terça-feira, 1 de março de 2016

FanFic: "Escrito nas estrelas" (+18)



Autora: Larissa Rabelo




Sinopse


Algumas pessoas acreditam em anjos, outras na existência do mal que que contradiz a força do bem.Lana Clark era uma mulher que apesar das adversidades da vida acreditava na pureza dos sentimentos, sua doçura incomensurável e a crença no amor dela foram fatores responsáveis por encantar o desenganado Michael Jackson. Um homem fadado a solidão desde que se divorciou de seu primeiro amor, amargurado, traído covardemente, simplesmente alguém ferido por uma mulher de caprichos nefastos, ele não passava de um homem morto por dentro.

O que esse solitário não poderia prever era que a chegada de Lana lhe arrancaria das sombras e o traria diretamente para a luz. Ambos conheceram o lado obscuro dos seres humanos por razões diferentes. A bela jovem, cheia de vida, determinada a sorrir mesmo em momentos de pura dor, porém também a mulher humana, totalmente exaurida de viver de migalhas, a moça humilde que trabalha para sustentar a filha adolescente problemática e só deseja uma oportunidade de mudar seu destino. 

Na outra faceta, o empresário magnata, possuidor de dotes inegáveis para os negócios, reconstruiu seu império. Michael Jackson respira por que isso é apenas um ato involuntário e se isola do mundo graças as cicatrizes da decepção amorosa que sofreu no passado. Ambos ocupam vertentes de sofrimentos distintas, e ainda assim cada um sabe o peso da cruz que carrega.

                                                                                                                               Lana Clark

 "Eu poderia fechar meus olhos e nunca mais despertar, talvez não seria mais a fracassada invisível. Quem daria por falta de uma mulher que não conseguiu ser uma exímia mãe? Tampouco é bem sucedida  profissionalmente. E com um sorriso forçado estampado no rosto vou encarando cada dia incerto, movida pela ilusão utópica de quem sabe um milagre aconteça. Às vezes o simples ato de sorrir me dá forças, sorrir me faz sentir uma vibração de esperança e tudo se torna mais leve de suportar. Quem sabe o amanhã me reserva uma grata surpresa? É possível que estrelas cadentes existam, por que então não sonhar com dias mais promissores?"



                                                                                Michael Jackson

"E por ter me entregado demais, confiado cegamente em uma ambiciosa sem escrúpulos colho os frutos da traição. Mais penoso do que a doença que me consome, é sentir meu coração congelar a cada milésimo de segundo, a vida se esvair pelo ar sem que eu tente resgatá-la. Sem esperanças, felicidade, desprovido de paz de espírito, tudo ao meu redor parece tão obscuro, e é assim que começam e cessam todos meus dias. Foi da pior forma que descobri que o nos define é a forma como nos levantamos depois da queda e no meu caso superar não foi escolha, e sim necessidade. "







Estreia 28/03




Prólogo

                                                                          
Michael Jackson


Eu sabia que as coisas mudariam naquela noite. Meu coração se nega a aceitar, todavia a razão sobrepõe os sentimentos. Sophie não é mais a mesma, assim como eu que nem sorrateiramente lembro aquele homem sonhador e romântico pelo qual ela se encantou, em alguns meses noivou e consecutivamente uniu-se em matrimônio. Minha esposa era uma mulher carinhosa e de uma doçura invejável, bem, isso foi o que eu pensei que ela fosse, porque no fundo as pessoas se revelam com a convivência, as máscaras caem e temos que aceitar que o companheiro que escolhemos para passar o resto das nossas vidas, nossa alma gêmea que acreditamos que estará sempre lá por nós não passa de farsa, sendo mais um ser humano egoísta. Sophie Kennedy, conseguiu me manter em uma relação através de seu incontestável poder em manipular, ela possui o dom nato de fazer com que você acredite em suas promessas vazias e em seu falso arrependimento.

Durante dois anos de casamento eu permiti que uma mulher bonita me envolvesse em sua teia de mentiras, entrei no jogo e agora colho aquilo que plantei ao me permitir ser dominado. A verdade é clara, jamais poderia desconfiar da minha própria mulher, ainda mais sabendo que me empenhei sobremaneira para ser um marido compreensivo e atencioso. Não houve uma só noite na qual eu deixei de dar um beijo em Sophie e lhe perguntar se estava feliz. Tivemos inimagináveis discussões abertas a respeito da mudança drástica do comportamento dela, dei toda a abertura para ela ser honesta comigo e sinceridade era o mínimo que eu merecia. Quando as coisas começaram a fugir do controle eu tentei reverter nosso distanciamento, em contrapartida Sophie criou muros em torno de si, e não havia como alcança-la. A partir daí a situação tornou-se insustentável, a mulher que eu compartilhava a cama e também a vida, tinha se tornado uma estranha para mim, ela nem mesmo me remetia a antiga Sophie que arrematou meu coração. Me despi de toda a cautela e passei a exigir explicações plausíveis para a indiferença dela, sua ausência, o que catalisou a crise do nosso casamento. Vagamente, eu enxergava no olhar da garota que julgava me completar o quão ela lamentava o rumo que nossa relação tomou. Aqueles mesmos olhos azuis refletiam desengano, a magia entre nós perdera todo o sentido de ser e fora quebrada. As brigas cada vez mais corriqueiras... e Sophie se mostrava cada vez mais insatisfeita com o relacionamento e agressiva comigo.Até que enfim, há algumas semanas atrás ela fez uma revelação, mostrou sua outra face a mim. A ferida ainda está recente, e as ingratas palavras dela cravadas em minha memória como uma bússola que me dirige sempre as lembranças do passado.

 

                                                    Capítulo 1

                                                    "Traição"

*Flash back 



— Sophie, posso saber por onde andou? Esperei-a para jantarmos juntos e você simplesmente não apareceu, tampouco atende a droga do celular. — Michael como qualquer marido desconfiado foi logo desabafando assim que avistou a esposa cruzar a soleira da porta da suíte de luxo deles.

— Sinto muito, mas não lhe devo satisfação...— Sophie atiçou a fúria do marido, ela agia com toda essa frivolidade propositalmente. Precisava afastar Michael, e feri-lo era uma boa opção para atingir seu objetivo nefasto. Não havia um átimo sequer de peso na consciência dela, ser feliz não lhe parecia um crime ou um pecado capital.

— Só pode estar testando minha paciência? — Michael riu seco. — Estou falando sério, aonde se meteu? Infelizmente, chegamos num impasse, pois sou seu marido e me deve respeito.— Argumentou possesso com a indiferença de sua mulher.

— Negativo Michael, sou livre para fazer o que bem entendo, você não é meu dono. — Sophie protestou arrancando seu scarpin branco de couro legítimo jogando-o em um canto qualquer do quarto. Ela ignorava Michael e o tom irritado da voz dele, provocar mais revolta nele lhe parecia um hábito natural, na verdade insignificante.

— Não percebe? — Enrijeceu o rosto determinada a faze-lo calar a boca e odiá-la com fervor. — Acabou seu inútil. Odeio absolutamente tudo em você, sua generosidade inesgotável, sua doçura e as declarações piegas. Preciso de um homem de verdade, e como não cumpriu seu dever tive que arranjar alguém para me satisfazer. — Obrigou seus lábios a não se moverem e formarem um sorriso, mas intimamente sentiu-se vingada em menosprezar o marido.

— O que foi que você disse? — Exasperou-se segurando o braço da esposa indelicadamente. — Repita Sophie! — Ordenou desprendendo um grito voraz de sua garganta e liberando toda a ira que antes detivera.

— Isso mesmo que ouviu, tenho um amante capaz de me levar ao delírio, ele faz o servicinho por você! — Soltou-se dele drasticamente e gargalhou perversamente.

— Que porra é essa Sophie? Sua maldita ingrata. Vadia cínica. Eu a amei mais que a mim mesmo, tentei perdoar suas agressões, os acessos de raiva, me doei por inteiro para fazer dar certo e ganho em troca sua infidelidade . Você me traiu Sophie, destruiu até o respeito que existia entre nós. — Michael berrou se negando a acreditar que foi usado pela mulher que amava, traído e ridicularizado.

— Vá se foder! — Rebateu crescendo a voz. — Amanhã mesmo darei o fora desse apartamento, nunca mais terei que aturar esse tédio e seu cavalheirismo patético. — Revirou os olhos indiferente a dor explicita nos olhar de Michael. Queria mais que ele fosse para o inferno com sua sensibilidade.

— Vagabunda! — Descontrolou-se descontando sua revolta em forma de insultos. — Quero que suma da minha casa imediatamente. Debaixo do mesmo teto que eu não fica mais uma noite. — Partiu para cima dela e antes que lhe estapeasse, socou a parede.

— Finalmente vou me livrar de você! — Comemorou correndo para o closet e pegando uma mala preta.

— Por que? Me diga o motivo de tanto ressentimento? — Exigiu Michael com lágrimas escorrendo por seu rosto. Ele amou-a com tanto vigor, e para seu amargo desespero estava sendo depreciado, ela estava o desprezando.

— Você é um tremendo chato, previsível e vive recitando coisas românticas. A principio achava até ligeiramente exótico e excitante, mas estou esgotada de brincar de "casinha".— Ergueu as sobrancelhas e começou a enfiar algumas peças de roupas na mala.

— Como pude ser tão cego? — Michael praguejou envergonhado de ter se rendido aos encantos de uma mulher que só lhe trouxe desgraças.

— Não sei baby, mas até que não foi de todo mal aguentar suas cobranças, levarei uma boa grana com o divorcio e você é um amante razoável na cama. — Sophie ironizou, enfim fechando a mala abarrotada de roupas.

— Eu estou absolutamente enojado. Você é um monstro. — Michael deu-se conta de que estava de frente a uma mulher sem caráter. — Uma espécie de bonequinha de luxo que se sujeita a tudo pelo dinheiro!

— E se eu for baby? O que lhe interessa? — Indagou arrastando a mala pela suíte que um dia partilharam. — Ao menos não me prendo a obrigações corriqueiras. E sejamos sinceros, você me comprou. De que outra forma um otário feito você teria uma mulher como eu? — Permaneceu debochando da ingenuidade de Michael. — Mas de mim já teve de mais. — Concluiu sorrindo de orelha a orelha. — Cuide-se e não se esqueça de fazer o exame. — Alertou.

— Exame? De que diabos está falando? — Michael retraiu o cenho confuso.

— Queridinho, meu último parceiro era soro positivo e ele transmitiu HIV para mim... Eu sei deveria ter sido mais cautelosa, mas a culpa não é minha... Portanto, irei recorrer a medicação, siga meu conselho. — Piscou diabolicamente para ele. Sentia um prazer inigualável em dar a notícia a ele.Quando descobriu que Eddy lhe transmitira o vírus HIV só desejou voltar no tempo e consertar toda aquela merda. Depois resolveu aceitar e como consolo repassar a doença a qualquer homem que cruzasse seu caminho. Ela era assim, cruel, desapegada, frívola.

— Meu Deus! Isso é algum tipo de piada? Sophie não pode estar falando sério! — Michael sacudiu a violentamente pelos ombros, confrontando a si mesmo ao negar que teria sido covardemente enganado.

— Eu não minto Michael. — Frisou se fazendo de rogada. — Descobri há cerca de uma semana, tempos após transar com Eddy, aquele seu assessor publicitário. — Revelou admirando seu próprio sarcasmo. Michael que antes detinha o ódio fervente em sua corrente sanguínea segurou os punhos dela violentamente. Procurando por uma saída menos extremista para todas as atrocidades que fora obrigado a ouvir a esposa proferir. Aquilo nem mesmo podia ser considerado um choque de realidade ou um banho de água fria, Sophie nunca escondeu que não fazia o tipo de pessoa que cuida da casa e espera o marido para fazerem amor. Sempre se mostrou determinada a desfrutar do dinheiro dele, mas não ao seu lado, como casais normais fazem. Michael decidiu pôr uma venda nos olhos, talvez por medo ou apenas pela certeza de que se prestasse mais atenção descobriria que a mulher que idealizou por anos não passava de um ser mesquinho e desprezível.

— Você é mesmo muito suja Sophie! Com Eddy, nem meus funcionários deixou fora de sua teia. — Persistiu pressionando os punhos dela, precisava desabafar e para isso engoliu o choro.

— Vou lhe perguntar apenas uma vez. — Fitou-a diretamente, como se quisesse penetrar na alma dela e dar-se conta do vazio que abrangia aqueles olhos azuis. — É portadora do vírus da aids? — Disparou controlando seus impulsos que ordenavam para que estrangulasse-a ali mesmo.

— Isso mesmo! Pensei que não fosse captar o teor do assunto. — Revirou os olhos, cuspindo sob a dor dele sem a menor misericórdia. — Sabe, atualmente existem tantas opções para nosso problema, podemos viver por longos anos querido, basta ter alguns cuidados especiais e pronto.— Elucidou com uma tranquilidade que espantou Michael. Seria possível maior desgraça recair sobre sua cabeça? Ser contaminado pela mulher que acreditava que seria a mãe ideal para seus filhos. Sophie certamente sabia que destruiria a vida dele, Michael sentia o quão proposital soava toda a torrente de notícias. Ela esperou o momento oportuno para torturá-lo e pisotear em seu coração e ele orava em silêncio para que não tivesse contraído HIV.

— Quero que vá embora do meu apartamento! Desejo ardentemente que essa seja a última vez que eu olhe para essa sua cara de vagabunda! Porque se voltar a cruzar meu caminho não serei tão paciente nem minimamente cavalheiro. — Advertiu a livrando do fardo que ele representava para ela. Libertando-se  do casamento infeliz que um dia foi a luz da vida dele.

Desejava descontar sua fúria nela, porém sua índole o censurava. Não queria se rebaixar ao nível de Sophie. Se colocar no mesmo patamar que ela estava fora de cogitação. Nem mesmo em tais condições encostaria um dedo em uma mulher, mesmo ela sendo um monstro Michael não o faria. Sophie não quis prolongar a discussão e saiu pisando duro da suíte, levando somente a roupa do corpo consigo. Os olhos lacrimejados de Michael percorreram meticulosamente cada canto do quarto, sua mente parecia se afastar dali e viajar para outra dimensão. Seu corpo estava ali, mas a alma vagava por águas sombrias. Flashes de momentos felizes inundava-o, algum dia houve felicidade entre aquelas quatro paredes. Para ele foi real e absolutamente genuíno já para Sophie Michael serviu como um objeto, um mero capricho.




Uma semana depois...



— Como assim Jerry? Tem que checar novamente. Milhões de dólares simplesmente não desaparecem! — Michael bradou, travando o maxilar agoniado. O desespero o consumia integralmente.

— Michael já fiz isso uma centena de vezes, não há um mísero dólar. Todas as contas foram encerradas, e o saldo da empresa esta negativo. Não temos um tostão em caixa e suas contas pessoais...

— Merda! A procuração. — Em um relapso recordou-se do documento que Sophie o fez assinar assim que se casaram. Fascinado por ela e completamente ingênuo não cogitou o motivo dela lhe exigir uma procuração. — Estamos falidos Jerry. Sophie me deu o golpe. Ela fodeu minha vida. Aquela maldita premeditou cada detalhe. — Vociferou matando a charada. — Onde está Eddy Becker? — Indagou mecanicamente.

— Ele pediu a carta de demissão no início da semana, disse que iria se mudar do país.

— Filho da puta! — Cresceu a voz esporadicamente, negando-se a aceitar que caíra em uma cilada. — Jerry, Sophie roubou todo o dinheiro e fugiu com Eddy. Aquela vadia me fez de imbecil. E aqui estou ferrado, totalmente falido e desnorteado.

— Cacete! Eu avisei Mike. Aquela mulher é o demônio em forma humana! Como se deixou envolver?

— Não sei... Eu só a amava. — Confessou cabisbaixo. Observando que não havia tomado coragem de tirar a aliança do seu dedo anelar. — E agora... nem mesmo tenho consciência de como sairei dessa. — Acrescentou arrancando bruscamente a aliança do dedo. — Tenho que pensar... preciso de um tempo Jerry.

— Claro, meu amigo. Eu sinto muito, e sabe que estou aqui para ouvi-lo. Há mais algo que o aflige? — Jerry deu um tapinha no ombro do amigo que estava acomodado em uma poltrona de couro, estranhamente pensativo.

— Não há nada que não possa piorar. — Michael soltou uma risada ácida e meneou a cabeça. — Sophie é soropositivo Jerry, e ela sabia disso...  Escolheu me ocultar a verdade e nunca usamos proteção...— Atestou permitindo que o choro o atingisse compulsivamente.

— Porra Michael, cara, não está falando sério? — Semicerrou os olhos descrente do que ouvira. — Você tem certeza?

— Sim, ela fez questão de me informar. Fiz o exame e...

— Michael, nem sei o que dizer...

— Ninguém pode fazer nada por mim ou me ajudar, estou condenado! — Rebateu áspero.— Acabou, que sentido tem essa vida de merda minha? — Questionou obstinado a não lutar.

— O exame deu positivo?

— Jerry, não quero falar sobre isso.Por favor. — Desviou o olhar.

— Responda Michael! — Insistiu.

— Sim, eu sou portador do vírus HIV. — Anuiu, fechando os olhos no intuito de não encarar o amigo. Sentia profunda vergonha.

— Escute. — Jerry sentou-se em outra poltrona que havia ao lado da que Michael estava. — Conheço você desde que somos moleques e sempre admirei seu caráter. Na verdade, - se pudesse gostaria de ser exatamente como você -, forte. Tenho orgulho de tê-lo como amigo, e nada mudará minha opinião a respeito de você. Ninguém pode pará-lo Michael, erga a cabeça, prove a si mesmo que nenhuma adversidade da vida irá abater sua perseverança. Vamos, lute. Se acreditar que pode se reconstruir e reerguer a empresa conseguiremos salvar a Tarso. — Ofereceu apoio, sobretudo reafirmou sua crença na garra do amigo.

— Meus pais fundaram essa empresa com tanto esforço, prosperaram aos poucos e depois investiram em publicidade. Nossos tecidos sempre foram sinônimo de sofisticação e são matéria prima de vestidos dos mais renomados estilistas. O mercado é competitivo e mesmo em tais circunstâncias eles conseguiram manter a Tarso no topo. Não tenho o direito de desistir. Tem razão Jerry. Em nome da honra seguiremos em frente. E eu cumprirei com as ordens do médico, tomarei os remédios. Não se preocupe com isso, sei me cuidar. Ao trabalho? Comece a ligar para investidores, e eu cuidarei de arranjar empresários dispostos a se unir a nos e investir no que temos de mais valioso o nome. Iremos jogar com as armas certas, e quando menos esperar comprarei novamente as ações e voltarei a ser o dono majoritário.

— Assim que se fala. E não se descuide, sua saúde fragilizada deve ser prioridade. — Repreendeu.

— Está bem, prometo sobreviver. — Brincou gesticulando com as mãos.

— Não brinque com coisa séria. Vejo que recuperei meu amigo palhaço. — Suspirou aliviado capturando o telefone e começando a discar.

— Obrigado por me fazer enxergar que uma vadia como aquela não merece que eu desista e ponha tudo a perder. — Agradeceu sorrindo esperançoso. Jerry apenas fez um sinal em positivo com a mão e voltou sua atenção ao telefone.

Um novo ciclo se iniciava para Michael e ele tinha convicção em suas habilidades para os negócios. Estava na hora de secar as lágrimas. O passado deveria ser enterrado e ele viveria um dia após o outro sem se punir pelos erros que cometeu. Além do mais, seu único erro foi amar demais a pessoa errada e isso não era uma falha, amar é uma virtude que apenas os homens nobres de coração conseguem alcançar. Ninguém perde por amar, perde quem não sabe retribuir e se apodera com más intenções de um sentimento tão altruísta.

*Fim de flash back.


Dois anos mais tarde...

                                                    "Michael"

— Jerry, o detetive não encontrou nenhuma pista? Parece que Sophie evaporou do planeta terra.  — Soco a mesa do escritório irradiando indignação. — Droga! Por que aquela vagabunda não assinou a porra do divórcio? — Resmungo a mesma coisa enfaticamente, inconformado com a falta de novidades e o dilema Sophie. Meu amigo espreme os olhos e tenta soar cordial, mas sei muito bem que esse assunto o incomoda e não é de seu agrado.

— Michael, por acaso há um motivo além do seu orgulho para caçar aquela traidora? Alguma mulher à vista? Quem quebrou o encanto do seu coração guardado a sete chaves? — Insinua movimentando-se na sua poltrona favorita e ergue suas sobrancelhas em forma de cinismo. Como eu não me fecharia para o amor depois da decepção que tive? Sophie me ensinou a lição e agora não sei qual caminho seguir para confiar em uma garota novamente.

— É claro que não há mulher alguma. Sabe o que penso a respeito disso. — Ralho. — Vamos esquecer seus sermões e as ilusões infantis de que um belo dia a vida me surpreenderá com uma mulher decente e amorosa. Bem vindo a realidade.— Satirizo desviando a atenção dos contratos que devo ler e assinar para dar prosseguimento as transações da empresa.

— Tem que superar. Nem todas são como a Sophie e... — Desiste de articular seus discursos em prol do amor.

— E qual maluca quer se relacionar com um soropositivo cheio de traumas? Jamais arriscaria passar isso adiante a outra pessoa. — Justifico meus conflitos emocionais, tentando convencer a mim mesmo que estou levando uma vida maravilhosa sem o calor de uma mulher cheirosa para me aquecer no inverno.

— Já passamos da idade média, não é necessário abdicar de se relacionar, bastar ter cautela e usar proteção. — Alega Jerry solícito como de costume. Ele sempre diz o que lhe vem a cabeça, às vezes me lembra minha mãe.

— Jerry, creio que esse drama é desnecessário. Apesar, de não aparentar ter graduação em direito, e maturidade, sei que é possível praticar sexo normalmente em minhas condições com camisinha, portanto não sejamos ridículos. — Rio sem vontade, de que outra forma posso me desfazer dessa amargura que corrói dentro do meu peito?

— Então o problema é mais sério que eu imaginei. — Respira profundamente dando um sutil soco na mesa de vidro na qual trabalhamos todos os dias.

— Não... Você é que cria essas teorias sem fundamento. — Retruco despreocupado, mais cedo ou mais tarde ele cansa de me infernizar.

— Mike, isso é uma espécie de bloqueio que desenvolveu. Admita que teme ser enganado por outra mulher e por esse medo que sente ergueu esse escudo ao seu redor, está se protegendo. — Enfatiza seguro de suas palavras.

— Quando cursou psicologia? — Limpo a garganta e pigarreio, sustentando um sorriso torto nos lábios. — Não me lembro de ter se graduado em uma universidade voltada para psicanálise. Qual meu diagnóstico Dr.? — Desafio encarnando toda a ironia que me é cabível.

— Você é inacreditável! Não adianta se enganar. Um cara boa pinta feito você merece reconstruir a vida amorosa, não seja tão pessimista, a mulher perfeita caíra em seu colo. — Reafirma sua fé na humanidade e me faz gargalhar.

— É mito! Almas gêmeas, amor a primeira vista, eternidade, finais felizes, nada disso existe, não passa de idealização. Criamos isso, ou melhor copiamos aquilo que vemos no cinema e lemos nas poesias. O que realmente é esse tal de amor? — Indago ciente de que não obterei resposta.

— Por que não tenta conhecer pessoas novas? Saia, se divirta, da as coisas sem se envolver emocionalmente. — Aconselha indiretamente certo de que a primeira loira que me der trela devo levar para a cama.

— Sexo casual? Quer que eu escolha uma mulher fútil aleatoriamente e faça sexo com ela. — Mordo os lábios usando toda a ironia que sou capaz . — Enlouqueceu? — Estreito o cenho incrédulo com as sugestões descabidas dele.

— Sim, transe com a primeira mulher gostosa que lhe der abertura. Volte a ativa. É a única forma de melhorar seu humor negro.— Ironiza. E depois da transa? Isso preencheria o vazio da minha alma? Pura ilusão tentar ser feliz apenas em momentos de prazer carnal.

— Olhe para mim. Permaneço firme em meus propósitos e já reassumi o cargo de diretor da Tarso. Trabalho é meu lema, continuarei me dedicando a essa empresa. — Decreto.  — É o que me move Jerry. Sou um homem de negócios brilhante, e ninguém arrancará essa empresa de mim. Estou seguro de que uma mulher honesta não irá aparecer como em um conto de fadas. Estou bem sozinho. — Repito o mantra de que estou bem, tentando me convencer de que não preciso de uma mulher para tornar meus dias melhores.

— Trabalho, trabalho, é sempre essa desculpa. — Rebate num tom de deboche terrível. — Ah, e caso resolva transar não esqueça a camisinha. — Provoca esperançoso de que irei a caça essa noite, arrancando uma gargalhada de mim.

— Dispenso seus conselhos. Devia se preocupar mais com sua vida sexual! — Repreendo satirizando a obsessão dele por minha intimidade e ouço em sinal de retribuição uma gargalhada sádica.

— Desisto, ao menos por enquanto. O amor é algo que não se explica. Quando acontecer você entenderá.. Quando "ela" , a pessoa certa aparecer tudo mudará, e finalmente a vida fará sentido para você. — Rende-se se arriscando a prever um futuro para mim, o qual julgo como incerto a minha antipatia por assuntos românticos e respira fundo, mesmo incomodado. Como pode crer que uma mulher carinhosa e de coração puro irá despencar do céu como um anjo em minha vida?

— "Ela"? Eu esperei por "ela" a vida inteira e veja o que ocorreu? Sophie mentiu, dissimulou, me traiu, roubou...— Fito Jerry com o canto dos olhos reprovando suas palavras, girando o corpo bruscamente na minha poltrona.

— Nem todas são iguais a Sophie, há...

— E acha que vou arriscar? — Solto uma risada ácida e meneio a cabeça interrompendo-o grosseiramente. — Nem pensar, Sophie me fez aprender que devo confiar desconfiando.Para algo aquela desgraçada tinha que servir. Aprendi a lição! — Reforço agoniado ao relembrar os momentos de tormenta que aquela vagabunda me causou. — Acabou! Nada de entregar-me a uma mulher que pode me fazer de trouxa e apunhalar pelas costas. — Ressalto. De que outra maneira devo me libertar de minha amargura?

— Não seja tão pessimista. Você não merecia isso. — Se remexe bruscamente na poltrona, discordando de minha certeza de que nenhuma mulher maravilhosa, um 'anjo" cruzará meu caminho. — Foi vítima de uma filha da puta. Coisas do destino... Não vale a pena remoer a tragédia que Sophie acarretou. Pare de se punir! — Altera minimamente a voz. — Há vida para ser vivida fora desse escritório e você está a desperdiçando.

— Que tal começar ligando para aquele cliente de Dubai que aguarda por um orçamento de tecidos? — Instruo indicando com o dedo indicador onde está o telefone.

— Vai se arrepender de abrir mão de amar e ser amado. Ninguém pode sobreviver sem amor. — Captura o telefone e hesita me obedecer, mas o faz a contragosto, deslizando os dedos pelas teclas do telefone.

— Cansei dessa conversa sem nexo. Voltemos ao trabalho. Mente vazia oficina do diabo. — Protesto e meu amigo apenas acena com a mão, enquanto finge concordar comigo e conversa descontraidamente com um cliente no telefone. Se libertar das amarras do passado nem sempre é tarefa fácil. Traumas são resíduos de ilusões que se desintegram. Mas chega um momento que secam as lágrimas. Engolimos o choro e damos prosseguimento ao que restou dos nossos sonhos.



                                                     

Capítulo 2
                                                 
"O acaso"


                                        

                                                   
                                                 
                                                  "Michael"

Desço da minha BMW satisfeito em retornar ao grupo de apoio que frequento desde o diagnóstico de aids. É um emblemático espaço no qual as pessoas se reúnem em uma roda para trocar experiências e se desfazer de suas frustrações. Estranho, como ainda não tomei coragem de proferir absolutamente uma palavra com os outros "participantes", pois tocar na ferida, reviver meu inferno com essa doença cruel, me despir de minhas emoções diante a desconhecidos ainda soa insustentável para mim. Talvez não esteja pronto para isso, embora tenha progredido consideravelmente restam muitos fantasmas a serem exorcizados, estou em processo de readaptação. O passado parece estar tão presente. E o que me consome dia após dia é não poder voltar atrás para consertar os erros que cometi. Erros? Droga. Onde fui que eu errei? Ultrajante. Apenas amei irrefutavelmente a pessoa errada, e nem de longe poderia desconfiar da mulher que me fazia juras de amor na cama, da mesma mulher que recitava sua admiração por mim na lua de mel. Ainda inerte nas lembranças observo algumas moças simpáticas acenarem para mim e adentrarem o prédio antigo no qual acontecem os encontros. Me animo a fazer o mesmo que as garotas e sigo os passos delas.

                                                                                        *** 

Me acomodo em uma cadeira calmamente, ao meu redor são postas outras cadeiras de maneira a formar um círculo. Inesperadamente visualizo sorrateiramente todos os olhares se voltarem em minha direção, a movimentação aqui é frenética, chega a ser perturbador o contingente de jovens e adolescentes acometidos pelo maldito vírus. Provavelmente essa reação é incomum para um lugar acolhedor como esse, então eu permaneço alheio a curiosidade que desperto. Quem liga? Me obrigo a mostrar os dentes e recebo vários sorrisos como retribuição especialmente do sexo feminino.

— Boa noite! Creio que já podemos dar início. Como consta, já está na hora, sejam todos bem vindos e sintam-se abraçados. — Lilly fundadora da SOS AIDS, sauda, como de costume ela é a primeira a ter a palavra, eu gosto da serenidade que emana de sua voz suave. Sinto-me em casa.

— Michael porque não fala um pouco de você para nós. Todos gostaríamos de ouvir sua voz. Compartilhe com nós sua história. — Surpreende-me com sua intimidação para que eu manifeste opinião. Tento evitar contato visual com Lilly, porém ela me prende em seus olhos amendoados. Minha mão sua e meu coração dispara com a possibilidade de me abrir para outras pessoas.— Estamos aqui para ouvi-lo Michael. Podemos compreender e gostaríamos de ajuda-lo. Por que não tenta, seria um grande passo. — Oferece apoio e prossegue me estimulando a proferir algo.

— Certo. — Minha boca seca imediatamente ao dar-me conta do que estou prestes a fazer. — Acreditem ou não, isso não está sendo fácil para mim, é um desafios e pretendo encarar. Não muito frequentemente falo de mim mesmo. Evito ao máximo expor meus sentimentos. Bem, descobri que sou soro positivo após minha ex esposa me revelar que me traia e que um de seus parceiros lhe transmitiu o vírus HIV. Realizei o exame no dia seguinte e o teste deu positivo. Naquele momento desejei estar morto. Sim, o mundo desmoronou para mim quando meus olhos percorreram aquele pedaço de papel. O impacto da noticia esvaneceu e percebi que a ciência evoluiu e posso ter qualidade de vida. Por que desistir e não desfrutar das dádivas que a medicina me proporciona? Estar vivo já é valioso, então aqui estou, tentando levantar todos os dias e vencer meu maior inimigo, a vergonha, acreditando que tudo na natureza se transforma. Enfim, eu só espero não me acovardar, e que minha fonte inesgotável de força não se esgote jamais. — Finalizo meu breve, porém inspirador discurso e ainda assim motivador e a mágica se profetiza. Sinto-me mais leve, consecutivamente aliviado. Os aplausos soam estridentes e aumentam de intensidade gradativamente. Por que demorei tanto a fazer isso? Penso ligeiramente envergonhado com o apoio de meus novos amigos.

— Obrigada. Fico extremamente emocionado com seu depoimento Michael. Já sabe, quando quiser desabafar ou simplesmente falar, estamos aqui! — Enfatiza Lilly, levando a reunião adiante. Tomo coragem de transparecer minha gratidão e interfiro.

— Eu que deveria agradecer. Nunca me senti assim. — Gesticulo algo desarranjado com as mãos articulando as palavras ideias. Organizando a torrente de sentimentos que se apoderam de mim. — Acolhido! É isso. — Sorrio em paz por ter conseguido me expressar abertamente. Meu cérebro faz conexão com aquele famoso hormônio da felicidade, a serotonina, e depois de anos de desengano meu coração volta a bater por algum motivo além do simples dever de manter minhas funções vitais reguladas.

— É um progresso fenomenal... Irá conseguir Michael, acreditamos em você. — Lilly sorri despretensiosamente.Inexplicável todas essas sensações que ela me fez sentir em um prazo inferior a sessenta minutos.Nesse mesmo clima de descontração a reunião transcorre... E minha vontade de voltar a viver de verdade renasce, creio que está na hora de voltar a ser o antigo Michael. Eu o resgatarei essa noite e já sei por onde começar...

                                                                              (...)

Afrouxo o nó sufocante da gravata apertada e lanço um olhar a garçonete que carrega o whisky duplo sem gelo que pedi. Há anos não venho ao Droppes, foi um dos meus lugares favoritos de New York durante anos, pelo menos na minha adolescência garanto que se tornou minha segunda casa. Sentado nessa bancada bebendo um bom whisky vem a tona as memórias daqueles tempos nos quais tudo que eu precisava fazer para as garotas se renderem aos meus pés era dar uma piscadela discreta. Me diverti como se não houvesse amanhã, antes de conhecer Sophie em uma viagem que fiz a Londres e me casar. Velhos e saudosos tempos aqueles, sinto saudade do que já fui, dos amigos que seguiram seus caminhos... Quantas inesquecíveis ressacas eu tive que enfrentar para aprender a não passar da conta em bebidas destiladas!

