a procurar trabalho. E lá vai ele novamente para NY tentar a sorte nessas empresas que só visam, nada mais que dinheiro. É claro que torço para que ele consiga, e ficarei muito feliz. Só que tenho medo que ele fique preso nesse ciclo. Michael sempre me disse que tem verdadeiro asco desse tipo de trabalho e agora quando ele tem a oportunidade de fazer o que gosta, ele insiste em querer manter o mesmo padrão de vida que tinha antes de se casar comigo.
     As vezes me bate uma certa insegurança. Tenho medo que Michael esteja apenas encantado com o início do nosso casamento e que quando a realidade bater na porta, ele acabe se sentindo infeliz.. Será que o amor é suficiente para enfrentar tantos desafios? 

     O restante do dia passei aflita e ansiosa. Desejava que Michael entrasse por essa porta com o mesmo sorriso dos últimos dias. Como eu disse, por mais que eu não goste do emprego que ele procura, estarei feliz do mesmo jeito se ele conseguir.
    Deviam ser 21:30 quando Michael finalmente chegou e pela sua cara de frustrado algo me diz que seus planos não deram certo. Michael fechou a porta, se livrou do paletó e gravata e se jogou no sofá. Mesmo retraída, me aproximei dele.

-Você está bem? - perguntei com a voz afável

-Vou ficar, eu acho..

-Quer conversar sobre isso? - Michael abriu os olhos e me encarou

-Quer saber se eu consegui emprego? Não. Mais alguma coisa?

-Se me tratar desse jeito mais uma vez eu te chuto daqui. - falei com firmeza e logo seu olhar se mostrou arrependido

-Me desculpa.. - murmurou baixinho, com os olhos cheios d'agua - É que foi tão humilhante, Merche.. - não aguentei vê-lo chorar e rapidamente o tomei em meus braços

-Não fica assim,meu amor.. Me conte o que aconteceu..

-Todos os lugares que fui estavam fechados para mim e sabe graças à quem? Meu pai. Ele fez questão de deixar claro que por ordem dele as empresas não podiam me contratar. Ele quer ferrar comigo, Mercedes!!

-Meu amor, se acalme.. Eu sei como deve ser difícil, ainda mais vindo do seu próprio pai, mas você precisa ser forte!

-Eu tento,mas com ele empatando minha vida fica difícil!

-Michael, será que não vê que isso é melhor pra você? - Michael se levantou abruptamente, disparando contra mim

-Melhor pra mim? Acha que o melhor pra mim é que fechem a porta na minha cara? - Michael riu - Só pode estar louca!

-Michael,na boa eu não estou te entendendo. Você cansou de dizer que não queria saber mais da vida que levava e o que você faz? Está feito um louco procurando um emprego que te mantenha o nível de vida que levava! - Michael se calou, provavelmente por saber que o que eu disse é a mais pura verdade

-Você está blefando!

-Não estou não! Por que não procura um trabalho aqui perto como todos nós?

-Pra ganhar uma mixaria? Acha que é isso que eu quero pra mim?

-Eu não acredito que você disse isso.. Me lembrou seu próprio pai..

-Pelo amor de Deus, Mercedes! Ter ambição não me torna um mau caráter! Será que não entende que tudo que eu quero é fazê-la feliz? Para que tenha orgulho de mim?

-E você acha que vai conseguir isso com dinheiro? A gente não precisa disso pra ser feliz!

-Disso eu não tenho dúvidas, mas não sabe como é humilhante ter que ser sustentado por você, fora que o que o ganha mal dá para pagar as contas!

-Eu falando de sentimentos e você vem falar de dinheiro e contas pra pagar? Pensei que o nosso amor fosse forte o bastante pra enfrentar os problemas!

-Ele é,meu amor, ele é. Só que quando o dinheiro acaba o amor sai pela janela. - engoli seco ao ouvir sua declaração, na verdade fiquei atônita

-Eu tinha tanto medo que esse dia chegasse..

-Por Deus, não me interprete mal! Só quero que entenda como me sinto! - virei as costas e vesti minha jaqueta - Onde vai?

-Se não lembra,hoje é véspera de natal e apesar de não ter clima nenhum para comemorar, eu preciso ficar longe de você.

-Merche.. - Michael se aproximou, mas o afastei na mesma hora

-Até mais,Michael. Mas pense, pense bem no que realmente quer pra sua vida.

(...)

- Merche!! - Gina abriu a porta com uma animação fora do comum - Que bom que você veio.. Feliz Natal, princesa!

-Feliz Natal,gatinha.. - devolvi o abraço para convencê-la de que estava bem

-Onde está o Michael? Porque daqui a pouco começa a festa no galpão.

-Acho que ele não vem. - respondi ao me sentar no sofá

-Não me diga que brigaram de novo? - assenti confirmando - Mas vocês estavam tão bem.. Ainda é por causa do emprego?

-Gina, eu sinto que vou perdê-lo - não consegui segurar as lágrimas que estavam presas

-Merche..

-Ele não mudou,Gina. Mesmo com tudo que aconteceu ele ainda não mudou! Será que ele não vê que tudo que o pai dele quer é que ele volte com o rabo entre as pernas?

-Merche, todo início de casamento é assim, ainda mais na situação de vocês..

-Não venha com frases feitas,Gina! Olha pra você e pro Tommy. Estão sempre juntos mesmo quando tudo está uma merda!

-Mas você sabe que é diferente. Estamos nessa vida desde que nascemos e o Michael entrou nessa praticamente agora..

-Isso não justifica! Porra, estamos juntos a tanto tempo e pior, já enfrentamos desafios suficiente para ele aprender a andar com as próprias pernas! Sinceramente, Gina, acho que nosso casamento está por um fio.

-Não se apavore, Mercedes. Vocês vão superar mais essa, tenho certeza!

-Eu morreria se ele me deixasse.. - consegui dizer entre os soluços

-Ama tanto ele assim,Merche?

-Mais que a mim. Sei que é ridículo dizer isso,mas me tornei totalmente dependente à ele.

-Calma,ok? - Gina enxugou meu rosto e me deu um abraço carinhoso - Tenha fé, vocês vão conseguir. Agora pare de chorar,por favor. Não aguento vê-la assim,amiga.. É Natal e nós vamos comemorar como todos os anos, certo?

-Certo. - respirei fundo e me levantei - Acha que o Michael vai estar lá?

-Tenho certeza! - ela sorriu - Agora vamos, princesa. Esqueça todos os problemas essa noite..

Assenti confiante para Gina. No fundo do meu coração tudo que mais quero é ver a calmaria depois dessa tempestade que segundo a minha intuição está longe de ter fim.

Capítulo 45

Gregory

    Mais um Natal em que passo totalmente solitário na companhia do remorso,que me acompanha há quase vinte anos. Mais um ano que está passando sem nenhuma notícia da filha que deixei para trás. Nunca me perdoarei por ter abandonado a mulher que amava e tudo isso por medo,insegurança e covardia. Eu era um homem só quando conheci Eloise, mas mesmo com pouca experiência eu conheci o amor. Eloise virou minha cabeça para baixo,me deixando completamente apaixonado por ela. Para mim parecia ser eterno o amor que sentíamos um pelo outro,apesar das nossas diferenças.         Eu vim de uma família humilde enquanto ela pertencia à uma família de posses,mas esse fator não a tornava egoísta ou metida,muito pelo contrário. Eloise era encantadora, meiga,educada e de um coração enorme e foi justamente por isso,somado à sua beleza rara que me fez apaixonar perdidamente por ela. 
     Ela tinha apenas 18 anos quando começamos a namorar,e eu com 35. Tudo parecia ir bem enquanto namorávamos,apesar da diferença de idade,mas quando sua família descobriu,foi um verdadeiro inferno. Lutamos para permanecermos juntos,mas pela minha covardia eu a deixei escapar. Pensei que estava fazendo o melhor pra ela,abrindo mão do nosso amor para que ela pudesse viver em paz.Nunca me esquecerei do seu olhar na nossa despedida, do desespero em seu tom de voz implorando para que eu não fosse embora,para que enfrentasse tudo e todos e finalmente sermos felizes,mas infelizmente eu não voltei atrás. 
     Depois disso eu jurei para mim mesmo que venceria na vida e me tornaria um homem à sua altura. Eu iria estudar,fazer dinheiro para poder dar a vida que ela merecia,mas o destino foi cruel comigo. Assim que me mudei para Madri,perdi totalmente o contato com Eloise ou qualquer um da sua família,eu me desesperei em pensar na hipótese de nunca mais vê-la,eu não me perdoaria.
       Quase um ano depois, já estudando e com algum dinheiro guardado decidi voltar para os EUA para procurá-la de uma vez por todas. Eu não sei como suportei viver com a notícia que tive quando cheguei. Ao procurar a casa em que ela morava, não encontrei ninguém,nem seus pais ou ela própria. Em vez disso, me deparei com outros moradores que me relataram o que havia acontecido com a família Smith. A única filha de Mark, Eloise, havia morrido instantes após dar à luz. Eu fiquei atônito,desesperado, como em uma montanha-russa. Como eu pude ter coragem de deixar Eloise no momento que ela mais precisava de mim? E o pior de tudo isso é que perdi o amor da minha vida sem ao menos estar ao lado dela. 
     Eu pensei que enlouqueceria,mas eu precisava por minha cabeça em ordem,tinha que tirar a limpo tudo o que aconteceu enquanto eu estava em Madri. Com muito custo consegui entrar em contato com uma antiga empregada da mansão,que me contou detalhadamente o que havia acontecido. Segundo ela, assim que eu fui embora Eloise descobrira a gravidez. Ela era a única que sabia desse segredo,fizeram de tudo para falar comigo,o que foi em vão. Com os meses se passando foi impossível esconder a gravidez por muito tempo. Elosie passou o inferno com o pai e por conta disso teve uma gravidez complicada que resultou na sua morte logo após o nascimento da criança. Laura me contou que depois do enterro, Mark se livrou da bebê, mandando-a para um orfanato.
     E é por essa razão que não desisti de viver. Nem que passasse o resto da minha vida a procurando,eu ia lutar para achá-la e reparar meus erros,e é isso que tenho feito nos últimos dezoito anos. Prossegui com meus planos de mudar de vida, me afoguei no trabalho e me tornei um multimilionário no ramo de hotéis. Apesar do sucesso e fortuna inestimável, jamais em todos esses anos dormi em paz. Saber que minha filha está em algum lugar desse mundo,vivendo sabe se lá como me apavora. Eu fiz uma promessa para Eloise e não descansarei enquanto não encontrar minha filha,pois aí sim poderei morrer em paz e finalmente, ir de encontro à mulher que sempre amei.

-Senhor Gregory, a ceia está servida. - Beth,minha governanta e amiga de longa data, insiste em decorar a mansão e fazer diversos pratos para a ceia,apesar de saber que não comemoro natais

-Beth,por que ainda insiste? Como acha que posso comer em paz sabendo que minha filha está longe de mim?



-Você sabe que compreendo sua dor,mas não pode continuar se fechando dessa forma. Gregory você é jovem,deve reconstruir sua vida!

-Não posso! Não enquanto minha filha estiver desaparecida. Cada dia que se passa um fio de esperança se esvai.. Mas Deus não pode permitir que eu morra sem antes encontrá-la! - clamei,olhando para a cruz de Jesus Cristo logo acima de mim

-Pense em todos os progresso que já teve. Você conseguiu descobrir para qual orfanato ela foi e até mesmo a família que a adotou!

-Sim,mas do que isso adianta? O próprio detetive afirmou que ela fugiu de casa aos 14 anos e desde então ela sumiu!

-Mas sabemos que ela está nos Estados Unidos e quem sabe em Nova York mesmo. Os detetives estão fazendo um trabalho minucioso para encontrá-la,não desista!

-Eu tento.. Falando nisso,Ralph viajou para NY e até agora não trouxe notícias.. Odeio essa ansiedade! - bufei irritado. Toda vez que Ralph viaja à procura de pistas, ele volta com as mãos vazias

-Espera mais um pouco,Gregory.. Confie em Deus,ele vai trazer sua menina! E tenho certeza que Eloise onde quer que esteja está guiando a filha..

-Eu sei que sim.. E é essa esperança que me mantei de pé. Não desistirei enquanto não realizar meu maior sonho.. - fechei meus olhos em uma prece silenciosa

    Abandonei o copo de Whisky em cima da mesa de mármore,subi as escadas e me direcionei ao meu quarto,que mais parece com um mausoléu. Todos os dias é a mesma rotina. Me sento de frente ao altar que fiz especialmente para Eloise e capturo com as mão trêmulas a única e preciosa foto que tenho da minha filha. Laura fotografou no instante em que ela nasceu. Apesar de tão pequenina, seus enormes olhos azuis transmitem uma força fora do comum, assim como Eloise sempre teve.
   Deixo uma lágrima rolar pelo meu rosto,deposito um beijo na fotografia e ,mais uma vez choro abraçada à ela.

-Me perdoa,Eloise.. Eu juro que encontrarei nossa menina. - abro meus olhos e sorrio ao olhar mais uma vez para a foto da criança - Feliz Natal,minha filha..

Michael

   Não sei que adjetivos uso para a idiotice que cometi com Mercedes. Tive um dia terrível e acabei descontando nela, despejando um monte de besteiras que com toda certeza a magoaram profundamente. Cada dia que passa minha vida se torna mais difícil.Apesar de prometer que seria um novo homem,ainda me sinto preso ao meu pai e a todo o poder que ele emana. Sei que ele está fazendo isso com essa intenção e o pior de tudo é que ele está conseguindo. A pressão aumenta por todas os lados e sinto que vou explodir a qualquer momento,só que deixei pra fazer uma merda dessas justamente no dia de Natal,mas eu não vou estragar nossa noite,não mesmo!
     Pela roupa que estava,me parece que Mercedes estava pronta para a festa de Natal do galpão. Quem sabe eu tenho a sorte de encontrá-la? Mesmo cometendo erro atrás de erro e não tendo noção do que fazer na minha vida,de uma coisa eu tenho certeza: amo Mercedes com toda minha alma e por ela sou capaz de tudo.
   O galpão estava lotado, pessoas rindo,dançando e uma música alta vinda do palco. Seria difícil encontrá-la no meio de tanta gente. Caminho mais um pouco para o interior do salão e respiro aliviado ao ver Gina dançando espevitada com um gorrinho vermelho na cabeça,agora é torcer para que Mercedes também esteja aqui.

-Gina!! Me espera! - ela olhou para mim e fez cara de poucos amigos

-O que foi,Michael? - disse sem paciência - Já sei. Quer saber onde está a Merche, não é?

-Exatamente. Nós dois precisamos conversar..

-É,precisam mesmo.. - Gina bebericou o vinho,voltando sua atenção à mim - Ela está no terraço.

-Obrigado! - sorri em agradecimento

-Michael? - me virei ao ouvir Gina me chamar

-Sim?

-Imploro para que parem de se machucar desse jeito. Veja bem o rumo que estão tomando na vida de vocês.. - apenas assenti,pois de fato ela estava coberta de razão

   Subi as escadas para o terraço, encarando o céu negro e incrivelmente estrelado. Apesar do frio congelante e a fina neve que caía, não me importei em continuar ali,pois meu coração passou a bater mais forte ao ver Mercedes sentada no muro. Ela estava encolhida por conta do frio, trajando apenas um fino casaco. Estava linda, linda!
   Me aproximei devagar, tirei meu paletó e a agasalhei. Mercedes se assustou,mas logo percebeu que era eu que à envolver meus braços em torno dela.

-Quer congelar aqui em cima? - perguntei ao vê-la tremendo

-Nem percebi que nevava. - murmurou. Virei Mercedes de frente para mim e encarei seus olhos entristecidos. Permanecemos em silêncio, apenas com os olhos fixos um no outro - O que está acontecendo com a gente, Michael?


-Eu não sei.. - sussurrei, apertando-a em meus braços - Mas nós vamos ficar bem, nós vamos.

-Eu estou com medo.. - delicadamente enxuguei as lágrimas que rolavam pelo seu rosto

-E eu me odeio por te ver assim. Prometi que ia te fazer feliz e olha só pra você..

-Eu só não gosto quando fala daquele jeito, me assusta..

-Me perdoa, amor.. Me perdoa.. - pedi, com a minha voz embargada - Estou desesperado e desconto tudo em você.

-Me promete que isso vai acabar? Que todas essas brigas não vão mais acontecer?

-Eu prometo pra você. Eu te amo demais, Mercedes.. Tanto que chega a doer.

-Eu também te amo muito! - Mercedes me abraçou com mais força

-Jura que me perdoou?

-Eu juro.. - respirei aliviado ao finalmente ver seu sorriso

-Ufa! Odiaria passar nosso primeiro Natal brigados.. Além do mais, como eu daria seu presente?

-Que presente,Michael? Você sabe que eu não gosto! - resmungou, socando meu ombro

-Você vai gostar, branquela.. Agora vamos sair daqui, estou morrendo de frio! - ela riu

-Vamos! - Merche se aconchegou em meus braços e descemos correndo para o galpão

   Parecia que finalmente estava tudo entrando nos eixos. Graças a Deus, Mercedes me perdoou e agora mais uma vez vou fazer tudo diferente. Estava disposto a esquecer todos os problemas e comemorar o Natal com o coração limpo e em paz.
   Ainda permanecíamos abraçados um no outro, rindo por alguma besteira que ela dizia. Seguíamos para a pista de dança, animados para dançarmos juntos até não aguentar mais.

-Michael? - paralisei ao ouvir tal voz. Viro a cabeça e me deparo com meu pai, que surpreendentemente estava calmo

-Pai? - não podia acreditar que até no dia de Natal ele não dá trégua

- Podemos conversar, filho? - engoli seco ao ouvi-lo me chamar por "filho"

   Olhei para Merche, esperando sua ajuda. Ela assentiu para mim, beijou o dorso da minha mão e se afastou. Confesso que a visita do meu pai, ainda mais com esse comportamento me deixou completamente sem ação. Não acredito que o espírito natalino tocou seu coração,mas também não consigo entender o motivo da sua visita cordial.

  

                                              Capítulo 46

Michael

    Eu não sei ao certo o que sinto ao ver meu pai depois de tudo que ele fez comigo. Mas mesmo magoado eu devo respeitá-lo,pois ele é meu pai e desde pequeno ele sempre foi o meu herói,apesar de nunca me sentir bem ao lado dele. 
    Depois do choque inicial, o levei à uma das salas do galpão,eu não queria que ele entrasse na minha casa,por respeito à Mercedes. Fechei a porta logo após Leon entrar. Ele analisou o local por um tempo e em seguida voltou sua atenção para mim.

-Agora pode dizer o que veio fazer aqui? - pergunto direto ao ponto

-Antes de começarmos, te desejo um feliz natal, afinal de contas você é meu filho.

-Filho? - ri - Não foi você mesmo que disse que eu estava morto pra você?

-Michael,por favor.. Não sabe como foi difícil vir aqui para pedir..perdão. - engoli seco, completamente abismado

-O que?

-Eu passei as últimas semanas refletindo sobre minha vida, meus atos.. Você é meu filho, droga! Não posso permitir que meu próprio filho se definhe nesse lugar!

-Estou muito bem aqui, obrigado. - digo com convicção para não transparecer o contrário

-Não minta para mim. Vejo nos seus olhos que está infeliz. Pode até gostar dessa sub.. dessa garota, mas não venha me dizer que se sente bem sendo pobre. E é por isso que tomei uma decisão.

-Que decisão? - perguntei sem entender

-Quero lhe fazer uma proposta, Michael.

-Diga.

-Volte para casa. Esqueça tudo que aconteceu e vá viver a sua realidade! Estou disposto a passar uma borracha em tudo que me fez, em tudo que eu fiz e poder seguir nossas vidas. Por favor,Michael. - fiquei ainda mais chocado ao ouvir um "por favor" vindo do meu pai

-Está pedindo para eu voltar, é isso?

-Sim,meu filho. E eu sei que é isso que você quer. - fechei meus olhos e me virei de costas. Realmente ele está certo,mas também jamais abandonaria Mercedes

-Eu não posso. - me virei para ele - Não sem a minha mulher. - Leon afrouxou o nó da gravata e respirou fundo

-Está me dizendo que vai negar meu pedido para ficar aqui com essa mulher? Pelo amor de Deus, Michael!

-Pai se veio aqui com a intenção de me afastar da Merche é melhor ir embora..

-Não. - me cortou - Por mais difícil e perturbador que seja, também estou disposto a aceitá-la.

-Você o que?

-Michael,já entendi que gosta dela e não importa o que eu faça, você não vai deixá-la. Então ou eu aceito ou perco meu filho.. Aceito essa garota na minha casa, desde que ela mude seu comportamento. Faça com que sua esposa estude, seja culta, comportada.. Ou vai me dizer que gosta do jeito moleca de Mercedes?

-Amo Mercedes de qualquer forma, pois ela tem personalidade e é isso que me encanta nela. Mas por um lado você está certo. Merche é muito jovem e tem um futuro pela frente e com toda certeza o estudo a fará muito bem.

-Estou dizendo..

-Mas tem algo que não se encaixa.. Não sei se devo confiar em você.

-Michael eu sei que fui longe demais com você,mas olha pra mim. Estou velho e logo logo posso morrer. Não quero perder o tempo que me resta. Sou capaz até de aturar essa mulher para você voltar. - Leon se aproximou de mim e beijou minha testa - Pense no que eu disse. Converse com ela. Até mais, Michael.. - ele se virou, caminhado para a porta

-Pai? - ele me olhou - Obrigado. Nunca pensei ouvir isso de você.. - ele assentiu dando um rígido sorriso e se afastou

   Permaneci na sala tentando absorver tudo que escutei. Meu pai engoliu o orgulho e veio até aqui me pedindo para voltar, e o melhor, permitindo que Mercedes vá comigo! Eu sei que minha volta pra casa vai nos ajudar e muito. Eu vou poder estudar e Merche também. Ela poderá mudar de vida, se tornar uma mulher elegante e inteligente, não que ela não seja, mas é pelo futuro dela. 
    Depois de alguns minutos Mercedes entra aflita na sala. Ela me abraçou por trás, imaginando que eu havia discutido mais uma vez com meu pai.

-Quer falar sobre isso? - perguntou. Acariciei seus braços e a virei para mim

-Não houve briga, amor. Acredita nisso?

-Sério? - Merche me olhou surpresa - Pensei que fosse o contrário, mas fico feliz por não ter se aborrecido. Mas então o que ele queria?

-Nada demais.. Quer dizer, ele desejou feliz natal.

-Só isso? - preferi deixar este assunto para o dia seguinte. Será uma conversa delicada,mas a minha decisão eu já tomei

-Amanhã falamos dele. - sorri - Porque agora vamos comemorar o nosso Natal.. - falei deslizando meus dedos em sua cintura

-Hmm.. e o que pretende fazer?

-Vem comigo..

Acho que pela primeira vez quem vai cometer uma loucura sou eu. Sempre disse à Mercedes que a levaria em um restaurante caro. Ok, eu não tenho dinheiro, mas quem precisa dele? Somos jovens e loucos, e cumpriremos esse papel.

-Amor, onde está me levando? - perguntou ao descer da moto. Sim, eu estou pilotando. Mercedes insistiu tanto para eu aprender que acabei gostando

-Pode abrir os olhos. - Merche piscou três vezes para ver a imagem do belíssimo restaurante à sua frente

-Não acredito nisso. - disse com uma leve irritação e eu adorei ver sua cara fechada para mim

-Será que pode deixar eu explicar, mocinha? - ri

-E será que pode me explicar como vamos pagar isso? É mesada do seu pai, por acaso?

-Não. Ele não está bancando, nem eu e nem você. - Merche franziu o cenho

-Que porra você tá fazendo, Michael? - Mercedes abriu um sorriso travesso - Pera aí.. Você quer dizer que..

-Ah.. é isso mesmo que está pensando..E ai? Vai dar para trás?

-Você é um filho da puta! - gargalhou - Me bateu uma fome agora..

-Então vamos jantar, querida. Me concede sua mão?

-Mas é claro, cavalheiro! - beijei o dorso da sua mão e entramos elegantemente, controlando a enorme vontade de rir

   Ao sentarmos à mesa, o garçom rapidamente veio nos atender. Acho que pela roupa que eu vestia, transpareceu uma figura de homem rico e fino. Pedimos os cardápios e selecionamos os pratos,desde entrada à sobremesa, vale ressaltar que foram os pratos mais caros. Pedimos também garrafas dos vinhos mais caros e assim que o garçom nos entregou, guardamos algumas garrafas na mochila.

-Um brinde,Sra. Jackson, à nossa vida de rei e rainha! - Mercedes riu

-Um brinde à nós,meu Rei! - bebemos o champanhe em uma única golada - Michael, você é louco! Como vamos embora sem pagar isso? Deve custar mais que o nosso apartamento!

-Ah amor,vai me dizer que não tem nenhum plano nessa sua cabecinha perigosa? 

-Deixa comigo..

Continuamos o jantar tranquilamente, nos divertindo ao falar mal de qualquer granfino que entrava no restaurante, e também ao lembrar do enorme prejuízo que vamos dar para o dono.

-Amor, acha que ele te reconheceu como filho do Leon?

-Acho que não, senão teria falado algo. Mas também não me importo, não vamos pagar mesmo! - Merche riu

-Falando nisso, é melhor dar o fora daqui. Quero beber todo esse vinho em casa!

-Garota esperta.. - pisquei - Ok. Levante discretamente e vá ao banheiro. Leve a mochila com você.

-Ok.. E se desconfiarem?

-Você dá seu jeitinho.. - Merche piscou pra mim e se levantou, indo em direção ao Metre que nos  observava

    Percebi quando ela arqueou o busto pra frente, jogando alguma conversa mole pro cara. Em outras circunstâncias eu quebraria o nariz do infeliz,mas eu não vou ser babaca de estragar nosso dia. O rapaz já estava babando por Mercedes e eu rapidamente me levantei,não estava gostando tanto assim da sua ideia. Logo Merche entrou no corredor. Puxei-a pela cintura, depositando um beijo demorado em seu pescoço.

-Mais um minuto lá e eu socava a cara dele..

-Pra melar com tudo? Relaxa,amor.. E agora como saímos?

-Já pulou janela? - Mercedes ria enquanto era puxada por mim

  Em menos de um minuto já estávamos pulando do telhado. Saímos correndo, entrando no primeiro beco que achamos e mesmo cansados não conseguíamos parar de rir. Depois de bem afastados do restaurante e já montados na moto, levei Mercedes para a mesma pedreira que ela me levou esses dias.

-Gostou mesmo desse lugar.. - comentou ao se sentar na pedra

-Aqui é lindo. Não sei como nunca vim aqui..

-Eu amo esse lugar.. Amor, valeu por hoje. Foi, sem dúvida, o melhor Natal da minha vida. Pela primeira vez eu não passei sozinha, ou melhor, passei com quem me ama.

-Oh amor.. - envolvi Mercedes em meus braços - Esse também foi o melhor Natal que já tive. Obrigado por fazer parte. Mas agora.. - retirei da mochila uma caixinha de veludo - Espero que goste..

-Deixe eu ver.. - Merche se emocionou ao abrir a caixa. Ela retirou o colar e olhou atentamente para o pingente - Michael, é lindo..

-Esse colar é de Nossa Senhora das Mercês,é uma das designações atribuídas à Virgem Maria. E ela também é conhecida como Nossa Senhora das Mercedes.

-Sério? Eu não sabia que tinha uma Santa com o meu nome.

-Mas não é pelo nome que comprei e sim, o significado. Nossa Senhora das Mercês é protetora dos enclausurados seja fisicamente, ou intimamente. Senhora da libertação da escravidão do consumismo, do comodismo, da insegurança, do egoísmo.. E eu vejo muito disso em você,pois é livre de todo esse tipo de prisão. Tem a alma pura, inocente e eu sei que nunca deixará de ser assim.

-Nossa,Michael.. Nunca me descreveram assim.. Obrigado viu? O melhor presente que já ganhei depois de você, claro..

-Linda! - puxei seu rosto para mim e lhe beijei sensualmente - Mas não acabou.. - tirei da mochila um saquinho de plástico e Mercedes ao reconhecer soltou uma gargalhada

-Mentira! Não acredito.. Onde você arrumou cigarro de maconha? - ri

-Quando cheguei hoje tinha uns caras fumando na porta da galeria e eles me ofereceram, então pensei.. Por que não?

-Você sabe a brisa que vai te dar né?

-Hm então você é experiente.. Quero muito relaxar com você, tá afim?

-Claro! Acende aí..

  Depois do terceiro cigarro, já nem sabíamos mais onde estávamos. A sensação quase pode ser compara à de um orgasmo. Não,eu não sou viciado e nem pretendo ser,mas não é pecado apertar uma de vez enquanto. Sempre fui muito regrado e hoje tenho a oportunidade de fazer o que quiser e ser quem eu quiser.

(...)