Levo o copo transbordando whisky novamente a boca e involuntariamente meus olhos vagam pelo ambiente aconchegante do bar. As paredes vermelhas me remetem a nostalgia, uma deliciosa nostalgia. As mesas redondas produzidas artesanalmente com madeira, continuam dando uma aura sofisticada ao lugar, gosto da iluminação a meia luz também trás serenidade ao local.

— Será que eu poderia me sentar ao seu lado? — Uma voz delicada me tira dos meus devaneios e eu inclino o rosto, tendo a visão de uma mulher absurdamente atraente e incrivelmente meiga olhando-me de soslaio.


Ela faz o meu tipo, o de qualquer homem posso afirmar, se não fosse sua expressão de pura tristeza e as roupas comportadas, deixando explícito que ela não está em busca de sexo com estranhos eu certamente a enxergaria com a vivacidade de um "caçador" em outros tempos. Talvez, ela apenas queira conversar. Todos temos problemas. Pobre moça, sua aflição é visível.

— Claro que sim, Srta.? — Estreito o cenho curioso para conhecer a dona do enorme par de olhos azuis delineados por preto.

— Lana Clark. Prazer. — Estende a mão gentilmente para mim e eu trato de apertá-la selando o cumprimento.

— Encantado. Não que isso mude alguma coisa ou seja importante, mas eu sou Michael. — Atrevo-me a me apresentar e ela senta-se em um banco livre que há ao meu lado, dispersa em seus próprios pensamentos.

— Então Mi... — Procura pelo meu nome em sua mente, porém parece realmente não ter prestado atenção em nada do que eu disse.

— Michael Jackson. — Ponho fim ao constrangimento da moça e ela ri de sua atitude indelicada.

— Sinto muito, não estou em um dia bom, Michael. — Faz um sinal para a garçonete e pede um Dry Martini. — A vida é uma roleta russa, você sabe, altos e baixos. — Encolhe os ombros adoravelmente, deixando a mostra que veio espairecer e só quer companhia para começar um desabafo esporádico. É uma pena que eu não acredite mais em todo a apologia romântica. De qualquer forma ainda não morri e Lana possui uma beleza singular. Pele levemente bronzeada, corpo esbelto, cabelos escuros caindo em cascata sob seus ombros e um par de olhos intensamente azuis, estonteantes olhos. Ela é uma mulher deslumbrante e tem classe, classe é essencial ao meu ver.

— E você Michael o que faz sozinho nesse bar deprimente? Me parece um homem bem apessoado e uma bela esposa deve aguardá-lo em casa. — Supõe inocentemente, sem imaginar que sua gentileza me fere terrivelmente. Essa é uma vida que me atraiu no passado, não mais. Família, filhos, toda essa ideia de estrutura familiar morreu quando Sophie me abandonou e fodeu minhas perspectivas de ser um exímio pai de família.

— Sinto decepcioná-la, não há esposa alguma. Já houve, fui casado durante dois anos, e... acabou! Ela fugiu com um marginal! — Engulo a seco pondo um ponto final no assunto. Lana se compadece de meu infortúnio, mesmo que tente disfarçar sua surpresa age como uma inconveniente.

— Nossa... Desculpe a intromissão. — Lastima e no mesmo instante que eu penso em explicar que não tem relevância a garçonete a entrega sua bebida. — Francamente, eu poderia jurar que era casado, vamos esquecer, certo? — Cerra os olhos timidamente.

— Já esqueci. — Friso sorrindo.

— Minha filha... sinto que estou a perdendo, Michael.— Um suspiro fraco, entretanto doloroso se desprende da alma dela, causando em mim uma imensa compaixão. — Cindy não tem limites, é uma rebelde nata e se esforça para me contrariar o tempo inteiro, minha filha me culpa pela morte do pai. O que fazer quando perdemos o controle de uma situação? Tentei analistas, psiquiatras, diálogos abertos e só pioro as coisas. Está ficando grande demais, grave ao extremo e temo pelo bem estar dela. Cindy é tudo que tenho desde que o pai dela se foi. Meu ex marido se matou na frente da nossa filha e eu não pude fazer nada para impedir. Por que comigo? Essa pergunta ingrata martela em minha cabeça. — Desaba em um pranto copioso e eu faço um carinho terno em seus braços. Não compreendo porque ela me contou todos seus aborrecimentos, o desespero nos escraviza e chega um ponto que explodimos.

— Você não pode se culpar por uma escolha de seu marido. Viver ou morrer? Desistir ou lutar? Ele optou pelo caminho mais fácil, e traiçoeiro. Sua filha precisa de ajuda, mas cabe a ela repensar seus atos ou encarar as consequências. Sabe, Cindy tem uma mãe disposta a lhe estender a mão e isso é o principal. — Seguro a mão de Lana para conforta-la e noto que o choro se dissipa aos poucos.

— Meu Deus! Deve me achar uma maluca! — Exclama cobrindo a boca com a mão. — Mal trocamos meia dúzia de palavras e eu despejo todas essas informações em cima de você. — Esconde o rosto totalmente entre as mãos envergonhada com sua impulsividade.

— E possivelmente a garota mais normal que tive o prazer de conhecer. Não se preocupe, sente-se melhor? — Arqueio as sobrancelhas demonstrando imparcialidade.

— Ohh, sim, você me ajudou muito, sua paciência... E o que falou... É um cara sensível Michael! — Enaltece já mais calma e volta a bebericar o Dry Martini que pediu. — Esse lugar, pensando bem é relaxante e livre daqueles bêbados imbecis. Gostei daqui. — Desconversa espontaneamente, evitando me importunar com seus problemas pessoais e quem sabe relaxar um pouco.

— Esse lugar é gracioso. Me lembra minha juventude, tem seu charme não é mesmo? Mas me fale sobre você... O que faz? Quero dizer com o que trabalha Lana? — Corrijo a indagação nivelando a voz, confesso que curioso para descobrir algum detalhe sobre a vida dessa mulher frágil.

— Sou uma simples secretária em uma firma de cosméticos. Nada de extraordinário ou relevante! — Perde o entusiasmo ao concluir a resposta curta e direta, o brilho que me encanta nos olhos dela se esvai junto a afirmação.

— Hey, não se menospreze tanto. Eu acredito que todo emprego tenha seu valor e com você não haveria de ser diferente. — Uso minha familiaridade com as palavras para levantar o astral dela, pode funcionar ou não. A sorte está lançada.

— Sem dúvidas.—  Ri seca e novamente nossos olhares e cruzam.  — Acontece que não é nada notável atender telefonemas e carregar uma pilha de papéis. Meu emprego é o oposto daquilo que a sociedade apelida de memorável, glamoroso...— Contesta sarcástica. — Me sinto invisível. — Dispara se depreciando, anulando seu ego. — E o salário não é suficiente para dar conforto a Cindy. Temos que economizar, porque minha mãe precisa de remédios para o Alzheimer e... Ah, essa é minha luta diária! Trabalhar em um serviço insignificante para colocar comida na mesa, e no final do dia sorrir e fingir que estou feliz com toda essa...— Repensa o que pretende dizer e eu me entristeço com a realidade da moça. Há pessoas em situações mais precárias que a do meu coração estraçalhado. Seres humanos sem condições financeiras para sobreviver dignamente, crianças inocentes vítimas das ações inconsequentes de adultos, pequenos anjos que estão sofrendo nesse exato momento sem um único brinquedo para os alegrarem, e isso me transforma em uma egoísta incapaz de olhar para os outros.

— Não diga isso. Eu sei que não estou na sua pele, mas já passei por tantas formas de sofrimentos, em infinitas vertentes. — Respiro profundamente. — Há algo que eu possa fazer para amenizar sua dor? Como posso ajudá-la? — Questiono me dispondo a fazer algo nobre por ela.

— Ninguém pode me ajudar, nem assumir minhas responsabilidades, e no mais, você já está ajudando muito, parece que passamos da fase dois estranhos em um bar e pulamos para a etapa amigos. — Força um sorriso.— Ahh, que estranho! Espere um minuto. — Diz inquieta ao ouvir um ruído vindo de sua bolsa e ao abri-la constata que é o som do toque de seu celular. — É meu celular, preciso atender Michael, com licença. — Afasta-se rapidamente de mim para atender o telefone que vibra em sua bolsa e eu apenas dou um gole no meu whisky pensando em tudo que acaba de ocorrer. Essa mulher é muito interessante, arrisco dizer que pode ser uma amizade de valor, e vir a agregar a equipe da Tarso. Nada mais justo que dar oportunidades a ela de crescer profissionalmente. Detesto o dogma de primeiras impressões, mas nesse caso elas foram as melhores possíveis.

Inesperadamente Lana retorna a banqueta do bar tomada por desespero, e eu deixo minhas conclusões sobre ela de lado para dar atenção a moça desorientada..

— Oh meu Deus! — A figura pálida de Lana me fita atordoada, o celular em suas mãos trêmulas não é um bom sinal, a pobre esta em pânico, mal se aguenta em pé. Algo grave aconteceu.

— Sente-se, eu estou aqui para você. — Estupefato ajudo-a a acomoda-la no banco ao meu lado e seus olhos enchen-se de lágrimas.— Respire fundo e me explique, o que aconteceu Lana? — Acaricio os cabelos dela e transmito meu empenho em fazê-la sentir-se melhor.

— Cindy foi levada para um hospital... — Revela, fazendo minha linha de raciocínio desmoronar e um sentimento de enternecimento despencar sob mim.


                                                 
Capítulo 3
                                             
"Anjo mal"




                                                          

                                                  "Michael"

— Acalme-se e me explique direito o que aconteceu. — Peço sem perder o equilíbrio e alarma-la inutilmente.

— Não sei como, mas uma amiga dela encontrou-a em um banheiro de uma boate desacordada. — Murmura entre dentes, a voz oscilante dela me deixa transtornado. Incrível como tomo as dores de Lana e seu martírio me afetam diretamente. Nunca pensei por esse ângulo, no entanto agora está claro, não sou o único que sofre no mundo e podem haver pessoas com problemas mais graves... Que egoísta me tornei. Sou um afortunado e nem sabia disso.

— Onde ela está? — Lana ignora minha pergunta, entendo sua atitude apática, laços de sangue são indestrutíveis. — O hospital que a levaram? Por favor, qual o nome do hospital? — Volto a questionar enfaticamente, notando que ela está absorta com a notícia, o baque excessivo é dilacerante para Lana em proporções brutais.

— Ela está no West Gray, fica em Manhattan, aquele bairro chique, onde moram ricaços.
— Orienta com dificuldade em pronunciar as palavras.

— Eu conheço o lugar, moro em Manhattan desde que nasci. — Esclareço e os olhos dela se arregalam com a novidade. — Não permitirei que pegue um táxi e muito menos que enfrente isso sozinha, eu a levo até o hospital. Faço questão — Decreto observando as feições mortificadas de Lana ganharem vida.

— Você é um anjo Michael, o que eu faria se não tivesse o encontrado ocasionalmente aqui nesse bar? — Balança a cabeça levantando a questão do quão gentil eu estou sendo com ela. É assim que deve fluir, mulheres merecem serem tratadas com respeito e meu cavalheirismo nunca fora abalado apesar das decepções amorosas.

— Francamente, não estou fazendo nada de anormal, mas se lhe conforta ter minha amizade, sinto-me recompensado — Toco o ombro dela suavemente e algo dentro de mim estremece, como se Lana detivesse um poder especial de me alegrar. Faço um sinal para a garçonete e lhe dou uma nota de cem dólares como pagamento das bebidas e uma gorjeta considerável. Lana assente, aprovando minha objetividade e eu a conduzo para o local onde estacionei minha BMW. O percurso é silencioso e intrigante, às vezes ouso apreciar a beleza dela discretamente, eu disse às vezes, não almejo desconcertá-la em um momento de tristeza como esse.

— Chegamos. — Anuncio abrindo a porta do veículo para que ela entre, logo em seguida dando a volta para me acomodar no banco de motorista.

— Nunca entrei em um carro como esse. — Confidencia assim que adentro o carro, deslumbrada com a opulência da BMW que uso raramente, já que geralmente tenho mais afeição pelo meu Porsche e pela Mercedes-Benz ultra potente que adquiri recentemente em um leilão.

— Então... Considere isso como uma oportunidade! Para tudo tem que haver uma primeira vez. — Aperto o nariz de Lana divertidamente e consigo fazer um sorriso ínfimo nascer nos lábios carnudos dela. — O cinto, está se esquecendo do mais importante. — Dramatizo o descuido dela e ela se encarrega de travar o cinto de segurança rapidamente.

— A falta de costume... só utilizo ônibus. — Revida ruborizada. A timidez sutil dessa mulher me cativa sobremaneira.

— Não há problema algum, eu alertei-a em nome da sua segurança. — Saliento, concentrando-me no meu posto de motorista me apresso a colocar o carro em movimento.


Hospital West Gray 
 
— Dr. pelo amor de Deus minha filha, ela foi trazida para cá desmaiada. Onde ela está? — Lana grita com um médico que caminha pela recepção do hospital. Desde que pisamos no local, ela não para de berrar, e abordar todos os médicos que cruzam sua sombra incessantemente, sua sede por obter informações da filha é compreensível. Acontece que o mais viável é que ela aguarde a recepcionista checar no computador a ficha de Cindy, coisa que a coitada da recepcionista está fazendo há alguns minutos.

— Lana, tem que se conter. Em breve teremos notícias de Cindy. — Prometo puxando-a delicadamente para longe do médico assustado pela abordagem histérica dela.

— Sr. eu encontrei. Cindy Clark. Ela está no quarto 307, levemente desidratada, o sistema imunológico não está combatendo a infecção urinária identificada nos exames, os sinais vitais já se estabilizaram, embora a pressão arterial persista baixa, ela foi sedada pela resistência em tomar soro. O médico responsável pela paciente é Drake Willy, e ele aguarda o resultado de exames para proceder com o tratamento.

— Graças a Deus! Vem comigo Michael? — Lana inquiri nervosa, fixando seu olhar suplicante em mim.

— Podemos vê-la? — Direciono o questionamento a recepcionista simpática e prestativa.

— Claro Sr., a enfermeira Teresa os acompanhará até o apartamento no qual a paciente permanece em observação. — Comunica e chama pela enfermeira que nos guiará pelo hospital e decerto cuida do quadro delicado de Cindy. É hora de conhecer a aclamada rebelde.

                                                                                   ***

— Michael, eu não sei se consigo. — Lana sussurra no meu ouvido com a mão grudada na maçaneta do quarto que a filha está. Circundo os ombros dela e ela gira a maçaneta enfim adentrando o cômodo hospitalar. Sigo os passos de Lana calmamente e de súbito rolo meus olhos pela menina loira extremamente magra e de feições rabugentas, a garota leva os dedos ao queixo e estreita a testa, dedicando um semblante de cinismo a mãe.



Lana denota estar desolada graças ao gestos agressivos da filha, mas mesmo assim cumpre seu papel de mãe e se aproxima do leito da Cindy.

— Cindy, meu amor, não sabe o susto que me deu. — Tenta dar um beijo na filha, porém ela se esquiva grosseiramente e revira os olhos.

— Quem é esse sujeito granfino? — Cruza os braços atenta a minha expressão de puro descontentamento e seriedade.

— Esse é Michael, um amigo muito prestativo que me deu uma carona. — Elucida Lana resumidamente e Cindy gargalha perversamente, como se tivesse ouvido uma piada engraçadíssima.

— Faça-me rir, um homem vestido nesses trajes de grife, ajudaria uma mulher tão vulnerável e burra feito você compelido por sua fervorosa benevolência? — Insinua afiada.

— Eu lhe peço Cindy, não continue. — Lana implora ajoelhando-se no chão ao lado da cama da filha. — Michael, não tem culpa de nossas divergências, é só uma pessoa de coração puro. — Defende-me das insinuações infundadas da filha, visivelmente exaurida das crises de rebeldia dela.

— Foda-se esse infeliz e você, por que não vão para um motel? Tenho certeza que por trás dessa armadura de politicamente correto tem um homem que fode com força do jeito que a senhora gosta mamãe — Ri, orgulhosa dos insultos que dirigi a mãe. Lana movida pelo torpor da fúria desfere um tapa no rosto da menina.

— Não façam isso! — Corro em direção até aonde as duas estão se estapeando e as impeço de prosseguir com as agressões, arrasto Lana para o lado oposto do quarto do hospital, analisando a sordidez de Cindy há alguns metros de nós, que comemora os efeitos devastadores de suas injúrias sobre o psicológico da mãe. Essa mal criada deveria ter admiração pela batalhadora mulher que Lana é entretanto é incapaz de reconhecer os sacrifícios que ela faz para sustentar uma casa, e carregar nos ombros a ingratidão de uma filha sem um pingo de maturidade.

— Deixe-me falar com Cindy...— Interponho disposto a conclamar algumas verdades "inofensivas" para a garota.

— Michael, ela é indomável... — Adverte.

— Não tenho medo de cara feia. — Dou de ombros indiferente a preocupação de Lana.

— Está bem. — Lana mesmo relutante assente com a cabeça e eu me encaminho para o leito de um dos seres humanos mais petulantes que tive o desprazer de conhecer.

— Então é assim que costuma conversar com a mulher que lhe deu a vida? — Retorço os lábios instintivamente ao constatar que a imponência de Cindy perdura em alta escala.

— Exato titio, aliás teve a chance de presenciar com seus próprios olhos o espetáculo! —Provoca e eu fecho os punhos enraivecido.

— Não sente a consciência pesar ao olhar para sua mãe? As lágrimas amargas que escorrem da face dela são fruto de sua insensibilidade! — Excedo meu limite de bom samaritano. Quero fazê-la refletir, é possível que falte alguém com mais rigidez na vida dessa criatura pobre de espírito para lhe apresentar ao mundo real e liberta-la desse casulo de menina revoltada no qual se enclausurou.

— Qual é a sua? Será que não tem senso crítico? Acha mesmo que irá ditar regras? Está sobrando aqui tio, se é amante de minha mãe isso é um problema de vocês dois, não me inclua nessa droga! Vá para o inferno. — Exalta-se e pela voracidade das calúnias denota estar relativamente contra tudo e todos que tentam ajuda-la a se restabelecer como ser humano civilizado.

— Lamento desapontá-la criança, mas simplesmente sou um amigo de sua mãe, apesar de ter a conhecido recentemente minha intuição me diz que essa amizade se construíra no alicerce da sinceridade, e que voltaremos a nos ver. — Desafio virando o rosto para decifrar o que Lana pensa nesse instante. Ela nua e crua soa aturdida e sem chão, a filha a magoou brutalmente, inferno de garota infantil! Repudio quem provoca sofrimento em seu semelhante disseminando ódio gratuito.

— Mamãe não repete a dose. Provavelmente significa somente uma transa mediana para ela, mais um na extensa lista dela. Agora caí fora. — Incita meu lado maléfico a aflorar e lutando internamente pelos bons modos me mantenho firme e forte.

— Cindy, Michael fica! Já me humilhou o suficiente por hoje, satisfeita? — Lana rosna desconcertada com o ar de deboche da filha. — Estou sobrecarregada, tão farta de tolerar suas crises existenciais sozinha, de me calar, não me defender, farta de jogar minha vida fora naquele escritório deplorável por uma adolescente que acredita ser o centro do universo. Choro todas as noites na escuridão do meu quarto porque estou exausta de ser bombardeada pelos termos pejorativos que atribuí a mim. Quer saber? Eu sou sua mãe, e não um saco de pancadas! As coisas saíram dos eixos e desde a morte de seu pai tenho me desdobrado para ser maleável. Aonde quer chegar com esse teatro? É por atenção? Ou só para me martirizar? — Descontrola-se já parada em frente a Cindy e ao meu lado. O sorriso escancarado dela se desfaz e pela primeira vez capto um lampejo de arrependimento da garota.

— Papai era diferente, ele sim me amava. — Afirma áspera insistindo em maltratar sua mãe. Balanço a cabeça negativamente me esforçando para não entrar novamente na discussão e esquecer uma dádiva chamada de auto controle. Dessa vez tive mais sorte pois um homem vestindo um jaleco branco, de cabelos grisalhos, e aparentemente capacitado a exercer um cargo de conjuntura adentrou o quarto, provavelmente um médico do hospital já que há um Dr. West grafado em letras suntuosas nas suas vestes.

— A Sra. deve ser a responsável pela paciente Cindy Clark?

— Sim, e o Sr é o médico que está a par do quadro de minha filha? — Lana se apressa a questionar e eu permaneço calado, desvendando o olhar apreensivo que o médico lança a ela. É de fato algo relacionado a piedade. Será que Lana realmente tem alguma enfermidade grave?

— Sou Drake Willy, o chefe da residência deste hospital. Exato Sra. Clark estou por dentro do quadro clínico de sua filha. — Anui profissionalmente e retoma um pouco de ar nos pulmões. — Saberia me informar se Cindy recebeu transfusão de sangue recentemente e utiliza drogas injetáveis como heroína? — Apanha um pequeno bloco no bolso do jaleco olhando para mim e Cindy sorrateiramente. Com certeza não faz ideia de quem eu sou e o que faço estático
.
— Não ela não recebeu e não tenho conhecimento se... — Lana engole a seco empurrando o choro para goela abaixo.

— Acalme-se Sra., eu cuidarei dela. E o Sr? — Dirige-se a mim. — Por acaso é o pai de Cindy?

— Na... não, sou apenas um conhecido de Lana. — Nego esporadicamente. — Alguém que quer ajuda-las_Respondo me enfiando novamente dentro de minha compostura educada
— E somente um intrometido que porque transa com minha mãe pode de meter na vida dos outros. — Cindy a espreita no que falamos não se limita a observar e destila uma atrocidade
.
— Cindy não continue... Eu lhe suplico, não interrompa o Dr. — Lana murmura deixando as lágrimas inundarem seu rosto.

— Se quer saber eu não uso drogas... Isso é o bastante? — Cindy desafia erguendo as sobrancelhas.

— Sra. Clark, sendo assim eu... tenho que reavaliar os resultados dos exames, mas já lhe adianto que o resultado transcreve que sua filha é portadora do vírus HIV. O sistema imunológico dela provocou os sintomas de fraquezas, as vertigens, e a anemia precisa ser combatida antes que evolua para algo mais sério. As defesas do organismo de Cindy estão debilitadas , e isso me preocupa. — Repentinamente meus batimentos cardíacos ganham um ritmo acordado, as palpitações trepidam dentro de mim como uma transcrição dos terríveis meses que vivi desde meu diagnostico irreversível. As placas tectônicas estão colidindo abaixo dos meus pés e todo o muro que construiu em torno dessa maldita doença desmorona diante do afirmação desse médico. Lana também está paralisada, em seu papel de mãe protetora tenta se convencer de que nada fugiu-lhe do controle e não passa de um engano do médico. As feições empalidecidas dela me alarmam de tal forma que me atrevo a segurar a cintura dela e acarinhar seus cabelos. Os olhos que antes carregavam um dourado resplandecente agora perdem a vida.

— Aids? — Lana sacode os cabelos se desprendendo de meus braços. — Minha menina tem Aids?

— Lana, eu sinto tanto. — Sussurro no ouvido dela, e ela pende o pescoço para trás, logo depois volta a encorajar o médico com o olhar. Minhas pernas não obedecem mais aos meus comandos, e para completar meus pés estão fincados no chão e nem mesmo sou capaz de dar um passo, correr para longe daqui.

— Os exames infelizmente me levam a crer nisso. Cindy é portadora do vírus HIV, claramente uma soropositiva que requer cuidados especiais e será devidamente medicada, tratada. Acredite, sua filha pode levar uma vida perfeitamente normal se fizer bom uso da medicina, há comprimidos que irão reverter as possibilidades de óbito. Cindy terá que ser mais cautelosa e ingerir os remédios, mas sem dúvidas poderá viver como uma garota de sua idade.

— Qual o problema? Eu fiz sexo sem proteção e morrerei de aids. Nada mal para uma garota sem grandes perspectivas para o futuro?

— Eu não posso, não consigo mais.— Lana desaba com o sarcasmo da filha em circunstâncias tão dolorosas, inesperadamente ela espalma suas mãos trêmulas em meus ombros e logo em seguida corren para fora do quarto. Imito o gesto dela e consigo alcançá-la antes de tomar o elevador. De ímpeto abraço-a, talvez ela realmente não seja de aço inoxidável, não é forte, tampouco blindada o suficiente para lidar com as monstruosidades que a filha lhe diz e agora também com a doença inesperada da mesma. Aids. Durante algum tempo acreditei veementemente que possuir esse vírus era o fim da linha para qualquer ser humano, afoguei-me na torrente de preconceitos que a sociedade impõe e fiz de mim um cara doente mentalmente. Estive perturbado, avidamente deslocado e apavorado com os julgamentos que pensava serem inevitáveis. Hoje eu me curei de meus próprios preconceitos, porque percebi que nunca tudo está perdido, não importa o quão forte a vida bata, e ela o fará, eu continuo sendo o dono de meu destino, e enquanto estiver no comando haverão novas chances, novos dias, novas amizades, outros pôr do sol e por que não novos amores?

— Lana, eu estou aqui com você e não irei há lugar nenhum. — Percorro meus dedos pelas lágrimas dela, sem deixar de notar que ela aprecia meu apoio nesse momento. — Sabe de uma coisa, sei do que precisa para espantar essa tristeza, e cuidarei da Srta. — Uma ideia repentina vem a minha cabeça.

— E a quais cuidados se refere?

— Vou leva-la para minha casa, fazer chocolate quente e conversaremos até se sentir melhor. — Suspiro e esfrego os dedos nas costas dela. A temperatura caiu tanto e temo que Lana pegue um resfriado.

— Nem sei o que dizer, por que está fazendo isso? Como um cara pode expressar tamanha generosidade com uma mulher fraca que nem serviu para educar a filha? Eu sou uma droga de mãe Michael, não mereço sua compaixão, a culpa de Cindy ser tão frágil é minha. — Pune-se, desfazendo o abraço cordial que compartilhamos.

— Lana, não adianta procurar culpados, e sabemos que fez o que pode para que sua filha se tornasse uma mulher de bem, acontece que a última escolha pertence a ela. Cindy é imatura, e esse espírito de rebelde não a abandonará tão facilmente, mas ainda existem esperanças, às vezes as pessoas se perdem para depois se reencontrarem. — Abuso das lições que aprendi e obtenho êxito em minha missão de consolar Lana pois ela agarra meus braços em sinal de que compreendeu a mensagem.

— Você não é algum tipo de escritor? — Dá um tapa em meu ombro e meneia o rosto displicentemente.

— Passou longe. — Brinco comprimindo os lábios, ela se espelha em meu ato e aperta sua boca carnuda contra os dentes.

— Falamos tanto sobre minhas turbulências que nos desviamos de você. Deveria me contar sobre sua vida. Quase não falou de si mesmo. — Aconselha atenta a todas as minhas reações.

— Tem razão, podemos falar sobre mim em minha casa. Lá me sentirei mais confortável. — Sugiro apertando os dedos nervosamente.

— Aceito o convite! E onde você mora? Me disse Manhattan, e que fica perto deste hospital.

— Oh sim, fica há alguns minutos daqui. Podemos ir? — Pergunto ansioso.

— Claro. Só tenho que verificar com a enfermeira se como Cindy está e... — Prende o ar durante segundos. — Bem, falar com o médico e me despedir dela...— Acrescenta com a mesma dor angustiante que assombra seu olhar.

— Fique a vontade, leve o tempo que necessitar. — Seguro a mão dela e ela aquiesce timidamente, olhando-me com gratidão.

— Obrigada Michael. — Lana recapitula seus votos de agradecimento e desliza as mãos para longe das minhas, dando início ao seu trajeto até a recepção do hospital. Deixando-me aliviado, temo tanto que esse baque seja pesado demais para ela. Uma mulher tão fragilizada como ela não deveria passar por tamanha provação. Eu sempre soube que por trás dos sorrisos mais doces se escondem os mais sombrios segredos, e torço para que ela se revele a mim de corpo e alma, conceda-me o privilégio de protegê-la.


Capítulo 4
                                                 
"Eu estarei lá"
                            
                                                                    
                                                 
"Michael"

— Minha nossa! Eu sei que já repeti isso em todos os cômodos que visitamos, mas tenho que dizer novamente, sua casa é uma mansão, Michael. Tudo por aqui é deslumbrante como aquelas casas que vemos no cinema.— Lana não contém seus pensamentos e verbaliza o encantamento com a opulência da residência que para mim é apenas vazia demais, um lar solitário. Desde que chegamos ela não para de comentar entusiasmada sobre a decoração, e agora que já mostrei-lhe os quartos, o escritório, a sala de estar, a cozinha, a biblioteca abarrotada de obras literárias clássicas, enfim estamos no meu local favorito, em uma área próxima a piscina, no campo de golpe que para mim tem a visão privilegiada do jardim. Daqui posso enxergar as árvores que ladeiam os arredores da casa e inalar o aroma das macieiras.


— Eu acho tudo tão sem graça, quero dizer falta calor humano. — Admito grudando minha atenção no céu estrelado.

— E seus amigos? — Questiona sem entender ao que me refiro. Assim tão natural, a luz do luar sua beleza ganha um toque singelo.

— Não sou tão popularizado com amizades, dizem que sou introspectivo, é apenas meu jeito de ser, um pouco reservado, verdade... Eu chamo de precaução. — Enfatizo respirando profundamente.

— Como assim Michael? — Indaga confusa. — Então me explique! Porque sinceramente você parece um cara sociável e muito charmoso por sinal.

— Sinto que se permitir que muita gente invada minha privacidade irei me decepcionar. Quando alguém entrou na minha vida, e eu me abri, acabei fodido! — Brado sentindo a saliva descer pela minha traqueia imediatamente.

— É por causa da sua ex esposa? — Claro! — Deduz.

— Sim, ela não só me traiu, Sophie fez algo terrível comigo, há tanta desgraça no meu passado que... — Paro de caminhar e contenho meu desejo de abraçar Lana.

— Se não quiser falar, tudo bem. — Aquiesce brandamente, ainda assim emite solidariedade.

— Não, eu quero falar, faz bem lavar a alma, às vezes temos que pôr tudo para fora como formar de progredir, se abrir para novas experiências. — Balanço a cabeça determinado a contar meu segredo a Lana. Na pior das hipóteses ela sairá correndo ao descobrir que possuo a saúde fragilizada e posso morrer com um simplório resfriado. — Lana contraiu HIV em uma de suas aventuras amorosas, e propositalmente me transmitiu a doença. Ela fez questão de me pisotear, estava orgulhosa de si mesma por ter destroçado minha vida. As palavras dela foram mais violentas que um soco e me atingiram mais violentamente, o estrago foi maior do que os efeitos que uma bala vinda de um disparo de uma arma de fogo seria capaz de acarretar. Aquilo me matou, desestabilizou meu emocional de tal forma que pensei em jogar tudo para o alto e dar fim ao meu tormento. Minha empresa também foi desfalcada, as contas pessoais que mantinha por segurança no exterior e para meus gastos, também, se já não bastasse a fase delicada que eu enfrentava ainda precisei reerguer meus negócios, nisso ao menos fui bem sucedido, recuperei as ações, continuo sendo o presidente da Tarso... Mas no meu íntimo, as relações humanas prosseguem em processo de deterioração, descendo ladeira abaixo... — Um nó se instaura em minha garganta ao concluir o relato fúnebre de minha história. Lana não consegue camuflar sua primeira reação de perturbação, está estampado em suas íris azuis a compaixão por minha condição. Droga! Não suporto despertar piedade nas pessoas, isso é o fim de linha para qualquer ser humano.


— Michael essa mulher é um monstro, um ser medíocre e desprezível. — Toma uma lufada de ar e despista sua indignação fixando o olhar no céu inacreditavelmente estrelado. É possível que a beleza do céu nessa noite tenha um significado especial. — Sei meu lugar, e que acabei de lhe conhecer, portanto. é no mínimo deselegante da minha parte apedrejar sua ex esposa, não deveria manifestar opinião a respeito da vida particular alheia, no entanto a tal Lana merece ser linchada, responder por seus atos cruéis. Você amou-a loucamente, e apenas ao conhecê-lo superficialmente sinto que é do tipo que se doa inteiramente a um relacionamento. Alguém possuidor de tamanha sensibilidade não merece ser traído dessa maneira desumana. Desculpe a intromissão, eu só...— Pisca atordoada com minha confissão como se compreendesse o quão sofro ao relembrar o passado. É uma mistura de revolta, ódio, e incredulidade no semblante dela, eu arriscaria dizer que Lana apesar de sua fragilidade física tem fibra e valores morais bem constituídos.

— Não me importo que me diga o que pensa daquela infeliz. — Rebato e ela pousa seu par de olhos azuis amedrontados em mim. — Somente peço para que tenha paciência com meu jeito fechado, prometo tentar mudar em nome de nossa amizade. Amigos? — Trato de abrir um sorriso cordial e Lana segura minhas mãos dando abertura para que eu interprete isso como um caloroso "sim".

— Sim, já me o considero como um grande amigo. Parece que nos conhecemos a vida toda— Ri baixinho e eu faço o mesmo intuindo que ela me trará mais felicidade do sou capaz de imaginar.