-Sério,esse foi o melhor Natal de todos os tempos! E ainda presenciei a cena do meu marido fumando o cigarro do diabo! - Merche gargalhou, se jogando no sofá

-Parece que o efeito ainda não passou pra você, garota.. - apertei seu nariz de leve. Merche se deitou no meu colo, com os olhos fixos nos meus

-Estou notando você diferente.. É a visita do seu pai,não é?

-Não vou mentir pra você. - suspirei - Nós vamos falar disso,mas amanhã ok?

-Uh.. Pelo jeito é sério.. - Mercedes me olhou com o semblante preocupado, mas logo tratei de acalmá-la

-Não se preocupe,não é nada de ruim.. - assegurei, enquanto acariciava seus cabelos cor de mel - Agora a senhorita vai tomar um banho comigo,bem demorado...

-Pra fechar a noite com chave de ouro.. To dentro! - aconcheguei Mercedes em meu colo e seguimos para o banheiro

   Eu sei que será uma conversa delicada,mas torço para que ela me entenda, afinal acredito que Mercedes me ama o suficiente para compreender meus motivos e como minha esposa, vai aceitar ir comigo. Eu estive disposto a mudar minha vida por ela, e nada mais justo que agora seja a vez dela.

Capítulo 46

Mercedes

    Como hoje é feriado, resolvi dormir até mais tarde, ainda mais pela ressaca da noite passada e da tórrida noite de sexo que tive com Michael. Sei lá, mas dessa vez eu tive um desejo quase que desesperador de estar nos braços de Michael, como que se momentos como esse fossem se tornar escassos. 
   Me espreguicei na cama, imaginando tocar em seu corpo, mas para minha surpresa, seu lado da cama estava vazio. Com muito custo consigo me levantar, dou um enorme bocejo e me direciono ao banheiro para tomar um banho relaxante, quer dizer, depois de passar quase vinte minutos debruçada sob o vazo, vomitando as tripas. É, eu realmente exagerei pra cacete na noite passada.
    O enjoo ainda não havia passado totalmente, mas decidi não dar bola pra isso e fui ver o que Michael estava aprontando. O forte cheiro do café já adentrara minhas narinas antes mesmo de eu chegar na cozinha. A náusea veio com tudo, mas a imagem de Michael cozinhando e cantarolando uma música com um sorriso nos lábios me fez esquecer totalmente do enjoo.

-Bom dia, Sra. Jackson! - cumprimentou animado ao notar minha presença

-Bom dia.. Por que pulou da cama? Hoje é feriado de Natal, maluco! - ele riu

-Eu sei, mas quis preparar um café da manhã especial pra você.

-Ah obrigada,lindo.. Mas vou dispensar.

-E por que?

-A bebedeira de ontem não bateu bem não.. - Michael se aproximou de mim e depositou um beijo terno em meus lábios

-Eu falei pra você maneirar, não é moça?

-Sem sermões, ok? - avisei, dando um beliscão de leve em seu braço

-Au! - gritou

-Amor, que eu me recorde você disse ontem a noite que tinha um assunto importante pra me falar.. -Michael fechou o semblante e virou de costas

-Sim, eu tenho. E vou falar logo com você. - afirmou, voltando a me encarar.

-Tudo bem, diga.

-Ontem quando meu pai veio aqui, ele..

-Ele o quê, Michael?

-Ele me pediu perdão por tudo que fez, está decidido a passar uma borracha em tudo que aconteceu.

-Nossa.. - ri, espantada - E aí?

-Tem mais. Ele.. ele me pediu pra voltar pra casa. - até aí tudo bem, pois eu já imaginava,mas logicamente Michael recusou

-Ele não desiste né? Me surpreende o fato dele não ter feito um escândalo quando você recusou. - Michael nada disse - Michael?

-Eu não disse nada,ainda.

-Pera aí, deixa eu ver se entendi.. Você realmente tem dúvidas em relação a resposta?

-Merche, meu pai está mudando.. E o melhor você não sabe! - ri, ironicamente

-Hum, o que eu não sei?

-Ele até permitiu que você vá comigo. Eu disse que só voltaria se você fosse comigo e ele aceitou!

-Você o quê? - alterei minha voz, sentindo o sangue se concentrar no meu rosto - Você enlouqueceu? Como ainda consegue dar ouvidos à um sujeito que teve coragem de te prender em um hospício! E pior, o homem que me odeia!

-Mercedes,será que você não vê que é a nossa chance? Se meu pai ainda fosse um crápula, ele jamais viria aqui!

-Você é cego ou se faz de idiota? Tá na cara que ele tá armando uma, Michael! E você tá caindo feito um idiota!

-Não diga o que não sabe!

-Michael, você é feliz comigo? - perguntei sem rodeios

-Mas que pergunta, é claro que sou!

-Mesmo? É feliz morando em um cubículo na periferia, tendo que contar dinheiro pra sobreviver? - Michael se calou, denunciando sua resposta - Não precisa responder.. - ri

-Mercedes, por favor! Acha que é essa vida que eu quero pra gente? Porra, acha que sou feliz vendo você me sustentar? O que te custa engolir o orgulho?

-Orgulho? - esbravejei

-É, orgulho sim! Meu pai só quer o nosso bem! Você só precisa estudar, amor, mudar seu comportamento.. Assim tanto eu e você teremos um futuro.. - ri ao ouvir seus planos

-Olha só.. Agora estamos falando a mesma língua.. Então pra você eu sou uma ignorante, grossa e vulgar?

-Eu não disse isso.. - se explicou

-Vá se ferrar, Michael Jackson! Como tem coragem de dizer isso olhando nos meus olhos?

-Merche..

-Quer dizer que para entrar oficialmente pra sua família, eu tenho que me tornar um modelo de Dominique? Sim, porque é isso que no fundo você quer!

-Você é egoísta, é isso que você é! - gritou - Você pediu para eu mudar e eu decidi modificar toda minha por você, abri mão de tudo pra vir pra cá e quando peço pra você fazer o mesmo é assim que me retribui?

-Eu não te obriguei a nada, seu idiota! - berrei ainda mais alto que ele - Foi você que quis vir pra cá, que quis dar uma de rebelde sem causa para provocar o pai!

-Não viaja,Mercedes.. - Michael fechou os olhos, me ignorando ao passar por mim

-É mentira, Michael? - confrontei - Você só me pediu esse maldito casamento para se vingar do que seu pai fez e agora que cansou de brincar de casinha, você quer dar o fora!

-Eu não quero passar o resto da minha vida apodrecendo nesse lugar miserável,porra! - foi a minha vez de perder as falas. Respirei fundo, engoli o choro e voltei a lhe encarar

-Junte as suas coisas e vá embora. - pedi em voz baixa

-Como?

-Pegue as suas coisas e volte pra sua casa, pra vida que você sempre gostou.

-Mercedes.. - balbuciou com a voz trêmula

-Sabe, a culpa não é sua. - sorri - Eu que me permiti iludir no meu próprio conto de fadas. Você jamais acostumaria a viver na pobreza. Você tem sangue azul, é um Jackson! - Michael balançava a cabeça em negativa - Eu não quero e não tenho mais coragem de atrapalhar a sua vida. Aproveite a oportunidade e vá!

-Não, Mercedes.. Eu te amo! - gritou em desespero. Me desvencilhei dos seus braços e enxuguei uma lágrima que rolou pelo meu rosto

-Você finalmente me fez ver que a frase que me disse há alguns dias atrás é mais que verdadeira. " Quando o dinheiro acaba, o amor sai pela janela."

-Eu disse sem pensar! Meu amor por você é mais forte que tudo!

-Não mais que ao dinheiro. Michael, não vamos prolongar isso. Eu vou pra casa da Gina, vou te deixar a vontade para se mandar.

-Não!! - Michael se ajoelhou, agarrando minha cintura - Por favor,amor.. Não faça isso com nós dois!

-Nós? Você que está desistindo de nós, e mais uma vez, eu não lhe culpo. Na verdade isso sempre esteve predestinado ao fracasso e só não queríamos enxergar. - me soltei dos seus braços e abri a porta, pronta para sair - Quer saber? Te desejo o melhor, sério mesmo. Estude, se forme e seja o filho que seu papai tanto quer! Até nunca mais,Michael. - acenei pela última vez e dei as costas sem olhar para trás

  Meu coração estava dilacerado de todas as maneiras possíveis. Eu só queria chorar, gritar e me bater até ver meu próprio sangue nas minhas mãos. Como eu pude me deixar envolver tanto sentimentalmente? Logo eu que sempre garanti que jamais me apaixonaria, que jamais me tornaria uma boba iludida. 
   Mas agora olha o que eu me tornei. Estou derrotada e pra falar a verdade a culpa é toda minha. Eu sempre soube que Michael uma hora ou outra ia se cansar desse "filme de romance" que vivíamos, mas eu fui teimosa, tapei meus olhos e ouvidos para a realidade, mas ela veio atropelando tudo, inclusive eu. E agora definitivamente não tenho noção de como vou fazer para viver sem Michael na minha vida.

Capítulo 47

Mercedes

-Eu sinto muito. - foi só o que Gina disse após longos 30 minutos de choro e desabafo

-É só o que tem à dizer? - indaguei após descartar o cigarro no cinzeiro

-Não e mesmo sabendo que você não vai gostar, eu falarei.

-Então diga.

-Você errou. - arregalei os olhos, preparando meu discurso - E agora você vai só me escutar, Merche, o Michael foi ridículo no que fez,mas acha que mandá-lo embora vai resolver a situação de vocês? Está fazendo o mesmo que ele!

-Como você quer que eu reaja, Gina? Porra, ele está disposto a voltar pra casa daquele demônio! Esse homem quase destruiu a vida dele! Tudo bem, ele é filho e se quer perdoar o pai, de boa. Mas agora querer me arrastar com ele é demais! Será que ele esqueceu do que o Leon tem feito contra todos nós aqui?

-Amor, eu não tiro sua razão! Só que vocês entraram em um estágio decisivo! Se mandar ele embora, fique certa de que ele não voltará mais! - senti um terrível calafrio pelo meu corpo

-Não.. Michael não vai embora. Eu tenho certeza que ele está em casa me esperando e que vamos nos acertar.

-Então está esperando o que? Vá logo, Mercedes, antes que se arrependa. - levantei do sofá, enxuguei meus olhos e resolvi voltar para a nossa casa

    Gina mais uma vez está certa. Não podemos ficar nessa de brigar, quebrar o pau e fazermos as pazes. Sei que somos jovens,mas se estamos casados temos que adotar outra postura. Acredito que iremos conversar com calma, se entender e vai ficar tudo bem.
  Abri a porta com cuidado. Olhei ao meu redor e não vi sinal de Michael, mas um barulho vindo do quarto chamou minha atenção. Senti o desespero crescer no meu peito ao ver Michael terminando de fazer as malas.

-Então você vai embora? - consegui dizer após varias tentativas de engolir o choro

-Não foi isso que você me pediu? - respondeu após finalmente olhar pra mim

-Michael, não faça isso por favor! Você não pode desistir agora,meu amor..

-Eu não estou desistindo, Mercedes. É você que não está pensando em nós por causa desse maldito orgulho!

-Não fale como se sua decisão dependesse de mim. Você está louco pra voltar pra riqueza e está me usando como desculpa! - gritei

-Olha, eu não vou ficar discutindo com você. Se quiser vir comigo poderemos dar um rumo para o nosso casamento, mas desista da ideia de continuarmos aqui!

-Não,não! - gritei,agarrando seus braços - Se você quer tanto que a gente melhore de vida, eu volto a estudar! Eu arrumo um trabalho melhor e..

-Ah por favor,Mercedes! - me cortou - Você não terminou nem o ensino fundamental! Acha mesmo que estudando em alguma escola dessa periferia você vai conseguir ir pra faculdade, se formar e arrumar um emprego importante? Nem fodendo! - fechei meus olhos e respirei fundo. Eu não ia levar em conta mais essa humilhação, pois o medo de perdê-lo é muito mais doloroso

-Mike, a gente pode lutar juntos! - à essa altura meu rosto estava tomado de lágrimas - Por favor, não me deixe.. - Michael voltou sua atenção às malas, empurrando-as para fora do quarto

-Eu não estou te deixando! - disse ao se virar para mim - Por que não me entende,Merche? Eu só quero o melhor para nós.. - Michael segurou meu rosto com as mãos, me olhando com ternura

-E você realmente acha que vamos ter paz morando com seu pai,Mike? Meu amor, eu faço tudo, tudo que você quiser,mas isso não,por favor!

-E o que você me sugere,hum? Que percamos toda a nossa juventude ralando igual condenados pra mal poder pagar as contas? Eu nunca quis isso pra gente!!

-Se você não queria, por que fez isso comigo, Michael? Você me fez confiar em você, eu te entreguei meu coração pra você simplesmente deixar tudo pra lá..

-Mercedes eu te amo com todo meu coração, mas se continuarmos aqui não teremos futuro! Estarei te esperando de braços abertos, mas não aqui. - afirmou, saindo em direção a sala,me deixado estática

-Não,não.. - falei comigo mesma. Corri até a sala e consegui alcançá-lo, me jogando aos seus pés

-Merche.. - murmurou com os olhos marejados

-Michael, por Deus.. Você não vê que eu também mudei? Eu fiz isso por amor, porque eu não posso viver sem você! - eu chorava, com meus braços agarrados em suas pernas. Michael se agachou,puxando delicadamente meu rosto

-Você é a melhor coisa que me aconteceu,mas há certas coisas que não podemos escolher. Eu digo e repito, estou à sua espera. - Michael se soltou dos meus braços,beijou o topo da minha cabeça e se levantou.

  Quando a porta se fechou e o vazio tomou conta da sala, eu percebi que absolutamente nada que eu fizer vai trazê-lo de volta. Tudo está fora de controle, minha cabeça está a ponto de explodir. Me aninhei no chão da sala, chorando copiosamente. Minha vontade era de sair como uma louca atrás de Michael, implorando mais uma vez o seu amor,mas eu sentia tanta dor no meu peito que não tinha forças para me levantar do chão.

Michael

    Droga, mil vezes droga! Por que Mercedes estragou tudo? Custava ela vir comigo? Não é isso que ela me prometeu naquela porra de casamento? Estar ao meu lado em qualquer situação, me apoiando como ela sempre disse que faria?
    Eu não vou me desesperar. Ainda tenho a esperança de vê-la mudar de ideia e vir ao meu encontro. Mercedes não pode por tudo a perder, não pode!
   O motorista do meu pai já estava à minha espera. Ao colocar as malas no carro, observo pela última vez o bairro que me acolheu tão bem. Entretanto, vejo todos me olharem com um ponto de interrogação; alguns maneando a cabeça negativamente e outros cochichando entre eles. Meus olhos bateram em Gina, que ao perceber o que estava acontecendo, correu em direção ao nosso apartamento, quer dizer, que foi meu até alguns minutos atrás.

-Vamos,Bill.

* * *

   Voltar pra casa depois de meses e principalmente depois de tudo que aconteceu, foi sem dúvida,uma terrível sensação. Frustração, decepção,medo, tristeza.. Eu não sei ao certo nominar o que estou sentindo,mas sei que falta algo, pois parte de mim está no Brooklyn com a minha esposa. Eu não vou aceitar a ideia de perdê-la, pois eu confio no amor de Mercedes e sei que ela virá para mim.
    Por sorte a casa estava aparentemente vazia. Maysa e Leon provavelmente estão trabalhando, já que para eles feriado não existe, pois ambos vivem pelo seu trabalho. Para mim foi um alívio, pois a última coisa que quero agora é falar com alguém. Ainda me sinto anestesiado com as cenas de horas atrás, como se tivesse sido um terrível pesadelo. Eu não queria chegar à esse ponto, mas eu precisava ser sincero, ou acabaria me sufocando.
   Entro no meu antigo quarto e o encontro exatamente como da última vez que estive aqui. Me sento na cama e retiro do bolso uma foto minha e de Merche no dia do nosso casamento. É impossível não deixar as lágrimas escaparem dos meus olhos. Porra, eu amo demais essa mulher, o suficiente para bagunçar todo o meu coração.

-O bom filho à casa volta. - era só o que faltava ter que aguentar Edgar e suas ironias justamente agora

-Com toda certeza você sabe porque voltei, então me poupe do seu cinismo. - ele riu

-Sabe o que mais acho engraçado? Sua cara no dia que foi embora. " Eu amo a Mercedes e ficaremos juntos não importa o que aconteça.." É maninho, você pulou fora mais rápido que pensei..

-Edgar, pode me humilhar, fazer chacota, piadas, o que quiser.. Mas por favor, agora não. - praticamente implorei. Edgar se calou, parando de frente para min

-Não acredito que está chorando por essa mulher que nem ao menos merece!

-Edgar, eu já pedi..

-Mike,presta atenção! Está que nem um maricas chorando por essa marginal, mas nem ao menos sabe quem é ela!

-Não insulte a minha esposa! Você não vai me envenenar contra ela!

-Envenenar não,mas abrir seus olhos é meu dever. - Edgar tirou do bolso um cartão, obrigando-me a olhar - Reconhece esse nome, a letra e o número?

-S-sim.. - balbuciei. Me levantei de súbito,agarrando o colarinho da sua camisa - Por que diabos tem o telefone da Mercedes, desgraçado? - vociferei

-Porque a própria me deu! - gritou, rebatendo - Quer saber, eu não vou ficar nessa briguinha infantil. Se quiser vamos juntos até ela e você poderá tirar suas conclusões. O que me diz? Vamos, Michael. Vamos tirar essa estória a limpo de uma vez por todas!

Capítulo 48

Mercedes

-Mercedes, já chega! - Gina gritou pela décima vez 

   Já haviam se passado cinco horas desde que Michael saiu de casa e desde então me tranquei no estúdio do galpão e toquei guitarra até a ponta dos meus dedos sangrarem. Eu não podia ficar jogada no chão da minha sala chorando por ele, que simplesmente foi embora sem olhar para trás. Também não ia dar a dar a louca e quebrar a minha casa. Apenas respirei fundo e peguei minha guitarra. Tocá-la sempre me fez bem e agora não seria diferente.
   Já estava de saco cheio da ladainha de Gina e Tommy, então o que me restou foi largar guitarra e abrir a porta. Limpei o sangue dos dedos no tecido da calça, revirei os olhos e abri a porta.

-Até que enfim! - resmungou Gina

-Será que não entenderam que quero ficar sozinha?

-Não,você não quer. - foi a vez de Tommy se pronunciar - Está péssima e como seus melhores amigos, não vamos deixá-la sozinha. Vamos, está tarde. Precisa descansar.

-Tudo bem. - bufei, derrotada - Só quero ficar sozinha,mas..

-O que, amiga? - meus olhos encheram-se de lágrimas ao constatar que voltarei sozinha para casa

-Não quero voltar pra lá.. - confessei em um murmúrio

-Oh Merche.. - Gina me puxou para um abraço - Não vamos deixá-la sozinha. Você pode ficar lá em casa e..

-Não. - cortei. Enxuguei as lágrimas e voltei meu olhar à eles - Tenho que acostumar com a ideia de que Michael foi embora e não vai voltar, e é melhor que eu aprenda agora.

-Mas..

-Deixa ela, amor. - Tommy aconselhou - Mercedes está certa. Ela precisa por a cabeça em ordem e infelizmente nós não podemos ajudá-la agora. - Gina assentiu mesmo contrariada,mas por fim aceitou

-Tudo bem. Mas por favor, se precisar de nós,não hesite e nos chame, ok?

-Pode deixar. - sorri minimamente, vendo-os sair do meu campo de visão

     Olhei ao meu redor a procura da minha bolsa. Coloquei-a de lado no meu ombro e infelizmente era hora de encarar a realidade. Tranquei a porta do estúdio, coloquei minha jaqueta para aplacar o frio e tirei da bolsa meu fiel companheiro. Acendi o isqueiro e dei um demorado trago no cigarro. Estava seguindo a rua do meu apartamento quando senti uma mão tocar meu ombro.

-Mercedes?! - virei para trás e franzi o cenho, tentando me lembrar quem era o homem a minha frente

-Eu te conheço..?

-Não se lembra de mim? - o homem deu um sorriso torto, me fazendo lembrar de onde havia o visto

-Hmm espera.. Heitor? - chutei

-Ufa! - ele riu - Já estava ficando desesperado!

-Nossa,foi mal mesmo. Eu realmente não estava lembrada,mas agora sim, me lembro de você. Veio aqui algumas vezes,mas sumiu..

-Pois é,eu estava em Madri com meus pais,mas sabe.. Eu não te esqueci em momento algum.. - Heitor passeou a ponta dos dedos pelo meu rosto, se aproximando de mim, e tipo, eu fiquei sem ação, principalmente quando ouvi uma salva de palmas logo atrás de nós

-Mas que belo reencontro! - o tom de voz venenoso de Michael me fez gelar dos pés à cabeça

-Michael..?

-Sabe, eu bem que queria ter apresentado minha esposa ao meu meu irmão,mas pelo que vejo vocês são muito mais íntimos do que eu pensava.. - ele ainda mantinha a voz áspera e firme

-Irmão? - perguntei perplexa. Olhei para Michael e Heitor, simultaneamente, ainda sem entender porcaria nenhuma

-Oh está surpresa, querida? - rebateu, carregado de ironia

-Eu.. eu não estou entendendo porra nenhuma!

-Cala a boca! - Michael gritou. Senti meu coração falhar, pois nunca, nunca imaginei vê-lo tão descontrolado dessa forma - Hipócrita, traidora!

-Não, você está louco! - olhei novamente para Heitor, que permanecia calado, como um perfeito espectador

-Louco? Vai negar que o conhece? - berrou, apontando o dedo para Heitor. Tentei formular uma resposta,mas que diabos eu ia dizer?

-Não.. Mas está havendo algo errado! Fala pra ele, Heitor! Explica!!

-Do que me chamou? - Heitor franziu o cenho - Como consegue atuar em tempo recorde? Não precisa desse teatro. Me chame de Edgar, como você sempre me chamou!

-Mas o que está acontecendo aqui? -gritei em desespero

-Mercedes, o Michael já sabe de tudo. - disse tranquilamente

-De tudo o que?

-Não seja cínica! - Michael puxou meu braço violentamente - Por que escondeu de mim, por que? Eu te perguntei milhares de vezes e você negou veemente!

-Porque não era da sua conta! - Heitor, quer dizer, Edgar, provocou

-Michael, acredita em mim, por Deus! Eu não vou negar que o conheço,mas ele nunca me disse que era o seu irmão. E pior, nunca disse que se chamava Edgar!

-E você quer que eu acredite? Ah por favor, Mercedes! Sempre se fez de certinha, honesta.. Uma santa!

-Você está sendo injusto comigo! Não percebe que ele está te envenenando?

-A única que me envenenou aqui foi você! - acusou - Eu não quero nunca, nunca mais olhar pra sua cara,ou melhor, para os dois! Sou capaz de matá-los! - gritou enfurecido.

   Michael se enfiou dentro do carro e arrancou com toda velocidade. Eu permanecia imobilizada, completamente sem ação. Então Heitor na verdade nunca existiu? Esse tempo todo ele me cercou, com toda certeza para me afastar de Michael, o que provavelmente foi mandado por seu pai. 
  Eu já estava pronta para soltar os cachorros nesse filho da puta, mas quando olho para trás ele já havia ido embora.

-Desgraçado! - rugi. Olhei ao meu redor e reparei no aglomerado de pessoas que assistiam a discussão. Tommy veio correndo em minha direção e rapidamente me tirou dali, levando-me para a casa da Gina.

(...)

- Edgar Patrick Jackson. 17 anos. Caçula dos filhos de Leon. - Gina informou ao ler em um site - Deus, eu sabia que tinha visto esse cara em algum lugar

-Eu estou chocada. - foi só o que consegui dizer - Como eu não percebi?

-Não se culpe,amiga. Esse cara atuou muito bem. Veio de mansinho com uma boa mentira e pegou nós duas de surpresa. Tá parecendo que ele realmente fez isso pra bagunçar seu casamento.

-Agora que o Michael não vai querer saber de mim nunca mais.. - constatei. Minha voz saiu chorosa e desesperada

-Amiga, ele vai esfriar a cabeça..

-É óbvio que não! Lembra aquele dia como ele deixou meu braço roxo por uma briga? E justamente por conta do Edgar! Agora que ele sabe que nos conhecíamos está com ainda mais ódio! Eu tive medo dele, juro que nunca o vi daquela forma..

-Eu imagino. Na certa acha que vocês tiveram um caso,e eu tenho certeza que o irmão fez a cabeça dele.

-Não tem mais volta.. - concluí. Meus olhos fitavam o chão, tentava a todo custo reprimir as lágrimas

-Mercedes..

-Eu vou pra minha casa. - me levantei - Esse definitivamente é um dia que eu quero esquecer completamente.. - a última palavra saiu arrastada, pois senti minha visão turva e uma súbita fraqueza me assolar

-Merche,o que você tem? - senti os braços de Gina me envolverem, sua voz se afastando e tudo ao meu redor escureceu.

Capítulo 49

Michael

    Ódio. Meu coração estava tomado por ódio, decepção e revolta. O maior palhaço no fim das contas foi eu. Eles já se conheciam muito bem e a descarada da Mercedes mentiu o tempo todo! Mas tudo bem, acordei a tempo. Vou tirá-la da minha vida de uma vez por todas.
   Cansado de rodar com meu novo carro de um lado para o outro, decidi voltar pra casa. É inútil tentar fugir da realidade, ainda mais com as últimas revelações.
     Por sorte a casa estava vazia. Maysa provavelmente está no hospital, meu pai no escritório e Edgar, esse por mim poderia estar no inferno junto com.. Mercedes. Subo as escadas, sentindo o peso da decepção sob meus ombros. 

  Ouço a voz de meu pai e me viro no mesmo instante.

-Pensei que tinha voltado pra periferia. - alfinetou ao tirar o charuto da boca

-Pode ficar despreocupado, isso não vai acontecer. - garanti

-Você e a sua.. esposa romperam?

-Acho que sim. - respondi, confuso. Ainda nem mesmo sei qual será nosso destino, se é apenas mais uma briga passageira ou realmente um ponto final

-E eu posso saber o motivo?

-Foi uns lances ai.. - dei de ombros

-Ok. Lance ou não, espero que tenha sido definitivo. Finalmente agora está livre dessa marginal!

-Como é? - estreitei meus olhos

-Ora,Michael! Você tem é que me agradecer! Agora que sua aventura acabou, você vai voltar pra vida real e esquecer essa mancha na sua reputação!

-Foi tudo uma mentira,não é? - gritei - Você foi atrás de mim fingindo estar arrependido, chegou a dizer que aceitava a Mercedes, mas tudo isso não passou de desculpa!

-Ah, Michael realmente acreditou que eu queria aquela desgraçada na minha própria casa? - ri, sem humor - E antes que me insulte, pense bem. Eu salvei você de uma vida miserável!

-Eu vou sair daqui agora! - subi as escadas,mas fui impedido pela série de gargalhadas que veio de Leon

-E você vai pra onde? Voltar pra favelada? Eu duvido muito que ela vá te aceitar de volta.. Além disso, você sabe o que aconteceu quando tentou ser "independente". Fracassou! E é isso que vai acontecer se continuar tentando passar por cima de mim! - afirmou com o tom de voz ainda mais duro - Agora você vai seguir a minha cartilha!

-Ah é? E o que pretende fazer? Me trancar novamente em um hospício?

-Pra ter meu nome ainda mais sujo? Michael, se nossos amigos sonharem com sua loucura em ter morado na periferia,poderia imaginar o que seria de nós? Você quase arruinou o nome da nossa família, mas.. - ele respirou fundo e sorriu - Felizmente você vai reverter essa situação.

-Hm.. e qual a sua ideia? - perguntei com desdém

-Você vai limpar o nome da família Jackson se casando com Dominique Collins. - ri

-Só pode estar brincando, né? Acho que quem está precisando de internação aqui é você! - aumentei meu tom de voz

-É exatamente o que ouviu. Você sabe que a tonta da filha do George é louca por você, e agradeça dela ainda estar aos seus pés mesmo depois da decepção que causou.

-Desista! Se essa é a sua condição, pode esquecer! Apesar de tudo, eu.. Eu amo a Mercedes e jamais me casarei por interesse! - Leon bateu palmas

-Belo discurso.. Mas isso é perca de tempo. Se quer ter um lar novamente e todas as regalias que estava acostumado, é bom que siga minhas regras. Pense bem,Michael..

-Eu não vou me casar com ela,mas que droga! - lhe dei as costas, seguindo para o escritório. Leon veio logo atrás de mim, tagarelando o mesmo diálogo

-Agora já chega! - gritou enquanto sacudia meus ombros - Você já causou vergonha demais para essa família! Logo se vê que é cópia perfeita da sua mãe..

-Não admito que fale dela! - ordenei

-Acha mesmo que está em condições de admitir alguma coisa? Agora você vai corrigir a série de besteiras que fez! Em troca, eu deixo Mercedes e aquela porcaria de galpão em paz, de uma vez por todas.

-O que disse?