— E quando é que irá me ensinar a jogar... como é mesmo o nome... o esporte que os ricaços jogam, exatamente em um lugar como esse que estamos. Qual é o nome? — Posiciona dois dedos abaixo do queixo exasperada e eu não consigo parar de sorrir, afinal o vocabulário de Lana é simplório e ainda assim charmoso.

— Golfe. — Ajudo-a a recordar o nome do esporte no qual nunca fui um exemplo de vencedor e sou agraciado com um beijo na bochecha além de um cálido "obrigada". Esse campo de golfe não é usado há tanto tempo. — Ressalto aos suspiros com a mão grudada no bolso da calça social.

— Então vamos reinaugurar esse lugar Michael. — Conclui radiante com a possibilidade de aprender uma nova modalidade esportiva. — Pode me ensinar? — Refaz o pedido, dessa vez cachoalhando a cabeça de uma forma manhosa que faz meu peito se encher de ar quente juntamente com a esperança do quanto esse mulher pode modificar essa pacata rotina que venho assumindo. De repente de dou conta de que estou vivo.

— Como negaria um pedido meu vindo de uma garota tão delicada? — Me rendo aos encantos de Lana e ela cora devido ao meu flerte inofensivo. Não isso obra do calor do momento, Lana é uma amiga, é assim que deve ser. Embora ela seja linda em todos os aspectos e me agrade como mulher, o mecanismo da atração é somente natural.

— Quando marcaremos? — Fita-me ligeiramente encabulada e noto que seu enrubescimento não dissipou-se.

— Deixo a seu critério. — Dou-lhe total liberdade.

— Sendo assim, prefiro aguardar Cindy receber alta e...

— Eu compreendo, se precisar de qualquer coisa basta me ligar. Aqui está meu cartão. — Tiro um cartão da empresa que contém meu celular gravado e entrego a Lana. — Hoje com os recursos da medicina há muitos métodos de sua filha ter uma vida sem limitações, Cindy poderá continuar com suas atividades. — Garanto, querendo apaziguar o desespero dela. Realmente a medicina tem oferecido a os soros positivos uma qualidade de vida espetacular. Os medicamentos são fundamentais e colaboram na regulação do sistema imunológico frágil, graças a doença.

— Como lida com isso? Olhando fisicamente para você não aparenta estar minimamente fraco, debilitado? — Pergunta cautelosamente esfregando os pés no gramado.

— Vivo cada dia como se me fosse dada uma nova chance, cada batida do coração um milagre. Sabe aprendi a valorizar coisas que antes não reparava, a natureza é tão extraordinária em sua simplicidade. A vida é valiosa demais para ser desperdiçada por medo. O amanhã pode nunca existir mas quem pode prever o que o futuro reserva? Também conto com o apoio de um amigo que já considero meu irmão.
— Declaro.

— Eu fico mais tranquila com seu otimismo. Tem razão, a medicina permite que qualquer pessoa adquira qualidade de vida. Novos tempos... — Comenta afável, mantendo a docilidade que admiro nela, o mesmo sorriso de menina travessa que me cativa. — Preciso voltar para casa, mal vi minha mãe e ela também necessita de cuidados...

— Eu a levo em casa. Será um prazer ajudar uma amiga. — Pisco divertido para Lana e enlaço a cintura dela.

— Não posso recusar tamanha gentileza. — Brinca atenuando as pressões que impedem uma garota de aceitar carona de um cara que acabou de conhecer.

— Faço questão. — Insisto guiando-a rumo à garagem da mansão.... — Afinal para que mais servem os amigos? — Retraio os lábios convencido de que farei a coisa certa e ela maneia a cabeça, concordando com meu argumento. Lana tem um coração puro e isso faz dela uma garota de caráter sólido. Abro a porta do Porsche para ela assim que chegamos até meu Porsche e nos entreolhamos antes de eu iniciar a partida de carro.

                                                                                  ***

— Quer que eu acredite que esse sorriso aí é proveniente do seu progresso em um grupo de apoio? — Jerry gargalha sordidamente e eu removo meus óculos de leitura e giro o corpo a poltrona giratória, tentando interpretar aonde meu amigo pretende chegar com sua insinuação.

— E o que tenho haver com suas sandices? — Retruco ríspido e pigarreio para clarear a voz, espanar a garganta.

— Embora, não seja de sua conta, conheci uma mulher... Ela é diferente! E me tocou as condições precárias da moça. Ela trabalha duro num emprego medíocre, e tem uma filha ingrata que só sabe desmerecer seus esforços. Se já não bastasse isso, a menina ainda contraiu HIV... Apenas quero ajudar Lana... Ela parece tão abalada emocionalmente, sua carência afetiva é de cortar o coração.

— Puta que pariu Michael! É muita informação... Essa mulher, Lana? Realmente tem uma karma e tanto, mas como conheceu-a? Por acaso andou seguindo meus conselhos? Ela é gata? Por que olha acho que foi enfeitiçado! Só pode! — Debocha exageradamente esperançoso de que encontrei minha alma gêmea.

— Nem quando o assunto requer seriedade você consegue parar com as ironias. — Resmungo voltando a anexar o óculos de leitura em seu devido lugar, meu rosto.

— Desculpe, não quis, não foi minha intenção...

— Tudo bem. Respondendo a sua pergunta... Conheci Lana em um bar, ela uma mulher sem dúvidas muito é interessante, uma morena lindíssima, e resolvi oferecer apoio a ela ao tornar partido de sua luta diária para sustentar a filha e cuidar da mãe enferma. Ajudando aos outros sei que me sentirei útil e também confesso que apreciei a companhia dela... Me fez imensamente bem, saber que posso fazer novos amigos sem temer os "abutres interesseiros", há pessoas que gostam de mim pelo que sou...— Meu rosto desenha um sorriso de contentamento.

— É claro que sim, essa mulher imperou milagres e deu fim naquele seu carranca de mal humorado . Quanto a filha dela?

— Está se recuperando em um hospital... A garota inferniza a mãe e a desrespeita o tempo inteiro... Nunca presenciei tamanha agressividade, a rebeldia de Cindy é um caso a se estudar... Lana come o pão que o diabo amassou nas mãos da filha. — Alego fechando meus punhos pela insatisfação em imaginar o quão Cindy destrói sua mãe sem o menor senso de culpa.

— Cindy? Belo nome, pena que a dona não transpareça ser um amor de ser humano... Enfim, como assim ela tem aids? — Fita-me furtivamente.

— Infelizmente, para todo erro há uma consequência e pelo que entendi Cindy leva uma vida promíscua, sem regras ou limites, tudo para chamar a atenção da mãe, puni-la. Ela nunca conformou-se com a morte trágica do pai, ele tirou a própria vida, e levando em consideração que perder um ente querido dessa forma e provocar um belo estrago no psicológico de uma criança. Sendo assim julgar Cindy seria mesquinho demais da nossa parte, o melhor é tentar ajudá-la a superar o trauma. — Argumento repensando a dureza com que agi com ela. Deveria ter sido mais maleável, tudo que aquela adolescente necessita é sentir-se amada, o amor pode fazer renascer das trevas um coração amargo.

— Tem razão, as circunstâncias dolorosas do destino deixaram ela desacreditada e fria. Descontar nossas frustrações em alguém às vezes é o único caminho para não suportamos o peso do sofrimento sozinhos.

— Com certeza foi pesado ao extremo para uma menina ingênua atravessar um período de melancolia e decepção ao perder o pai que tanto admirava, e provavelmente um amigo que lhe contava histórias, tratava-a como uma princesinha. — Deduzo, arriscando um palpite sensível quanto ao rancor de Cindy pela mãe e pelo mundo. — Culpar Lana é o refúgio que ela encontrou para cessar a dor dilacerante da saudades do pai, a mãe serve de para raio, capta todo a angústia reprimida da filha.

— Faz sentido, agora, seu jeito formal de filosofar é irritante Sr. poeta. Posso não ser nenhum intelectual feito você, mas é de se admirar sua lábia. Já convidou a bela morena para jantar? — Desconversa provocando um gesto atípico meu, pois não tiro o sorriso torto dos lábios. Em outros tempos eu teria praguejado uma dúzia de palavrões e posto meu amigo no seu devido lugar, estranhamente não estou empenhado a sustentar o turrão intransigente, porque há fundo de verdade em suas palavras. Sou mesmo ótimo com discursos e familiarizado com o conhecimento.

— Não! Não exatamente um jantar, irei ensina-la a jogar golfe e passaremos um agradável dia na minha casa. — Esclareço visivelmente nervoso em ter uma presença feminina no fim de semana.

— Dá na mesma... Aproveite e saia dessa seca desgraçada! — Sobressalto da poltrona perplexo.

— O que?_Meneio a cabeça e tento não dar corda as insinuações lascivas de Jerry. — Lana e eu não estamos... — Pondero e crio coragem para dar fim as ilusões dele. — Somos apenas bons amigos e não existe tensão sexual, tampouco atração entre nós. — Elucido serenamente retornado meu olhar para a tela do computador, quem sabe usando essa tática Jerry não me imita e voltamos ao trabalho.

— Amigos? — Dá ênfase a expressão. — Conta outra Michael, toda essa felicidade por causa de uma simples amiga? Fora de cogitação, você está caidinho por Lana. Qual é o sobrenome dessa criatura salvadora da pátria? — Desvio os olhos do computador e franzo o cenho sutilmente.

— Lana Clark, e somos amigos. — Reforço impaciente. — Qual o problema em me socializar com o sexo oposto somente por interesse em ter amizade e um novo confidente? — Desdenho.

— É provável que um homem possa ser um excelente amigo para um mulher gostosa e solteira contanto que haja troca de favores entre ambas as partes.

— Jerry... Lana é uma mulher decente, jamais se submeteria a isso, e eu também não anseio ganhar a confiança dela para depois arrastá-la para minha cama .— Repreendo austero, ele jamais, jamais terá o direito de colocar a honra daquela mulher honesta a prova. Sei que Lana sobretudo merece respeito, não me envergonho de ter tomado devoção por ela tão rapidamente.

— Não está mais aqui quem falou. Sinto muito Michael! Prometo ser mais cauteloso, falei sem pensar... — Desculpa-se pelo comentário infeliz e eu levanto as mãos aceitando a justificativa dele.

— Ok, vamos mudar de assunto... Encontrou alguma pista de Sophie? — Deslizo as mãos pelos cabelos sabendo que tocar no nome dessa traidora é sempre uma tortura.

— Nem sinal da vadia...

— Porra! Ela sumiu do mapa! Pelo visto não irá pagar pelo mal que me fez, ou responder judicialmente pelos desfalques da empresa. Me corrói dia após dia saber que ela sairá impune. — Grito enrijecendo meus músculos e Jerry me fita de soslaio, nada surpreso com minha indignação.

— Ainda é cedo para desistirmos, Sophie provavelmente voltará para os Estados Unidos, o dinheiro vai acabar e ela terá que recorrer a quem? Adivinha?

 — Prefiro matá-la, sujar minhas mãos do que ceder um mísero dólar a aquela vagabunda maldita! — Afrouxo bruscamente o nó da gravata possesso com essa ideia. — Se eu tiver que olhar novamente, por um milésimo de segundo que seja para a cara daquela...

— Esqueça isso, Mike. — Interrompe. — Você não precisa se rebaixar ao nível dela, sabemos que é um homem de princípios. Liberte-se dessa magoa, foda-se Sophie e o amante fantoche dela. — Toma minhas dores aconselhando-me a seguir com minha vida, despido dessa sede de vingança destrutiva.

— Como posso simplesmente fazer de conta que nada aconteceu? Apesar de ter conseguido reconstruir minha empresa, algo dentro de mim mudou. Parti da luz diretamente para as sombras. A minha crença cega no amor se transformou em aversão a ele, e só quero enfiar minha mente no trabalho que de fato é algo proveitoso, me relaxa... Me faz esquecer... — Desabafo travando o maxilar rígido.

— Dê uma chance a outra garota, mas dessa vez escolha alguém capaz de valorizar seus sentimentos nobres, gaste o tempo que achar necessário, mas analise meticulosamente a beleza interior da pretendente. Num mundo tão movido a ambição, a tarefa é árdua, mas estou convencido de que sua alma gêmea está por aí, e o fará entender porque não deu certo antes. Essa é a poção mágica que irá te curar meu amigo! — Expõe sua opinião romântica, e eu manifesto meu desânimo através de uma risada curta.

— Já passei da idade de acreditar em finais felizes... Foram tempos dourados aqueles. — Divago pensativo. — Estou na fase de ser realista, a garota ideal não foi feita sob molde para mim ou ninguém, simples assim. Por isso optei por abdicar do tal amor, esse clichê não funciona aqui, isso é vida real. — Exprimo minha descrença com relação a um futuro para minha falida vida amorosa.

— Michael seu celular. Está ouvindo? — Jerry me alerta e ao capturar o iPhone de ultima geração, visualizo que um número desconhecido pisca no visor. Franzo o cenho curioso para descobrir quem de fato está do outro lado da linha e uma voz feminina e chorosa pronuncia um alô arrastado assim que atendo a ligação.

— Michael, eu já não sei a quem recorrer... — Identifico a melodiosa voz e meus ombros relaxam, a tensão se esvaiu ao reconhecer que se trata de Lana.

— Lana, hey como você está? Por acaso andou chorando? — Indago capturando tristeza na voz embargada dela.

— Eu... — Soluços trêmulos preenchem meus ouvidos e me dou conta que ela não só está aos prantos como alguma coisa muito errada aconteceu para desencadear essa crise de choro.

— Pensei que tivesse deixado claro Lana que tem em mim um amigo, diga-me onde eu a encontro e irei voando até você.— Asseguro apreensivo para apoiá-la, aninhá-la em meu peito e afagar seus cabelos negros.

— Estou no hospital, Michael...


Capítulo 5
                                                 
"A menina dos meus olhos"
                            
                                                                                       
                            

"Michael"


— Chego aí em alguns minutos. Cuide-se! — Desligo o celular e sem titubear pego as chaves do meu carro guardada em uma gaveta da mesa envidraçada que foi decorada em cromo inoxidável.

— Vai sair? — Jerry pergunta retoricamente, obviamente ele sabe que a resposta é positiva. — Quem era no telefone? Lana?!

— Sim, era Lana, ela estava chorando compulsivamente, precisa de mim nesse momento e estarei lá como um amigo. Aliás é o mínimo que faço, ela merece meu apoio... — Discorro ligeiramente e corro em direção a porta.

— Boa sorte! Que Deus abençoe essa guerreira e a filha dela! — Jerry exclama e eu aceno para ele, deixando a Tarso com um único pensamento. Ajudar Lana, segurar a mão dela, essas são minhas
prioridades.

                                                                            (...)

Hospital West Gray
 
— Lana! Meu Deus... — Ela abaixa a cabeça e retesa os ombros me fitando vagamente.






— Fiquei tão assustado, eu vim o mais rápido que pude... — Mal tenho tempo de dar mais um passo e ela se joga em meus braços, esmorecendo em seguida. Assim que cruzei a sala de espera do hospital já senti o clima sobrecarregado. Seja lá quais são as notícias não serão fáceis de digerir.

— É Cindy? Ela piorou? — Afago os cabelos escuros dela que caem como cascata sob sua cintura e inalo o perfume floral delicado. — Confie em mim. — Enxugo as lágrimas que inundam o rosto de Lana com o dorso da mão e ela volta a me abraçar firmemente.

— Michael, estou completamente perdida. — Afasta-se milimetricamente de mim para me encarar diretamente... — Não sei porque te liguei, peço perdão se atrapalhei. — Murmura baixinho, e visualizo um resquício de arrependimento nos olhos demasiadamente avermelhados dela.

— Me chame quando quiser, não me incomoda nunca! — Reforço, observando meticulosamente a palidez e o tremor excessivo dela.

— Esse hospital é particular e não tenho como pagar a conta, as despesas de Cindy foram inimagináveis. Quebrei a cabeça e cheguei a conclusão de que terei que penhorar a casa que moramos para quitar a dívida... Não há outra alternativa Michael. Você poderia me orientar sobre os tramites do processo legal? — Faz um pedido visivelmente envergonhada e desorientada com sua situação financeira. Claro que não permitirei que Lana perca o imóvel que conseguiu com seu suor, ela não merece enfrentar mais nenhum perrengue, já sofre desgostos suficientes com a filha rebelde e agora doente.

— Tire isso da cabeça. Eu faço questão de quitar os custos do tratamento que ela recebeu nesse hospital. E não aceito um não como resposta, estou fazendo de coração Lana. Por você, por Cindy, permita que eu colabore. — Peço quase como uma súplica, praticar a caridade é sem dúvidas uma bênção que me alegra. E isso somado ao fato de Lana merecer essa força, me deixa exultante.

— Não posso aceitar. — Reluta nivelando o tom de voz. A expressão perturbada dela paira no ar como transcrição de seus medos.

— Não só pode como vai. — Promulgo.

— Michael, agradeço, mas...

— Pense em sua filha. — Mudo de tática. — Vença o orgulho em nome dela, eu imploro. — Prossigo tentando fazer com que ela me dê a chance de ajudá-la e dessa maneira ajude a mim mesmo.

— Eu não sei. — Divaga envergonhada em ser conivente comigo. O ego e a mania que muitos tem de não entender que somos feitos para vivermos como irmãos e auxiliarmos uns aos outros destrói boas ações.

— Esse imóvel é uma garantia para sua filha, sua única segurança. Vai colocar ele em jogo apenas por orgulho? Pois eu estou disposto a pagar não só a conta do hospital, mas como toda a medicação que prescreverem a Cindy. — Sacudo Lana delicadamente pelos ombros. É necessário que ela seja humilde para concordar em suma legitimidade com um quase estranho. Não me sinto no direito de pressioná-la, o problema é que saúde da filha dela está comprometida o bastante para eu assumir essa responsabilidade. Se eu não o fizer essa menina perderá a oportunidade de progredir.

— Está certo, só dessa vez e não deixarei que pague pelos remédios. Que vergonha! Cheguei ao ponto de depender da benevolência dos outros para salvar a vida da minha filha. Sou uma fracassada, uma inteira incapaz! — Lamuria consternada. Suas íris azuladas piscam desenfreadamente devido a humilhação inexistente que acredita estar sofrendo.

— Nunca mais repita algo desse teor! Você é tão capaz de vencer na vida como qualquer outra pessoa, sua recompensa virá, pode demorar, mas será muito feliz um dia. — Prego uma mensagem positivista dessas que deixei de ter fé e me Lana me fira pelo canto de seus olhos.

— Não tenho mais essa certeza... As coisas estão cada dia piores, sinto que um maremoto está se formando debaixo dos meus pés e inevitavelmente irei morrer, mais cedo ou mais tarde estarei esgotada demais e me entregarei ao caos. — Afunda as mãos nos cabelos tomada pelo medo do que o futuro reserva.

— Eu estou aqui agora, ao seu lado e não vou a lugar algum sem ter certeza que você ficará bem e não desistira. — Destaco firme, mas estou verdadeiramente tocado com a expressão de profundo desespero dela.

— Eu sei que conto com seu apoio. — Diz fechando os olhos como se seu desejo de desaparecer desse mundo cruel exprimisse tal ação.

— E com minha amizade. Lana eu cuidarei da questão financeira e de você e Cindy. Não me afaste de sua vida, quero estar por perto sempre que possível. — Faço um pedido franco. Seria terrível perder o contato com ela, só em pensar nisso me falta a respiração e perco o rumo. Lana talvez não olhe dentro dos meus olhos e e encontre o brilho que eles tem quando ela está por perto, toda aquela opacidade se esvanece dando lugar a um novo homem, outro Michael, bem distante do cara que chorava todas as noites se questionado o por que te ter amado tanta a pessoa errada.

— Como eu negaria isso a alguém que tem sido minha salvação. Eu que não consigo me imaginar sem suas palavras gentis e seus discursos positivos. — Força um sorriso que infelizmente não chega ao seu olhar e eu não resisto a sua vulnerabilidade, beijando a bochecha dela.

— Me dê alguns minutos para ir até o setor financeiro resolver tudo. — Elucido tocando o queixo dela carinhosamente. Toda a meiguice dessa mulher me faz desejar tê-la em meu colo para que eu acarinhe seus cabelos e a faça se sentir protegida.

— Ela receberá alta, o Dr. garantiu que deixaria um documento assinado. — Salienta bastante nervosa.

— Providenciarei isso também. Tranquilize-se está bem? — Certifico-me de que posso deixá-la sozinha por um pequeno intervalo de tempo e ela ratifica que "sim" timidamente. Preso a Lana e sua tristeza, suspiro e me dirijo a ala financeira do hospital, ela não está mais sozinha, é minha nova responsabilidade fazer tudo que estiver ao meu alcance para devolver o encanto de viver a uma amiga.


                                                                                   ***

— Não acredito que pediu carona para esse almofadinha? Por que não chamou um táxi? — Cindy reclama se retorcendo de raiva no banco traseiro do meu Porsche pela milésima vez. Obrigo-me a ignorá-la e fito Lana de soslaio, ela dá de ombros e sorri espontaneamente com a situação.

— Sim, e sugiro que diminua o tom e se comporte como a adulta que insisti em dizer que é. Michael fez a gentileza de nos deixar em casa, portanto não admitirei infâmias. — Vira a cabeça na direção do banco de trás e ignora a gargalhada sórdida que ecoa da filha. — Entendeu Cindy? — Adverte voltando a aconchegar a cabeça no banco de carona.

— E você Michael não vai dizer nada? — Cindy inquiri num tom cínico capaz de despertar a fúria no mais brando dos seres humanos e eu pressiono o volante fortemente.

— Não, estou ciente de que minha opinião não lhe importa e nem estou paciência para discutir com uma adolescente marrenta que precisa aprender a ter respeito pelos outros — Revido e Lana arregala os olhos. Talvez tenha sido intransigente em demasia.

— Isso mesmo, Michael.— Lana comemora batendo palmas. — Cindy precisa de disciplina.

— Um complô contra mim. Perfeito! Por acaso estão tipo...— Hesita, articulando uma maneira de nos desestruturar, pelo menos é o que acredito. — Namorando, transando? Porra, eu provavelmente estou idêntico a uma capa de toureiro, culpa dessa garota insolente. Lana, pobrezinha está tão envergonhada que insisti em desviar os olhos para a paisagem da estrada.

— Não, claro que não. — Enfatizo ainda intimidado com as palavra de Cindy. Um sorriso nasce nos meus lábios, sabe-se lá porque. A carência afetiva provoca esses acessos estúpidos? Espero que sim.

— Uau! Mamãe, dessa vez está indo com calma? Porque olha...

— Já chega Cindy, está constrangendo, Michael. Não seja tão desagradável — Lana corta a filha, intervindo rispidamente.

— Tudo bem... Não precisam brigar por algo tão inocente. Já respondi a pergunta, Lana. — Apaziguo o clima, mantendo o foco na estrada.

— Serei um túmulo daqui para frente casal feliz! — Cindy ri enfim sossegando, não totalmente, sei que ela provavelmente continuará soltando indiretas.

— Bem, é aqui! — Lana ressalta e eu estaciono em frente a uma pequena casa, porém muito simpática graças a um jardim. Nunca estive em um bairro como esse antes, é humilde, diferente da minha realidade. O que estranhamente não m incomoda, sempre soube que dinheiro não me torna superior a ninguém, todo o preconceito das pessoas é no mínimo mesquinho. Classe social é uma invenção decadente.

— Quer que eu as acompanhe? — Dessa vez atento a movimentação da rua pelo retrovisor.

— Não é necessário, você já está sendo muito generoso, e jamais abusarei! — Revida destravando o cinto de segurança, fazendo menção de sair, mas antes que a perca de vista eu seguro-a pelo braço delicadamente para decifrar quais são seus sentimentos nesse momento.

— Nada disso, eu faço de coração. Qualquer coisa que precisar não hesite em me procurar e virei correndo. — Sorrio cordialmente e abraço Lana, logo em seguida ela se solta de meus braços e deixa o veículo, Cindy espelha o gesto da mãe e sem despedir-se de mim saí do carro. Quem sabe essa garota um dia passe a me aturar e possamos conviver civilizadamente.

                                                                                      ***
Semanas depois...

Miro minha imagem no espelho e ajeito a gola da camisa social despojada, sorrindo ao contemplar pelo canto do olho na janela o céu límpido, fabuloso para um dia com amigos ao ar livre. Vestido assim informal, com um tênis e óculos aviador, nem reconheço o homem compenetrado nas finanças que só respira trabalho. Lana quebrou o encanto do cavalheiro das trevas, aquela nuvem obscura de tristeza que assolava meus dias se foi. Desde a chegada inesperada dessa mulher em minha vida nada parece mais sem vida, apesar de ainda não ter conquistado a amizade de Cindy, ela ultimamente tem se portado com mais maturidade e abandonou o contra ataque. Definitivamente não faz meu feitio desistir, e já tenho criado planos de quebrar escudo de durona dela. Aproveitarei que Lana e ela virão passar o dia comigo, e aceitaram meu convite para uma partida de golfe para começar a colocar minhas ideias em prática. Lana ficou extasiada com o convite, afinal eu estava em divida, prometi que a ensinaria a jogar golfe. Talvez usando meu charme nato consiga prolongar e estender a proposta para um final de semana inteiro. Seria maravilhoso tê-las aqui nessa casa enorme, vazia comigo por mais tempo. Por agora é melhor eu não me iludir, Lana e sua timidez, seus valores rígidos pode vir a me interpretar mal e não quero arriscar perder a amizade rara dela.

Conforme o combinado Lana e Cindy chegaram no horário que marcamos. A recepção que ofereci a elas foi marcada por gentilezas, Lana não poderia estar mais linda do que vestida nesse vestido polo e um par de all star vermelho. Trocamos algumas palavras enquanto mostrava a casa a Cindy, que obviamente exagerou na dose de cinismo, entretanto se mostrou encantada com o luxo de tudo. Nunca vi esse menina sorrir e se divertir, e confesso que por trás da amargura dela existe uma menina frágil, doce que pretendo aflorar.

                                                                          ***

— E nossa ultima parada é a... piscina — Coloco a mão no peito teatralizando, acabei de mostrar o campo de golfe, a academia, o jardim e toda a mansão para elas.

— Tio... Imaginava que tinha grana, mas nessa proporção... Puta que pariu mãe isso aqui me lembra aquelas mansões de Beverly Hills. — Cindy dá um giro, sacudindo o corpo livremente consequentemente causando uma crise de risos em Lana.

— Não há como discordar dela, o lugar é sem dúvidas luxuosíssimo. — Exclama dando razão a filha pela primeira vez. — Parabéns Michael, possuí uma casa espetacular! — Parabeniza Lana, contornando minha nuca com as mãos de uma forma inocente. Claro que me sinto estranho com o toque dela, surpreso positivamente, tanto tempo sem uma presença feminina transformou-me em um homem volúvel, ou carente, é possível que sejam os dois adjetivos.

— Estão me deixando encabulado e mal acostumado com tantos elogios garotas. — Comento pousando a mão respeitosamente acima da cintura de Lana.

— E a partida de golfe? Vai arregar Michael? — Cindy semicerra seus longos cílios e nos entreolhamos desafiadoramente.

 — Tenho certeza que não filha, ele prometeu ser meu professor. — Insinua Lana sem desfazer o sorriso travesso.

E é agora que tudo vai acontecer, ficarei a milímetros de distância dela e sentirei sua respiração quente. Pare Michael, precisa se policiar, nada de confundir as coisas, Lana é uma mulher desimpedida, mas o que existe entre nós é uma ligação de cumplicidade e respeito, somente amizade.




Capítulo 6
                                                 
"Enfim, primavera da alma"
                            
                                                                  
                      
                      
"Michael"

— Esperem para serem arrasadas por mim. Sou um jogador profissional. — Me gabo tentando encabular minhas concorrentes.

— Não conte a vitória antes de disputarmos uma partida. Pode ser que eu leve jeito, e vou descobrir essa habilidade hoje. — Lana interfere erguendo as sobrancelhas em sinal de desafio.

— Preparada para perder? — Alfineto sem perder o tom de diversão e nos entreolhamos intensamente. É perceptível como temos essa conexão misteriosa, algo indescritível. Ignorando as circunstâncias, engolindo o acanhamento Lana eu e Cindy nos dirigimos até o campo de golfe, o silêncio antes sepulcral é substituído por nossas risadas. Não me lembro qual foi a última vez que essa casa foi contagiada com tamanha alegria. Nada poderia me deixar mais entusiasmado do que essa cena de Cindy e Lana se divertindo enquanto tentam descobrir a maneira correta de segurar o taco de golfe.

— Vocês não vão mesmo acertar? Veja que desastre. — Sentencio aos risos tomando partido da falta de praticar das duas, agora sim, esse detalhe está sendo comprovado.

— Michael a irrefutável verdade é que não faço ideia de como se move esse troço pesado? — Choraminga Lana denotando desesperança.

— E eu estou aqui para lhe ensinar. Nada de desânimo, no que depender de mim você e Cindy se tornaram exímias jogadoras de golfe. — Pisco e ela assente solenemente com um suspiro. Pela primeira vez em meses volto a praticar golfe, e me familiarizar novamente com o contato a natureza. Esse é apenas o inicio de um recomeço e quero que Lana esteja presente não só provisoriamente em minha vida, mas corriqueiramente, todos os dias.


                                                                                     ***

— Não me sai tão mal. — Lana relata animada com seu desempenho regular no golfe. — Tenho que melhorar muito, mas com um professor dedicado assim me tornarei uma campeão em golfe. — Sorri graciosamente, entrelaçando sua mão na minha sutilmente. De repente, a gravidade não cumpre sua função de me puxar para o  centro da terra, o chão gira abaixo dos meus pés e o mundo ao meu redor desaparece. Lana sempre me causa sensações inusitadas, a maioria delas chegam a me intrigar. Os olhos demasiadamente azuis dela traduzem a pureza de sua alma, através deles enxergo a essência ingênua dessa mulher. Há um magnetismo que me puxa diretamente para o olhar de Lana.

— Vocês vão ficar aí como dois apaixonados melosos? Que piegas. Ainda estou aqui. — Cindy chama nossa atenção e eu e Lana desviamos os olhares um do outro visivelmente embaraçados com as insinuações dela. Não que tenha fundo de verdade, é somente um mecanismo natural meu, me envergonho facilmente.

— Filha, estamos conversando, alias já está ficando tarde e temos que voltar para casa,preciso administrar a medicação de sua avô. — Justifica sua pressa em ir embora, fazendo dar uma tossidela em protesto.

— Quer dizer que já pretendem ir? Tão cedo? É realmente uma pena pensei que quisessem ficar, passar o restante do fim de semana comigo. — Semicerro a testa, e enfio as mãos inquietas no bolso da calça.

— Nos adoraríamos aceitar o convite Michael, infelizmente não será possível. Fica para uma próxima vez. — Lana decreta, dando seu veredito final.

— Droga mãe! Por que tem que ser essa carrasca? Quero ficar e mergulhar naquela piscina. — Resmunga Cindy fechando a cara, disposta a contrariar a mãe.

— Vamos, não me desautorize Cindy, expliquei a você que não poderíamos ficar até tarde. Sabe que amanhã madrugo para trabalhar, além de agora assumir a responsabilidade de um segundo emprego. — Frisa mudando completa de expressão terna do rosto, uma névoa de tristeza toma conta dela e eu estremeço por dentro, pressentindo que algo de muito grave está acontecendo. Cindy bate os pés nervosamente no carpete saindo a todo vapor rumo a área do jardim.

— Outro emprego? Presumo que isso esteja a esgotando fisicamente. Posso lhe ajudar Lana, por favor permita que eu cuide de você. — Sussurro quase inaudível no ouvido dela, evitando criar mais conflitos entre mãe e filha. Não compreendo o porque de Lana rejeitar apoio financeiro, conheço o caráter dela e nada mudará. Dinheiro nunca foi problema para mim, e quando faço uso dela para um ato nobre, sinto-me útil, uma pessoa abençoado.

— Eu jamais me submeteria a o papel de aproveitadora. Não quero e não vou explorar sua boa fé Michael.Minha filha, minhas obrigações, seu dinheiro nunca poderá me isentar de meus deveres de mãe. — Retruca ríspida, a acidez de suas palavras recaiam sob minhas a me provocar desconfianças e reforçam minha teoria de que Lana está mentindo, ou simplesmente ocultando algo de mim.

— Lana você me interpretou de forma equivocada. Acho que posso ajuda-la, o que me diz de trabalhar na minha empresa? Assim ganharia um salário razoável. — Ouso propor na tentativa de driblar o orgulho dela.

— Eu não sou qualificada para assumir qualquer cargo que seja na sua empresa Michael. Está fazendo isso com a melhor das intenções, mas não posso aceitar e ir contra meus princípios. — Assegura desconfortável com minha relutância em não desistir de fazer algo por sua situação financeira crítica. Lana talvez não tome consciência de que só desejo lhe oferecer uma chance de sair dessa vida dura, porque sei que ela é merecedora.

— Lana basta ter garra para aprender, eu posso ensina-la, ou melhor custear uma graduação para você. — Argumento exprimindo os olhos minimamente.

— Agradeço sua oferta generosa, mas não poderia permitir que bancasse meus estudos. Sei que está agindo de boa fé..._Inspirou e expirou vagarosamente. -Só que sua caridade, implica em uma quantia que jamais serei capaz de pagá-lo. — Abaixa sutilmente a cabeça, se recusando a trabalhar na minha empresa enquanto eu custeio uma graduação para ela. Eu estou altamente irritado, o orgulho não deve se interpor em meio a nossa amizade, Lana esmagou minhas esperanças de passar mais tempo com ela, apresentar-lhe ao mundo dos negócios. É de uma mulher de "ferro", como ela que busco para minha equipe e sendo ela alguém que inspira honestidade, teria mais liberdade de fechar contratos, me relacionar com os demais investidores.

— Não te perturbarei novamente, prometo. — Cruzo os dedos e levei-os aos lábios e arranquei dela uma risada despretensiosa, uma reação previsível nessa circunstâncias. — E claro, caso mude de ideia me contate, estarei pronta para auxiliá-la. Já sabe._Atrevo a segurar suas mãos e lhe dedico um olhar amigável. Lana aquiesce adoravelmente, para logo em seguida desfazer o encontro de dedos.

— Realmente você é um anjo. — Equilibra-se na ponta dos pés e sinto um beijo terno varrer minha bochecha e o cheiro de floral fresco dela flutuar pelo ar invadindo não somente minhas narinas como também a alma. Lembro-me de me sentir assim raras vezes, e por algum motivo inexplicável esse sentimento blindado de paz reduz a pó meu tormento de enfermo.

— Infelizmente, tenho mesmo que ir. E tentar contornar a fúria da minha menina rebelde, Cindy deve estar preparando sua defesa. — Supõe. — Espero vê-lo por aí, até mais Michael. — Conclama num murmúrio e caminha lentamente até a porta que faz divisa com a vista do jardim. Ao atravessá-la me rouba um cálido suspiro. Ok, não compreendo o porque desse frisson dos meus sentimentos, muito embora esteja adorando esse chama de alegria e a aura de êxtase que Lana acarreta em mim. Uma coisa é certa, essa amizade impera milagres em meu humor intrépido e quero mantê-la inabalável, no meu circulo de convivência, para dar andamento ao projeto do novo homem que está pedindo para nascer e ser ouvido. Um novo Michael Jackson.


 Uma semana depois - Tarso

— E aconteceu exatamente o que esperávamos meu amigo, sua fortuna cresceu exponencialmente, tanto que ultrapassou sua antiga situação monetária. Nunca fez dinheiro nessas proporções, mas cá para nós esse sorriso de idiota, é por uma mulher, um belo par de pernas.— Dispara indo diretamente ao ponto que quer. Jerry definitivamente não possuiu pudores quando o assunto diz respeito a minha vida pessoal. Retiro estupefato o óculos de leitura e os papéis que pretendia analisar escapam de minhas mãos. Repreendo-o com o olhar e contenho meu desconforto ajeitando a gola da camisa social.

— Jerry não meta Lana nisso. Porra! São sempre essas provocações sem fundamento. Não sou um adolescente audacioso e inconsequente, portanto da minha vida cuido eu. — Ralho sério recuperando os papéis que preciso ler. — Não está mais aqui quem falou. Eu só acho que deveria investir em uma mulher digna como ela tem mostrado ser. — Emite sua opinião dessa vez mais elegantemente, discrição nunca foi uma qualidade de Jerry, entretanto ele está trabalhando nessa questão.

— Jerry. — Jogo os documentos na mesa de vidro, desistindo da leitura. — Conheço as virtudes daquela encantadora mulher, se quer saber, ainda estou confuso com relação aos meus sentimentos. — Apenas nutro a certeza de que estamos interligados por um elo, o da amizade, cumplicidade. — Reafirmo sorrindo involuntariamente ao relembrar do sorriso contagiante da bela morena causadora de todas as mudanças da minha vida. Nos últimos tempos tem sido um ato corriqueiro sorrir. Gosto de como sorrir me transforma em uma pessoa mais otimista. Algum músculo facial é responsável por essa maravilha, e tudo muda dentro de mim.

— Esse sorriso acabou de lhe entregar... No entanto, guardarei minhas opiniões para mim mesmo. — Reforça num tom debochado, deixando-me aliviado. — Agora, isso eu vou ter que enfatizar, Lana fez alguma mágica em você, a garota me trouxe meu antigo amigo de volta, aquele cara positivo, gentil e divertido. Eu amo essa mulher mesmo sem conhecê-la pessoalmente, devo muito a essa feiticeira do bem. — Relata emocionado. Sei melhor que ninguém a qual milagre ele se refere. Infindáveis meses sombrios sucederam o resultado daquele maldito teste de HIV. A amargura me corroía incansavelmente, os efeitos da traição foram avassaladores como um furacão de escala máxima. A tempestade Sophie matou minha crença na humanidade e engoliu meus sonhos durante aqueles dias de tormenta.

— Estou de volta. E graças a Lana, confesso que isso é culpa dela. — Dou o braço a torcer e prendo uma risada. — Amanhã acompanharei Cindy no grupo de apoio. — Mudo o rumo da conversa, eufórico com o acontecimento. O progresso dela tem sido largo, prova disso é que topou frequentar o grupo comigo. Só rezo para que esse seja o primeiro de vastos avanços.

— Meus parabéns! A rebelde está evoluindo, estão no caminho correto, em breve a menina irá amadurecer, e quem sabe se relacionar normalmente com a mãe. — Acrescenta entusiasmado ao extremo devido as novidades.

— Estou confiante. Creio que Cindy quer se ajudar, finalmente colabora com a mãe para enfrentarem toda a situação juntas, exatamente como deve ser a relação entre mãe filha. — Destaco as últimas palavras, porque é isso que elas são e devem se tratar como mãe e filha.

— Com certeza. Quando você cisma, consegue alcançar o que almeja, basta pensar no quão reergueu suas finanças em tempo recorde. — Aponta um detalhe que soa insignificante para mim no momento que vivencio. Essa nova fase tem seu encanto justamente por não se resumir em negócios e meu talento inquestionável, fazer dinheiro.

— Desejo que nisso tenha razão Jerry. Sinceramente, ajudar as duas é meu maior desejo, poucas vezes desejei tanto uma coisa quanto uma reconciliação de Lana com a filha. — Saliento concentrando energias positivas nelas.

— Pode acreditar que tudo terminará bem, e eu apostaria em um romance mais futuramente, e em uma belíssima cerimônia de casamento. — Franze o cenho ironicamente e eu gargalho mediante as insinuações do meu amigo vidente, levantando a seguinte questão: Aonde foi que me perdi? E como me resgatei das trevas? Absolutamente para o segundo questionamento posso garantir que sozinho nada disso seria possível, Lana resgatou do abismo obscuro que havia em meu coração e serei eternamente grato a ela.


Tempos depois...

— Caso se sinta pressionada, constrangida pode sair da roda Cindy. Lá todos são compreensivos e amigos. — Ilustro a liberdade de movimentação que ela pode ter no grupo de apoio já que é sua primeira vez no SOS Aids. Lana tenta disfarçar a angústia e eu me concentro em motivar Cindy a dar esse inimaginável passo. Através de um bate papo descontraído com pessoas que também vivenciam a rotina dela, compartilham das mesmas inseguranças, é possível que ela consiga se reinventar como ser humano.

— Podem parar logo com esse teatro, sou forte para encarar minha realidade, não sinto vergonha de admitir que sou a causadora dessa merda que se tornou minha vida! — Desmorona descarregando toda sua dor em seu breve desabafo. Lana não reage com naturalidade a declaração da filha e faz o que qualquer mortal de carne e osso faria no lugar dela, se entrega a um choro copioso, escondendo o rosto entre as mãos.

                        
Capítulo 7
                                                 
"Demônios do passado"
                            
                                

                    
"Michael" 
 

Ela sorri, abaixa a cabeça e profere um arrastado "eu não suporto mais".
 
— Lana... — Corro até ela e a envolvo em abraço acalentador tentando protegê-la, arrancar essa dor do seu peito com carinho. — Ficará tudo bem, olhe para mim meu anjo, vamos superar isso juntos, o que importa é que temos um ao outro e Cindy está disposta a mudar. Tudo começa a partir do momento que assumimos de fato termos um problema e ela está prestes a fazê-lo ao entrar naquele prédio, mostrando-se a estranhos sem receios ou temores. — Aperto-a mais em meus braços e deslizo as mãos para seus cabelos, sem perder o foco de Cindy.

— Mamãe eu vou me cuidar, entrarei no grupo para partilhar um pouco sobre mim com desconhecidos de coração aberto. — Cindy interrompe-nos e Lana desvencilha-se do meu abraço para encarar a filha.

— Tem razão meu amor, estou sendo uma mãe fraca. E que está morrendo de orgulho da filha. — Enaltece mexendo seus suntuosos cabelos negros, me hipnotizando com a atitude.

— Desculpe atrapalhar, mas a reunião já está começando belas garotas. — Pigarreio para chamar ainda mais a atenção delas e Cindy se aproxima de mim.

— Espero vocês aqui, vi que tem um café bem perto daqui e aproveitarei para tomar um cappuccino. — Assegura calmamente e eu pisco para ela. Cindy dá um abraço na mãe, logo depois segue em minha companhia até o primeiro passo de sua nova vida.

                                                                                       ***
Os olhos azuis cobertos de lápis demasiadamente preto se movem freneticamente pelo salão da reunião. Cindy esfrega a palma das mãos uma na outra, e reveza seu olhar entre as pessoas que nos rodeiam e eu. Curiosa para descobrir qual o propósito da troca de experiências coletivas.

— Pessoal deem boas vindas a nossa nova amiga, Cindy Clark. — Um coro de cumprimentos ecoa pelo ambiente fazendo Cindy sorrir acanhada. — Michael trouxe-a para se unir a nós e eu como a fundadora do do grupo, denoto meus sinceros votos de cordialidade a ela. — Lilly completa mantendo a cordialidade, para que ela sinta-se abraçada. Lilly é um mulher admirável, considero-a uma amiga desde que passei a frequentar as reuniões. Às vezes telefono para ela e conversamos por horas a fio, de um certo modo Lilly se tornou peça indispensável em minha luta contra meus próprios preconceitos, perto dela posso me desnudar de quaisquer preocupações.

— Obrigada moça. — Cindy agradece a calorosa recepção baixinho, tentando soar inaudível.

— Ela ainda está deslocada, mas rapidamente se acostumará e pegará o ritmo. — Explico observando Cindy esconder as mãos no bolso de sua jaqueta querendo ser invisível.

— É tudo muito novo para mim, me deem um tempo e estarei falando mais que os veteranos. — Surpreende-nos e Lilly sorri sem mostrar os dentes, satisfeita com o pronunciamento de Cindy.

— Querida não faremos pressão para que nos conte mais sobre você, aqui tudo flui naturalmente, só faça quando sentir-se emocionalmente preparada... Leve o tempo que precisar, observe-nos e isso a encorajará. — Aconselha me fitando intensamente pela primeira vez. Lilly em alguns momentos parece me lançar olhares repletos de doçura. É provável que eu me engane, contudo nesse caso duvido que não haja interesse dela em aumentar nossa intimidade.

— Isso mesmo Lilly, no SOS não somos obrigados a absolutamente nada, pelo contrário, temos total liberdade para tomar decisões. — Alego doando minha atenção inteiramente a Cindy.

— Bem, nossa nova amiga já foi devidamente apresentada e darei prosseguimento, compartilhando com vocês uma carta que recebi de uma aidética que não se identificou, preferiu se manter no anonimato. — Coloca os óculos de leitura e migrou os olhos para uma folha amarelada, Cindy e eu nos entreolhamos ansiosos, no aguardo do início da leitura da carta.

— Então, vamos começar. — Lilly ajeita os óculos no seu rosto da forma correta e foca em um pedaço de papel amarelado.


"A maioria de meus amigos se afastaram de mim após o diagnosticado de "condenação", aids. Perdi o afeto de minha família, e ao descobrir que carrego no sangue esse vírus meu noivo pegou o primeiro voo para a Hungria e nunca mais coloquei meus olhos nele. Assim como todos que profanavam elogios e afirmavam me amar o homem que escolhi para passar o resto dos meus dias me abandonou no momento que necessitava urgentemente de sua compreensão e amor.

"Ele"  certamente acredita que não pode lidar comigo nessas condições ou simplesmente achou mais viável fugir feito um covarde e encontrar uma mulher saudável para levar ao altar, constituir uma família sólida.

 
Escapar com certeza é tentador, especialmente quando não queremos enfrentar um problema, lutar, e eu sei que o preconceito continua reinando, mesmo que mascarado, a sociedade me despreza. Nós, "os condenados", os soro positivos, somos um fardo para a sociedade, mas podemos combater o preconceito e reverter todo essa onda de pensamento ignorante que dita que não passamos de incapazes. Eu nunca fiz sexo sem proteção, ou usei drogas ilícitas. Fui criada por pais rigorosos, em um colégio católico. Sou uma vítima de um crime bárbaro, de abuso sexual, e toda essa desgraça aconteceu debaixo do nariz de freiras, centenas de religiosos, e não houve ninguém para perceber minha mudança drástica de comportamento, um colega sequer que olhasse em meus olhos opacos e oferecesse um colo. Ninguém para se importar com minha apatia e enxergar através das aparências, decifrar minha alma.  Eles deveriam estar ocupados demais obedecendo as regras, seguindo as condutas de bons cristãos, enquanto uma criança inocente era abusada era submetida a torturasica e psicológica. Essa é minha história, da qual não me envergonho, pois sou uma vencedora

Graças aos fracos que me menosprezaram, me excluíram de seu círculo de convívio me transformei em uma mulher forte. Cada uma das infâmias cris dirigidas a mim, me fortaleceram. Fiz dos obstáculos plataforma para evoluir mentalmente


Tudo que sou hoje, devo a mim mesma. Foi sozinha que enfrentei meus obscuros dias e agora sorrio esperançosa. Porque meu pesadelo servirá de exemplo para aqueles que julgam os outros sem ao menos se darem ao trabalho de perguntar como você se sente. Antes eu procurava culpados, nutria rancor pelo mundo, hoje busco agradecer apenas por me ser concedido respirar mais um segundo. Eu posso lhes fazer um pedido? Por favor não desistam da dádiva da vida, não permitam que seres infelizes os inferiorizem, libertem-se das amarras, ignorem os julgamentos. Eu poderia jamais ter contraído HIV, arranjado um namorado lindo e estaríamos felizes, decerto casados nesse momento

Provavelmente teríamos uma casa de praia e muitos filhos adoráveis, mas não creio que me lamentar traga minha inocência de volta. Acontece que também tenho o direito de ser feliz, de viajar e me divertir, amar e ser amada, entre viver e lastimar, eu escolhi viver. Afinal, meus companheiros de "batalha" não há razão para eu não ter uma vida longa, repleta de experiências maravilhosas. Também sou humana, mereço apreciar os pequenos prazeres da vida. A diferença é que evolui espiritualmente como ser humano, dedico parte do meu tempo a medicina e faço a diferença na vida de crianças desnutridas e vítimas dos mais agressivos vírus na África 

Sou uma voluntária do AMOR, é isso que faço, distribuo esperança aos oprimidos, aos esquecidos pela sociedade. Espero que lendo essa simplória carta, enfim compreendam que definitivamente Aids não é um atestado de sofrimento eterno talvez um estágio passageiro de amadurecimento,mas algo que pode ser superado com a devida perseverança . Alguma vez já pararam para contemplar o raiar do sol, a imensidão do mar? Cada pétala de rosa é a prova viva da criação perfeita de Deus, a promessa de um novo amanhã mais perfumado, mais colorido.  

Há vida lá fora para ser vivida... Peço-lhes encarecidamente, não desistam, e a recompensa virá. Envio um forte abraço aos meus guerreiros. Lembrem-se sempre, que não estão sozinhos, há quem os entenda...  

Estão presentes em minhas preces, e todas as noites oro aos anjos para cuidarem de cada um de vocês e fecharem suas cicatrizes com a luz da bondade divina. Eles me atendem, eu sinto, sinto profundamente o espírito de vocês."

Amor,


Uma amiga de coração
 
Lilly tenta citar uma misera palavra motivadora, e a emoção a impede de fazê-lo. Noto que todos  presentes enxugam as lágrimas e se esforçam para conter o choro, e comigo não haveria de ser diferente. Também não consigo deter as lágrimas que escorrem pelo meu rosto deliberadamente. Cindy desaba em um pranto doloroso, na verdade ela precisa desabafar ou irá sufocar. Toco o ombro dela para confortá-la e me dou conta de que devo ser grato pela vida. A verdadeira doença é um estado de espírito, está na alma, dentro de nós e para essa doença não se fabricam remédios eficientes.

— Michael, essa carta, mexeu comigo, precipitou essa crise de choro. Todas as palavras me comoveram de uma forma que nunca em minha vida pensei ser tocada. — Sussurra Cindy para não ser ouvida, sua dificuldade em expressar sentimentos me intriga e causa compaixão na mesma proporção. Pobre menina rebelde, gostaria que ela aprendesse pelo amor, mas prefere ir pelo caminho da dor.


— Tudo bem. Vai passar, eu também não pude evitar me emocionar. — Admito apertando a mão trêmula dela, oferecendo-lhe minha inteira solidariedade.

— Essa é uma lição de vida para cada um de nós que já pensou em desistir e ir pelo caminho mais fácil, ao invés de permitir que a dor nos fortaleça, nos transforme em pessoas melhores. No mais, voltem para casa e reflitam, por hoje já foram emoções demais. — Lilly procura uma mensagem no fundo da alma e desbrava a mulher forte que costuma ser e finalizou com chave de ouro a reunião, sendo aplaudida vigorosamente.

Levanto da cadeira, já recomposto, após me despedir de Lilly cordialmente conduzo Cindy para a rua. Ela sustenta o silêncio que tanto lhe convém, e eu respeito seu momento de reflexão. Apresso o passo para acompanhá-la, e rapidamente avistamos Lana escorada no capo do meu carro. De ímpeto ela esbanja um sorriso doce e caminha na nossa direção.

—  Por favor, não façam suspense. — Lana suplica entrelaçando suas mãos uma na outra.

—  Mamãe, eu estou encantada. Lilly é maravilhosa e sensível. Conduz tudo tão tranquilamente. — Suspira plenamente extasiada.

—  Lilly é a responsável pelo projeto do SOS Aids, Lana, eu a admiro tanto... — Lana cruza os braços e tenciona a testa bastante incomodada.

—  Já pude perceber que a tal Lilly é perfeita, não tem falhas,  é uma criatura maravilhosa. — Revira os olhos enciumada. Claro que não existem motivos reais para esse ciúme, levando em consideração que não somos um casal, apenas amigos. Devo relevar, dizem que amigas costumam ser possessivas para preservar a amizade

—  Mãe não sinta ciúmes, Michael se comportou muitíssimo bem. — Ri Cindy matando Lana de vergonha. A pobrezinha está exageradamente enrubescida, ah como me encanta a timidez dela.

—  Por favor minha filha...

— Sem problemas Lana.— Interfiro educadamente. — Sei que ela está apenas se descontraindo. — Amenizo o clima tenso, milagrosamente defendendo Cindy.

—  Às vezes sou uma chata autoritária. — Justifica posicionando as mãos na cintura.

— Quase sempre, frequentemente você é uma chata mamãe. — Cindy mostra a língua brincalhona para a mãe e elas caem na gargalhada.

—  Meninas o céu indica que irá despencar uma tempestade. — Migro os olhos para as nuvens carregadas. — Venham, deixarei-as em casa. — Oriento me aproximando do carro e elas espelham a ação. Ainda escuto atrás de mim as risadas leves das duas, enfim paz. Cumpri minha missão com êxito, uni mãe e filha. Nunca tive tanto orgulho de meus esforços. Esse magnetismo que me liga a Lana começa a fazer sentido, talvez eu precise prestar mais atenção nela, enxergá-la como uma  mulher extraordinária e bela, não só por admiração e gratidão pela luz que trouxe para minha vida que se resumia a escuridão.

                                                                                             
Dias depois - Tarso 

Empurro a porta envidraçada de correr e avisto meu escritório minuciosamente arquitetado para ser aconchegante. Jerry me recepciona com uma aceno de cabeça breve e desliga o celular rispidamente.

— Michael, nos a encontramos! —  Brada Jerry no mesmo instante que me acomodo na poltrona negra de couro.

—  Do que está falando? Traduza! — Ordeno desconfiado que o paradeiro de Sophie chega ao fim. Finalmente terei a oportunidade de ficar cara a cara com aquela vagabunda golpista. O sol nasce para todos, e chegou a minha vez de virar o jogo.

—  Sophie entrou em contato comigo. Especulou bastante sobre o divórcio e garantiu que entrará em um acordo com você. — Me coloca a par das novidades e  intenções obviamente sujas de minha infelizmente ainda esposa juridicamente.

— Porra, a desgraçada deve estar arquitetando uma proposta desonesta para me arrancar uma boa fortuna. — Praguejo consternado a um fio de formular uma saída sanguenta para dar fim a vida da infeliz que destruiu minha fé no amor.

— Há chances violentas desse retorno envolver dinheiro. Ela citou que não sairá desse casamento sem ser beneficiada. A mulher é a reencarnação do diabo meu amigo, melhor se preparar para ir a guerra. — Adverte preocupado com minha sanidade e claro meu patrimônio.

—  Me passe o endereço do hotel que a desgraçada está hospedada. Espero tempo demais por esse acerto de contas. — Vocifero tremendo de raiva. Dessa vez Sophie encontrará um homem diferente.

—  Na sua casa. É para lá que ela voltou. — Responde notoriamente indignado. Como ela ousa? Minha casa é o último lugar do universo que ela deveria pisar.

                        
Capítulo 8
                                                 
"Do inferno"
                            
                             

                    
 "Michael" 
 
— Aquela maldita está me testando. — Soco o ar como se estivesse atingindo Sophie, e pudesse machucá-la telepaticamente. — Me diga, ela quer me aborrecer, destruir novamente minha vida e mesmo assim devo assistir isso no camarote vip? — Excedo meu limite de paciência.

— Se sujar suas mãos com aquela vagabunda perderá a chance de ser feliz do lado de uma mulher honesta. Lana, está escrito no seu olhar que essa mulher é um anjo caído do céu capaz de despertar paixão em você Michael. — Metaforiza o papel que acredita que Lana assumiu. Negar o magnetismo entre eu e aquela morena deslumbrante isso não não perderei tempo fazendo, seria imaturo enganar a mim mesmo. Não me lembro de ser covarde em outras circunstâncias, mas agora pretendo desvendar que bagunça de sentimentos ronda minha mente, deixar fluir naturalmente e caso Lana seja meu "anjo" tratarei de garantir sua permanência em minha vida. Só preciso de tempo, conhecer cada falha e qualidade dela.

— Jerry, precisa compreender. — Dou uma tossidela chamando a atenção dele. — Sou um homem adulto e tenho o entendimento do significado especial de Lana, ela tem sido minha tábua de salvação e reacendido a tal chama da esperança, graças a sua amizade, toda aquela sensação de solidão que me consumia já não existe. A questão é que estou buscando ouvir a voz do coração para encontrar a resposta para toda a euforia que venho sentindo. Talvez seja realmente... — Penso mil vezes antes de recitar a palavra que evito proferir desde a experiência desgastante com Sophie. — Amor... ou gratidão, possivelmente admiração...

— Na verdade, todos os três juntos e eles se encaixam completando o quebra cabeça. Está amando Michael, o amor, enfim chegou. Dessa vez como deve ser, leve, puro e intenso. — Mata supostamente a charada e eu permaneço perdido em meu labirinto sem saída, será que permiti que outra mulher entrasse de mansinho na minha vida e me arrebatasse?

— Eu não posso...— Murmuro.

— Não pode ou tem medo de encarar? — Desafia tocando na ferida.

— Sim, ainda tenho receio de sofrer por uma garota, de amar e não ser correspondido, de que arranquem meus coração e pisem nele em minha frente. Lana parece diferente, no entanto algumas vezes as feras usam disfarces para abater suas presas. — Entono ainda balançado por uma torrente de dúvidas.

— Se não tentar jamais irá descobrir. Seja cauteloso, sei que depois da decepção que sofreu tende a fazer pré julgamentos sem mal perceber. Michael, eu me lembro de meu pai me ensinar a nunca julgar as pessoas, pois não sabemos se elas tiveram as mesmas oportunidades que nós. — Filosofa causando em minha linha de raciocínio um ligeiro frisson. Lana já provou através da nossa breve convivência que possuiu integridade. Recusou meu dinheiro e seu olhar transmite sinceridade. Não quero e não devo ser injusto com ela, as aparências enganam, apesar da origem humilde dela tem mais caráter que qualquer dama da alta sociedade. Convivia frequentemente com herdeiras de milionários, todas tinham em comum o sangue nobre e a futilidade. Eram ocas por dentro, e eu odiava a competitividade em relação a quem tinha a conta bancária mais elevada. Como eu abomiva e continuo amaldiçoando seres humanos que pensam em ostentar.

— Você está coberto de razão, Lana merece uma chance... Entretanto, nada é definitivo ainda, por enquanto seguiremos sendo bons amigos. — Inclino as sobrancelhas dando ênfase a palavra "amigos". De nenhuma maneira poderia ir além disso, darei uma chance a Lana de se consolidar no posto de amiga, confidente, nada mais que isso, por enquanto.

— Algumas pessoas não nascem para serem felizes ou encontrar o amor verdadeiro, sou uma dessas. — Foco o olhar no chão, despistando minha dor legítima. Se ao menos eu conseguisse vislumbrar um arco-iria após a tempestade? Mas esse milagre não é possível, talvez porque eu prossiga não estando preparado para amar e receber amor.

— Todos nascem para amarem e serem amados. Se escolher desperdiçar o que a vida está lhe oferecendo um dia se arrependerá de tudo que seus medos o impediram de fazer. Agarre essa mulher, ela tem sido a responsável por seus sorrisos, atribuiu um novo sentido a sua vida. Permitirá que Lana se vá? — Indaga esboçando uma expressão de decepção no canto externo dos lábios. Será que devo enxerga-la acima de uma amiga? Porra! Que feitiço lançaram para mim? Seja lá o que foi feito, muitas coisas foram modificadas na minha percepção sobre o amor.

— Eu realmente não sei para que lado correr, nem se essa remota alegria que Lana despertou em mim é... — Engulo a seco, negando-me a finalizar a declaração.

— Amor! Exato, essa confusão mental é devido sua dificuldade em assumir o que qualquer ser humano com a mínima sensibilidade sabe. Sou uma excepcional observador Michael, tenho absoluta certeza que está balançado pela morena gostosa! — Solta uma risadinha espontânea e sinto minhas estruturas estremecerem de ciúmes. Sim, Jerry jamais deveria se referir a Lana como um objeto e terá que arcar com as consequências de seu impulso.

— Enlouqueceu? Não admito que fale assim de Lana, Jerry, e escute bem, nunca mais volte a chamá-la assim ou.... — Repenso o que pretendo dizer e tomo uma lufada de ar, vou ensiná-lo a respeitar uma dama. — Lana não merece ser desrespeitada, é uma mulher decente!. — Repreendo controlando meus impulsos de agredi-lo pela forma asquerosa que falou de Lana.

— Strike! — Gargalha abertamente. — Essa crise de ciúmes comprova minhas suspeitas. Vai negar que não está se corroendo de ciúmes? — Desafia. — Eu vi em seu olhar que pensou em me dar uma surra pelo meu comentário inofensivo. Pode ser esperto, um gênio das finanças, mas acaba de se entregar e sim fiz de propósito, visando sanar minha dúvida. Alguém precisa tirar a venda dos seus olhos. Esqueça o passado, enterre esse rancor e se declare a Lana!

— Eu não... — Engasgo com as palavras, vítima de minhas próprias incertezas. Certamente algo de errado ocasionou esse acesso desnecessário de ciúmes. Caí em uma cilada estúpida. — Estou convicto de há muito trabalho a ser feito e o principal tenho que ir para casa, encarar aquela vadia. — Desconverso estrategicamente. — Sophie voltou, e a guerra está declarada. — Cresço a voz e fecho os punhos atordoado com a ideia de ter que respirar o mesmo ar que aquela depravada.

— Vai vencer toda essa fase difícil, Sophie é uma covarde que cairá mais cedo ou mais tarde, usa as pessoas em benefício próprio. Gente assim acaba solitária, ela pagará pelo mal que disseminou, meu amigo. — Prediz incorporando um visionário convicto do futuro. Espero que o universo conspire ao meu favor, a energia negativa de Sophie contamina quem está ao redor.

— Quero o divórcio, é a única coisa que exijo dela. Depois de assinar os documentos que ela vá para o inferno e carregue o amante paspalho. — Dessa vez soei frívolo, é a pura realidade. Para me livrar dos joguinhos de Sophie irei pressiona-la a assinar o maldito divórcio. Pode custar minha honra, mas aquela vadia terá que cumprir com os trâmites legais da nossa separação.

— Respire fundo, ao lidar com uma manipuladora experiente como ela precisará trabalhar com a inteligência. Caso aja pelo torpor do momento, cego pelo ódio descomunal ela usará suas fraquezas contra você, é aí voltamos a estaca zero. — Alerta franzindo o cenho.

— Não se preocupe contra o veneno dela já estou vacinado. Mordo os lábios, suspiro lentamente e me ponho a andar. Jerry meneia a cabeça e captura uma caneta para reler as cláusulas dos últimos contratos lucrativos que fechamos. Me despeço do meu amigo secamente, pois meu bom humor acaba de vacilar e deixo meu escritório, preparado para confrontar a traidora que um dia roubou meu sossego.
                                                                            ***

As batidas desreguladas de meu coração denotam meu estado de espírito raivoso. Fecho os olhos bruscamente lembrando do quão fui ingênuo em acreditar em uma mulher interesseira e vazia. Se eu pudesse, detivesse o poder de modificar os fatos, ah se fosse possível voltar no tempo... Maldito amor, maldito desejo que me cegou durante anos. Sophiedeu tantos indícios de que para ela eu valia de acordo minha conta bancária. Eu participei de um espetáculo "majestoso", um baile de máscaras repleto de mentiras e jogos de sedução, eu era o bobo da corte daquela desalmada.

Novamente exprimo meus olhos e ranjo os dentes, segurando a maçaneta como se minha vida dependesse disso. Giro o metal. dourado vagarosamente e sinto minhas defesas se ruírem ao pisar na suíte que um dia acreditei ser um ninho de amor. Na cama que compartilhamos se encontra a figura extremamente serena de Sophie o que só aguça minha repulsa por ela. Nada nela mudou, os olhos azuis ainda ornam um brilho traiçoeiro, a pele bronzeada permanece sedosa, os lábios carnudos se mexem perversamente, ela é o pecado vivo em personificação de uma descarada sem escrúpulos. Suas curvas bem delineadas já não me despertam lasciva, tampouco me enfeitiçam, a beleza se torna transparente mediante a uma alma degradada. Quanto mais analiso suas feições despreocupadas dou-me conta que estou diante de uma criatura indomavelmente cínica. Se me restasse o mínimo bom senso deveria dar meia volta daqui e passar a noite em um hotel, e eu o farei, mas não antes de trocar algumas farpas com Sophie. Ilesa de sua própria arapuca ela não sairá, foi ela que criou toda essa situação, e não abaixarei a cabeça dessa vez.


— Como ousa deitar-se novamente na cama na qual... — Meu coração falha em uma batida e sinto meu corpo fervilhar como a larva de um vulcão em erupção. Minha vontade é de arrastá-la para fora não só da minha casa, mas também de minha vida.

— Um cavalheiro, exatamente assim que esperava ser recebida pelo meu marido. — Ri se revirando na cama para apoiar os cotovelos na mesma e equilibrar-se neles. Não há um mísero resquício de arrependimento em seu olhar, para ela realmente nada parece ter mudado entre nós.

— Sophie, eu ordeno que assine o divórcio e nunca mais me perturbe. Não acha que já provocou desgraças suficientes? Talvez, algum dia o que tivemos fosse uma obra prima, pena que você fez questão de destruiu-la, matou o sentimento puro que eu nutria. Eu a quero fora do meu caminho, fora da minha suíte, não suporto olhar para sua cara de vadia! — Grito paralisado a alguns metros da porta, sem coragem de me aproximar dela, temendo cometer um assassinato e defesa da minha sanidade. Em nome da honra.

— Eu sei que você me deu todas aquelas flores e eu deixei-as morrer, fui uma estúpida em abandonar um homem tão bom... E tenho colhido os frutos da minha impetuosidade, meu amor. Só peço para relevar, eu estava fora de mim, me perdi no caminho e não conseguia me encontrar. Sou um desastre em expressar emoções Michael, embora precise de seu amor, seus lábios em mim, dos arrepios que seus beijos me provocam. Por favor, me faça sua.— Implora falsamente, levando as mãos aos seus seios, em forma de provocação. A infeliz não enxerga o óbvio, não acarreta absolutamente nada em mim, além de completo desprezo. As artimanhas apelativas não me abalam, ao contrário de antigamente que eu a desejava com loucura.