-Isso mesmo. Eu já tenho a ordem de despejo assinada pelo juiz. Só depende de mim expulsá-los ou não, quer dizer, de você. Se fizer exatamente o que eu mandar, rasgo o mandado e pronto, Mercedes e sua gangue será página virada em nossas vidas,mas.. se insistir em me afrontar, colocarei todos no olho da rua. A escolha é sua.

    Infernos! Como prosseguir com minha postura arredia diante desse acordo? Apesar da mágoa e da raiva que sinto por Mercedes, no fundo do meu coração eu desejava que pudéssemos conversar, esclarecer tudo e reatarmos,mas e agora? Meu pai me enganou direitinho e cá estou eu preso em suas amarras novamente. 
   Só que agora é diferente, ele me tem em suas mãos. Leon sabe que meu ponto fraco é o amor que tenho por Mercedes. Eu não posso ferrar ela e o pessoal da galeria que me receberam tão bem. O que me resta é aceitar sua proposta. 
    Em todos os casos,ficar com Mercedes é uma guerra perdida. Mentiras, deslealdade, barreiras sociais.. Cada detalhe nos afasta ainda mais um do outro. E do que adianta eu abrir mão da minha vida por uma relação incerta?
    Posso estar sendo um canalha aos olhos alheios, mas por que? Sou um garoto de 22 anos e como todo rapaz da minha idade, devo aproveitar a vida que me foi concedida. Já provei que o amor só serve para te foder e te meter em problemas, então agora pouco me importa se casarei por amor ou conveniência. 
    Voltarei a honrar novamente meu sobrenome,me casando com Dominique. E Mercedes.. Mercedes será um intenso e explosivo passado que enterrarei no fundo do meu coração de agora em diante. Se um dia deixarei de amá-la? É óbvio que não. E é por essa razão que também enterrarei meu coração junto. 
    O passado,juntamente com o homem que eu fui nunca mais existirão. Cansei de lutar contra meu pai,sendo que é evidente que sempre serei derrotado. Não é isso que todos querem? Que eu me torne o novo Leon Jackson? Pois é este homem que tornarei a ser.

Capítulo 50

Edgar

    Sei que foi arriscado me revelar para Mercedes dessa forma,mas era o único jeito de afastá-la de Michael. Aproveitei o momento em que ele estava mais influenciável do que já é e bingo! Tudo aconteceu exatamente como eu previ. E o melhor de tudo é que tenho meu pai como aliado. Michael é tão idiota que caiu outra vez na conversa dele,mas pelo menos, em breve, Michael estará casado com a sonsa da Dominique e nunca mais chegará perto da minha Mercedes.
    Decidi que agora, uma semana após o ocorrido,vou procurá-la. Vou usar minhas artimanhas para seduzi-la,mas mesmo sendo perda de tempo ou não, tratarei de afastá-la definitivamente do meu irmão, e sua fragilidade após o fato que ocorrerá futuramente, será o que eu preciso para conquistá-la de vez.

-Pai,você tem certeza do que vai fazer? - perguntei mais uma vez após Leon discursar para mim o seu plano de vingança

-Não sabe quanto tempo esperei por isso. Me livrarei desse maldito galpão e de quebra ele será meu. Afinal, quem vai querer morar em um monte de cinzas? - ele sorriu sugestivamente

-Michael ao menos tem noção disso? Porque se ele souber fará um escândalo!

-Deixe que eu cuido de Michael. Ele estará ocupado demais com o casamento e a mudança.

-Que mudança? -perguntei surpreso

-Eu e Collins nos associamos e vamos abrir uma filial da Construtora em Madri.

-E você pretende levar Michael pra lá?

-Essa é a ideia. Só assim ele vai amadurecer e principalmente, esquecer esse diabo. - disse se referindo à Mercedes - Já está tudo combinado com George. No final deste mês Michael estará casado!

-Assim espero... - bufei - O tempo dele aqui já deu! - me levantei da cadeira, acompanhado do olhar curioso de meu pai

-Onde vai tão cedo?

-Resolver uns assuntos. - me virei para olhá-lo - Assuntos que vão te favorecer e muito! - meu pai sorriu de lado, dando o aval para o meu próximo passo

Mercedes

-Eu já disse que estou bem! - assegurei para Gina, que a cada dia que passa fica ainda mais grudada em mim

-A mim você não engana! Está doente e se recusa ir ao médico!

-Para de ser dramática! Eu só me sinto cansada..

-Não é cansaço coisa nenhuma! Já faz uma semana que você não põe nada na boca, ao não ser bebida e cigarro! Desse jeito você vai morrer, garota!

   Me doeu ver lágrimas nos olhos da minha amiga. Eu não queria preocupá-la,mas a minha vida está uma merda e o que eu posso fazer? O único meio de esquecer e aliviar a dor que sinto,infelizmente é enchendo a cara. É burrice? Sim. Mas estou pouco me fodendo para a moral e os princípios. E se depender de mim, vou beber até esquecer quem eu sou.
   Mas parece que dessa vez nem meu corpo está colaborando comigo. Vomito pelo menos quatro vezes ao dia, fora o enjoo que está me matando. Estou visivelmente mais magra,mas ao mesmo tempo me sinto inchada. É claro que Gina não sabe nem da metade do que está acontecendo comigo. Ela já está preocupada demais e não vou dar mais trabalho à ela.

-Eu já disse que estou melhor. - falei um pouco mais tranquila

-Tem certeza? Ainda está pálida e fraca!

-Só preciso dormir um pouco. Agora por favor, vá! Não aguento mais vê-la virar a noite aqui. Você tem seu trabalho, o Tommy.. Vá,eu estou bem.

-Ok. - suspirou, se dando por vencida - Mais tarde eu volto. Se cuida! - Gina me deu um beijo na testa e se levantou

-Gina, espera! - ela se virou e veio até mim novamente

-Pode falar,meu bem. - pediu, me olhou com ternura

-Eu acho que nunca fui verdadeiramente agradecida por tudo que fez por mim desde o dia que cheguei aqui.

-Merche.. O que te deu pra ser melosa assim, hein? - ela riu, zombando de mim

-Nada, é que mais uma vez você está me tirando do fundo do poço. E agora eu vejo que você é um anjo na minha vida! - murmurei. Gina enxugou minhas lágrimas e sorriu pra mim

-Eu te amo,Merche.. Você é mais que uma amiga, é minha irmã! Tenho certeza que vamos passar por mais essa e ainda vamos rir disso! Estarei sempre ao seu lado,sempre! - nos abraçamos forte e calorosamente.

   Não sei por que senti uma vontade inexplicável de estar perto dela,de sentir a proteção que ela sempre me deu. Hoje percebo que a única pessoa nesse mundo que me ama e estará sempre perto de mim é Gina. E agora mais do que nunca vou fazer de tudo para dar a volta por cima.
    Gina havia acabado de sair da minha casa, após me passar um longo sermão. E agora sozinha no lugar que,mesmo em curto tempo fui tão feliz, é doloroso. Eu e Michael fizemos tantos planos,tantas promessas que hoje se resumem a pó. 
    Me encolhi na cama, abraçada à uma fotografia minha e de Michael no dia do nosso casamento. As lembranças vieram em torrentes e foi inevitável impedir as lágrimas de caírem. 
   Fui surpreendida com o toque da campainha. Subtamente me levantei, enxuguei meu rosto e fui abrir a porta,levando comigo a esperança de ser Michael.

A imagem à minha frente me fez querer vomitar.

-É só o que faltava! - ri - O que ainda quer de mim? - Edgar me lançou um olhar arrependido. Cínico!

-Antes de qualquer coisa, pedir desculpas. Sei que errei com você desde o início,mas a única coisa que peço é que me escute.

-Escutar o que,Heitor? Quer dizer, Egdar. Seja lá quem é você, dê o fora! - fechei a porta bruscamente, mas seu pé impediu

-Mercedes,calma! Me ouça,por favor! Prometo que não volto nunca mais. - suspirei irritada

-Você tem um minuto. Se passar disso eu chuto seu traseiro para fora daqui! - Edgar sorriu minimamente e entrou apressado - Comece. - pedi ao estar de frente para ele

-Mercedes quando nos conhecemos eu estava indo ao Brooklyn pela primeira vez. Eu fui com alguns amigos,mas ainda sim estava inseguro. Quando entrei na sua loja eu fui tão bem recebido por você que tive medo de que se revelasse meu nome seria expulso!

-Ah mas eu ia expulsar mesmo!

-Foi por isso que eu não contei! O fato é que eu estava me apaixonando por você e cada vez mais envolvido nessa mentira.. Eu juro que minha intenção não era te magoar,eu juro!

-E você acha que mentir para o Michael não me magoou? Eu não dou a mínima se você me enganou ou o motivo que levou a isso. Você não tinha o direito de se meter na minha vida!

-Eu estava desesperado! - rebateu - Quando soube que estava casada com o Michael eu enlouqueci! Você não sabe como é conviver com ele desde pequeno,sempre sendo passado para trás! Como queria que eu me sentisse ao ver que ele também te roubou de mim?

-Não seja patético! Eu nunca,nunca lhe dei confiança, nunca aceitei suas investidas, embora minha vontade era de me livrar de você! Sempre lhe tratei da mesma forma que trato meus clientes e você tem a audácia de me chamar de sua?

-Mercedes..

-E outra coisa! - cortei - Eu não tenho nada a ver com sua relação com Michael ou com essa família. Pra mim todos vocês não prestam, menos a Maysa,claro! Você e Michael são dois mentirosos desgraçados! Agora saia da minha casa!

-Me perdoe,por favor! - implorou fazendo uma cena dramática - Me deixe mostrar que eu te amo de verdade,que você não é um brinquedo, pois foi isso que Michael fez com você!

-Que se foda você, seu pedido de perdão, o Michael, a família Jackson, que seja! Vá embora agora! - gritei. A essa altura eu estava descontrolada, sentindo o sangue ferver nas minhas veias

-Tudo bem.. - Edgar fechou os olhos e se virou para a porta - Você está desprezando o meu amor, mas nesse momento Michael está fazendo o mesmo com você.

-Do que está falando? - questionei, cruzando os braços

-Michael e Dominique estão de casamento marcado. Se acha que é mentira minha, ta aí a prova! - Edgar jogou um pequeno envelope no chão e eu rapidamente me abaixei para pegar - Apareça lá para cumprimentar os noivos!

   Escutei a porta se fechar logo atrás de mim,mas naquele momento eu não conseguia concentrar em mais nada ao não ser o envelope em minhas mãos. Abro rapidamente e me deparo com um sofisticado cartão banhado a ouro, decorado com algum tipo de pedra preciosa. Os nomes de Michael e Dominique pareciam ter sido bordados a mão. 
    Estava ali na minha cara, bem na frente dos meus olhos. Naquele instante minha ficha finalmente havia caído. Michael me descartou da sua vida como se eu fosse uma roupa velha, e pra ser sincera é isso que eu sempre signifiquei.
    Agora que Michael voltou à sua realidade, ele também voltará a ser o mauricinho que sempre foi. Eu não consigo sentir raiva ou ódio. Infelizmente eu sinto pena. Pena porque Michael está se vendendo por dinheiro e posição social. Provavelmente nunca será feliz,pois não há felicidade quando o ego fala mais alto. Eu tentei ajudá-lo, ofereci minha amizade e todo o amor que tenho no coração,mas parece que de nada valeram meus esforços.

Michael é e sempre será um grande covarde.

Capítulo 51

Michael

   Os dias,que antes pareciam se arrastar, agora com a chegada do casamento, vieram atropelando tudo, inclusive eu. Me sinto tão anestesiado que nem ao menos consigo sentir alguma coisa. O conformismo já é fato e eu sei que nada que eu fizer vai mudar o rumo das coisas. 
  O casamento será na igreja, por desejo de Dominique. Essa aceitou o pedido,ou melhor, a ordem, na mesma hora, o que me faz crer que pra ela ou os sentimentos não valem nada,ou essa garota é obcecada por mim. 
   A própria família Collins ficou encarregada de preparar a festa, que segundo eles, promete ser o evento do ano. Maysa e Corine se recusaram a ajudar, já que ambas não aprovam o casamento. Tive que ouvir o interminável sermão de Corine, a bronca da minha irmã e o telefonema desesperado de minha mãe. Todas elas sem entender que diabos havia acontecido em tão pouco tempo. 
   Eu nem me dei ao trabalho de justificar minha decisão. Apenas expliquei que entre Merche e eu nunca daria certo, que eu me decepcionei com ela e que Dominique é a mulher ideal para mim. Me recusei ouvir opiniões contrárias, pois de nada vão me ajudar. O que está feito não pode voltar atrás.
    A cerimônia vai começar em menos de uma hora. Permaneci no meu quarto desde a hora que acordei. Maysa bateu na porta centenas de vezes, assim como Corine. Mas hoje, mais do que nunca, eu não quero ver e ouvir ninguém. Apenas a companhia do conhaque me ajudará a enfrentar os próximos minutos torturantes que se aproximam.
   Ouço baterem na porta mais uma vez, e agora impaciente, decido abrir na intenção de despachar quem quer que seja.

-Já pedi para me deixar em paz! - ralhei ao abrir a porta. Surpreendentemente a pessoa à minha frente é a minha mãe - Mãe?

-Será que pelo menos sua mãe você aceita ouvir? - ela cruzou os braços, esperando minha resposta. Suspirei pesadamente e permiti que ela entrasse

-Vai me julgar assim como Cori e Maysa?

-Não. A única coisa que quero é entender o que está se passando com você. - explicou, afagando meus ombros. Me agarrei em seus braços e chorei. Coloquei pra fora toda a angústia presa no meu peito neste último mês

-Minha vida acabou, mãe, acabou! - ela me apertou mais forte e ergueu minha cabeça para encará-la

-Meu amor, me deixe te ajudar! Você não pode entrar naquela igreja e se casar com uma mulher que não ama!

-Não faz mais diferença, mãe. Não tenho mais Mercedes e isso é definitivo!

-Eu não acredito. - afirmou - O amor de vocês é algo raro de se ver! Como tudo acabou tão rápido e dessa maneira?

-Somos diferentes. Completamente diferentes. Mercedes é o oposto de mim e por mais que se diga que " os opostos se atraem", isso não é suficiente.

-Mas vocês tinham tantos planos juntos..Além do mais sabiam desde o início que enfrentariam adversidades!

-Eu sei! Mas eu tenho ambição, eu não quero passar o resto da minha vida morando naquele lugar! A verdade é que eu nunca estive preparado para tantas mudanças.

-Vocês foram precipitados, mas isso não muda o fato de se amarem! Agora eu só não entendo por que está se casando com Dominique. É coisa do seu pai, não é?