— Então quer que eu me deite ao seu lado? — Gargalho sustentando o sarcasmo que a fará compreender meu nojo. — De você, só quero o divórcio e que faça o favor de ir para o inferno! — Fito-a diretamente quebrando suas promessas em mil pedaços em retribuição as suas insinuações sexual. deploráveis. — Sinto profundo nojo de estar debaixo do mesmo teto que uma meretriz que me adoeceu não só fisicamente como espiritualmente. Por sua causa não consigo confiar em ninguém, morri para as inesgotáveis oportunidades de felicidade. Por causa de sua ambição sempre tenho medo de ser usado novamente e descartado quando não tiver mais utilidade. Graças a sua traição desumana eu me tornei um ser sem perspectivas de futuro, desisti de tudo que sonhei nos tempos de jovem destemido. Eu lhe entreguei meu coração, dediquei cada segundo da minha vida a faze-la feliz e realizada, enquanto ria de mim com seus amantes pelas costas, claro e desfalcava a Tarso. Todavia, o pior castigo foi abrir os olhos e me deparar com minha esposa e descobrir da noite para o dia que dormia ao lado de um monstro... Aquela mulher que acreditava me completar jamais me amou, jamais se importou em onde eu ficaria no meio do furacão e um belo dia resolveu sumir no mundo em companhia de seu amante...— Concluo meu desabafo sentindo o choro travar minha garganta, precisava me livrar de todo essa magoa, jogar a verdade por mais dolorosa que seja na cara da verdadeira culpada de minhas frustações.

— Eu escolhi você imbecil, porque sabia que poderia manipula-lo, sempre soube que faria o que eu quisesse, sim seus milhões foram fator decisivo. — Esboça um sorriso diabólico e deixa de lado o personagem de mulher arrependida. — Não quer falar a verdade? Pois, estou fazendo a gentileza de apresentá-la a você Michael, e asseguro que nunca será homem o bastante para mim, aliás nunca conseguiu ser.... De um otário como você, só quero dinheiro, tem que me pagar muito bem pelo tempo que desperdicei o aturando meu querido. — Cruza as pernas calmamente e se joga nos travesseiros aos risos, triunfante por me ridicularizar.

— Cale a boca desgraçada! — Vocifero cerrando o maxilar e os olhos.

— Pobrezinho, deve feri-lo tanto saber que é um horror na cama e sua esposa teve que buscar em outros braços o que não conseguiu dar a ela, prazer. — Satiriza posicionando seu dedo indicador entre os lábios. Venenosa, sádica, cruel aí está minha esposa.

— Já chega! — Corro até ela e ergo a mão em direção ao seu rosto dominado pela ira e sede de machuca-la. Então antes de partir para cima de Sophie e me equiparar a ela, obrigo-me a engolir o orgulho e abaixo a mão, voltando a racionalidade. Não sou baixo como ela, estapeá-la não trará minha paz ou saúde de volta, muito menos aliviará essa sensação de estar sendo rasgado em micro pedaços.

— Uau! Estou impressionada. Não conhecia seu lado agressivo, amorzinho. — Diverte-se as minhas custas.

— Saia do meu quarto. — Brado tentando digerir as palavras dela, sem energias para continuar escutando os desaforos de Sophie, tolerando seu ar de superioridade intragável. — Vá para um hotel ou para a sarjeta, apenas desapareça das minhas vistas!

— Caso esteja com amnesia, não tem problema eu ajudo-o a se recordar, irei refrescar sua memória "amorzinho". Essa casa também é minha, e para sua alegria não vou a lugar algum! — Argumenta mantendo a mesma postura pacifíca, sugerindo que veio para ficar, para me infernizar.

— Sr. Jackson, desculpe interromper, mas a Srta. Lana está aqui, pedi que ela aguardasse e expliquei que está trancado no quarto com sua esposa. — Minha distração não deixou que eu percebesse que a porta se abriu e agora ouvindo minha governanta me informar que Lana veio me visitar, um balde de água fria caí sob mim.

Não suporto a ideia de Sophie interferir na nossa amizade. Porra! Se essa traidora tiver o atrevimento de caluniar ou insinuar algo a respeito do caráter de Lana, eu perderei o controle, além do mais temo que Lana interprete tudo de maneira equivocada. Afinal, não lembro de ter entrado em detalhes sobre o fato de não estar legalmente divorciado, não porque não confio nela, só quis poupá-la de meu drama, e também não podia prever que Sophie ressurgiria das cinzas. Somente evitei provocar conflitos entre nós, e já não me imagino perdendo sua companhia. Necessito do sorriso dela para vencer os fantasmas do passado. Preciso de sua doçura com urgência, seu perfume suave e aconchegante como brisa. Preciso dela hoje e sempre.


                        
Capítulo 9
                                                 
"E o vento levou..."
                            
                                

                    
"Michael" 
 

– Quem é essa mulherzinha, Lana? – Sophie inquiri me trazendo de volta de meu devaneio, ouvi-la depreciando Lana me fere como se ela tivesse enterrado uma lança no meu coração.


– Espero ser bastante claro! Nunca mais utilize esses termos mesquinhos para se referir a Lana. Ela não merece ser difamada por uma vadia da sua laia, ao contrário de você tem caráter.– Perco a elegância novamente, afinal quem provoca essa selvageria em minha personalidade é Sophie. Ninguém mais me tira do serio assim. Fato!


– Quer dizer que fica contra sua esposa para defender sua amante? Interessante! – Gargalha se fazendo de rogada. Claro, agora converteu-se a traída da história.


– Lana não é uma qualquer que se submeteria a isso. Além do mais, não tem o direito de exigir absolutamente nada de mim. Que moral uma mulher que caiu no mundo com o amante após furtar minha empresa possui? – Balanço a cabeça em negação, deixando o quarto em seguida, furioso com o retorno inesperado de Sophie e sua relutância em criar raízes na minha casa. Entretanto, o que realmente me assombra no momento é a reação que Lana terá quando estivermos frente a frente. Não posso faze-la entender meus problemas judiciais com a megera que me casei. Mas também não pretendo abdicar de sua amizade. Sou dependente dela, de suas palavras e abraços. Sei que devo estar beirando a fronteira entre sanidade e a loucura. Acontece que não me importo, apenas preciso encontrar uma maneira simples de explicar meu drama conjugal a Lana.


                                                                             ***

Empurro o medo goela abaixo e atravesso a biblioteca, mirando meus olhos em Lana que está sentada em uma poltrona, cabisbaixa, ela parece emergir para um universo paralelo. Gostaria de desvendar seus pensamentos, decifrar sua alma nesse instante, mas limito-me a chamar sua atenção com uma tossidela discreta.



– Desculpe estragar seu momento de reflexão! – Tento me redimir e ela dá de ombros simplesmente.


– Olá Michael. Eu que deveria ter ligado antes de aparecer. É grosseiro visitar as pessoas sem dar-lhes  um aviso prévio. – Levanta-se abruptamente da poltrona evitando me fitar diretamente.


– Sinto muito por tê-la deixado esperando meu anjo. Creio que precisamos conversar, não quero que pense besteiras errôneas de mim.– Varro as bochechas dela com as pontas dos dedos escutando-a suspirar hesitante.


– Isso nao é necessário, Michael. Não me deve satisfação a respeito da sua vida particular. Somos amigos e... compreendo que mantenha sua privacidade intacta. – Contraria meu pressuposto, agindo estranhamente comigo.


– Lana, não quero e não vou permitir que... se vá. Por favor, me escute, é tudo que lhe peço. – Suplico.


– Está bem. – Aquiesce mostrando os dentes pela primeira vez. Já estava carente desse sorriso encantador que revira tudo ao seu redor.


– Sophie reapareceu e... – Puxo o ar para dentro dos pulmões ganhando coragem para revelar o motivo de minha esposa estar aqui, debaixo do mesmo teto que eu. – Está determinada a ficar aqui até estarmos legalmente divorciados. Se trata de dinheiro Lana, sempre se tratou disso. – Solto uma risada ácida, enfiando as mãos na calça social.


– Mas ela não fugiu com o amante? – Indaga brandamente, seu semblante soa mais meigo agora.


– Exato, e ter me destruído uma vez não é o suficiente para ela, Lana. Sophie quer despedaçar o resto  que sobrou do meu coração. Ela é tão casualmente cruel. – Divago espremendo os olhos para impedir as lágrimas de caírem.


– Vai lutar Michael, não há outra alternativa. Terá que ser forte e não sucumbir aos caprichos dessa cobra, óbvio que ela usará as armas que tem, mas sabemos que você é praticamente de ferro. Um homem inteligente e sensível, íntegro, são tantos adjetivos que eu poderia citar para exprimir minha admiração! – Enaltece naturalmente afável como só ela consegue se portar.


– Tem razão, não me entregarei. Sophie sairá dessa casa sem levar um mísero dólar meu! – Levanto meu ego motivado pelas palavras de Lana.


– Esse é o Michael que conheci. – Comemora espalmando as mãos em meu peitoral. E então os olhares se cruzam, e alguma especie de magia acontece. Algo inexplicável e acalentador de se sentir.


– Eu voltei, estou aqui. Continuo sendo o mesmo amargurado que conheceu. – Quebro o contato intimista que arrebatou-nos por alguns segundos e noto que Lana está corada.


– Nem de longe me lembra aquele homem sem brilho no olhar que puxei assunto despretensiosamente num bar enquanto bebia um Dry Martini. Você mudou Michael, eu mudei, tantas coisas mudaram para nós até chegarmos aqui, somente nosso elo de cumplicidade permanece igual.Eu vim até você hoje com o intuito de agradecê-lo pelo milagre que tem imperado na vida de Cindy. Graças a sua generosidade minha filha está desabrochando, eu certamente não estaria de pé sem seu apoio incondicional. – Seu discurso é tão certeiro em minha alma. Belo e sincero. Sua voz embargada pela emoção faz o chão estremecer debaixo dos meus pés. Por que Lana me balança nessa proporção? Ela não precisa de mais do só que ser ela mesma para me hipnotizar.


– Sabe que não levo o mérito sozinho pelo progresso de Cindy. O desejo de mudar partiu dela, eu só ajudei-a enxergar que tem uma mãe maravilhosa que a ama e torce por ela. Enquanto vocês tiverem uma a outra terão tudo. – Destaco tocado com as palavras doces dela. Sinto que algum sentindo oculto ronda essa declaração, como se algo fosse mudar entre nós daqui para frente.


– Posso te pedir um abraço, Michael? – Murmura num fio de voz e eu a acolho em meus braços carinhosamente. Sentindo que estar perto dela é meu céu, a melhor sensação do mundo. – Se eu cometesse um erro, houvesse um motivo que me levasse a lhe esconder alguma coisa, você ainda assim ficaria do meu lado? Se importaria comigo? Seria capaz de me perdoar? Entenderia minha realidade humilde? – Dispara questionamentos incoesos despertando em mim confusão. Por que eu teria que perdoa-la? Não há falhas graves de caráter nessa mulher, que sentido tem essa atitude emocional?


– Mesmo que eu quisesse eu não conseguiria odiá-la porque eu te a... – Subitamente arregalo os olhos e freio a frase diante de minha suposta "confissão".


– Você o que Michael? – Lana sorri na expectativa de ouvir um "eu te amo", talvez, e é possível que eu a ame? Absolutamente.


– Admiro... É isso! – Completo vendo umA pontada de desapontamento transbordar em seus olhos.

– É recíproco Michael. Eu que fantasiei... Bobagem. Somos amigos, certo? Apenas amigos. – Desvia o olhar para o teto, sei que se sente incomodada. Eu a magoei mesmo que não intencionalmente, será que Lana acredita que possamos pular o estagio amizade? Jamais quis iludi-la, sua dor dói em mim também. E o pior é  que lá no fundo do meu intimo correspondo ao sentimento dela. Sim, todos os sinais estão surgindo, até as famosas borboletas no estômago sinto na presença dela.


– Hey, estou aqui com você e quero que confie em mim Lana. Não vou lhe prometer nada além de amizade no momento, mas o futuro pode reservar uma surpresa linda. O que está acontecendo? Me diga... É algum problema financeiro? – Afago seus cabelos preocupado com seu desespero eminente.


– Não quero seu dinheiro, Michael. – Reforça. – Farei qualquer sacrifício para arcar com os custos do tratamento de Cindy.


– Para que tanto orgulho Lana? – Rebato franzindo o cenho. – Deixe-me ajudá-la. – Discordo de seus argumentos.


– Está enganado, isso não é orgulho e sim dignidade. Talvez um dia compreenda meus motivos e a decisão que estou prestes a tomar. – Suspira resignada, enxergo através de seus olhos que pretende fazer uma coisa que mudará completamente o rumo de sua vida.


– Está começando a me alarmar falando por entrelinhas Lana. Tem certeza que não quer desabafar comigo? Posso ouvi-la. – Ofereço-lhe meu ombro amigo e a única coisa que consigo em retribuição é um sorriso insosso, daqueles que a pessoa faz um esforço sobre humano para forjar.


– Agradeço do fundo do meu coração sua amizade, Deus queira que não esteja fazendo algo ruim para nós, mas tenho que agir como uma mulher adulta, mãe de uma adolescente problemática, um ser humano sem aptidão para o sucesso profissional, ou graduação em universidade pública. Eu estou desmoronando e ninguém pode me salvar. Me perdoe por ser tão fraca. Até um dia quem sabe, Michael. – Formula uma despedida para nós e a angústia da qual me curei desde sua chegada em minha vida reaparece, explodindo dentro do peito.


– Não diga isso! "Até um dia quem sabe", explique-me o que significa essa expressão, por acaso uma despedida? – Seguro-a pelos braços delicadamente. – Pelo amor de Deus Lana, está me enlouquecendo.


– Eu tenho que ir, me deixe partir. – Implora com lágrimas nos olhos e desvencilha-se de mim, logo em seguida correndo na direção da porta. O baque é quase insuportável, novamente me sinto vazio, morto por dentro. Após sentir meu mundo ruir e perder tempo tentando compreender porque Lana despediu-se estranhamente e fugiu, tento alcança-la mas é tarde demais. Ela já se foi, embora queira me afastar dela não conseguirá. Tenho seu telefone, sei qual o endereço fixo dela e não vou desistir. Lana é a coisa mais importante para mim, ela tornou-se uma luz brilhante naquilo que eu denominava fim do túnel. Amedrontado como um garotinho que perdeu-se no crepúsculo, permito-me ir ao chão e repouso a cabeça entre os joelhos, chorando. Chorando feito um condenado, um pobre solitário.

                                                                                  ***

– Michael, sua governanta garantiu que estaria trancafiado nessa biblioteca e... Puta que pariu. – Uma voz fraca me faz erguer a cabeça depois de emergir em um pranto compulsivo e perder a noção do tempo. De relapso reconheço a figura espalhafatosa de Jerry, que está perplexo com meu estado.


– Meu amigo, que tragédia aconteceu dessa vez? – Indaga sério.


– Nada... – Obrigo-me a ficar de pé e ajeito o cabelo amassado com os dedos.


– Seja o que for que Sophie fez, ela pegou pesado! – Sugere.


– Não é por ela. Sophie não merece que eu derrame uma lágrima sequer. – Murmuro arrastando cada sílaba.

– Então quem é o responsável por lhe desmontar Mike? – Retrai os lábios aguardando uma resposta convincente de minha parte.


– Lana esteve aqui, e ela parecia transtornada... Jerry ela citou algo sobre partir, estava se despedindo sutilmente e não sei se sou capaz de lidar com sua ausência... – Respiro profundamente desprovido de coragem.


– Está sendo muito precipitado, ela ter se portado dessa forma é normal na situação que se encontra. A doença da filha a abala, nada mais natural do que Lana ser emotiva às vezes. Essa mulher tem sido forte por longos anos, dê um tempo a ela. Se coloque no lugar dela, são muitas responsabilidades em suas costas. – Opina expondo seu ângulo do ocorrido. De fato, Lana não leva uma vida pacata, sua cruz é demasiadamente pesada de se carregar.


– Irei atrás dela! Agora! – Exclamo convicto.


– Infelizmente terá que adiar. Os novos clientes reenvidicaram nossa presença em Paris em uma reunião. Querem discutir sobre os contratos, margem de lucro na compra de tecidos. – Comunica estragando meus planos de tirar satisfação com Lana. Droga!


– Tem de haver outra solução, viajar e negócios para Paris não integra minha prioridade Jerry. Cancele, não vejo nenhuma outra opção viável! Resolva essa questão. – Instruo, ainda preso a tristeza que Lana demonstrou ao sair por aquela porta.


– Michael eles exigiram nossa presença para fechar negócios. Se perdermos esses clientes estaremos fodidos. – Destaca irredutível.


– Sim, eu me rendo. Está bem, vamos embarcar agora mesmo. Quanto antes chegarmos a Paris mais rápido estarei liberado para resolver minhas pendências pessoais. Tentarei ligar para Lana, mas duvido que ela me atenda ou fale comigo. A sorte foi lançada. Resta pensar positivo. – Dou uma tapa no ombro de Jerry me prontificando a me encaminhar ao meu quarto para fazer a mala, pegar meus documentos, claro, o passaporte e para meu desprazer ouvir as calúnias irritantes de Sophie. Pensando bem, essa viagem repentina veio em hora oportuna. Preciso espairecer, decidir como agir com Lana e meus sentimentos. Paris me trará paz o suficiente, e toda a leveza que careço para tomar as rédeas da minha vida.

 Dias depois - Restaurante Le Cinq
  
Paris

– É um enorme prazer atender ao seu pedido Henry. A Tarso conjuga não somente a sofisticação e liderar o mercado de tecidos... Mas essencialmente a satisfação de nossos clientes.


– Igualmente Sr. Jackson. Estamos exultantes em negociar com um dos homens mais influentes nesse ramo.– Henry leva um guadanapo aos lábios, já que está degustando uma deliciosa sobremesa de chocolate belga.


– Nos encontramos em Nova York, Henry? – Encurto o assunto dispensando a troca de elogios. Nem posso acreditar que finalizamos as negociações e as reuniões. Finalmente estou livre para retornar ao Estados Unidos e abraçar Lana.


– Sim, nos vemos por lá. Darei um jeito de comparecer nas próximas reuniões em Nova York, assim não precisará se locomover para outro país. Sinto muito pelo imprevisto, lamentavelmente meu pai faleceu e...


– Tudo bem, eu compreendo. Meus sentimentos. – Me solidarizo pela perda dela.


– Obrigado... É um lema da vida que não conseguimos nos conformar. – Lamuria. – E sempre doloroso perder quem amamos. – Friso ansioso para pegar o primeiro voo para Nova York.– Confesso que preciso descansar. Esses últimos dias foram esgotantes ao extremo.


– Já terminamos... Vá para o hotel e relaxe.– Aconselho disfarçando meu desejo em dispensar o pobre empresário. Ele entendendo minha inquietude para por fim a conversa assente cordialmente e após um aperto de mão deixa o restaurante no qual jantamos, e principalmente tratamos de negócios. Por sorte Jerry decidiu ficar no hotel ou certamente teria prolongado a noite entediante.


Levo a taça de cristal a boca e bebo um gole de vinho. A bebida desce queimando a garganta, junto com minha frustração em estar aqui quando deveria ter procurado Lana e esclarecido as coisas. Meu sexto sentido me diz que a gravidade do segredo que ela me esconde é inimaginável. Lana tremia incessantemente aquele dia na minha biblioteca. Detalhe que deixei passar no torpor da apreensão, mas que agora me alarma.A dor expressa naqueles olhos azuis, como se estivesse me pedindo perdão silenciosamente, há uma explicação plausível para a atitude dela. – Meneio a cabeça criando teorias infundadas sobre a estranheza de Lana.

Capítulo 10
                                                 
"Separados pelo acaso"
                            
                           


               
Michael

New York City
 
— Jerry, eu tenho que ir direto até Lana. Não suporto essa aflição, sinto que ela mentiu, na verdade está me ocultando algo, esconde um segredo. A tensão em sua voz aquele dia era paupável... Porra! Por uma linha eu diria, muito tênue não agiu com rispidez comigo, mal me encarava. — Relato angustiado. Estou no volante e mesmo assim não paro de interagir com meu amigo. Preciso aliviar a tensão do mal pressentimento que vem me atormentando desde o último contato que tive com Lana. Ela não atende o celular, nem responde minhas mensagens. O que já era de se esperar.

— Será cara? Acho que Lana só estava nervosa por causa da filha! De qualquer forma é mais coerente aguardar para conversar com ela e depois tirar suas conclusões. — Aconselha.

— Chegamos. — Aviso estacionando em frente a uma casa humilde, porém graciosa em virtude do jardim logo na entrada.

— É aqui que sua amada mora? — Jerry ri e eu o fuzilo com o canto do olho.

— Você não cansa? — Dessa vez sou eu o idiota a cair no riso.

— Te espero aqui Mike. Prefiro não atrapalhar vocês. Seja lá sobre o que irão falar, creio que não deva interferir em seus assuntos pessoais diretamente. Ademais a moça pode sentir-se acanhada com minha presença. — Justifica os motivos de optar por não me acompanhar.

— Obrigado, realmente é mais seguro não arriscar deixá-la constrangida. Lana tem que estar a vontade e eu devo lhe inspirar confiança para que partilhe comigo seus problemas. — Desço da BMW e fito o céu nublado que reflete meu estado de espírito, enfim atravesso o portão de madeira da casa de Lana, e observo ligeiramente algumas árvores, roseiras, para em seguida pousar meus olhos em cima da pior surpresa que poderia vir a ocorrer, subitamente um borrão de lágrimas embaça minha visão no instante que avisto uma placa branca e releio o dizer "Vende-se"grafado em vermelho. Por que? Lana simplesmente mudou-se e pôs a casa à venda. Provavelmente afundou-se em dívidas e no intuito de quitá-las quer vender o imóvel, é possível também, que quisesse somente desaparecer da minha vida, fugir de mim . A questão é que agora não sei por onde começo a procurá-la, tampouco se a encontrarei. É como procurar uma agulha em um palheiro. Nova York é uma metrópole absurdamente extensa. Eu a perdi. Não... Arrumarei uma forma de trazê-la de volta, cuidarei dela e de Cindy. Serei seu guia, seu companheiro, seu porto seguro. Serei tudo que ela desejar que eu seja, por Lana sou capaz de abrir mão de meu ego, e a única coisa que almejo em troca é seu carinho. Nada mais.

Volto a analisar as nuvens escuras indicando que uma tempestade está se aproximando e corro para meu carro buscando me proteger da chuva que irá cair a qualquer momento. Ao me enfiar dentro dentro do veículo sinto os olhares de desconfiança de Jerry. Afinal não proferi uma mísera palavra, essa apatia é preocupante tendo em vista que não permaneci cinco minutos dentro da casa de Lana.

— Você desistiu antes de tentar? — Jerry anula o silêncio e eu piso fundo no acelerador. — Pelo menos nos mantenha vivo! — Repreende minha imprudência ao dirigir feito um louco desgovernado e eu diminuo a velocidade, acatando sua advertência.

— Lana parece não querer saber de mim. Colocou a casa à venda Jerry, nem me informou que pensava em se dispor do imóvel. Eu sabia que a atitude dela naquela biblioteca ultrapassava a normalidade e agora perdi a única mulher honesta quer cruzou meu caminho. — Lamento me concentrando na estrada.

— Então admite que ela é importante? — Questiona sem abdicar do sarcasmo que tanto o agrada.

— Nunca neguei o valor de Lana em minha vida, ou o poder de me trazer alegria que ela possui..
Apenas estou me acostumando com a possibilidade de permitir que outra mulher entre em minha vida, se aposse do meu coração impiedosamente... — Rebato sem titubear.

— Vá atrás de sua felicidade meu amigo, sabemos que ela está com Lana. — Reforça.

— Eu vou encontrá-la Jerry, mesmo que contrate detetives e especialistas no assunto estou disposto a lutar pela permanência dela em minha vida. — Sentencio, nutrindo dentro da alma a esperança de ter algum auxílio do destino.Os ventos que a levaram para longe de mim a trarão de volta. Sinto que esse não é o fim. Talvez um novo ciclo para ambos, mas nada além que uma breve separação.

                                                              
Lana


Eu nunca pensei que chegaria ao ponto de ver meus sonhos se dissiparem diante dos meus olhos. O amor próprio que existia em mim foi enterrado no momento que decidi me sacrificar da forma que fosse em prol da causa de oferecer o melhor tratamento a minha filha. Eu oro silenciosamente para que Michael seja capaz de compreender, me perdoe pelo meu extremismo. Talvez ele nem se importe mais, a verdade é que me enxerga como uma amiga, nada além disso e esse fator contribui para que eu me afastasse. Era recuar ou sair ferida. Sei que o farei sofrer, mas não tem sido fácil essa distancia para mim também. Doí a cada maldito segundo sua ausência, tudo porque me afeiçoei excessivamente a ele, assim como Cindy que está visivelmente entristecida com os últimos acontecimentos. Minha pequena menina já sofreu tanto na vida, a perda do pai que nunca superou e agora sua avó falece. Sempre soube que mamãe estava definhando, todavia agora é definitivo eu a perdi para o Alzheimer. E após sua partida não via sentido em continuar naquela casa, ademais o lugar me lembra o pai de Cindy... São muitas lembranças devastodores em cada canto. Eu não podia prosseguir morando em um "mausoléu" com todas as más recordações.

Quando meu marido suicidou-se em nosso ninho de amor, desejei ir junto com ele. E novamente esse sentimento de vazio me faz desejar morrer. Ao menos o dinheiro da venda do imóvel será o suficiente para garantir o futuro de Cindy, seus estudos. Eu jurei a mim mesma que não tocarei no dinheiro e não pretendo faltar com a palavra. Jamais pude oferecer uma vida confortável a ela, então terei a hombridade de assegurar sua segurança financeira. Há outros motivos entre eles eu quis poupar Michael dos meus problemas, sentia que mesmo sem intenções estava claramente transferindo minhas obrigações a ele. Claro que embora me desdobre para fazer dinheiro, trabalhe de manhã e a noite não basta para cobrir todas as despesas. Graças a minha coragem em driblar meus valores, e orações para ganhar forças um novo emprego me permitirá cuidar dignamente de Cindy. Ainda não posso arranjar outra casa espaçosa para vivermos, mas provisoriamente estamos em uma pensão modesta, foi o que meu dinheiro permitiu pagar. Michael... Meu anjo. Deus o proteja e livre daquela mulher maléfica com quem casou-se cego pela paixão.

— Mamãe é o Michael de novo. Por que não atende o celular?  Ele merece uma explicação! — Sophie me entrega o celular e eu desperto de meus devaneios. Não posso levar essa ilusão adiante, foi mágico  enquanto durou, porém chegou a hora de colocar os pés no chão e me despedir. Cansei de ferir as pessoas que estão ao meu redor, Michael só pode me oferecer amizade, e eu absolutamente preciso dele como um homem que me arranca suspiros e me beija loucamente. Sim, eu esperei muito mais dele do que ter um amigo dedicado, lhe pedi demais. E amor, amor não se mendiga, não se implora ele deve vir gradativamente.

— Esqueça isso, Cindy. Já conversamos a respeito. Michael é um cara extraordinário, e desejo-lhe que encontre uma boa mulher, mas esse posto não é para mim. Jogar meus problemas nas costas desse homem seria muito egoísta da minha parte. Estou fazendo uma escolha pelo bem de todos. — Rebato desligando o celular. Todas as vezes que vejo o nome Michael piscando no visor acabo travando uma luta contra minha consciência para não cair em tentação de ouvir sua voz.

— O que aconteceu? Tenho notado a mudança drástica de seu comportamento... Tem haver com os empregos? Sei que trabalha incessantemente inclusive a noite para pagar meus remédios. Está na hora de recorrermos ao Michael, mediante a nossa situação o orgulho deve ser atropelado! — Manisfesta seu ponto de vista sonhador e eu tento conter minha amargura.A partir do momento que você se torna uma pessoa amarga morre por dentro, por isso jamais dou espaço para tal sentimento.

— Cindy eu sempre fui adaptada a ralar, pegar turnos absurdos, não se preocupe, jamais deixarei te faltar o essencial... Essa mudança de personalidade é um mecanismo de fadiga, e irá passar. Eu prometo meu amor, em breve estarei mais animada. — Asseguro para tranquilizar minha filha, embora não saiba até onde irá meu martírio sufocante com a consciência.


— Juro não te perturbar mais com relação a isso, mas quanto ao Michael. Acho que ele te ama mamãe, pena que não deu-se conta ainda, entretanto, ele se dará um dia. Está escancarado no sorriso que se desenha nos lábios dele sempre que te vê, está escrito nos olhos dele. — Decreta fazendo-me voar para um universo "amor". Se ele tivesse me dito que me amava, jamais o arrancaria da minha vida, possivelmente mandaria até o orgulho para o espaço e me jogaria em seus braços, me perderia naqueles olhos negros.


— Bobagem, pura ilusão... Um homem como ele, com sua capacidade intelectual só ficaria ao meu lado por atração fisíca ou piedade. Michael Jackson é um empresário poderoso, compenetrado, pertence a outro mundo e não caibo na vida dele. Sou no máximo uma "intrusa". — Repentinamente minha garganta seca, e sinto o choque de realidade desintegrar meus sonhos em pedaços, esmigalhar minha esperança de um futuro diferente. Dessa vez tenho minha parcela de culpa, me deixei levar pela carência afetiva, pelos encantos de Michael. Me esqueci que não sou sua princesa a qual ele conduz pela escadaria, não estamos em Hollywood, isso aqui não é um conto de fadas. Deveria saber qual meu lugar na sociedade e até mesmo que ele ainda continua legalmente casado, sim, sua esposa pode ser um demônio, mas apesar de não conhecê-.la pessoalmente posso imaginar que é uma dama da sociedade, daquelas que aspiram elegância e classe naturalmente. Pude ver uma foto dos dois na mansão, juntos, eles estavam esquiando. Pareciam transbordar felicidade, sem contar que a tal de Sophie exala beleza. Loira, esbelta, aparentemente com uma pele de porcelana, traços angelicais, ela deve ser uma madame requintada, frequentou as melhores universidades do país, a mulher modelo de homens bem distintos, oca por dentro, deslumbrante por fora. E eu? Bem, olhando para aquele porta retrato pude constatar que não sou o tipo de garota que desperta interesse em Michael. Sophie é um padrão muito elevado para mim, jamais irei me equiparar as mulheres com as quais ele se envolve e se relacionou no passado.

— Michael se encantou por você justamente por seu caráter. — Frisa com as mãos na cintura em sinal de reprovação.

— Cindy, eu preciso de uma ducha para relaxar, saio em poucos minutos... Não se esqueça que te amo. Amo muito... — Murmuro correndo para o banheiro e assim que tranco a porta e confirmo que estou de fato sozinha desabo em um pranto copioso. Por que não nasci para ser feliz? Ao menos tive momentos de plenitude ao lado de um homem generoso que enxergou através da minha alma. Agora, estou de volta a minha realidade, ao tormento que suga minha vontade de sorrir.


Capítulo 11
                                                 
"Saudade de você"
                           
                                


                  
"Michael" 
 
Malditos dois meses se passaram, dias dolorosamente lentos. Lana parece estar obstinada a se mater a leguas de distância de mim. Claro que não fiquei esperando a solução do paradeiro dela cair do céu, fui a luta. Procurei dm vários bairros de Nova York, contratei um detetive exímio na arte de localizar pessoas desaparecidas. Me dediquei ininterruptamente nessa causa, mas não obtive a mínima pista dela e Cindy. Se já não bastasse meu mal humor crônico desde que Lana me abandonou, Sophie persiste me infernizando. Aturar as sátiras dela, seus olhares de deboche tem sido insuportável. Respirar o mesmo ar que a traidora responsável por toda a desgraça que decaiu sob minha vida não poderia ser mais penoso. Mas a verdade é que a ausência de Lana me afeta sobremaneira, mais que a convivência conturbada com Sophie. Ainda me questiono os motivos que a levaram a romper laços comigo. Estávamos tão "íntimos", éramos inseparáveis e repentinamente ela me expulsa de sua vida. Ultimamente mal tenho me reconhecido, caí na armadilha da bebida e a utilizo como válvula de escape. Beber me faz esquecer, provisoriamente, é verdade, mesmo assim tem sido minha salvação para tolerar a angústia.


Jerry, está claramente preocupado comigo, e levando em consideração que ando com uma tosse estranha, entendo o temor dele. Afinal, sou soropositivo todo cuidado é pouco, pois meu sistema imunológico não combate corpos estranhos facilmente. Uma insignificante tosse pode ser um sintoma de uma doença respiratória que virá a se gravar. E obviamente não segui os conselhos de meu amigo que me pediu para consultar um médico. Geralmente cuido absolutamente bem da minha saúde, sou extremamente cauteloso, ou seja esse comportamento é derivado do desencanto pela vida que significa perder Lana.


– Hey amorzinho, há algo que eu possa fazer para levantar seu astral?  – A voz aguda de Sophie atinge meus tímpanos e infelizmente tenho o desprazer de a encontrar no meu escritório.


– Sim,  deixe sozinho-me, poupe-me de sua presença desagradáve, tudo que necessito é de paz. – Sou rápido na resposta. Curto e grosso exatamente como ela merece.


– Está exagerando na bebida! Não faço ideia do que o levou a cair nessa cilada, todavia, tenha cuidado. – Alerta aspirando ser uma mulher amorosa e preocupada com o marido. Marido por enquanto, pois já providenciei os papéis do divórcio e em breve ela estará no quinto dos infernos, longe dessa casa.


– Não te interessa. Nada do que faço da minha vida é da sua conta. – Vocifero grosseiramente e soco a mesa de madeira que orna o escritório e utilizo para trabalho.


– Michael, você está ciente de que posso prolongar nossa situação? Sabe apenas não me nego a assinar os papéis do divórcio porque também desejo me livrar dessa sua cara de vítima sofrida – Franze o cenho diabolicamente.


– Talvez eu fosse um apaixonado inconsequente, um idiota que acreditava no amor e se entregou a uma qualquer. Ingênuo demais para perceber seus interesses... Seu jogo asqueroso de conquista. – Revido afiado.


– E muito bom amante... Eu sinto saudade de você na cama. – Murmura maliciosamente e se atreve a se aproximar ma poltrona na qual estou sentado e sentar-me sob meus joelhos. Repulsa sobe pela minha garganta e eu empurro-a.


– O que pensa que está fazendo, Sophie? – Indago esbaforido. – Esse truque não funciona mais. Não sinto desejo por você, tampouco algum sentimento de carinho. – Elevo exponencialmente a voz.

– Oh sim, é tal da Lana. Vadia miserável! – Revira os olhos e meu sangue ferve nas veias.


– Eu já avisei para não se referir a ela nesses termos. Se voltar a falar dela dessa forma desrespeitosa, juro que a arrastarei para rua sem a menor consideração. – Ameaço. – Só não o faço agora porque ainda sou um homem de valores e agredir uma mulher não condiz com meu caráter.


– Melhor eu deixá-lo cumprindo o papel de imbecil, sofrendo por... – Freia as palavras e eu a amaldiçoo com o olhar. – Tudo bem por sua adorável amiga. – Conclui cínica.

– Será que pode me deixar sozinho? – Reforço impaciente.

– Cansei dessa conversa estúpida! Com todo prazer Sr. amargurado. – Dá as costas e abandona o escritório. Enfim consigo respirar aliviado.


                                                                                ***

– Não aguento mais ficar sem Lana. Estou prestes a enlouquecer Jerry. – Praguejo desnorteado com a falta de notícias.


– Esse sumiço dela é muito estranho. – Faz uma observação.


– Não compreendo... – Arrasto as palavras ao ponto de desmoronar.


– Você a ama, não é? – Dispara soltando alguns contratos que lia. Meu coração palpita subitamente com a pergunta dele.


– Sinceramente, eu não sei. – Suspiro pesadamente, buscando dentro de mim uma resposta sincera. Estou confuso demais para afirmar qualquer coisa.


– Michael você não enxerga o óbvio pelo simples fato de ter medo de amar. Está com uma venda nos olhos.


– Olha Jerry... – Droga, é difícil contestar e ratificar.


– Sr. Jackson desculpe interromper, mas tem uma Srta. querendo falar com o senhor. – Minha assistente pessoal nos interrompe e Jerry meneia cabeça resignado, voltando a ler os contratos.

– Sem problemas Lucy. Quem quer me ver? – Me recomponho ajustando o paletó negro.


– Ela se apresentou como Lilly, disse que é uma amiga. – Elucida ornando um profissionalismo invejável.


– Sim, diga que a espero na cafeteria perto da Tarso. Já nos encontramos lá, Lilly saberá onde fica. – Instruo e ela saí logo em seguida cumprindo com seu dever de funcionária.


– Para quem antes não tinha nenhuma garota em vista, você está em vantagem. – Jerry ri abertamente criando teorias descabidas.


– O que? Lilly é a fundadora e presidente do grupo de apoio que frequento, Jerry. – Repreendo, me segurando para não ser rude.


– Desculpe. Somente, acho que ela quer muito mais do você que pretende e pode oferecer, o jeito que aquela mulher reluz quando põe os olhos..._Ergue as mãos em sinal de rendição e eu ignoro suas insinuações, me prontificando a capturar minha maleta empresarial e celular, para encontrar com Lilly. Uma conversa descontraída me fará bem. Quem sabe não desabafo com Lilly? Afinal ela é de inteira confiança.

                                                                                        ***
– Estou tão feliz em passar um tempo com você Michael. Na verdade sinto sua falta nas reuniões. Por que tem faltado tanto? – Pergunta despretenciosamente e saboreia uma cappuccino com chantilly. O ambiente da cafetaria é agradável. As mesas de madeira rodeadas por bancos de couro vermelho conferem originalidade ao lugar, é uma decoração simples, típica de cafetarias.


– Turbulências da vida... Confesso que não tenho tido ânimo nem para participar do grupo Lilly. – Desvio o olhar para o lado e observo um casal de namorados se beijando, sorrindo. Às vezes sinto falta de ter algo assim. De voltar a viver. Renascer para o amor, mas esse desejo se esvanece e um nó enforca minha garganta ao me lembrar do mal que amar me trouxe.


– Hey, você parece tão distraído e triste. Toda essa apatia é proveniente de que, Michael? – Segura minhas mãos calorosamente, lutando para que eu me abra com ela.


– Eu conheci uma pessoa. Foi o tal do destino, acabei me apegando a Lana, assim como sua filha Cindy. A garota loira que levei ao grupo, está lembrada?


– Claro, a menina com certeza necessitava de apoio. Foi nobre da sua parte se dispor a dar uma chance a ela. – Elogia e uma sorriso tímido se desenha em seu rosto angelical. Lilly é sem dúvidas dona de uma beleza notável.


– Acontece... que, perdi o contato... Por que Lana teve que partir assim esporadicamente? Sem me dar a chance de entender? – Perco o controle e lastimo.


– Então... está apaixonado? Por isso a dor nos seus olhos? – Deduz visivelmente desapontada. Agora o motivo dessa decepção expressa em seu rosto é injustificável para mim.


– Apaixonado? – Retruco sorrindo minimanente, para ser sincero cogito estar amando. Sim, sem dúvidas Lana me balança além do que deveria. – Me responda você, Michael. – Anseia por minha confirmação. – É possível. Claro que se estivesse ocorrendo com qualquer outro ser humano, seria sublime, algo maravilhoso de se sentir, mas comigo, para mim é como se eu permitisse que o veneno entrasse na minha corrente sanguínea... Sinto-me invadido, completamente fatigado.


– Se a ama deixe escapar, o amor não bate na porta todo dia. – Frisa ainda decepcionada. Lilly nunca agiu assim. Claro, que sou grato a ela por toda a força que me deu, por todos os momentos teve paciência suficiente para aguentar minhas ladainhas. Se era dor de cotovelo ou somente angústia não importa, Lilly, permaneceu firme e forte ao meu lado. Me arrancou do olho do furacão e levou-me ao SOS aids. A partir daí eu comecei a enxergar meu "problema" como um obstáculo a ser encarado diariamente, o que me tornou mais forte e menos ingrato. O Michael que reclamava de absolutamente tudo, passou por um processo de amadurecimento e exterminou o egocentrismo. Quem diria? Adeus amargura, Lilly teve um papel fundamental na minha reinserção na sociedade.


– Eu vou encontrá-la Lilly! E assim que olhar dentro dos olhos dela saberei como agir e principalmente o que lhe dizer. – Lilly aquiesce tentando disfarçar melancolia e noto que sim seus olhos estão abarrotados de lágrimas não derramadas, eu represento mais que um amigo para ela. Deveria ter percebido antes que haviam interesses amorosos envolvidos assim evitaria magoar uma mulher incrível, mas sempre a enxerguei como uma confidente. Apesar de reconhecer seus atributos, sua beleza não passar despercebida, Lilly não me desperta encanto. E isso tem que acontecer
espontaneamente, é um mecanismo involuntário, você olha para a pessoa e pensa que é ela, não existe mais ninguém no mundo que te faça sentir milhões de sensações contraditórias ao mesmo tempo. Foi dessa forma que aprendi a diferenciar amor de admiração. Havia um encanto pairando no ar quando ele chega, um frio na barriga. E eu gostaria de não identificar esse sentimento tão facilmente. Um segredo sobre mim, eu sinto demais, por mais que tinha não me importar, tudo me atinge pungentemente.


– Vou acionar meus contatos, correr atrás novamente. – Decreto para consecutivamente ter uma crise de fosse indesejada, na hora errada.

– Ok mocinho, corra atrás de Lana, faça aquilo seu coração ordena, mas antes precisa se cuidar ou essa simples tosse pode vir a agravar-se. – Lilly chama minha atenção para a saúde fragilizada que adquiri em virtude do HIV. Essa sombra do passado, constantemente me perseguindo. Gostaria de ser meu outro eu de novo, porém ainda não consegui me achar.


– Estou bem Lilly, não exagere... – A tosse volta a manifestar-se entre nós e dessa vez sou obrigado a concordar com minha amiga.


– Melhor não arriscarmos Michael. Eu o acompanho até o médico. Com toda essa tensão dos últimos meses é compreensível que seu emocional influencie, mesmo assim devemos checar se está tudo nos conformes. – Lilly declara meiga como de costume e eu tiro da carteira uma nota de cinquenta dólares para pagar pelo café dela e pela gorjeta. Agora, é encarnar o homem de ferro, porque sem a presença de Lana as coisas se tornam terríveis por si só.

                        
Capítulo 12
                                                 
"A arte de amar"
                            
                             


                 
"Michael" 
 
– Dr., eu ainda acho que uma internação não é necessária. – Resmungo relutante em relação a me internar em um hospital para fazer uma bateria de exames e me prevenir de problemas maiores. Desde a descoberta de que possuo aids, não precisei de nada além de ingerir meus medicamentos, consultas regulares e tomar alguns cuidados com a alimentação.

– Michael, sua amiga pediu para eu ficar atento a evolução dessa sua tosse incômoda. Não sabemos se esse quadro pode vir a evoluir e tornar-se uma pneumonia, por exemplo. Temos que ser cautelosos, o fato de eu ter lhe assegurado que levaria uma vida normal não dispensa a atenção que precisa dedicar a sua saúde. – O médico elucida muito calmamente todo o procedimento a se tomar com pacientes como eu. Frágeis, ou em termos mais rebuscados, pessoas com um sistema imunológico deficiente, expostas a infecções virais continuamente.

– Tem razão. Eu prometo não oferecer nenhuma resistência Dr. Allen. Serei um bom garoto e nem das amostras de sangue que odeio que colham reclamarei. – Faço uma careta de piedade sabendo no fundo tenho lá meus medos infantis e agulhas no geral os englobam.

– Está certo Michael. Pedirei que vá até o setor de internação e assine alguns papéis e hoje mesmo daremos início aos exames. Para confirmar seu diagnóstico preciso disso. – Captura uma prancheta, decerto com anotações dos sintomas que comentei estar sentindo há meses e em seguida me fita notoriamente preocupado. Eu conheço essa expressão, e espero sobreviver para percorrer o caminho de pedras até chegar a Lana. Meu organismo não pode entrar em colapso logo agora que encontrei um novo sentido para viver, seria injusto perder tudo por estar debilitado, prostrado sob um leito gélido de hospital. Por causa de um ser desprezível chamado, Sophie.

– Eu o farei urgentemente. Quanto mais cedo esse pesadelo começar mais cedo terminará. – Exclamo resignado a seguir as orientações do médico. Esse tipo de vida sempre me aterrorizou. Hospitais, exames, não posso me imaginar dependente da medicina, ou respirando por aparelhos. Talvez, me precipitar seja um verdadeiro equívoco, no entanto toda essa fobia a esse vírus faz parte de quem eu me tornei. Um fracassado disfarçado de homem auto-suficiente.

 Dias depois...

Hospital West Gray


– Como se sente hoje Michael? – Lilly pergunta abandonando a leitura que tanto a prende. The Great Gatsby é fascinante, não há quem não se curve mediante as obras de Fitzgerald, o homem era um gênio da literatura e eu o venero.

– Lilly, não vou aceitar que fique mais uma noite sequer enfiada nesse hospital. Agradeço sua caridade, porém você tem uma vida, responsabilidades fora daqui e o mundo não vai parar, somente porque um condenado feito eu está com uma pneumonia. – Avisto a silhueta fadigada de Lilly sentada em uma poltrona ao lado da minha cama, e novamente a tosse me inferniza. Ela se levantar subitamente ao ouvir minha voz quase sussurrada e ajeita o vestido amassado. Seus cabelos loiros estão ligeiramente desgrenhados graças ao pequeno cochilo que nocauteou-a por cerca de trinta minutos. Foram longos seis dias e meu sistema imunológico persiste se negando a combater essa maldita enfermidade. Lilly esteve ao meu lado durante cada segundo dessas penosas horas. Tentou me empolgar trazendo livros, e até Jerry, vem me visitar no intuito de me fazer rir de suas piadas sádicas, mas ambos falharam. O que era uma simplória tosse, tem esgotado todas minhas energias.

– Eu lamento por ter sido invasiva Michael, mas senti que sua saúde fragilizada exigia profissionais capacitados, mais que o ombro de um amigo. A tosse tinha que ser meticulosamente investigada... E pelo visto eu não cometi um terrível engano, Dr. Wille me informou que seu quadro evoluiu e veio a pneumonia. – Um suspiro de lastima Lilly solta, ela certamente não queria se intrometer, mas sendo a mulher benevolente que é passou por cima de seus princípios para me estender a mão.

– Lilly, eu não tenho que lhe perdoar, muito pelo contrário. Se estou vivo agora, lutando pela vida foi porque me arrastou para uma revisão, ademais, você dedica sua total ternura a mim dia e noite. Não há com o que se preocupar, aquiete esse coração, está tudo bem entre nós minha amiga.– Obrigo-me a retribuir o gesto nobre dela com um sorriso sem graça e meu ato forçado a extasia.

– Não sabe a felicidade que sinto ao vê-lo sorrir novamente. É isso que tem que fazer Michael, sorrir mesmo que seu coração esteja doendo, o riso aciona algum mecanismo dentro de nós capaz de curar a alma. – Discursa de uma maneira a qual eu admito que me faz sonhar com dias mais promissores e até com um futuro fora de um hospital.

– Eu tenho medo de acabar solitário, vencido por esse vírus ingrato, cercado de médicos desnorteados, tentando sem sucesso me manter "vivo" de acordo o protocolo. Aquele juramente sagrado que eles fazem. – Confesso observando uma agulha fincada na minha mão. O soro pingando em câmera lenta... Não, prefiro a morte, definhar é infinitamente mais árduo.

– Todos nós, soropositivos temos esse medo. É normal que se sinta perdido e desesperançoso, sei que palavras num momento de desespero são somente um paliativo, um mero alívio momentâneo, mas eu preciso te dizer que acredito em sua recuperação. – Reforça seus votos de apoio e eu engulo a seco, pela primeira vez permitindo que as lágrimas caiam em torrentes pelo meu rosto. Quando a dor não pode ser expressa em palavras é isso que resta, colocar para fora a angústia e crer que o choro diluirá nossas frustrações. Pena que não funciona assim, e a dor perdura atordoando, dilacerando os planos de um recomeço.

– Michael... Meu Deus! Por favor não chore! – Lilly compadece-se de meu estado deplorável e inclina-se sobre o leito para me abraçar. Desfaço o abraço e acaricio seus cabelos carinhosamente, contenho o choro e me preparo para voltar a ser o Michael blindado de costume.

– Quer saber? Não adianta lamuriar o passado, me entregar a doença não resolve nada, isso só dará espaço a amargura e ressentimentos. Trará a tona a desgraça que recaiu sob mim, e infelizmente não inventaram uma máquina do tempo. Eu só não posso me apegar a ideia descabida que poderia mudar os fatos. – Franzo o cenho e em um relapso de indignação meneio a cabeça fazendo silenciosamente o questionamento mais abordado pela humanidade. Por que comigo? Por que Sophie me puniu tão severamente? Por que as pessoas mentem descadaramente e fingem amar? Certo, eu acrescentei duas questões, entretanto muitas pessoas devem se perguntar os motivos que levam nosso semelhante a ser absurdamente cruel.

– Mas virão novos dias, novos amores. Aquela moça, Lana. – Dá uma breve pausa e respira profundamente, parece ter dificuldade em tocar no assunto, porém para me ajudar ela se livra do orgulho. – Ela pode ser o antídoto que cicatrizará as feridas do passado, pense nela como sua motivação para se reerguer. Vejo em seus olhos que ama essa garota, acredito veememente que ela será sua maior alegria. – Conclui denotando estar obstinada a abrir meus olhos. É de um choque de realidade que necessito, ou uma boa surra por ter deixado Lana partir sem dizer o quão ela despoluiu meu céu nevoado.

– Eu agi impetuosamente. Nunca vou me perdoar pela burrice que cometi. Tinha que ter corrido atrás dela aquela noite, dito olhando dentro dos olhos dela que sou viciado em seu sorriso e careço de suas doces palavras para seguir em frente. Eu...

– Você a ama, Michael. Basta atravessar a barreira, o muro que construiu em seu coração e enxergará claramente o amor. Ele chegou... E lembre-se de não deixa-lo escapar, Lana é mais que uma amiga leal, é a mulher que lhe trouxe de volta a vida real, onde há momentos de plena felicidade e momentos de profundo tormento. O que não podemos é cair e não levantar, porque nesse caso estaremos irreversivelmente perdidos. E viver é isso, um pôr do sol sublime, mas às vezes chegam as tempestades. Estamos sujeitos aos furacões. Viver é escalar montanhas, desmitificar os padrões, quebrar as regras, viver é pura loucura e eu aprendi através da dor que até quem amamos irá nos decepcionar. Causa e efeito, eu diria que essa é definição de simplesmente, ser um humano de carne e osso. As pessoas erram, acertam também, elas nos oferecem o que conseguem mesmo acorrentadas por suas limitações. Todos tentam. Tente amar e se não puder ser correspondido, tente outra vez, e outra, quantas vezes necessárias. Minha mãe sempre me alertou, "querida crescer dói, pelo simples detalhe dos joelhos ralados doerem menos do que os corações partidos". E acredite, alguém irá inevitavelmente partir nosso coração, vamos chorar, lastimar, sentir o mundo ruir e o peito apertar, a saudade sufocar e depois... bem, passará. Talvez sobre algum resquício da pessoa, um cheiro grudado em uma camisa, uma música que lhe faça reviver a nostalgia, mas chegará a primavera, e no final aquilo não o afeta mais. O ciclo cessa. As lembranças voam e carregam consigo parte de nós, é verdade, um pedaço dos nossos sonhos, esse é o preço a se pagar. Amar é sim excruciante em determinadas circunstâncias. Categoricamente falando, não há maneira de sorrir sem antes experimentar o sabor agridoce das lágrimas. Não como há como viver intensamente sem morrer de amor uma vez. – Se eu sustentava a singela desconfiança da capacidade de Lilly em desvendar pensamentos, agora eu ratifico. Ela consegue captar seu espírito, cada temor que você esconde, Lilly acaba de me emocionar até a última gota do sangue que corre em minhas veias. Enquanto andamos em círculos sem perspectivas de encontrarmos o caminho de volta para casa, aturdidos pela fixação nos fantasmas do passado o tempo se esvanece, nossas chances esgotam-se. A gente tem que se perder no caminho para se reencontrar, mas jamais deixar de acreditar no alvorecer repleto de vida para ser vivida. Eu me oprimi, me culpei por desilusões inevitáveis durante anos e esse auto suicídio acaba aqui.

– Não darei chance a aids de me deteriorar, lutarei implacavelmente contra a doença e meus medos. Preciso me recuperar e ir à procura de Lana, esclarecer a ela que... – Sinto a língua travar, mas dessa vez a coragem será minha aliada. – A amo, eu amo Lilly. E não da forma que imaginava que o amor viesse. É leve, não queima ou agride a alma, sou um novo homem, fui regenerado como um tecido de pele lesado. Demorou, a cicatrização foi lenta, mas estou curado das escaras que Sophie acarretou. Pronto para amar e ser amado. Para acolher Lana e sua filha em minha vida de braços abertos e assim constituir família. – Sorrio tão largamente que provavelmente meu sorriso ultrapassou os limites da minha estrutura facial.

– Aconselho a começar se alimentando, sua negação a comida do hospital está prejudicando sua saúde. Pedirei que tragam sua refeição! – Afirma entusiasmada com minha mudança de hábitos e aperta a campainha para comunicar a enfermeira que enfim decidi comer.

– Será que tem conserto Lilly. Lana me perdoará por ter negligenciado meus sentimentos? – Indago sentindo a coerência badalar como um sino na consciência. Ninguém pode amar sozinho, não ser correspondido é sempre possível, embora os olhos não mintam e os de Lana denunciavam que supre meu desejo de ser amado por ela, ainda assim posso sair magoado.

– Você sabe como envolver uma mulher Michael, é um pós doutorando da conquista. Vai dizer que não reparou no charme irresistível que derrete o coração das pobres mocinhas? – Insinua e arrependendo-se do comentário tampa a boca com as mãos. Suas bochechas assumindo um tom rosado transparecem sua vergonha. – Desculpe, não quis...

– Tudo bem Lilly, considero esse elogio adorável, aliás eu sou modesto e discordo! – Friso mordendo os lábios propositalmente malicioso.

– Absolutamente modesto, Michael. Falta segurança na sua postura, apenas isso e não há mulher na face da terra que não caía aos seus pés. – Reafirma suas convicções de que Lana dirá "sim" para mim.

– Espero que Lana seja maleável, me dê uma chance. – Pisco para ela e somos surpreendidos por uma enfermeira a qual carrega uma bandeja com minha mais nova dieta hospitalar. Horrível. Detesto o tempero e os legumes desse lugar. Mas acho que para sair logo daqui e reencontrar a morena dona dos olhos mais deslumbrantes que já vislumbrei, vale o esforço.



Duas semanas mais tarde...

Tarso
 
"Alta". Assim que essa palavra ecoou em meus tímpanos um sorriso torto se instalou em meus lábios e tive o prêmio de consolação de sair daquele ambiente gelado e contaminado de tristeza. Pretendo me manter afastado de um hospital por cerca de um século, aquele local deprime qualquer otimista nato. Obviamente mal tive a paciência de cumprir o repouso prescrito pelo médico e recomecei minha rotina na Tarso. Ando trabalhando menos, e me consultando frequentemente. Chega de desleixo, o primeiro passo para viver em paz consigo mesmo, é aceitar o que vida nos oferece e vierem espinhos, certo um dia as rosas os sobreporão.

Jerry não prossegue me importunando todo santo dia, e levantando meu astral. A tarefa de sorrir longe de Lana é sim um desafio, bastava que ela segurasse minha mão e as estrelas apontavam no céu. Agora, os dias parecem mais delongados, menos vivazes, eu os definiria como preto e branco. Sem o encanto que as cores agregam, pois falta o principal, Lana. Jurei a mim mesmo que jamais desistirei de descobrir o paradeiro dela, mesmo que não tenha tido êxito, sinto que os bons ventos a trarão até seu "melhor amigo".

Hoje, apesar de ter ocupado meu tempo com infindáveis reuniões a mania de checar o relógio de pulso transforma um reles segundo em meses, soa como se eu estivesse a anos luz de Lana.

– Droga! Me diga que chegamos ao final do expediente. Foram muitos afazeres, sem contar os malditos números que me desgastam completamente. – Reclamo fechando bruscamente o notebook. Após receber um e-mail do detetive que contratei no intuito de dar fim ao sumiço da mulher da minha vida meu dia só se fez piorar. Nenhuma novidade, ou notícias animadoras. Onde estará minha menina? Tão meiga, desprotegida. Lana é uma mulher linda, amadureceu muito cedo, todavia em seu íntimo sei que é frágil. Por trás das responsabilidades que assumiu, ela não é nada além de uma menina carente de afeto.

– Isso tudo é por que Lana não apareceu! Michael, essas coisas levam tempo. Se esqueceu de que moramos em Nova York? – Jerry retruca impaciente com meu comportamento rabugento.

– Sim, não estou conseguindo bancar o cara equilibrado, nem acreditar naqueles clichês de que tudo acontece no tempo certo. – Afrouxo a gravata e abro o paletó, querendo me livrar do desconforto de toda essa roupa formal.

– Nem pense em jogar a toalha! – Repreende espelhando meu gesto de finalizar os trabalhos no notebook.

– Jerry...

– Sr. Jackson, perdoe-me interromper. – Minha secretária entra no escritório sem se anunciar. Estranho, ela correu muito para chegar aqui, a coitada perdeu o fôlego. – Uma garota vestida com umas roupas góticas, loira, magra ela está na recepção transtornada, pediu para falar com o Sr., apresentou-se como Cindy.

– Cindy? Meu Deus, mande-a entrar imediatamente. – Um sorriso discreto brota no canto dos meus lábios, mas se dissipa consecutivamente ao me dar conta que o motivo que trouxe Cindy aqui é decerto algo grave.

– Como quiser Sr., com licença. – Deixa o escritório e só então tento organizar a linha de raciocínio. Que Lana esteja a salvo. – Mentalizo boas vibrações e fecho os olhos, quando os abro a figura abatida de Cindy fisga meu campo de visão e esmaga o que restou da minha calma. Claro que ela me abala.

– Oi, eu não quero incomodar o trabalho de vocês! – Dirige-se acanhada a mim e Jerry. Meu amigo não consegue deixar de reparar descaradamente nas roupas, no estilo estilo rock roll, e no cabelo com mechas coloridas de Cindy. Não que aparência dite caráter, mas a primeira impressão é o que levamos em consideração em um primeiro contato.

– Olá, enfim conheço a famosa Cindy. Seja muito bem vinda, Michael fala muito bem de você. – Jerry sauda simpático. Ele sabe ser amistoso em ocasiões peculiares, é lamentável que opte por usar seu lado irônico.

– Ah, valeu moço. Ele foi um anjo na vida da minha mãe. – Rebate cabisbaixa. Seus gestos me remetem a tristeza, uma inconcebível melancolia.

– Cindy, sente-se por favor. – Mostro a poltrona vaga a minha frente e ela acata minha instrução mecanicamente. – Fique a vontade. Eu procurei por sua mãe durante todos esses meses. Não me esqueci de vocês nem por um segundo, navegaria pelo sete mares somente para tocar o rosto de Lana. – Profetizo em meio aos suspiros apaixonados, e pelo intermédio do destino esse martírio acabou.

– Eu sempre soube pelo brilho nos seus olhos que a ama, você mente muito mal. – Solta uma risada curta. – Acontece que se não apressar as coisas, é provável que perca mamãe. Ontem eu a encontrei desacordada no banheiro, banhada por sangue. Ela tentou suicídio cortando os dois pulsos. Nessa mesma noite havíamos discutido, porque a vi chegar do trabalho com alguns hematomas e perguntei quem era o culpado. Li em seu olhar que se sentiu encurralada, ela estava sem chão.


– Eu fui o último a descobrir que amo Lana, mas não foi para discutir minha vida amorosa conturbada que veio até aqui, certo? – Encurvo a testa apreensivo.– É verdade que ela tentou... – Perco a voz, me negando a aceitar que Lana teve coragem de atentar contra si mesma.


– Se quiserem mais privacidade eu terei prazer em me retirar meu amigo! – Jerry nos corta constrangido em ser o personagem secundário sem direito a opinião. É desagradável a situação para ele.

– Não moço, vocês devem ser amigos. O que tenho para falar não é um segredo de estado. É doloroso Michael, tentei não te envolver nisso, mas não havia outra pessoa a quem pudesse recorrer. – Seus olhos excessivamente inchados e lacrimejados me assustam, abrem o leque do medo do que está para ocorrer. – Minha mãe cortou os dois pulsos durante o banho, por sorte eu desconfiei de sua demora e invadi o banheiro. Naquela noite brigamos, e haviam hematomas espalhadas por toda a extensão de seu rosto, eles iam da testa até a mandíbula, acentuados por um corte no super cílio. Ela não revelou quem cometeu aquela atrocidade, apenas disse que sua vida perdera o sentido... Está internada em um hospital em estado grave, pois perdeu muito sangue e eu não aguentava mais segurar essa barra sozinha. Eu amo minha mãe, talvez tenha demorado a valorizar os sacrifícios que fez por mim, mas agora os reconheço. Estou aterrorizada, com medo de perde-la para sempre. – Minha visão turva pelas lágrimas é o sinal da escuridão, o revelar da culpa maldita que sinto em deixar Lana e Cindy sozinhas. Não entendo o porque dessa sina, finalmente venci a sombra de Sophie no passado e conseguiria ser feliz ao lado de Lana, e novamente criei ilusões infundadas. Há possibilidade de que ela se vá sem tomar partido do meu amor e nesse caso morrerei de amor pela segunda vez. Eu gostaria de que o coração não fosse um órgão tão inconsequente. Lana, meu anjo de doçura por que esse extremismo? Preciso tanto de você. Estava aqui para você o tempo todo, sempre estive e sempre estarei.




Capítulo 13
                                                 
"Recomeçar"
                            
                             



               
"Michael" 
 
— Cindy, eu juro, não desgrudarei de sua mãe por um milésimo de segundo. Vocês não estão mais sozinhas, conte comigo sempre! — Seguro as mãos dela selando comigo mesmo um pacto de protege-las até quando houver ar em meus pulmões.

— Desculpe me intrometer. — Jerry nos chama atenção e sobressalto, enfim meu amigo comunicativo está de volta. — Mas já me intrometendo, Cindy esse homem apesar da carranca, é o ser humano mais bondoso que conheço, ninguém poderia levar conforto melhor a sua mãe nesse momento. Tenho acompanhado a ligação de Lana e Michael desde que ele com um sorriso largo me falava a respeito dos dotes excepcionais dela em alegra-lo, do caráter. Cito também algo que pode enxergar através do olhar do meu amigo, amor, puro e desinteressado. Somente amor em suma essência. — Meus olhos arregalados pela surpresa em presenciar Jerry se expressando com a segurança e delicadeza necessária nessa situação não conseguem se mover. Ele provavelmente teve a atitude mais admirável de sua existência.

— Eu nunca precisei de ouvir da boca deles que era amor, os olhos não mentem moço. Eles revelam aquilo que tememos verbalizar! — Cindy enxuga as lágrimas para exprimir sua crença no poder transformador do amor. Ele é indiscutivelmente a grande carência do mundo"moderno".

— Eu adoraria prolongar essa interação, mas preciso ver Lana. Abraça-la novamente e expor meus sentimentos isso veremos mais adiante. Agora, ela necessita mesmo é de um velho amigo, carinho e uma pessoa atenciosa que a cuide, a ouça. — Quebro o ritmo da conversa, disposto a voar até o tal hospital com Cindy e tomar meu anjo nos braços, acariciar seus cabelos até me esquecer do crepúsculo no qual vivi longe dela.

— Tem razão, mamãe precisa muito de você Michael. — Cindy aquiesce e em seguida nos despedimos de Jerry, rumando até o estacionamento da Tarso e daqui direto para minha amada.

                                                                                          ***

— Dr., ela está apta a receber visitas? — Cindy aborda educadamente o médico responsável pelo caso de Lana, enquanto eu peço aos céus, a todos os deuses, bem feitores do universo por uma resposta positiva.

— Sim, não seria benéfico a paciente se alterar, então peço-lhes para serem cautelosos. O sangramento foi exacerbado, se fez necessário realizar uma transfusão sanguínea para salvá-la. Não se alarmem com a palidez e fraqueza de Lana, é normal após a quantidade significativa de sangue que perdeu._Explica minuciosamente e de forma simplificada o quadro crítico de Lana.
— Não se preocupe, nada de preocupa-la. Já estamos cientes Dr. — Enfatizo abrindo e fechando os punhos nervosamente. Essa mania irritante alivia meu nervosismo.

— Vou acompanha-los até o quarto da Srta. Clark! — Encaixa um óculos de aro metalizado no rosto para ler o prontuário da paciente,e eu e Cindy trocamos olhares amedrontados.

— Por favor, Dr., leve-o, eu fico. É dele que minha mãe precisa mais, eu falo com ela amanhã ou quando liberarem outra visita. — Cindy abre mão do seu direito de filha, pensando exclusivamente no bem estar da mulher que lhe deu a vida. Me orgulho de sua compaixão, todo aquele egoísmo dando lugar a respeito é uma vitória a se comemorar. Ela realmente mudou, as pessoas às vezes crescem por intermédio do sofrimento, e isso não é de todo mal. Precisamos escolher o caminho, e ao nos desviarmos dele, as consequências nos seguirão até derrotar nosso ego, fazendo-nos arcar com cada passo em falso que demos.

— Então vamos Sr. Jackson! — Sorrio em agradecimento a Cindy a grudo no médico como se fosse sua própria sombra. O corredor parecer não ter fim, droga! Por que tanta espera? O tempo que passei louco a procura dessa mulher não foi o suficiente? Já aprendi que nunca devemos neglicenciar um sentimento.

— Pronto! Chegamos.— A voz agradabilíssima do médico ecoa em meus ouvidos e ele gira a maçaneta de uma porta branca, adentrando sem cerimônia o quarto. Suspiro pesadamente e faço o mesmo que ele, me deparando com meu anjo. Claro que suas feições empalidecidas, os olhos opacos e os cabelos desarrumados dão uma aura de cansaço a ela, mas nada que afete sua beleza genuína.

— Bem, vou deixa-los a sós, devem ter muito o que conversar!

— Obrigado... — O médico nem mesmo permite que eu conclua e retira-se sorrateiramente. Agora, podendo me concentrar em Lana sinto que algo a aflige, ela está efetivamente abatida, mas a dor da alma ainda supera o estrago que perder todo aquele sangue acarretou.

— É você mesmo ou estou sonhando? — Lana indaga retoricamente, o azul de seus olhos volta a cintilar e isso me faz abrir um sorriso sereno, se ela sorri nada pode estar perdido. — Não sabe como foi desesperador pensar que nunca mais o veria, Michael! Eu fui uma idiota.

— Lana, meu anjo, passou. Estou aqui agora. — Caminho até seu leito e assim que me aproximo dela, entrelaço nossas mãos em busca de me completar novamente. Antes era como se de fato tivesse morrido, hoje me sinto renascido. Conheci o inferno da traição e voltei ao céu do amor, é e eu que acreditava não ter tido a menor chance de sobreviver.