-Ele acha que se eu me casar com a filha dos Collins estarei limpando minha reputação. E sabe, mãe, eu não me importo mais. Já aceitei que meu destino é seguir os passos dele. Esse lance de ouvir a voz do coração só serve para nos ferrar! - voltei minha atenção ao nó que fazia na gravata

-Pela primeira vez na vida estou sentindo pena de você. - me virei rapidamente para encará-la

-Pena?

-Sim. - ela sorriu fraco - Você teve a oportunidade de mudar sua vida, de se livrar das garras do Leon, de ser quem você é. Mas então, o que você faz? Desiste de tudo no primeiro obstáculo!

-Mãe, não é do jeito que está pensando..

-É desse jeito sim! - gritou, me cortando - Você sabe que é! O que mais me dói é saber que se continuar prosseguindo com essa loucura, se tornará um amargurado! É realmente isso que quer pra sua vida? Se afastar da mulher que ama por pura covardia?

-Eu não vou discutir isso com você, por favor não se meta! - ordenei, aumentando meu tom de voz

-Tudo bem, Michael. - ela colocou a bolsa no ombro e se virou para a porta - Já vi que nada que eu disser vai mudar sua ideia. Eu juro que vou rezar para que consiga ser feliz.

-Não vai ficar para o casamento?

-Não sou masoquista. Não vou ver meu próprio filho desgraçar sua vida. Adeus, Michael. E saiba que estarei sempre, sempre ao seu lado. - ela jogou um beijo com a palma da mão e saiu do quarto logo em seguida, me deixando ainda mais perdido no abismo em que me encontro.

(...)

Mercedes

-Mercedes, para com essa loucura! - Gina gritava no meu ouvido enquanto eu pilotava a moto desgovernada pelas ruas da cidade

-Nem fodendo! Quero ver de perto esse circo! - respondi, acelerando a moto

    Após passar as últimas duas semanas me depreciando por saber do casamento de Michael, eu senti que precisava fazer alguma coisa. Eu não queria de jeito nenhum acreditar em Edgar e mesmo sendo verdade, eu esperava no fundo do meu coração que Michael desistisse desse absurdo.
   Mas também eu não posso continuar me definhando por causa desse filho da puta. Preciso ver com meus próprios olhos esse maldito casamento para aí sim, arrancá-lo de vez do meu coração. 
Depois de encher a cara mantendo os olhos fixos no convite, decidi pegar a chave da moto e seguir para o local da cerimônia. Gina surtou quando contei, mas conhecendo minha determinação, ela sabia que eu não mudaria de ideia, então o que lhe restou foi vir atrás de mim. 
    Estacionei a moto em um jardim próximo a opulenta catedral, que à essa altura já estava tomada por carros luxuosos. Pelo que parece a cerimônia havia começado, pois a marcha nupcial já estava sendo executada.

-Vem, Gina! - subi a escadaria, e com muito cuidado,me escondi atrás dos arranjos de orquídeas

    Eu nunca vi tanto luxo em um lugar só, mas foi só bater os olhos em Michael que tudo ao meu redor desapareceu. Ele estava no altar à espera de Dominique, que caminhava ao seu encontro, dentro de um majestoso vestido de noiva. Mordi meus lábios, controlando a respiração descompassada.
Um velho que provavelmente deve ser o pai dela,a deixou no altar, entrelaçando a mão dela com a de Michael. Ele permanecia sério enquanto Dominique sorria vitoriosa. 
    O padre começou a falar uma dúzia de baboseiras e eu sentia meu coração apertar a cada vez que ele se referia aos noivos.

-Não tem que assistir à isso,amiga..

-Não! - respondi, enxugando as lágrimas - Eu quero ver até o final!

Infelizmente a hora que eu mais temia chegou. O padre leu mais alguns versos da bíblia até que finalmente fez a pergunta final.

-É de livre e espontânea vontade que você, Dominique Collins, aceita se unir à Michael Joe Jackson?

-Sim, eu aceito! - respondeu de imediato

-Michael, aceita receber Dominique Collins como sua legítima esposa, na promessa de amá-la e ser fiel até o último dia de suas vidas? - Michael a fitou, parecendo hesitante. Meu coração parecia saltar pela boca. Vi Dominique sussurrar algo em seu ouvido

-Si..sim. Eu aceito. - levei minhas mãos ao meu rosto para abafar o choro. Gina me abraçou forte na intenção de me tirar dali

    Ambos trocaram as alianças e se beijaram enquanto eram aplaudidos por todos os convidados. Eles se viraram em direção à saída e ver um sorriso se formar nos lábios de Michael me fez crescer um ódio tão grande, que definitivamente eu não ficaria calada. Me desvencilhei dos braços de Gina e, dando uma salva de palmas, caminhei pelo tapete vermelho.
   Todos viraram, mecanicamente, as cabeças na minha direção. Olhos arregalados, burburinhos, incredulidade; em todos eram as mesmas reações. Michael estava ainda mais pálido, em estado de choque.

- Então... Parabéns aos noivos! - falei sorridente. Talvez o efeito do álcool me dava força para estar de frente à ele

-O que está fazendo aqui? - Dominique gritou - Alguém faça o favor de tirar essa louca do meu casório?

-Mas por que? - questionei - Eu só vim parabenizá-los, ora! Não é todo dia que se casa, não é mesmo, Michael? - ele permanecia imóvel, com os lábios comprimidos

-Você é muito petulante! - Leon veio em minha direção,mas Corine o impediu, tentando apaziguar

-Não se preocupe, Sr. Jackson. Eu não vim estragar o casamento do seu filho. Eu só quero dizer ao Sr. George que tem agora o melhor genro do mundo!

-O que? - ouvi Michael murmurar. Levei meus olhos à ele

-É isso mesmo, Michael Jackson! Você não sabe a sorte que tem ao ter esse homem na sua família! Michael é o genro que você pediu a Deus. Bom moço, respeitoso e o melhor de tudo, um perfeito cordeirinho!

-Mercedes.. - Maysa disse

-O que? É a verdade! Não é por esse motivo que estão todos aqui? Afinal é só o Sr. Jackson ditar uma ordem que o filho perfeito acata na mesma hora!

-Não seja ridícula! - Dominique gritou

-Eu sou a ridícula? Ou é você que está se casando com um interesseiro de quinta? - mais uma série de cochichos tomou conta da igreja - Você sabe muito bem que Michael só está se casando com você porque é um covarde que morre de medo de ficar sem a mesada do pai! - berrei mais alto

- Agora já chega! - Michael veio na minha direção, tomando-me pelos braços, completamente enfurecido - O que pretende fazer? Me destruir?

-Você está se autodestruindo! - seus olhos estavam cheios de lágrimas a ponto de se derramarem - Eu não vou mais atrapalhar a cerimônia. - falei alto. Michael fechou os olhos e me soltou - Eu não te desejo nenhum mal, aos dois, aliás. Porque eu sei que jamais serão felizes em um casamento construído com interesses, ego e principalmente, sem amor. À todos vocês, não deem importância pra mim. - ri - Aproveitem esse belíssima e honesta cerimônia!

Antes de me virar e ir embora, retirei do meu dedo a aliança que Michael me deu.

- Acho que isso te pertence. - me virei para ele e joguei o anel em seu peito

    Michael fechou os olhos e se virou de costas pra mim. Os convidados pareciam ainda mais chocados e sem entender o que essa cena significava. Respirei fundo, sequei meu rosto e caminhei elegantemente à porta de saída, deixando para trás, definitivamente, a desgraça que foi a presença de Michael na minha vida.

Capítulo 52

Michael

      Pensei que o escândalo que Mercedes fez na igreja iria arruinar o andamento da cerimônia, mas também do que adiantaria? Eu estou oficialmente casado com Dominique e só o que sua presença causou foram fofocas entre os convidados. Eu juro que se ela tivesse entrado minutos antes eu teria largado tudo e ido embora, mas minha covardia foi maior e agora estou nessa situação.
     Os pais de Dominique conseguiram "maquiar" a situação constrangedora e como a cerimônia já estava  no fim, todos seguiram para nossa casa, onde será a festa do casamento.
Sei que pareço insensível, covarde e interesseiro, na verdade eu estou mesmo fazendo esse papel. Deixei de lado os meus princípios e a pessoa que me tornei depois que Mercedes entrou na minha vida. E mesmo tendo que aturar toda essa palhaçada que foi o casamento, eu me sinto arrasado, destroçado. Meu coração está partido e acho que nunca mais conseguirei catar os cacos.

(...)

     Após a festa, nos preparamos para seguir ao aeroporto rumo à Madri. Dominique insistiu que nossa lua de mel fosse na Espanha, até porque é pra lá que iremos morar. Pouco antes do casamento, meu pai me informou que eu seria o representante da Construtora Jackson na Europa. Eu pensei em recusar, mas no fundo acho que será melhor. Preciso me afastar da família nojenta que tenho e também da tentação que seria viver perto e ao mesmo tempo longe de Mercedes.
   Já estávamos quase partindo, mas eu não poderia ir sem me despedir de Corine e Maysa, que ainda estão inconformadas com meu casamento.

-Bem, está na hora.. - fechei o porta-malas e pedi para Dominique me esperar no carro. Corine enxugou os olhos e me encarou - Cori, por favor, não chore..

-Eu não me conformo! Filho, eu tenho tanto medo por você.. - lamentou

-Não se preocupe. Aliás, o que mais pode acontecer comigo? Eu perdi a única pessoa que amei com todo meu coração.

-E você acha que vai conseguir ser feliz sem ela?

-Nunca. E é por isso que jogarei meu coração fora. Ele não serve pra mais nada e ficarei muito bem sem ele. Corine, não estou levando todos os meus pertences. As roupas pode doar, se quiser.

-E o seu violão? - Maysa perguntou, vindo logo atrás de mim - Vai jogá-lo fora assim como seu coração?

-Não. - suspirei - Guarde-o por favor. - foi só o que eu disse - Tenho que ir. Se cuidem!

-Ah maninho.. - Maysa me abraçou forte, limpando as lágrimas - Vou rezar muito por você!

-Reze por você, Maysa. Você é a única salvação dessa família. Amo vocês, jamais esqueçam disso! - beijei cada uma delas e segui para o carro

   Dominique me esperava sorridente enquanto namorava o anel de brilhantes posto em seu dedo anelar. Ela não pareceu nenhum pouco abalada com o incidente no casamento, como se as palavras de Mercedes sobre nós dois não tivesse mexido o mínimo sequer com ela.

-Agora é vida nova, meu amor! - ela se aninhou em meus braços

-Dominique, olha pra mim. - ela o fez

-Sim?

-Acha mesmo que vamos ser felizes? - ela deu de ombros

-Você ainda tem dúvidas? Amor, nós vamos morar em Madri! Você vai ser o presidente da filial, o que mais precisamos? Finalmente você acordou a tempo e se livrou daquela..

-Dominique! - a cortei - A partir de hoje não quero que toque no nome dela e nem relembre o passado. Se quer começar uma vida ao meu lado, deixe para trás o que passou. - ela assentiu

-Você está certo, querido. Vou te fazer esquecer tudo que aconteceu. Agora você é um homem maduro e vai perceber que a melhor coisa que você fez foi se casar comigo! - ela beijou meus lábios e voltou a se aninhar em meus braços, tagarelando sobre os planos para quando chegar em Madri

   Fechei meus olhos e permiti as lágrimas escaparem. Meu coração estava sangrando. Eu queria me livrar de toda a loucura que cometi e voltar para a minha Mercedes, a única mulher da minha vida. Deus, a dor é tão grande que sinto rasgar meu peito. E de pensar que isso é só o início do meu castigo..

Mercedes

    Quando voltei pra casa, já estava mais tranquila. Pensei que Gina fosse me dar uma bronca daquelas ou me encher de sermão, mas não. Tudo que ela fez foi me apoiar, ficando ao meu lado. Assim que chegamos, ela me deu um banho gelado, me fez tomar duas aspirinas e em seguida só o que consegui fazer foi cair na cama em um sono profundo.

(...)

Abri meus olhos, me espreguicei e com muito custo consegui me levantar. Pela janela, percebi que já havia escurecido. Olhei para o relógio e marcavam 22:00. Não acredito que dormi todo esse tempo!

-Gina, ta aí? - a casa estava em silêncio. Reparei que na mesinha de cabeceira tinha um bilhete de Gina, dizendo que havia ido ao galpão buscar suas coisas e que não demoraria

    Me sentei na cama, respirei fundo e encarei meu reflexo no espelho. Eu estava horrível em todos os aspectos. Meu rosto tinha olheiras profundas, eu estava pálida e com a expressão abatida. Não demorou muito para eu sentir um forte enjoo. Corri para o banheiro e vomitei até perder o fôlego. Escovei meus dentes e lavei meu rosto. Insistentes batidas na porta me fizeram correr para ver logo do que se tratava.

-Merche, abra a porta!! - Patrick gritou desesperado

-Já vai! - abro a porta e encontro um Patrick aterrorizado - O que aconteceu?

-O galpão tá pegando fogo, Merche!!

-O que? - corri para a janela ao escutar gritos pelas ruas. Vi pessoas desesperadas correndo de um lado para o outro, gritando por socorro - Cadê a Gina?

-Eu não sei, ela estava lá,mas..

-Não, não! - empurrei Patrick para o canto e corri pelos corredores do prédio

   Eu não enxergava nada à minha frente, nem os gritos frenéticos eu conseguia distinguir. Meu coração apertava a cada passo que eu dava em direção ao galpão e para piorar, Gina não saía da minha cabeça.

-Merche!! - Tommy gritou, correndo até mim

-O que aconteceu? Me fala! 

-Não sabemos! Do nada começou a pegar fogo no galpão e em pouco tempo a galeria estava tomada!

-Meu Deus! Cadê a Gina? - Tommy empalideceu

-Ela não está com você?

-Não, ela disse que estaria na galeria.. Ah meu deus.. Tinha gente lá dentro?

- Foi muito rápido, tinha multidão por todo lado.. Cadê a Gina?? - ele gritou, atordoado

   Naquele momento eu não conseguia raciocinar. A confusão aumentava a medida que o fogo se alastrava. As sirenes do Corpo de Bombeiros nos deixavam ainda mais apavorados. Meus olhos percorriam por todo canto a procura de Gina.

-Há vítimas lá dentro, corram! - escutei um dos bombeiros gritar

-Gina!!

Penúltimo Capítulo

Mercedes

"Treze feridos e uma morte. Não houve sobreviventes".