— Eu sou uma fraca, é esse tipo de coisa que ronda seus pensamentos? O que te move a estar ao meu lado nesse momento é pena não é? A pobre garota que quis ir pelo caminho mais fácil! — Murmura punindo-se pela atitude drástica. Jamais seria mesquinho ao ponto de julgar alguém que enfrenta tamanha dor dentro de si e decidi tentar dilui-la. Um suicida nem sempre quer morrer, ele grita por ajuda.

— Na verdade estava pensando o que levou essa linda menina a achar que não havia outra saída.— Arqueio as sobrancelhas.

— Não está mesmo me odiando? — Um sorriso espontâneo invade seu rosto e recria momentaneamente aquela Lana que amava a vida apesar dos pesares. Eu não poderia evitar me portar feito um apaixonado embasbacado, sonhei incessantemente em ter um vislumbre desse sorriso.

— E por que eu estaria? Me entristece saber que está se auto destruindo, fico preocupado, além do mais, esses hematomas o que está acontecendo? Sinto-me impotente, mas se me disser quem é o culpado eu o mato com minhas próprias mãos! — Ameaço e engulo a seco. A angústia, o ódio em vê-la cpm a face marcada sobe a garganta amargamente.

— Ninguém tem culpa. Eu só queria matar a dor que apoderou-se de mim. Me senti uma alma pedinte vagando pelo mundo, nem meu amor por Cindy foi capaz de me dar coragem para lutar pela vida. Destruída e sem esperanças, agi pelo impulso e aqui estou, arrependida te ter magoado as pessoas que amo.— Relata em meio a lágrimas e soluços.

— Você não é fraca, pelo contrário tem sido forte por tempo demais, Lana. — Enxugo suas lágrimas com o dorso da mão direita. — Chore, desabafe, e depois levante a cabeça. Eu estarei ao seu lado, disposto a acolhê-la em minha casa, em minha vida e se quiser em meu coração! — Deixo escapar mais do que é viável nas circunstâncias atuais.

— Quer dizer que há um lugar reservado para mim no seu coração?— Cruza os braços, surpresa com meu vacilo. Se ela soubesse que ele pertence-lhe inteiramente.

— Sim, claro, ou eu não estaria aqui, oferecendo-lhe abrigo e amor. — Acaricio suas bochechas rosadas pela vergonha e um sorriso desponta em meu rosto.

— Amor? Amizade? Somos amigos, e é assim que continuará sendo... — Sussurra quase inaudível. É de seu desagrado pensar em sermos simplesmente cordiais amigos. Isso também flameja dentro de mim, o desejo incontrolável de beija-la, toca-la, marca-la como minha e acabo de confirmar que sou correspondido.

— Se você não quiser...— Pigarreio, voltando ao meu juízo perfeito, não é o momento ideal para concretizar um pedido de namoro. — Continuar sendo minha amiga, compreendo. Aquele dia na biblioteca, eu me acovardei, não sabe o remorso que tenho remoído depois de ter permitido que saísse por aquela porta. — Desconverso estrategicamente, dando um novo rumo a conversa.

— Michael... Eu acho que mesmo que tentasse não conseguiria evitar que você já faz parte da minha vida! Recusei sua ajuda inúmeras vezes, movida pelo orgulho, mas chega. Eu aceito me hospedar na sua casa, enquanto não me estabilizo e encontro um cantinho. Tenho que pensar no melhor para Cindy e uma pensão de alguns metros quadrados não tem feito bem a minha menina.

— Uma pensão, Lana? — Exaspero-me subitamente. — De jeito nenhum é aceitável que elas vivam jogadas ao relento, em uma pensão minúscula. — Não posso acreditar que estavam em um lugar desconfortável como uma pensão! — Exclamo levando as mãos aos cabelos. Eu deveria repreender Lana por essa recusa a ser ajudada.

— Sinto muito, por ser estúpida o suficiente para fazer minha filha viver naquelas condições precárias. Porém, é tudo que pude pagar, praticamente todo o dinheiro é destinado ao tratamento de Cindy. Eu falhei na missão de dar um lar decente a ela, mas os remédios e as consultas, exames, eu jamais permitiria que você ou qualquer outra pessoa se responsabilizasse. — Sentencia desviando o olhar para o teto, no intuito de fugir do foco principal. Seu orgulho sem fundamento e especialmente o motivo de ter fugido, se escondido de mim.

— Lana, você sabe que a perdoo por negar-se que eu lhe dê um mísero dólar. Respeito suas convicções, afinal esses são valores morais, apenas me indigna que não tenha me dado um telefonema. Enlouqueci, contratei os serviços de um detetive, pois já não sabia onde procurar.


 — Eu me sinto mais aliviada obter seu perdão e reforço meus votos de arrependimento por ter sumido da sua vida sem dar sinal de vida. — Frisa visivelmente agoniada. É pesaroso repreender Lana, mas também necessário para que ela encontre em mim um luz no fim do túnel. Não é prioridade conquista-la, e sim recuperar sua alegria de viver, antes que uma tragédia aconteça. Felizmente dessa vez Cindy estava presente para prestar socorros a mãe e contatar uma ambulância, mas se ela ou outrem não chamassem uma ambulância poderia ter se sucedido uma desgraça irreversível.

— É melhor pararmos por aqui ou seu médico desaprovará que eu atrapalhe o descanço da paciente. — Ironizo pondo fim a situação fúnebre, enterrando o passado como deve ser.

— Tem razão e Michael, assim que receber alta te ligo para...

— Virei busca-la e a levarei diretamente para minha casa, faço questão de cuidar de você. — Interrompo beijando o espaço rígido entre suas sobrancelhas devidamente bem feitas .— Até logo meu anjo, descanse! — Salpico beijos no ar e deixo o aposento hospitalar exalando esperança. Finalmente Lana me concederá o privílegio de protegê-la, e espero que o de ama-la também..


Uma semana mais tarde...

— Sophie, eu arco com suas despesas no Plaza até assinarmos os papéis do divórcio. Faço qualquer coisa para me livrar de você invadindo minha privacidade. — Franzo o cenho "ansioso" para ajuda-la a fazer as malas, para despacha-la.

— Está bem, não tenho nada para fazer nesse lugar entediante. Seu advogado me contatará quando tudo estiver resolvido e cairei no mundo com Eddy, e dessa vez para sempre. Ele conseguiu prosperar no negócio da sua família, duplicou a herança que recebeu dos pais e o inocente fará o que eu quiser. — Ri do infeliz que cego de amor deixa-se ser manipulado como uma peça de xadrez em um tabuleiro.

— Sinto pena desse pobre homem que lhe entregou seu coração de bandeja para pisa-lo, mas isso não me diz respeito, não mais, contanto que cumpra com sua palavra e vá embora daqui, eu não me interesso pela droga que faz da vida! — Observo os livros postos nas prateleiras de madeira e relembro o quão eu e essa traidora fomos felizes nesse lugar da mansão. Fazíamos amor tão cúmplices, exatamente igual aos amantes apaixonados. Éramos supostamente um casal feliz, difícil acreditar que chegamos ao ponto de nos tornarmos meros estranhos, inimigos talvez.

*Flash back

 — Você sabe que te amo com loucura, e faria qualquer coisa em nome desse amor. Me peça uma estrela e eu a alcancerei para você meu amor. Michael tomou os lábios da esposa como se através do beijo desejasse trasmitir toda infinitude de seus sentimentos. Ela movida pelos instintos, beijava-o voluptuosamente, sabendo que ele era dela, lhe pertencia como um obejto.A verdade perdurava expressa em seus olhos, aquilo jamais fora amor, Sophie não aprendeu a amar.

Prometa que vai me amar mesmo se um dia eu não estiver mais aqui. Ele desfaz o beijo e implora para que ela o guarde na memória, não sentia reciprocidade em seu olhar, mas insistia em sustentar a mentira de que sua bela esposa correspondia ao seu amor. Sophie se transformara em sua compulsão e perdê-la seria pura e penosa abstinência. Insuportável. Então ela sem poder dar respostas o levou para o céu. Juntos, unidos pelo pecado inocente do prazer fizeram amor naquela mesa da biblioteca. Para ela um momento de torpor, de explosão. Para ele eram um só corpo, uma só alma e esse fora seu único e imperdoável erro, amar ilimitadamente.

* Fim de flash back

— Pensando em seu novo "brinquedinho", Lana? — Provoca, despertando-me da inércia das boas recordações, não elas são falsas, portanto não podem ser belas.

— Para falar a verdade, não deixarei que suas provocações ridículas destruam minha felicidade. Conheço a dignidade de Lana, e se quer saber, muito em breve, se eu obtever o consentimento dela, ela será a dona dessa casa e claro do meu coração.

— Eu que tenho pena da pobrezinha que terá que ter paciência para aturar seus ataques de romantismo. — Debocha logo em seguida abandonando a biblioteca. Essa mulher nunca mais cruzará meu caminho, eu preciso confiar na promessa dela, não me resta outra alternativa, mal posso esperar para ter a luz da minha vida enchendo essa casa com sua graça. Lana.



Capítulo 14
                                                 
"Além do horizonte"
                           
                                



                  
"Michael" 
 
— Catarina, já confirmou se Sophie desocupou o quarto de hóspedes? — Pergunto a minha governanta, checando no relógio de pulso as horas e constantando que decerto me atrasarei para o trabalho, logo hoje que devo sair mais cedo da Tarso para concluir algumas "travessuras" e minha agenda está estarrecedora.

— Sim Sr. a dona Sophie partiu pela manhã, inclusive pediu ajuda com as malas! — Ratifica com a sobriedade impecável de uma funcionária competente e solto um profundo suspiro de alívio.


— Preciso ir antes que meu atraso gere desordem com os clientes. — Coço o queixo e sem dar prosseguimento a conversa me encaminho apressado até a garagem da mansão. Dirigir nunca foi um prazer para mim, mas ultimamente tenho tomado gosto pelo negócio e até adquiri mais um carro. Outro Porsche, é, eu mudei, de tantas formas possíveis, voltei a enxergar a beleza da vida nas pequenas e ilustres coisas também.

                                                                                                 ***
 
— Vai mesmo solicitar a ajuda de Cindy? Será que ela é uma boa cúmplice? Esse seu "plano" maluco requer muitos cuidados peculiares! — Ri da minha ideia piegas e mal sabe que a essa altura Cindy provavelmente já seguiu minhas instruções e transformou aquela mansão em lugar que irradia alegria. Lana merece mais que uma calorosa recepção e além do mais não enxergo mais empecilho algum que me faça adiar uma demonstração de meus reais sentimentos por ela.


— Ela está na mansão, acabou de me mandar uma mensagem no celular, tudo as mil maravilhas! Droga! Você tem que ir até o hospital buscar Lana.


— Tudo bem, só acho que ela irá se decepcionar ao me ver e imaginar milhões de bobagens. Mesmo assim, irei, em nome da causa nobre, vale a pena deixa-la aturdida. Depois que se deparar com sua caliente surpresa não haverá recordação ruim capaz de interferir na felicidade de vocês. — Me tranquiliza. Eu realmente torço para acertar nos detalhes, por isso ninguém melhor que a filha de minha amada para conhecer o gosto da mãe.


— Sabe eu tinha me esquecido de toda essa loucura de amar, soa como fogos de artifício explodindo no céu. Tudo tão novo, é absolutamente delicioso sentir essa sensação de quentura dentro do peito. — Enalteço.


— Sempre soube que uma mulher digna mudaria sua visão falida relacionada as relações amorosas. Não nascemos para sermos solitários, todo aquele lema de triunfar no trabalho jamais me enganou, apenas ocultou sua dor. O sofrimento que Lana dissipou com seus encantos e sinceridade. — As palavras verdadeiras de Jerry fazem-me sorrir abertamente, de um jeito que confesso ter me esquecido como se faz.


— É verdade, Lana foi a responsável por me resgatar das sombras. Graças a sua paciência os fantasmas do passado se foram, inevitavelmente ela tomou conta do meu coração, e ok, eu odiaria modificar algo nesse sentido. — Capturo minha maleta empresarial ansiando chegar em casa e concretizar minha missão. Fazer de Lana a mulher mais realizada do planeta.
— Boa sorte meu amigo!
— Jerry clama mas eu nem o escuto o direito, pois me prontifico a sair do escritório. Necessito chegar antes de Lana, ou meus planos falharam e seria uma terrível desilusão, perder a magia antemão de um recomeço.
                                                                             
                                                                                             ***

                                                                              
— Jerry, sei que está me escondendo algo. Olha para você, parece nervoso! O que Michal tramou? — Retraio o cenho prevendo que há mistério pairando no ar. Suspiro profundamente e analiso a estonteante construção pelo vidro escuro do carro. Cindy me garantiu que traria nossos pertences, e organizaria tudo, no entanto sua voz oscilava excessivamente. Sim, Michael e Cindy estão armando para cima de mim, mas como os amo me deixarei levar sem maiores questionamentos. Jerry, pobre, permanece um túmulo.


— Vou ajuda-la a descer. — Comunica e sem que eu pisque os olhos ele desce do veículo luxuoso para abrir a porta para mim. Assim que meus pés voltam a colidir contra o chão fixo o olhar no lugar aonde muitas vezes senti ser especial para Michael. Nossas risadas ecoavem por cada canto da luxuosíssima propriedade e quem nos visse ali, radiantes desconfiaria da definição amizade. Talvez eu fantasie o impossível, um homem tão requintado, interessado em uma mulher simples e cheia de problemas insolúveis. Não desejo empacar a vida de um empresário bem sucedido que pode conquistar a mulher que quiser. Aliás um homem impossivelmente bonito e com um sorriso reluzente como Michael Jackson é capaz de desonrar a mais puritana das mulheres. Ele é irresistível. Um perfeito e completo cavalheiro, ademais sua nobreza o torna minha perdição. Explicitamente, uma doce tentação. Inatingível para mim, entretanto, o sonho de milhares de garotas sonhadoras e puras, um príncipe daqueles que dispensa o cavalo branco e até o buquê de flores.


— Hey? Está aí? Sonhando acordada? Veja lá "distinta dama", prometi a Michael que sua Cinderela não se atrasaria! — Me estende a mão e eu tento conter o riso, embora fracasse nós dois caímos na gargalhada. Eu me rendo, é impossível não rir na presença dele.


— Não tema, eu estarei lá 00:00 em ponto! — Asseguro me deixando ser conduzida por Jerry pela escadaria que dá acesso ao meu novo lar provisório.


— Cumpri com meu dever, então já vou! Boa noite, Lana. — Jerry despede-se cordialmente, e eu noto que a porta está aberta. Obviamente não penso, apenas atrevo-me a explorar. Os lustres de cristais que tanto me cativam estão do mesmo jeito do última vez que estive aqui. As paredes enfeitadas por quadros clássicos ainda me inspiram sobre o poder da arte em acrescentar graciosidade ao ambiente. Só não compreendo porque minha menina e Michael nem sem deram ao trabalho de me recepcionar. Céus onde aqueles dois se meteram?


— Michael? Eu já estou aqui, apareça! — Grito e esbaforida começo a subir os degraus da escada que leva ao andar superior da casa. Eis que tropeço em um objeto estranho. Um envelope, envolto por uma fita vermelha e um botão de rosa vermelha. Pouso minhas mãos trêmulas sob o pedaço de papel e desato o nó da fita, levo a rosa ao nariz inalando seu perfume. Mas o que? Sorrio espontaneamente e retiro de dentro do pequeno envelope um pequeno cartão.

"Lana se você chegou até aqui é porque trilhou o caminho árduo do meu coração. Haviam muitas pedras, barreiras a serem derrubadas e a principal delas você esmigalhou. Meu medo. Meu tenro e tortuoso medo de amar e ser amado. De entregar a alma a outro algúem e reviver os dias de tormenta do passado. Os fantasmas voaram. Mas se você não tivesse segurado minha mão e sorrido genuinamente eu jamais teria enfrentado meu pior inimigo, eu mesmo. Agora, eu poderia morrer em paz, apenas pelo simples motivo de saber que fui abençoado em conhecê-la naquela noite obscura. Sinto-me um afortunado, e não pelo patrimônio que só  fiz multiplicar nesses últimos anos, e sim por ter tido a oportunidade de dar um novo rumo a minha vida ao lado de uma mulher que desabrachou novamente o amor dentro de mim. Amor. Simplesmente amor, descomplicado, e puro. Assim como o poeta não o define em seus versos, também não consigo expressa-lo em palavras. Somento sinto,, e peço que renda-se como eu me rendi, permita-se sentir. Vejo faíscas voando a cada vez que me perco em seus olhos. Suba os próximos degraus da escada e encontre os demais pedaços do meu coração."

 

A emoção causa-me arrepios que perpassam minha espinha como uma voraz corrente elétrica. Analiso os degraus acima de onde estou e visualizo mais dois envelopes cada qual com um flor diferente. Incrédula, no entanto sorrindo de orelha a orelha sigo as orientações de Michael e pego o segundo envelope. Desamarro a fita verde e cheiro a tulipa para em seguida ler o cartão.

"Anteriormente a sua chegada repentina em minha vida tudo resumia-se a trevas, agora reluz a esperança. Você levou a escuridão e me trouxe direto para a luz. Devolveu-me a vontade de acordar pela manhã no intuito de comtemplar o sol nascendo, o voo, o canto dos pásssaros. E se todas essas palavras puderem manter o sorriso que esboça seu rosto nesse momento, prossima meu anjo."


Ele adivinhou cada um dos meus gestos lendo suas declarações. Sua sensibilidade em enxergar através da janela da alma ainda me impressiona. Mas mesmo suspirando igual a garotinhas quando apaixonam-se perdidamente eu me encaminho para o último degrau da escada e toco o envelope dessa vez cuidadosamente enganchado por um fita azul e claro uma flor, um lírio branco.


"Você certamente acredita em anjos, baby? Acredita que juntos possamos alcançar o céu? Porque eu lhe garanto que se somente tocar minha mão e beijar meus lábios ternamente pisaremos nas nuvens. Essa é a real magia do amor, o milagre no qual fomos concebidos. Paixão, luxúria, a imaginação fluindo, não, esqueça tudo isso. Falo de amor, da pureza implacável dos sentimentos. Tudo que desejo é acaricia-la tão suavemente como se encosta na pétala da mais formosa rosa. Deixemos o passado e as mágoas aonde devem estar, no passado. Temos um ao outro e mesmo que as paredes caíam eu estarei com você. Preciso dizer-lhe, verbalizar nesse singelo papel e eternizar no azul do céu, eu te amo, Lana Clark! E se sonha em me abraçar e estar em meus braços, basta seguir as petálas de flores que encontrará pelo corredor, então chegará ao que já lhe pertence, meu coraçaõ."


Amor,

Michael



Capítulo 15
                                                 
"Conto de fadas"
                           
                              
                  
"Lana"
 


— Palavras se fazem desnecessárias... Michael eu.. — Ele ergue-se do carpete nobre trazendo-me de volta a realidade. Esse com certeza é ser o paraíso esquecido pelo resto da humanidade. O amor. Ao contrário da paixão não queima, nem arde, apaga o fogo.


— Será que a bela Srta. aceitaria ser minha namorada? — Enfia o anel em meu dedo e beija o dorso da minha mão em um ato cavalheiresco.


— Sim, claro, é óbvio que eu aceito o pedido do homem que venho amando em silêncio! — Confesso encantada e Michael me rodopia no ar, de uma maneira descontraída me põe em seu colo. Ele não consegue cometer gafes em nada que se propõe a fazer. O quarto está ambientalizado para um casal de namorados. A champanhe devidamente posta em um balde ladeado de gelo, velas, a luz da lua entrando pela janela envidraçada iluminando ligeiramente o espaço tudo se completa em um sussurro convidativo de paixão. A cama, também foi vítima de suas segundas intenções, pétalas de rosas vermelhas e brancas se intercalam formando um coração.


— Eu te amo! Desculpe ter perdido tempo... Deveríamos...


— Shh. Você me fará chorar de alegria. E isso nunca aconteceu antes, jamais senti tamanho sentimento me engrandecer — Ele me esparrama na cama de uma forma que sinto-me um bibelô. Circundo o queixo quadrado dele e sorrimos lascivamente provavelmente desejando a mesma coisa.


— Então conquistamos mais afinidade do que pensava, pois o verdadeiro amor conheci ao seu lado — Suas mãos enormes estão em minha nuca e os lábios quentes beijando meu pescoço, já perdi a noção de tempo espaço e isso não está perto de terminar em brasas. É o que quero. Ser dele.


— Faça amor comigo. Preciso senti-lo, seu toque, suas carícias, o calor do seu corpo colado ao meu. —Deslizo os dedos por seus ombros largos, disposta a ser sua. Ele arqueja as costas e eu enlaço minhas pernas ao redor de sua cintura em um convite para a luxúria. Michael agarra meus cabelos e deposita um beijo terno em minha testa, fitando-me intensamente. Ele sempre decifra meus pensamentos e não duvido que desvende cada um de meus segredos, e mergulhasse no oceano dos desejos mais íntimos de uma mulher. Michael saberá quais zonas erógenas estimular, os pontos que precisa tocar para embalados pela dança mais antiga dos tempos atingirmos o ápice delirante dos amantes. O êxtase, roupas no chão, o suor, os gemidos cálidos. Sonhei incessantemente com o dia que estaria nos braços dele, desfrutando de seu corpo, seus lábios carnudos.


— No que tanto pensa meu amor? — Michael escova meu cabelo para atrás das orelhas e posso apreciar seu sorriso torto.


— É que você não respondeu minha pergunta — Insinuo decepção e o escuto ofegar brincalhão.


— E quem lhe disse que não suprirei com o desejo de minha amada? — Discursa efusivamente intervindo em minha expressão mimosa que se transforma em contentamento. Deus, ele é tão lindo, parece que não é real, nos dois aqui, juntos, essa torrente de felicidade me dominando. A voz de Michael me extasiando.

— E o que está esperando? Acha mesmo que irá resistir ao pecado? Crê que o deixarei dormir sossegado?— Interrogo provocante de uma forma que não combina comigo.


— Quero contemplar o máximo de tempo possível seus traços bem feitos, eternizar seu rosto na memória, esse sorriso que me tira de órbita — Murmura roucamente, e em seguida seus lábios pousam sob os meus movendo-se em uma sintonia que pensava ser resultado de alguma utopia. Seu beijo exala ternura e volúpia, Michael utiliza leveza, em contrapartida malícia, tudo na proporção ideal para me enlouquecer.


— Eu te amo! — Reforço interrompendo o beijo e ganho em retribuição o sorriso arrasador de corações que um dia causou frisson em minha mente. Sorrio convicta do que estou prestes a fazer espelhando o gesto dele, Michael vagarosamente desce a alça do meu vestido, agora serei sua, já era intimamente sua mulher, mas na prática eu me tornarei essa noite. Todavia, sinto que me entregar a esse homem é um caminho sem volta. Talvez futuramente provar do fruto proibido me traga consequências, mas se isso me levar até o inferno tudo bem, primeiro terei conhecido o céu.


                                                                                                      ***


As roupas espalhadas aleatoriamente no carpete, pétalas de rosas em cada canto da suíte, as mãos dele em minha cintura enquanto ressona. Os cabelos desgrenhados, lençóis cobrindo nossos corpos nus e claro o sorriso dançando em meus lábios. Cada lembrança da noite inesquecível está expressa nesses mínimos detalhes. Agora, eu o pertenço definitivamente. Honestamente posso dizer que sempre fui de Michael Jackson. Recordo-me de casualmente um anjo cair do céu. Da fatídica noite na qual conheci meu grande amor, ele estava tão distante, seus olhos demasiadamente negros vagavam pelo bar nostálgico, seus cabelos castanhos ondulados, quase selvagens caiam sob seus ombros dando-lhe um ar de experiência tentadora, a barba rasa agregava todo o charme que faltava para torna-lo o homem mais atraente do lugar. Enfeitiçada por aquele sorriso de legítimo cafajeste fui atraída até ele, um estranho, que tornou-me meu protetor, e segurou firme minhas mãos sempre que as lágrimas se apossavam de mim. Seria possível não ama-lo?


— Acordou tão cedo! — Michael remexe na cama e boceja preguiçosamente. Evidentemente, vibro ao saber que fui a responsável por esgotar as energias dele.


— Estava te admirando dormir — Admito sem pestanejar e as mãos dele migram para os meus cabelos.


— Estar aqui com você, a noite de ontem, nenhuma sensação que já tive supera esse momento. Gostaria de ficar assim a vida inteira, sabia — Me equilibro nos cotovelos para ter uma visão nítida do semblante dele. Honestidade, Michael realmente está radiante após nossa noite de amor.


— Esse é nosso céu, o meu, o seu. Estamos flutuando, eu pelo menos posso dizer que parece surreal tê-lo em minha vida. De amiga dedicada a namorada ciumenta. Sim, sou extremamente cuidadosa com o que é meu — Advirto tentando manter a compostura de mulher possessiva, mas não sou uma atriz convincente e acabamos caímos na risada.


— Lana, como consegue?


— O que? — Indago despretensiosamente.


— Me alegrar apenas com suas palavras, uma simples brincadeira... É natural para você me fazer feliz. Nasceu para essa tarefa, anjo — Enfatiza seguro de que nos completamos. Não que eu acredite em almas gêmeas, mas caso elas existam estou diante da minha.


— E você? Qual o segredo da poção venenosa do seu sorriso? — Ironizo observando a fileira de dentes a minha frente alinhados e brancos.


— Não faça perguntas que não posso responder ou terá que me explicar por que é tão linda? — Protesta num tom divertido.


— Infelizmente, tenho que trabalhar — Lembro do meu trabalho de secretaria e também de minhas obrigações noturnas, outro serviço. Não um emprego, odeio defini-lo, detesto ter que tomar certas atitudes drásticas em nome da saúde de Cindy. Perder a dignidade pela minha filha ainda tem sido doloroso de aceitar. Nem todos nascem em berço de ouro ou possuem oportunidades de ter uma carreira profissional de sucesso. Jamais pisei em uma universidade. Sonhava com esse dia, e era motivada pelos meus professores a seguir a carreira de medicina, no entanto no colegial engravidei de Cindy. As coisas fugiram do meu controle, e precisava arcar com as consequências do meu impulso juvenil. O pai de Cindy e eu nos amávamos alucinadamente, optamos por nos casar, seguir uma vida humilde juntos. Johnny era esforçado, vendia ações, parecíamos a típica família americana porém por algum percalço da vida tornou-se fracassado nessa carreira e foi demitido. Coincidentemente, na mesma época eu dei a luz a minha menina, Cindy. Johnny, batalhava para arranjar outro emprego, e não aparecia absolutamente nada. Eu já não podia contar com meus pais, que poucos meses após o nascimento de Cindy faleceram em um brutal acidente de carro. Meus sogros moravam na Irlanda, e eu me senti a mais solitária das criaturas. Não havia nenhum parente ou amigo para nos socorrer daquela miséria e meu marido para escapar da impotência que sentia, tornou-se um alcoólatra violento. Não o culpo, tampouco irei ser hipócrita e condenar sua decisão extremista. Suicidou-se no torpor da embriaguez, claro, consumido não só pelos efeitos álcool, mas também pelas condições precárias que sua família vivia. Durante muito tempo lastimei não ter salvado-o, como se isso fosse possível quando na verdade eu jamais teria o poder de impedir que se matasse a sangue frio. Cindy, presenciou a cena sangrenta, ela entrou no quarto no instante que seu pai disparou contra a própria cabeça, seus gritos estridentes e infantis interromperam minha distração a leitura que nem mesmo o estrondo do tiro conseguira. Adentrei aquele cômodo, já desesperada, tendo um presságio de que uma desgraça ocorrera debaixo do meu teto. A primeira coisa que me vem a mente ao relembrar, é sangue por toda parte e o corpo do homem que amava estirado sob a cama. Posso fechar os olhos e enxergar em borrões meu pranto compulsivo, aquela dor destruindo todas minhas esperanças de um futuro melhor. O coração apertado, a garganta seca, os gritos entalados na garganta. O homem ao qual entreguei meu coração me abandonara. Fiquei paralisada, ali, deitada ao lado do cadáver de Johnny, meu estado de choque não permitia que me erguesse dali e uma equipe médica precisou me sedar para me tirar daquele quarto. Queria mudar o curso do destino, desejei uma nova chance. Uma vida diferente daquilo a qual estava predestinada. Uma vida medíocre de dona de casa, oposta a vida agitada que sonhei para mim. Então eu era uma viúva, sozinha no mundo, com uma filha de sete anos para alimentar e educar. Deixei para trás a vida de dona de casa , e assumi outro posto sem grande adrenalina, o cargo de secretária em uma empresa de cosméticos. Nada mudara, por dentro eu prosseguia insatisfeita, inconformada em viver uma rotina auto destrutiva. Vendo as infinitas possibilidades de felicidade passarem no retrovisor da minha picape velha.


— Lana? Meu amor, você está aí? — A voz suave me acalenta e meus devaneios dissipam-se, convertendo-se a pó.


— Claro, desculpe é que tenho que tomar um banho, me vestir e correr...


— Para que tanta pressa? — Puxa-me para seu peito e desvencilho-me dele recusando permanecer mais um minuto sequer nesse conto de fadas.


— Porque dependo daquele trabalho ou pensa que compactuarei com a ideia de que me sustente? — Repreendo enrolando-me em um lençol e rumando para o banheiro, uma ducha gelada me fará bem. Não posso estragar meu relacionamento com Michael em virtude de minhas crenças pessoais. Ele é a única pessoa disposta a me estender a mão em qualquer circunstância e isso é raro.



                        
Capítulo 16
                                                 
"Maré de ilusões"
                            
                            
                 
"Lana
 

O sol aberto no alto do céu,  a brisa suave resvalando meus cabelos, o barulho do mar tão próximo e ao mesmo tempo inatingível. O mar, imenso, solitário e misterioso. As incertezas da maré da vida . Aonde ela irá me levar? A última vez que estive em uma praia vestia trajes de banho de bolinhas, e não largava uma boneca. Deveria ter mantido esse fato em segredo, mas revelei a Michael e ele resolveu por nós dois. Adivinhou minha necessidade em sentir-me livre e despreocupada dos afazeres diários.


— Mamãe, ao menos molhe os pés no mar. Depois de vinte anos sem vir a praia, é o mínimo que pode fazer! Provavelmente se esqueceu que a água do mar é salgada e que a vida é curta demais para se privar dos momentos de felicidade. Eu lhe peço, sua tremenda chata — Resmunga Cindy enfim sentando-se em uma espreguiçadeira. Ela não perde a energia, Michael perdeu todas as partidas de vôlei que disputaram na areia, o pobrezinho não parava de pedir revanche.


— Venha Lana, meu amor. Por que se nega a entrar no mar? — Avisto a silhueta esguia de Michael através das lentes do óculos de sol. — Não fará essa desfeita — Retiro o óculos e fito um par de olhos negros suplicantes mirando na minha direção. Eles criaram um complô contra mim. Cindy cobre a boca com as mãos e ri comedida. Ela sabe que Michael é meu ponto fraco, que ele acertou em meu coração uma flecha certeira.


— Esqueci de avisa-la que seu príncipe viria te buscar — Cindy ergue as sobrancelhas e um riso sutil escapa de sua garganta.


— Vocês venceram! — Aponto para Cindy e depois para Michael, me rendendo. Os dois piscam discretamente como se eu não respirasse o mesmo ar que eles e eu me levando da espreguiçadeira sendo agarrada na cintura por Michael em seguida. Assim que nos afastamos de Cindy e sinto a água do mar varrer meus pés decido fazer uma confissão a ele.


— Não aprendi a nadar — Mordo os lábios envergonhada.


— Creio que não há problema! — Dá de ombros e um sorriso de alívio brota em meus lábios involuntariamente. — Tudo bem, me afogar não estava mesmo em meus planos.— Fito-o intensamente.


— Eu precisava de uma desculpa para ficar a sós com a garota dos olhos mais deslumbrantes que já cruzaram os meus — Michael não me concede o direito a resposta e meus lábios são atacados pelos seus vorazmente. Suas mãos enterradas em meus cabelos e as minhas em suas costas demonstram nossos anseios. Ele aprofunda o beijo e nossas línguas duelam urgentemente para manter o ritmo. Já posso prever onde acabaremos depois dessa tarde revigorante na praia. Novamente aquele fogo indomável se apropriando do meu ser. E repentinamente o medo sobrepondo o desejo ardente.

— Não, sem jogos de sedução! — Empurro-o consternada. Esqueci que pego turno noturno, e dependo do trabalho para quitar os remédios de Cindy e as parcelas do cartão .


— Eu fiz alguma coisa errada? Se qualquer atitude minha lhe desagradou, confie em mim. Diga-me qual o problema!? Confia em mim, amor? — Sacode-me delicadamente pelos ombros, estranhando minha letargia. Rejeitar seus beijos decerto feriu-o.


— Eu tenho dois empregos e um deles sendo concisa tem início por volta das 22:00. Sinto muito não estar inteiramente a sua disposição, mas sempre mantenho os pés no chão. Sou pobre, ao contrário de você, dependo do salário para o sustento da minha família, Michael — Desprendo-me do aperto dele e noto seu desapontamento. Esse dia seria maravilhoso, caso eu não fosse uma borra-botas morta de fome que luta pelo bem estar da filha. Eu deveria saber que não estamos é Hollywood e não caibo no estilo de vida repleto de regalias de Michael.