  As palavras ditas pelo bombeiro não saíam da minha cabeça, na verdade não saíam da cabeça de ninguém. Medo, angústia, desespero. Os nomes das vítimas ainda não foram ditos e isso só aumentava nossa aflição. 
     O dia já estava amanhecendo e felizmente o fogo estava quase totalmente apagado. Depois do torpor do momento, seguimos eu, Tommy e mais algumas pessoas para o hospital. Somente lá saberíamos os nomes das vítimas e eu implorava a Deus o tempo todo para que Gina estivesse bem.
Nenhum de nós conseguimos ir pra casa, tomar banho, dormir ou comer alguma coisa. O silêncio e a falta de notícias nos torturavam mais a cada minuto que se passava.

-Deus, não faça isso com a Gina, eu imploro.. - murmurei apertando com força a medalha de Santa Mercedes que Michael me deu na noite de Natal

-Eu só quero entender como isso aconteceu! - Tommy disse sem se conformar, assim como todos nós

-Escutei o policial dizendo que a perícia já está investigando.. - Jon disse

-Ele está vindo! - falei ao ver o médico se aproximando com uma prancheta em mãos. Nos viramos todos de frente ao doutor

-Já temos os nomes de algumas das vítimas. As outras sofreram graves queimaduras e ainda não conseguimos identificá-las.

-Meu Deus.. Mas e os nomes dos que foram identificados. Quem são eles? - perguntei

-Vou falar um nome de cada vez. Eric Smith, Suzan Miller, Louis Cassio, Brenda Oliver, Nicolas Mendez. Eu não queria dizer isso, mas também identificamos o corpo. - tentei respirar fundo para receber a notícia

-Então nos diga, por favor! - Tommy pediu impaciente

-A vítima é mulher. Morreu carbonizada. Se chama Regina Sanders.

-Não!! - gritamos praticamente juntos

   O chão parecia ter ruído sob nossos pés. Eu teria ido ao chão se Jon não tivesse me segurado, sentando- me no sofá. Estávamos atordoados, chorando, sem acreditar que esse pesadelo está acontecendo.

-Você se confundiu, não é a Gina, não é! - gritei

-Senhorita..

-Eu não acredito nisso! Gina é esperta, tenho certeza que ela soube se virar! - o olhar penalizado do médico me deixava ainda mais irritada - Você não ouviu? Eu quero ver com meus próprios olhos!!

-Merche, fica calma.. - Jon pediu

-Como calma? Não é ela, Jon!! - o médico retirou do bolso do jaleco um saquinho, estendendo-o para mim

-Reconhece? Além dos documentos esse cordão estava no pescoço dela. O pingente está gravado com o nome Gina e..

-Não.. - assim que bati os olhos na correntinha eu não tinha mais dúvidas. Grossas lágrimas escorriam pelo meu rosto, me dando a terrível confirmação da morte de Gina - Eu dei à ela quando nos conhecemos. - solucei - Ela nunca tirou do pescoço.. - Jon me abraçou forte

-Eu sinto muito pela amiga de vocês, de verdade. - Tommy parecia atônito. Ele não emitiu nenhuma reação até a hora de explodir, tendo que ser contido pelos enfermeiros

(...)

    Eu não sei de onde tirei forças para me manter de pé. O pesadelo parecia não ter fim e a dor é simplesmente insuportável. Ver Tommy sedado em uma cama de hospital, amigos correndo risco de vida e principalmente, minha melhor amiga morta é pior que qualquer coisa que já passei nessa vida. 
     Os últimos dois dias foram ainda piores. Nos revezamos em ir ao hospital, prestar depoimento na delegacia e agilizar a liberação do corpo de Gina. Tudo isso ao mesmo tempo me deixava ainda mais perturbada. A única boa notícia é que as demais vítimas estão fora de perigo.
     Assim que o corpo foi liberado, decidimos fazer logo o enterro. O pior de tudo foi não poder olhar para Gina nem que seja pela última vez. Achamos melhor cremá-la, mas Tommy foi totalmente contra, então acabamos concordando em enterrá-la com o caixão lacrado. Seria desumano para nós lembrarmos de Gina da forma como seu corpo se encontra.
    Foi a pior experiência da minha vida enterrar alguém que amo. Gina sempre foi querida por todos nós e, sinceramente não sei o que será de mim sem ela. Provavelmente enlouquecerei.

(...)

Após o enterro, ainda tínhamos que voltar à Delegacia. A investigação ainda não tinha acabado, mas a perícia já tinha algumas pistas.

-Como se sente, Tommy? - me sentei ao seu lado enquanto esperávamos o perito vir com novas informações

-Dilacerado. Nunca, nunca senti nenhuma dor parecida. Não posso acreditar que ela não está aqui, Merche.. - nos abraçamos e permitimos chorar baixinho

-Com licença.. - o perito pigarreou, chamando nossa atenção - Tenho comigo o resultado da perícia.

-Então já sabem o que aconteceu? - perguntei

-Sim. O incêndio foi criminoso e pelo que nos pareceu, o autor não fez questão nenhuma de esconder.

-Eu não entendo.. Quem faria isso?

-Você ainda tem dúvidas, Mercedes? Tá na cara que é a família do seu namoradinho! - Tommy se levantou da cadeira, tomado por ódio

-Você acha que foi o Leon? Claro, ele é o único que poderia fazer isso!
 
    E de repente tudo fez sentido. Leon sempre nos ameaçou caso o galpão não fosse dele. E depois do escândalo que fiz no casamento, seu desejo de vingança é ainda maior. E por mais que eu evite pensar que Michael saiba disso, porra! Eu vi ódio nos olhos dele depois de o ter humilhado na igreja. Mas eu vou atrás da verdade de qualquer jeito!

-A culpa é toda sua! - acordei dos pensamentos ao ouvir a acusação de Tommy

-O que?

-Foi você que trouxe esse inferno para as nossas vidas e pra piorar colocou o filho dele na sua própria casa!

-É melhor se acalmar.. - o policial aconselhou

-Eu não vou me acalmar! Por culpa dela a Gina está morta!

-Tommy, não fala isso.. - implorei, em meio as lágrimas que desciam

-Falo sim! Você desgraçou a vida de todo mundo, Mercedes!!

As palavras de Tommy, apesar de cortarem meu coração, eram mais que verdadeiras. Eu subestimei a família Jackson e permiti que toda essa merda acontecesse. E se hoje minha amiga está morta é por irresponsabilidade minha.

-Tommy, você está alterado! - Jon se meteu - Vou levar a Merche daqui..

-Assassina!! - ele voltou a gritar. Jon me pegou pelo braço, levando- me para fora da delegacia

-Fica calma ok? Vamos voltar pra casa..

-Isso só pode ser um pesadelo..

    Voltar ao Brooklyn e ver às cinzas o lugar que tanto lutamos para construir doeu profundamente. Tudo que fizemos durante todos esses anos, agora simplesmente não existe, e pior que isso é saber que essa desgraça ainda levou um inocente.
    O clima entre as pessoas era de luto. Nunca enfrentamos uma tragédia como essa, ainda mais nessa proporção. Também reparei que muitos me olhavam feio, como se também pensassem como Tommy.

-O que ainda quer aqui? - um dos vizinhos gritou - Todos aqui sabem que a culpa foi sua!

-Será que podem me ouvir? Eu também acho que Leon incendiou o galpão. Eu vou até ele e..

-E do que adianta? - me virei para encarar Tommy - Não vai trazer a Gina de volta!

-Eu sei, mas eu vou fazer justiça!

-A melhor coisa que você tem que fazer é dar o fora daqui!

-É isso mesmo! - outras pessoas disseram - Você já destruiu a nossa vida!

-Tommy, por favor..

-Vá embora, Mercedes! Ninguém quer você aqui, não entende? Vá embora!

    Não suportei ouvi-los me repudiarem, insultando-me com palavras como assassina. Eu não podia acreditar que mais uma vez estou sendo expulsa pelas mesmas pessoas que me estenderam a mão quando mais precisei.

-Tudo bem, eu vou! Eu entendo a raiva de vocês, mas eu prometo que vou fazer justiça! - Jon me levou até em casa e eu rapidamente joguei meus documentos e algumas roupas na mochila

-Merche, quero que saiba que eu não te culpo.. - Jon enxugou minhas lágrimas

-Acredite eu fico feliz por isso.. O que vai ser de mim agora?

-Eu juro que queria ter te defendido, mas..

-Você fez bem em ficar quieto. Eles estão revoltados demais e eu odiaria que descontassem em você.

-E pra onde você vai, Merche? - suspirei

-Eu não sei, mas.. vou dar meu jeito como sempre fiz.. É melhor eu ir, eles estão a ponto de me linchar.

-Toma isso. - Jon me estendeu algumas notas de dinheiro - Vai te ajudar..

-Não Jon. Eu não quero causar mais problemas e além do mais vocês vão precisar de muita ajuda. Mas eu prometo que vou fazer justiça com minhas próprias mãos!

-Mercedes você já sabe que Leon é mais perigoso que imagina. Olha tudo que eles fizeram contra você, contra nós..

-Eu já perdi tudo, Jon. Minha única força é saber que eles vão me pagar. Cada um deles..

Último Capítulo

Michael

   Eu pensei que surtaria nesses cinco dias que estou em Madri na minha "Lua de Mel". Foram necessárias muitas garrafas de Whisky para que eu pudesse perder a sanidade e transar com outra mulher que não fosse Mercedes. Por mais que eu tenha feito de tudo para me entregar à Dominique.. Não eram os beijos de Mercedes, não eram seus toques, seus gemidos, seu corpo.. Sinceramente não sei como vou suportar o fato de que a perdi para sempre.

-Amor, volta pra cama.. Está muito frio aí fora. - me virei para encarar Dominique deitada em nossa cama. Pensei em ignorá-la, mas o toque do meu celular me obrigou a voltar para o quarto

-Alô?

-Michael, é a Maysa. Tentei falar com você esses dias, mas a ligação só caía na caixa postal.. - voltei pra varanda a fim de poder conversar em paz com minha irmã. Só de ouvir sua voz eu me sinto em paz

-Ah.. Me desculpe. Desliguei o celular quando cheguei. Precisava de um tempo, sabe..

-Eu imagino. - escutei seu suspiro - Como está lidando com tudo isso?

-Da pior maneira possível, mas essa é a minha vida e eu tenho que me acostumar.. Mas me diga, como está tudo ai..? - torci para que Maysa me desse qualquer notícia de Merche

-Michael, eu pensei muito antes de te ligar, mas acho que você precisa saber.. - senti um calafrio ao ouvir a voz apreensiva de Maysa

-O que aconteceu, Maysa?

-Houve um incêndio.. - ela suspirou novamente - Um incêndio no galpão da Mercedes

   Precisei me sentar na cadeira após ouvir a notícia. A única coisa que vinha na minha cabeça era Mercedes. Eu jamais me perdoaria se algo tivesse acontecido, na verdade não cogito nem essa hipótese.

-Michael? Você está aí?

-Mercedes.. O que aconteceu com a Mercedes?? - gritei, totalmente transtornado

-Michael, calma! Mercedes não estava no galpão quando o incêndio começou. Quem acabou sofrendo com isso foi a amiga dela. Quando eu cheguei no hospital fiquei sabendo que a Gina faleceu.

-Ah não.. - senti meu coração afundar no peito

    Gina sempre foi especial pra mim, não só por ser amiga de Merche, mas também por tudo que ela fez por mim. É simplesmente inacreditável que essa tragédia tenha acontecido.

-Nem eu consigo acreditar.. Foi tão triste receber aquelas vítimas..

-Maysa, pelo amor de Deus! Me fale sobre a Merche!

-Michael, eu perguntei a um dos amigos dela e ele me disse que Mercedes foi embora.

-Embora pra onde? - minhas mãos tremiam tanto que sentia dificuldade de ao menos segurar o celular

-Eu não sei, Mike. Na verdade ninguém sabe pra onde ela foi..

-Mas, Maysa ela não pode ter sumido assim.. Eu preciso achá-la! Eu vou aí e..

-Michael, qual o seu problema? - Maysa alterou seu tom de voz - Você perdeu qualquer direito sob ela no dia que a abandonou e decidiu se casar com a Dominique.

-Você não entende? Eu a amo, Maysa!

-Se realmente a amasse não teria feito o que fez. Eu prometo te manter informada, mas você tem que assumir as consequências da sua escolha.

-Maysa..

-Você quis assim, meu irmão. Olha, eu preciso desligar. O hospital está cheio, tenho que ir.

-Tudo bem, mas por favor, ache a Mercedes! Por Deus, procure ela!

-Farei o possível. Até mais, Michael.

      Desliguei o celular e permaneci apático. Deus não pode estar me castigando dessa forma, ainda mais descontando em Mercedes. Sei que não sou mais digno do seu amor, mas isso dói tanto! 
Agora percebo a loucura que cometi ao deixá-la. Eu fui um imbecil, um covarde em abrir mão da minha felicidade por medo, por insegurança. O que vai ser da minha vida daqui pra frente? Como eu vou conseguir viver carregando essa culpa? A culpa de ter desgraçado a vida de Mercedes, de não estar ao seu lado, agora que ela mais precisa. 
      Será que meu castigo será passar o resto da minha vida amargurando a infelicidade? Mas do que eu posso reclamar se eu mesmo cavei o buraco e enterrei meu coração nele? E agora tenho que conviver com meu maior erro e nada, nada que fizer vai mudar o terrível rumo que dei para o meu destino.

Mercedes

     Cada dia que passa eu sinto minhas forças se esvaírem. Assim que saí do bairro, migrei para outros pontos do Brooklyn, que para minha sorte eram afastados. O pouco do dinheiro que eu tinha acabou, mas nem isso me importa. Desde o dia que saí expulsa de lá, acabei me virando em um canto qualquer. Eu já passei por isso aos 14 anos, então morar na rua não é novidade pra mim.
     Só que dessa vez não é só a dor da rejeição que corta o meu coração. Eu perdi tudo. Perdi minha casa, meu trabalho, meus amigos, e principalmente, as únicas pessoas que amei nessa vida. Não tenho mais a proteção de Gina e muito menos o amor de Michael, ou melhor, o amor que pensei que ele sentira por mim. Michael, por culpa dele todo esse inferno começou. Por culpa dele e dessa família maldita. Eu sei que esse incêndio foi obra de Leon e também tenho a total certeza de que Michael sabia e foi condescendente. Ele permitiu que o pai se vingasse de mim, principalmente depois do escândalo que fiz no casamento.
     Eu poderia matar cada um deles, mas como se eu mesma já estou morta por dentro? Eu não tenho mais ninguém, não tenho esperanças e muito menos forças para continuar vivendo. 
    O dia estava terrivelmente nublado e sombrio, assim como minha alma. Eu estava decidida a por um fim em todo esse sofrimento e ir de encontro à Gina. Eu não tenho mais vontade de viver e o que me resta é colocar um ponto final na desgraça que é minha vida. 
  Me levantei da calçada ao observar os faróis de um carro se aproximando da avenida. Respirei fundo, fechei meus olhos e me joguei de encontro ao automóvel que vinha em uma velocidade mediana. 
Só o que senti foi o impacto do meu corpo batendo na vidraça do carro e os cacos de vidro fincarem minha barriga. Fui arremessada para o outro lado da calçada e aos poucos tudo foi escurecendo.

(...)

- Ela está acordando! - escutei uma voz emocionada próxima à mim, voz essa que nunca ouvi na vida

    Respirei fundo novamente e forcei meus olhos a se abrirem. Consegui com muito custo identificar que estava em um quarto de hospital. Neste momento tudo veio à minha mente. Me lembrei de quando tive a absurda ideia de me jogar na frente de um carro e agora estou nessa cama sem ter noção do que aconteceu comigo.
   Pisquei meus olhos e então me deparei com um homem que parecia estar chorando. Ou eu morri e fui para o céu, ou esse homem está me confundindo com alguém.

-Calma, querida.. Eu vou chamar o médico!

   O homem se afastou e não demorou muito para o doutor vir me analisar. Ele checou meus batimentos, minha respiração e finalmente me perguntaram alguma coisa.

-Como se sente, Mercedes? - estranhei ao ver que o doutor sabia meu nome. Mas como assim?

-Eu.. eu.. O que aconteceu? Como eu vim parar aqui e quem é você? - falei me referindo ao homem que parecia ainda mais emocionado

-Calma, meu anjo.. - ele acariciou meus cabelos - Eu sou Gregory. Você ainda não me conhece, mas acredite, eu te conheço muito mais do que imagina..

-Eu tenho que sair daqui.. - tentei me levantar, mas senti uma dor absurda na coluna

-Calminha aí, mocinha! - o doutor me impediu - Você não pode se mexer desse jeito..

-Não acredito que aquela porcaria de carro não deu um fim nisso tudo.. - murmurei - Estou aqui há quanto tempo?

- Três dias. - o médico respondeu - Se lembra do que aconteceu? Você foi atropelada e ficou muito ferida. Mas infelizmente o bebê não resistiu..

  Como assim bebê? Eu só posso ter escutado errado! Não, não é possível que.. eu matei meu próprio filho!

-O que você disse? - consegui balbuciar enquanto as lágrimas inundavam meus olhos

-Você não sabia? - o tal Gregory perguntou. Neguei a cabeça, me sentindo tonta e atordoada

-Não, isso não pode ser verdade! - gritei

-Calma, Mercedes.. Desse jeito vai piorar seu estado! - o doutor pediu

-Que se dane! - rebati - Você mentiu, eu nunca estive grávida!

-Mercedes, eu mesmo fiz a curetagem. Você estava com dois meses de gestação, estava bem no início e...

-Não!! O que eu fiz, meu Deus?? - puxei meus próprios cabelos na tentativa de aplacar a terrível dor que crescia dentro de mim - Eu matei meu filho, eu matei meu filho!!

    Berrei tais palavras repetidas vezes até sentir uma agulha fincar meu braço. Em seguida meu corpo amoleceu, minhas vistas pesaram e eu por fim, apaguei.

(...)

     Quando abri meus olhos novamente e toda a cena anterior voltou à minha cabeça, eu já não sentia mais o desespero e o descontrole ao descobrir que sofrera um aborto. O que eu sentia dentro de mim era ainda pior. Estou absorta, chocada e completamente anestesiada pela série de desgraçadas dos últimos dias.
    E de repente tudo veio a minha cabeça como um filme. Michael me abandonou, se casou com Dominique; o galpão pega fogo, perco minha amiga, sou expulsa do meu bairro aos gritos de assassina e agora sou também responsável pela morte de um bebê que não tinha nada a ver com meus problemas. Tudo me isso me faz questionar a existência de um Deus justo e bondoso. Ora, se ele realmente existisse não teria me castigado dessa forma, tirando a vida de inocentes e me martirizando com o peso da culpa.
    Permaneci perdida com meus pensamentos quieta, completamente imóvel e frívola diante da minha atual e real situação. Sou dispertada com a voz do mesmo homem novamente.

-Posso entrar? - perguntou educadamente ao bater na porta. Dou de ombros e ele entende como um "sim" - Está mais calma?

-De onde você me conhece, hein?

-Vamos ter muito tempo para falar sobre isso, Mercedes. Você não tem condições nenhuma para ter mais emoções. - ele novamente me acariciou, mas consegui ter forças para impedi-lo de prosseguir

-Eu exijo que me diga quem é você! Além do mais, estou anestesiada o suficiente, então não me enrole mais. Diga logo o que quer de mim! Está a mando do Leon, é isso? Já não basta a merda que fez comigo? - o homem me olhou sem entender

-Hey, do que está falando? Foi esse homem que te fez mal?

-Não respondeu a minha pergunta! Fale de uma vez antes que eu peça para te chutarem daqui!

-Certo. - ele suspirou - Eu juro que não era dessa maneira que imaginei nosso reencontro. E não sabe como me dói ver minha própria filha nessas condições. - abri minha boca sem conseguir emitir som algum. Meu coração falhou e eu perdi totalmente meu raciocínio

-O..o que disse? Só pode estar brincando comigo! - ri sem um pingo de humor

-Eu tenho te procurado desde que soube da sua existência. Não teve um dia em que eu não lutasse para encontrá-la. Confesso que cogitei em desistir, mas como um milagre eu consegui pistas sobre seu paradeiro. E justamente no dia do seu..terrível acidente, meu detetive estava próximo ao local e foi uma das pessoas que prestou socorro. Ele ficou com sua mochila e quando viu seus documentos.. quando viu seu nome, ele não teve mais dúvidas. De uma trágica forma o destino a colocou no caminho dele.. - as lágrimas transbordavam dos seus olhos, o que me deixava ainda mais assustada com essa enxurrada de informações

-Eu não estou entendendo nada.. Que história é essa de detetive.. Meu Deus!

-Calma, por favor! Se escutar tudo que eu tenho para dizer você vai entender, ou pelo menos ter noção do que está acontecendo. Mas no momento você precisa descansar e..

-Não. - disse o cortando - Minha vida já está um caos e nada do que eu fizer vai mudar. A única coisa de que preciso no momento é saber que merda está acontecendo aqui! - ele sorriu minimamente

-Você é igualzinha à Eloise.. - ele pigarreou - Tudo bem, eu vou te contar toda a história da sua vida..

(...)

-Deixa eu ver se entendi.. - fechei meus olhos, tentando absorver tudo que ouvi - Você deixou essa Eloise quando ela estava grávida e.. esse, esse bebê era eu?

-Sim.. - ele respondeu entre lágrimas -Eu deixei sua mãe porque acreditei que era o melhor pra ela. Eu não poderia dar um futuro à ela, então decidi que iria me tornar um homem digno do seu amor. Mas se eu soubesse que Eloise estava esperando um filho eu jamais, jamais teria saído de perto dela!

-E como, como você soube disso?

-Eu já não aguentava mais de saudade dela. Então depois de um ano eu voltei decidido a procurá-la. Quando eu voltei fui até a casa dela e fui surpreendido ao saber que ela e o pai não estavam mais lá. Uma antiga empregava da família havia permanecido por lá e ao me reconhecer ela contou tudo o que aconteceu. Pouco tempo depois de eu partir, Eloise descobriu que estava grávida. Ela tentou entrar em contato comigo, mas foi em vão.

-E o que ela fez?

-Com os meses se passando o pai dela acabou descobrindo a gravidez. Eloise sofreu amargamente por toda a gestação e quando deu à luz, ela.. - nesse momento ele não conseguiu falar mais nada, pois iniciou uma crise de choro, me deixando penalizada

-Ela morreu.. - concluí

-Ela teve complicações após o parto e não resistiu. Após sua morte, Harry ordenou que se livrassem de você. Então essa mesma mulher te levou para a casa de uma senhora, mas quando eu fui atrás dela eu não a encontrei. Anos depois eu consegui por meio de um detetive descobrir onde você estava. Eu juro, Mercedes que passei todos esses anos remoendo a culpa da morte da sua mãe e minha única esperança de vida era te encontrar..

-Caramba.. - enxuguei minhas lágrimas, respirei fundo e voltei meus olhos à ele - Isso é tudo tão novo pra mim.. De verdade, eu consegui te entender, mas.. Minha cabeça está confusa com tudo que aconteceu.. Não me peça para engolir toda essa história agora, por favor.

-Claro! Você tem razão.. Não sei se fiz bem em contar tudo isso agora, mas não sabe o peso que tirei do meu coração. É óbvio que respeitarei seu tempo, mas agora que te encontrei, esteja certa de que nunca mais me afastarei de você, minha menina.. Nunca!

    Apenas assenti, fechando meus olhos novamente. Não sei se o efeito do sedativo ainda mexia comigo, pois ainda me sentia tonta com tanta coisa que ouvi e descobri. Eu só queria acordar desse pesadelo e ter minha vida de volta. Uma vida na qual nunca tivesse cruzado meu caminho com aquele infeliz, pois o único responsável pela minha infelicidade é Michael Jackson.

Epílogo

Mercedes

     Após dois dias finalmente terei alta do hospital, e em todo esse tempo Gregory não saiu do meu lado um minuto sequer. Acho que se não fosse sua presença, eu estaria me torturando com as malditas lembranças que eu desejo com tanto fervor apagar da minha memória.
     Esses dias que passei internada me serviram para refletir sobre minha vida. Antes da tentativa de suicídio eu estava certa de que minha vida havia acabado, de que nunca teria forças para me reerguer. Mas agora, do nada eu descubro que tenho um pai que me ama e foi capaz de viver sua vida inteira procurando por mim. 
    Eu não serei hipócrita de rejeitá-lo sabendo de todo o seu sacrifício. Sua história de vida é semelhante à minha e eu sei que ele fez o mesmo que eu teria feito se meu filho estivesse vivo. Ainda evito pensar nessa gravidez, pois a dor é tão absurda que com toda certeza vai piorar o meu estado. E o apoio que recebo de Gregory me faz ter a certeza de que estou amparada e protegida e tudo que meu coração pede é para ficar ao lado dele, pois sem ele eu não sei o que será de mim.

-Posso entrar, Mercedes? - terminei de pentear meus cabelos e me virei para vê-lo entrar no quarto com algumas sacolas de roupas

 É visível que tanto eu quanto ele estamos decididos a recuperar o tempo perdido. Estamos disposto a colar os cacos dos nossos corações.

-Claro! - sorri - Finalmente estou livre desse lugar!

-Não sabe como me sinto aliviado.. - ele se aproximou de mim e pegou na minha mão - Você virá comigo, certo?

-E eu tenho escolha? Desculpa, eu não disse por mal.. - ele riu - Eu disse no sentido de que eu não tenho onde ir, entende?

-Por que não me conta o que aconteceu com você?

-Eu acho que ainda é cedo para mexer nessa ferida.. Eu não me sinto pronta..

-Eu entendo, querida. Teremos muito tempo para conversar e eu esperarei a sua vontade.

-Obrigada.. - sorri - Você disse que mora em Londres, certo?

-Sim, é onde eu trabalho. Mas se você quiser eu compro uma casa aqui mesmo..

-Não. Por favor, aqui não! Eu quero esquecer esse lugar, esquecer tudo que me lembra ele..

-Então você quer vir para Londres comigo?

-Se não foi incômodo.. Olha, desculpa, eu estou indo longe demais..

-Não diga isso, meu amor! - Gregory segurou meu rosto com as mãos - Não sabe a felicidade que sinto em ter você ao meu lado. Prometo recompensar cada momento que perdemos.. Eu te amo minha filha, sei que é tudo novo pra você ainda mais agora, mas saiba que vou fazer de tudo pra fazê-la feliz!

-Não sei se um dia vou voltar a ser feliz. - suspirei - Mas também não quero pensar mais nisso. A partir de agora é vida nova!

-Para nós dois! - nos abraçamos forte e nesse momento eu realmente desejei que minhas palavras se tornassem reais

(...)

 Acho que essa foi a viagem mais longa da minha vida e também a  mais radical, pois dessa vez estou deixando para trás definitivamente tudo, inclusive a Mercedes que eu era quando entrei nesse avião. Deixei em Nova York meu passado, meus problemas e tudo de ruim que me aconteceu. E se eu vou retirar forças é por uma única razão: me vingar da família Jackson.

- Espero que goste da sua casa.. - Gregory abriu a porta e me deu passagem para entrar

-Caramba, essa é sua casa? - falei abismada pelo luxo do lugar

-É sim. - ele riu - Espero que se sinta confortável, pois essa casa também é sua!

-Minha? - ri - Deixa disso, homem! Essa casa é sua e eu prometo que vou me comportar direitinho! - ele gargalhou

-Ah Mercedes.. Sabe, o que mais me encanta em você é ver esse sorriso mesmo com todo a dor que está sentindo..

-Eu cansei de sofrer. Cansei de chorar pelo que perdi, aprendi a ter foco. E vai ser isso que vai me ajudar a levantar.

-E qual seria esse foco? - me virei de costas à ele e abri um sorriso

-Primeira coisa, eu quero estudar. Quero me tornar uma mulher inteligente, culta e elegante.

-Eu acho isso incrível, mas qual o  seu verdadeiro intuito?

-Crescer. Eu vou crescer, me tornar madura e forte. E quando eu estiver pronta eu vou voltar.

-Mercedes..

-Não se preocupe, Gregory. Sei que isso vai levar muitos anos, mas eu vou ser paciente. - analisei meu reflexo no espelho -  Eu não quero ser mais essa garota que você está vendo agora. E a mudança vai começar hoje.

-Se é o que você deseja, estarei ao seu lado te apoiando. - Gregory tocou meu ombro - Você sabe qual o nome que sua mãe te deu ao nascer?

-Não, você sabe? - ele sorriu

-O desejo dela era que você se chamasse Elizabeth, mas eu também gosto muito de Mercedes.

-Elizabeth.. - pensei alto -  É isso! É assim que eu quero ser chamada. Elizabeth.. E quando eu estiver pronta, a Mercedes entrará em ação.. - murmurei

 Agora sim eu me sinto confiante, segura. Eu sei que nada vai apagar a dor no meu coração e é por isso que deixarei Mercedes dormir, dando lugar à uma mulher renovada, forte e sem um pingo de dó do inferno que farei na vida do meu ex-marido.
  Mal posso esperar para ver Michael e sua família nojenta ajoelhados aos meus pés, implorando por misericórdia. Não terei pena de ninguém e se Deus existe, ele que me perdoe, pois serei um demônio na vida de Michael Jackson. 

Fim...?