— E por que eu proibiria você de trabalhar Lana? Ganhar dinheiro graças ao seu suor não é nenhum crime — Engulo a seco. Se ele soubesse até onde cheguei para obter um tratamento adequado a Cindy sem pedir-lhe um empréstimo.Arrependo-me de não ter aceitado sua ajuda.


— Então não conteste, leve-me em casa e aproveite para ir a uma reunião no grupo de apoio. Tem faltado frequentemente, é o dia oportuno para se unir aos seus colegas e obrigar Cindy a faze-lo companhia.


— Não mude de assunto Lana. Quero tomar partido de tudo que diz respeito a minha namorada. Afinal qual sua função nesse emprego? — Requisita uma análise detalhada e meu corpo gela instantaneamente. Não posso dar explicações a ele e quebrar o encanto, no entanto engana-lo é cruel.


— Bem... Falamos disso em outro momento. Agora, estou atrasada e você deve se aprontar para seu compromisso — Desconverso encurralada pelo olhar de negação dele.


— É impressão minha ou não quer que eu saiba aonde está trabalhando? — Retrai ruidosamente o cenho. Sei que estou sendo jogada contra a parede e demolida por questionamentos os quais não posso responder.


— Não é isso. Pare de me colocar contra a parede, apenas deixe-me em paz — Encorajo-me a correr o mais rápido que minhas pernas permitem e capturo velozmente minha bolsa na espreguiçadeira, ignorando a reação súbita de espanto da minha filha. A visão embaçada graças aos olhos marejados tornam Cindy invisível. Eu realmente nutria a rasa esperança de que construiria um relação sólida com Michael. Esqueci de quem sou, e das decisões desnaturadas que tomei. Insensatez. Medo. Peso na consciência por não ter sido uma mãe completa, e em virtude da minha cegueira, do meu egoísmo, Cindy caminhou pelo lado negro do beco. Drogas. Festas movidas pela orgia. Como negligenciei minha pequena menina? Por que a imprudência com ela faz de mim uma escrava das correntes do passado?



— Táxi , por favor — Conclamo em plenos pulmões sinalizando para o primeiro táxi que vejo passar na calçada paralela a praia. Ouço os gritos transtornados de Michael e enxugando as lágrimas quentes que inundam minha face me enfio no táxi e lhe indico o endereço de um amigo. A única pessoa que pode compreender minhas lamúrias. Uma recompensa dos céus em meio ao diluvio de desgraças que venho encarando.
                                                                                 ***


O ar frio do apartamento minuciosamente decorado para ser aconchegante me faz sentir em casa. Apesar de conhecer Martin há alguns meses, não havia lugar mais apropriado para eu me esconder do mundo lá fora do que aqui, ao lado de meu melhor amigo. Ele já está a par de meus dilemas com Michael e a situação financeira decadente. As dívidas vem aumentando progressivamente e para quitar o que devo ao banco, continuar arcando com o tratamento de minha filha soropositivo preciso me sujeitar a qualquer humilhação.


— Lana, tome esse café, lhe fará bem Mon cherry! — A voz familiar me faz recobrar a noção de tempo, e encaro a figura do homem vestido com esmero em um suéter de grife. Sorrio forçadamente e Martin entrega-me a xícara preenchida por café até a borda. Ele é lindíssimo, a pele morena contrasta harmoniosamente com seus olhos verdes, cabelos escuros e longos completam o visual despojado.


— Quer dizer que pretende partir o coração do homem que ama? Lana, a verdade por mais dolorosa que seja é melhor que a mentira. Conte logo a Michael no que condiz sua nova profissão — Aconselha em um tom de seriedade absoluta que em outra ocasião não caberia.


— Eu sei que é perverso, mas não consigo, o perderia para sempre e sua repulsa me mataria. Olhar dentro dos olhos dele e enxergar ódio ao invés de doçura, me devastaria, Martin. Já não basta eu mesma me enojar, praguejar o maldito dia que me enfiei em uma boate para dançar e acabei cedendo as ofertas de milionários em virtude da doença da minha filha. Eu me vendo, e não se passa um segundo sem que eu me puna por ter rejeitado a ajuda dele. Saber no que me transformei será uma dor lancinante para ele, Michael me apelida de anjo. Desenvolveu uma intrigante devoção por mim, e mesmo que me doa dissimular no que depender de mim ele jamais descobrirá.

                        
Capítulo 17
                                                 
"Revelando-se"
                            
                            
                
"Lana
 

— Compreendo seus motivos, embora seja contrário ao seu orgulho, o qual levou-a recusar o apoio de um homem que só fez ama-la. Apesar de não conhecer Michael Jackson pessoalmente sua nobreza me faz estima-lo. Agora, não há volta, já se envolveram e teceram um amor genuíno, você precisa abandonar essa vida e se regenerar. Lavar a alma e recomeçar do zero com ele. Creio que entenda que se decidir prosseguir levando uma vida dupla Michael desconfiará, virão os conflitos e enfim uma separação inevitável.


— Não suportaria obter o ódio dele, Michael é uma das raras coisas boas que aconteceram em minha vida. Perdê-lo significa perder uma parte de mim. Ele é meu outro eu, compõe todas as características que me agradam em um homem, ultrapassa minhas exigências. E o essencial, tem um coração que não cabe dentro do peito. — Suspiro apaixonadamente e beberico um gole do café que Martin preparou ao meu gosto. Forte e amargo.


— E se ele descobrir da forma errada? Distorcer a realidade e acreditar que você é indigna? Lembre-se que Michael ofereceu-lhe apoio financeiro dezenas de vezes, não quero soar intromissivo, mas mediante a insistência dele em arcar com as despesas de sua filha. Pode vir a julgar seu sacrifício, sentir-se ultrajado por entre aceitar seu dinheiro, driblar seu orgulho e a prostituição preferiu a segunda opção. — Imparcial aciona em minha mente o senso de lógica. Praticidade nunca foi uma aptidão para mim. Escuto a voz do coração esquecendo-me que a racionalidade deve ser posta em seu devido lugar, na dianteira.


— Michael, mesmo sendo inteligente e um exímio cavalheiro, não aceitará minha escolha. Nem eu mesma consigo me comportar com resignação. Meus atos me condenam Martin, a sociedade só importa que me tornei uma garota de programa de luxo, o resto da história não entra em evidência para ninguém. A saúde fragilizada de Cindy, sua doença, a dor que seu estado me causa... Há muito preconceito disfarçado de moralidade, as pessoas usam as críticas como defesa para seus preconceitos. Nada disso é obsoleto, apenas repugnante. Bem vindo ao lado mesquinho do ser humano. Naturalmente cruel.


— Só ouvi verdades, lamentavelmente assim funcionam as mentes fechadas das pessoas. Julgar é fácil. Entretanto, duvido que se estivessem na sua pele seriam minimamente puritanos. Essa opressão complexa e desconexa de que uma mulher merece respeito apenas se portar-se como uma dama, é inadmissível essa tradição, de guardar-se para o marido por exemplo!


— Martin, não sinto orgulho do que faço, pelo contrario, sinto-me envergonhada, suja. Estou determinada a abandonar essa vida e pedir auxílio a Michael para investir nos meus estudos. O problema é Victor Fontes. Ele já deixou claro que jamais compactuará com minha saída. Disse que é porque atraio clientes para a boate, e sou a acompanhante predileta dos seus amigos empresários... Mas a intuição me diz que ele é obcecado por mim Martin. O jeito que me olha, seus ataques de gentileza e imposições. Se contata-lo e dizer que seguirei meu caminho temo que faça mal a quem eu amo, inclusive Michael!


— O proprietário da "Seduction"? Lana é muito perigoso se envolver com gente desse cacife. Conte a verdade a Michael, ele é um empresário poderoso e tomará as medidas necessárias para garantir sua segurança. Se ele ama-la esse sentimento irá predominar. Assuma seu erro, diga que mentiu e se arrepende, só não sustente essa farsa ou permita que Victor torne-se seu dono. Ele já tentou toma-la a força? — Retrai o cenho sinalizando preocupação.


— Acalme-se! Ele me trata diferente das outras meninas, como se eu fosse sua protegida o que só comprova minhas suspeitas. — Suspiro pesadamente na tentativa de afastar os maus pressentimentos que vem me atormentado desde minha noite de amor com Michael. Repentinamente um terremoto pode converter luz em trevas.


— Precisa sair de lá o mais rápido possível amiga! Esse homem representa risco a sua vida. Lana suma sem deixar deixar vestígios... Por que não propõe a Michael uma viagem? Seria conveniente e ainda poderão se conhecer melhor... Respirar novos ares! — Aconselha sorridente e eu deposito a xícara de café na mesinha de centro envidraçada..


— Estou sendo coagida pelo meu subconsciente, e em nome ao amor de Michael, porém, preciso decidir se contarei a ele... Gostaria de não magoa-lo, isso me mataria. Causar desilusão ao homem que me abrigou em seu lar, em sua vida... Ele me entregou seu coração. — Discurso com os olhos marejados e ardidos. Martin se compadecendo de minha difícil escolha me acolhe em seus braços ternamente e afaga meus cabelos. Não posso ser injusta com Michael, nem permitir que as dificuldades soterrem nosso amor. Vivo nesse constante martírio.


— É melhor eu ir, antes que Cindy e Michael chamem a polícia para investigar meu desaparecimento. — Liberto-me do abraço caloroso de meu amigo e forço um sorriso ínfimo. — Aquela proposta que me fez permanece de pé? — Disparo no impulso. Repentinamente relembrei de quando nos conhecemos e ficamos conversando por horas a fio. Martin acabou criando uma ligação comigo e me explicou que reúno os atributos ideias para me tornar uma modelo de gabarito. A princípio me olhava no espelho e não via ali, a imagem de uma mulher capaz de brilhar em cima de uma passarela, mas inevitavelmente passei a enxergar minha beleza. Cada mulher possui a sua. E confesso que demorei a compreender que a felicidade que transcende de um sorriso sincero torna todas demasiadamente belas. A beleza tem que partir de dentro para fora, irradiando tudo ao seu redor feito um feixe de luz brilhando no crepúsculo. Ela vem da alma. Essa é a verdadeira beleza que encanta e desperta paixão.


— Sobre aquele meu amigo, o agente de modelos que esta selecionando meninas para a campanha de uma grife promissora em Londres?


— Sim, é que...


— Não precisa explicar... Sabia que um belo dia cairia em si e descobriria sua vocação. A beleza autêntica, o porte de modelo, essa elegância natural, despretensiosamente chique... É uma forte candidata a entrar no mundo da moda para abalar as estruturas dos estilistas! — Exala entusiasmo com meu interesse prévio na carreira de top model. Eu uma super modelo? Nada é impossível, a roda da vida pode girar e nos transportar até lugares que jamais pensávamos conhecer. Quem sabe esse é meu passaporte para uma nova chance?


— Martin, concorrer com todas aquelas garotas finas e acostumadas com esse universo fashionista certamente não é para mim! — Contesto me pondo em meu lugar de moça sem instrução. Modelos são criaturas absolutamente refinadas e adaptadas a tendências da moda.


— Pode e vai concorrer de igual para igual contanto que se dedique e acredite que é capaz. Nada que aulas de etiqueta não resolva! — Rebate obstinada a me transformar em um dama. Martin e sua cega crença de que estou predestinada ao sucesso. É animador estar na companhia alguém tão positivista, mas a realidade de uma mãe solteira com uma filha doente para cuidar não condiz com essas perspectivas. Voar alto assim nunca foi para mim, tentar resultaria em uma queda.


— Irei pensar... Apenas prometo em pensar com carinho, todavia lembre-se que agora tenho Michael ao meu lado e ele é ciumento... A distancia que essa carreira pode impor entre nós levaria nossa relação ao fracasso. — Um nó se apossa de minha garganta ao projetar um futuro sem Michael para compartilhar de minhas conquistas.


— Certo, Mon Cherrie, tem certeza que não aceita uma carona até a casa do bonitão? — Desconversa educadamente vendo que já estou de pé prestes a retornar a casa de Michael e confronta-lo após o episódio da praia.


— A última coisa que preciso é dar motivos para ele desconfiar de minha fidelidade. Porque embora, não seja digno da minha parte estar na cama de outros em troco de dinheiro, é nos braços dele que encontro o amor, um refúgio.


— Realmente uma carona poderia arruinar seu relacionamento. Pelo que me confidenciou as experiências traumáticas. dele com a ex esposa é um fantasma entre vocês! — Assente balançando a cabeça em positivo. — Agora, permita que eu leve até o táxi.


— Será um prazer ter sua companhia! — Decreto em meio a um riso tímido. Ele sorri gentilmente e conecta nossos braços. Quem tem uma amigo possui tudo. E Martin é um presente dos céus. Sei que estará sempre de prontidão para ouvir meus desabafos.

Michael
 

Correndo assustada, eu me lembro tão bem do medo gotejando naquelas olhos azuis e isso me assombra desde que perdi Lana de vista e ela se esgueirou em um táxi aos prantos. Não tive tempo para sequer pedir perdão por minha indelicadeza. Ela parecia acuada como um animal ferido, provavelmente graças a minha agressividade desnecessária, e eu a compreendo. Talvez queira manter parte de sua vida particular fora do nosso namoro, algumas pessoas são restritas. O caso é que, quando lhe inquiri sobre seu emprego misterioso agi como o velho e amargo Michael. Aquele homem desenganado com o sexo feminino que desconta em todas as mulheres o mal feito que uma megera o causou. Que diabos eu pensei que estava fazendo? Aquele doce anjo acabara de atentar contra a própria vida e sua filha recentemente foi diagnosticada com o HIV. Há muito peso sob os ombros de Lana e eu deveria apoia-la, concede-lhe minha compreensão e afeto, ao invés disso fui logo partindo para a violência. Exigindo-lhe algo que não tenho obrigação de pedir a ela. Estragando nossa manhã ensolarada regada a sorrisos. Essa maldita nuvem negra que me persegue, o temor de ser ludibriado novamente, essa sensação de que jamais suportaria ser traído me transforma em um poço de rudeza.


                        
Capítulo 18
                                                 
"Encanto"
                            
                          
                
"Michael
 

— Não sei o que deu em você para trata-la com rispidez. Mamãe sempre foi reservada, é apenas um trabalho, Michael. De repente garçonete, ou o melhor que ela arranjou! Agora, assuma as consequências e tente obter seu perdão — Cindy ralha me fitando desdenhosa. Ela nem vagamente me lembra uma adolescente rebelde e egoísta, pelo contrario, inspira maturidade em suas atitudes. Admito, que está em seu direito de me repreender e devo me preparar para pagar um preço altíssimo pelo episódio infantil da praia.


— Cindy, quero que me ajude a articular um pedido de desculpas para sua mãe. Preciso me reconciliar com ela! Me retratar — Proponho respirando profundamente. Não vou deixar Lana escapar tão facilmente. Essa recaída é somente um sinal de que devo confiar cegamente nela ou a perderei devido aos meus traumas insuperáveis.


— No que exatamente estava pensando? — Pergunta atenta as minhas feições de garoto travesso.,


— Um jantar a luz de velas e um concerto de piano! — Respondo simplesmente tomado pela esperança.


— Um concerto de piano? Como irá contratar um pianista? Estou convencida que tem grana de sobra, mas isso aqui não é um conto de fadas da Disney, onde cavalos brancos e pôneis cor de rosa despencam do céu! — Os olhos esbugalhados de Cindy piscam freneticamente na sintonia de sua perplexidade. Embora, não tenha conhecido o pai dela, posso alegar que carrega os genes dos olhos da mãe, o azul intenso e claro, hipnotizante e extravagante.


— Eu não lhe falei sobre minhas habilidades musicais? — Ergo as sobrancelhas cínico.

— Não, você por acaso toca piano? Impossível! Ninguém consegue conciliar negócios com música — Rebate visivelmente incrédula.


— Aprendi na infância! Comecei a praticar com um professor que mamãe contratou. Ele era um grande pianista, e se prontificou a me dar aulas somente por ser um amigo da família. Faz um tempo que não toco as teclas de um piano, bastante, todavia por um boa causa me sacrifico. Lana merece conhecer o músico que habita em mim — Teatralizo entre risos e recebo uma sonora gargalhada da minha mais nova aliada.

— Estou ansiosíssima para vê-lo se apresentando e de smoking, igual naqueles concertos que os ricaços.
  levam suas esposas. Desculpe, para você isso não é inédito, deve estar adotado a estes eventos. Galerias de artes, opera, teatro nem imagino que algo assim o empolgue. — Supõe e acerta em cheio, esses eventos me trazem lembranças do Michael marionete que fui um dia nas mãos de Sophie.


— Na verdade meu gosto é peculiar. Não sou um apreciador de arte e um frequentador assíduo de concertos de opera. Trocaria qualquer um destes programas por um simples dia na praia, maresia. Sítios, equitação, a natureza no geral me fascina. Nesses outros lugares tenho que me enfiar em trajes formais e forçar um sorriso. Eram jornadas esgotantes aturar aquelas pessoas vazias e egoístas.


— E sua ex esposa? — Questiona sádica. Certamente amava pertencer a alta sociedade — Ironiza revirando os olhos.


— Ela me arrastava para o inferno quando cismava de comparecer a eventos, inaugurações. A última exposição de quadros em uma galeria que fomos juntos, terminou em uma catastrófica discussão.

— Por que? Um homem culto como você se encaixa no perfil exigido pelos milionários.


— Eu me portava educadamente, mas por dentro queria desaparecer dali. Checava o relógio, bebericava um gole de whisky. Não era um membro do grupo Cindy, apenas descobri da forma mais dolorosa que não poderia criar um personagem fictício. Durante um tempo permiti que Sophie me transformasse em um projeto de submisso, agora sou um novo homem. Perto de você, sua mãe, sou apenas eu mesmo, sem pudores ou fingimentos. Sou grato a Lana por me devolver a vontade de usufruir dos pequenos prazeres da vida — Ultrapasso os limites do bom senso ao relatar detalhadamente tudo que deixava trancafiado no meu coração. Lana sabe o quão eu a amo, mas creio que jamais saberá o milagre que significou sua chegada inesperada.


— Nunca alguém havia me tocado com palavras nessa proporção. Estou até voltando a acreditar em romances piegas

— Debocha de minhas atitudes de romântico incurável. Absolutamente, eu sou um especialista em agradar as mulheres que me interessam.


— Tenho meus truques! — Pisco sutilmente para ela.


— Já percebi porque mãe caiu aos seus pés e se apaixonou fatalmente! — Enfatiza logo em seguida cruzando os braços. — E por caridade, compaixão desse pobre apaixonado irá me ajudar a organizar o jantar?


— Sim, principalmente pela minha mãe, que ficará radiante feito uma garotinha que espera o príncipe encantado chegar com flores — Dá o braço a torcer parcialmente, pois está escancarado em sua voz que condena minha atitude.


— Não sabe, mas tirou uma tonelada das minhas costas. Bem, focando no que realmente importa. Vou orientar a governanta sobre a decoração da mansão, e o jantar será no jardim, a meia luz!


— Deveria se conter, esses suspiros são terríveis! Ok, é característica natural do amor destruir o bom senso das pessoas — Balança negativamente a cabeça.


— Morrer de amor é viver de alegria também. Quando um bom moço cruzar seu caminho e sentir o coração palpitar, as pernas suspensas, a adrenalina correndo nas veias... esse dia se lembrará do que lhe disse — Asseguro inspirado em falar de amor. Ironia, há meses atrás essa palavra era proibida no meu vocabulário e eu me punia por ter amado verdadeiramente. Hoje aquela visão disforme mudou e finalmente deu lugar a uma percepção otimista.


— Quem te viu, quem te vê. Seus olhos brilham Michael, pelo que posso constatar haverá casamento!


— Casamento? — Sorrio espontaneamente, quase esporadicamente. Posso imaginar Lana caminhando em um tapete vermelho até o altar, trajando um vestido de rainha e véu, enquanto seu sorriso me desarma e meu coração pula do peito .Essa cena é sem dúvidas um sonho que depende de meu empenho tornar realidade. Quando eu o farei? Penso que em breve.


— Está babando! Ops, e olha que dizia estar condenado a solidão eterna — Ri satisfeita em ser a dona da verdade, nesse caso ela é.


— Anda conversando muito com Jerry, por isso o atrevimento! Pelos seus modos, já encontrei o culpado.

— Eu no seu lugar começaria a usar sua varinha de condão, afinal a qualquer momento mamãe vai chegar — Adverte fazendo-me recobrar meus planos.


— Se ela chegar antes de estar tudo pronto você a distraí. Cindy...— Ela revira os olhos. Espero que esteja blefando.

— Claro que pode contar comigo! — Interrompe-me e garante ser minha cúmplice.


— Confio em sua palavra. Agora, irei fazer alguns telefonemas e ensaiar um pouco no piano, não posso cometer algum deslize ou dar vexame na frente de minha futura esposa.


— Futura esposa? — Um sorriso plenamente aberto é esboçado em seus lábios. — Sério que pretende antecipar o pedido de casamento? — Indaga e esfrega as mãos no seu penteado irreverente. Mechas azuis e avermelhadas são este visual descontraído a ela, acho que completa sua personalidade.


— Sim e não — Desvio o olhar para as prateleiras abarrotadas de livros, ponderando explicações. — Quero dizer que estou cogitando seriamente pedir a mão de sua mãe, porém isso requer planejamento e tempo para nos conhecermos mais a fundo.


— É uma pena que não marquem logo a data só casório!._Lastima denotando desapontamento, de repente ficou entristecida e cabisbaixa. Entendo que nessa idade sejam eufóricos e inconsequente. Já fui um jovem imprudente.


— Cindy, existe o tempo certo, infelizmente é a lei da natureza. Não sou eu que decido, quando chegar o momento saberei que é a hora de me ajoelhar diante de Lana e lhe propor que case-se comigo — Elucido dando um abraço carinhoso nela. Loucura ou carência, considero-a uma filha. Esse sentimento paternal se alojou no meu peito e não há como negar que gosto de exercer o cargo. Temos descoberto gostos em comum, ideologias parecidas sobre determinados assuntos.


— Ela é linda não é verdade? — Cindy desfaz o abraço e murmura.


— Lana? — Ela aquiesce.


— Maravilhosa em todos os aspectos. É linda interiormente, e essa espécie de beleza rara só encontrei nela. Sabe, vou lhe confessar um segredo! Você herdou os olhos dela e tem provado ser uma fortaleza. Algumas pessoas desistiriam e desabariam após o diagnóstico que teve, eu mesmo entrei em depressão subitamente ao confirmar que havia sido contaminado por Sophie — Puxo o ar para dentro dos pulmões e a agonia de recordar o pior dia da minha vida volta a me assombrar.

 — Não relembre o passado que só lhe traz desgosto. Viva o presente, e erga a cabeça, porque você Michael, é minha inspiração para lutar contra esse vírus, o verdadeiro guerreiro. Foi quem me resgatou do fundo do poço, apresentou-me ao SOS aids, tirou a venda dos meus olhos, graças a isso reconquistei a confiança da minha mãe — Sua voz chorosa tomada pela emoção transparece que realmente aprendeu da forma mais difícil.

—  Assim me fará chorar e ficaremos aqui...— Detenho a emoção em demasia.


— Eu não consigo calar a boca, é um dos meus defeitos, enfim, está liberado para ensaiar! — Ergue as mãos na minha direção e eu gargalho com seu gesto divertido sentindo-me esperançoso. Motivação é o que não me falta para encantar Lana ao ponto de fazermos as pazes e nos amarmos até o ar tornar-se rarefeito.

                                                                                  ***
 Lana


Sinceramente, alguma coisa vai muito mal com meu DNA, meus neurônios ou sabe-se lá o orgão afetado. A insanidade deve estar se aproximando, porque, afinal em qual lugar Cindy e Michael se refugiaram de mim? Cheguei em meu novo lar disposta a dar uma trégua e reconsiderar as asneiras que proferi naquela praia, entretendo não há vestígio de ninguém. Se esse sumiço fosse em outra ocasião cogitaria a possibilidade de estarem aprontando alguma travessura, e tudo não passe de um plano mirabolante, mas depois do que se sucedeu pela manhã milhões de pensamentos negativos martelam em minha cabeça. Será que Michael seguiu meu conselho? Eu lhe pedi para ir no grupo de apoio e o induzi a levar Cindy consigo. Eu explorei praticamente todos os cômodos da mansão, apenas esqueci de ir até o jardim e não adentrei uma porta branca que creio se tratar de mais um quarto de hóspedes.


— Esse som... Mas? — Me locomovo pelo corredor e detecto uma melodiosa voz partindo da direção do quarto que ignorei por receio de soar enxerida. Provisoriamente estou morando aqui, no entanto o dono da casa é Michael, invadir sua privacidade considero um crime imperdoável, pois então que vá para a cadeia por infringir meus princípios. Essa música, o embalo do piano. Sim, reconheço esse instrumento a léguas de distancia, papai costumava tocar para nós em noites de inverno que a nevasca nos prendia dentro de casa. Em épocas festivas, natais e ação de graças também tínhamos a apresentação dele. Mamãe era tão meiga que preparava biscoitos para comemorar as raras vezes que éramos unidos como uma família comum de americanos. Sempre desejei contratar um professor para aprender a tocar piano como meu herói o fazia, mas emergida em dificuldades financeiras acabei sufocando esse sonho. Já os arrepios e sensação de paz que ouvir essa melodia perdura viva aquecendo o peito. Michael que me perdoe, mas terei que checar de onde está vindo a música, se ele me repreender aceitarei sua bronca, porém esse feitiço que piano exerce sobre mim me obriga a descobrir quem é o artista responsável por me embriagar. Minha caixa toráxica se contraí e retraí consecutivamente me preparando psicologicamente para desvendar o mistério. Lentamente movo meus dedos pela maçaneta e a giro, destravando a porta. Meus olhos lacrimejados e inquietos percorrem o luxuoso quarto mobiliado rusticamente, enfim cruzando com um mar negro familiar. Michael sorri genuinamente e prossegue acariciando as teclas do piano harmoniosamente. A belíssima musica clássica ecoa em meus ouvidos suave como a brisa que senti na praia.


— Michael, dessa vez nem diga que estou sonhando, não pode ser real — Murmuro extasiada diante a cena genuína. Subitamente Michael, para de tocar, levanta-se do piano e se põe a caminhar vagarosamente na minha direção esboçando aquele mesmo sorriso largo que faz minhas pernas tremerem e os batimentos cardíacos acelerarem, minha falsa resistência ruir. Eu estava em pedaços e novamente ele me reconstituiu. Amo esse homem, eu já o pertenço, e agora me rendo, sou de Michael Jackson aconteça o que aconteça.


                        
Capítulo 19
                                                 
"Momentos"
                            
                          
               
"Lana
 


— Shh... Por favor, não fale nada, a noite nem começou — Enlaça minha cintura delicadamente.

— Isso foi lindo mágico! Quer dizer que é um pianista? — Desobedeço sua ordem para me manter calada, afrontando-o.


— Acho que Cindy não consegue ficar em silêncio em virtude da mãe não conseguir também — Arqueia as sobrancelhas afrontando-me.


— Quero saber de todos os detalhes. Ela o auxiliou, certo? Onde está, Cindy, apareça! — Clamo vasculhando cada canto do lugar minuciosamente.



— Pediu permissão para dormir com uma amiga do grupo de apoio. Não se preocupe, Cindy ficará bem com Lilly.


— Elas estão nesse nível de amizade? — Estranho minha filha não ter me contado de sua nova amiga. Lilly, a mulher sem desvio de caráter, doce, bondosa, paciente... Tantas vezes Michael citou-a, sim, de alguma forma sinto ciúmes dela, como se previsse que ela sim é boa o suficiente para ele.


— Ela desenvolveu uma verdadeira devoção por Lilly. As duas costumam se comunicar virtualmente todos os dias — Explica brandamente já que não há um problema em elas estabelecerem uma amizade, mas uma ameaça a mim..


— Por que você confia extremamente em Lilly e a elogia o tempo todo? Seja sincero, tiveram algum relacionamento no passado? — Indago amaldiçoando a coitada antes mesmo de descobrir se teve uma relação com meu homem.


— Não — Afirma austero, a pergunta o deixou desconcertado. — Te desagrada que eu mantenha Lilly como amiga? Ela é muito meiga e sempre se dispôs até mesmo a ficar comigo no hospital quando precisei me internar. Você precisa levar em consideração que admiro-a, mas não passa disso nem passará de cumplicidade — Frisa nitidamente intimidado. Minhas insinuações causaram algum efeito negativo em sua postura descontraída, infelizmente eu fui leviana e exagerei.


— Claro que, por mim tudo bem de Lilly prosseguir sendo uma amiga. Ela é leal, e eu reconheço seu valor. Mesmo que me corroa de inveja admitir, chegou antes de mim e conquistou facilmente um espaço em seu coração — Desvio os olhos timidamente para o piano. É involuntário essa veneração pelo instrumento, talvez por trazer boas lembranças da infância, aqueles foram os melhores dias da minha vida, pena que eu ainda não sabia.


— Agora que já sabe onde está sua filha, e agraciei-a com um concerto privado de piano, falta a última surpresa da noite! — Desconversa rompendo o clima de tensão.


— Quer dizer que tem mais uma surpresa? — Sorrio embasbacada, ele já me descontraiu, preciso parar de ama-lo a esse ponto.


— Exatamente. Se quiser posso criar vários momentos especiais. Mas por agora, quero saber se aceita jantar comigo no jardim? — Aquiesço positivamente com a cabeça e Michael simplesmente me guia para fora do charmoso cômodo. Seus olhos não desgrudam-se dos meus e para minha sorte os dentes dele estão a mostra em um aberto sorriso.


— No jardim? — Pergunto retoricamente.— Essa ideia foi sua?


— Pode apostar que programei tudo para termos a noite perfeita. Bem, então você aprova? — De repente volto a pisar no planeta terra e saio do transe, deparando-me com uma belíssima mesa posta a luz de velas. A lua cheia resplandece beleza, criando um ambiente mais romântico e intimista. Não é a toa que os poetas fazem um paralelo entre o luar e os amantes, eles se completam.


— Esse é um dos dias mais felizes da minha vida. Obrigada por me proporcionar isso, pelo seu amor e as declarações apaixonadas — Michael apenas dá uma piscadela sutil e puxa uma cadeira para eu me sentar a bonita mesa, em seguida acomodando-se também.


— Eu planejei me desculpar quando eu a alcançasse na praia, porém você correu rapidamente e fugiu em um táxi, mudando meus planos. Portanto, decidi faze-lo nesse jantar — Rio de sua ironia e pigarreio, denotando aguardar um pedido de desculpas decente.

— Teoricamente falando, eu não planejei fugir de você em um táxi — Debocho.

— Eu sei amor, a culpa é minha por ser um velho intransigente e ciumento.


— Velho?— Desafio mordendo os lábios. — Não, apenas maduro e encantador, essa palavra jamais se enquadrará no seu perfil — Acrescento.


— Lana, completei quarenta, estou perto das temidas cinco décadas! — Exclama forjando estar triste.

— Não seja modesto, tenho certeza que nenhuma mulher em seu juízo perfeito recusaria um convite seu para sair. Mas elas terão somente a oportunidade de contempla-lo de longe, pois tem dona — Fito-o maliciosamente e sinto seus dedos acariciando minhas coxas por baixo da mesa.


— Não me provoque, afinal quero jantar em paz e apreciar o céu estrelado, aproveitar o ar puro em ótima companhia.


— Michael se eu lhe pedir um favor especial, você jura que cumpre? — Mudo o rumo da conversa bruscamente. Não sei qual meu destino tendo Victor Fontes como meu inimigo assim que me demitir, aquele maluco pode cometer uma barbaridade contra Cindy.



— Qualquer coisa, não há nada que eu te negue.


— Caso aconteça um desses infortúnios do destino e eu falte, cuida de Cindy? Ela o enxerga como o pai que nunca teve e sei que está retribuindo o carinho dela do seu modo. Prometa que sempre a protegerá — Concluo dolorosamente meu pedido sincero de mãe. Deus, nada poderia me ferir tão profundamente como partir e deixar minha menina após tudo que enfrentamos juntas. Meu coração está destroçado é a verdade, mal consigo encarar o olhar perdido de Michael devo tê-lo assustado.


— Lana como tem coragem de me pedir isso? Hey, você está segura ao meu lado, nada, nem ninguém a levará de mim. Por acaso pensa em terminar comigo ou em abandonar sua filha? — Descontrola-se aumentando exponencialmente o timbre antes doce de sua voz.


— Eu não estou colocando um ponto final na nossa história, apenas tenho tido presságios sobre o futuro, sinto que posso vir a...


— Imploro para que pondere as palavras. Lana, elas tem poder, se por acaso descobriu alguma doença sinta-se livre para abrir seu coração — Segura fortemente minha mão e infelizmente avisto a meia luz uma lágrima escorrer pelo rosto bem esculpido dele.


— Não, minha saúde continua em perfeitas condições. Certamente estou num daqueles momentos sensíveis no qual temos a sensação de que alguma desgraça irá estragar tudo — Detenho-me a usar um daqueles clichês e eu encara-lo toda minha segurança decaí, não suporto essa tensão exprimido entre o vão de sua testa.



                        
Capítulo 20
                                                 
"Despedida de amor"
                            
                          
               
"Lana
 



— Gostaria de eternizar esse momento!— Desconverso ao relembrar cada momento especial que vivenciei ao lado desse homem extraordinario, os olhos dele brilham tão ardentemente que eu sinto a necessidade de leva-los comigo na memória para sempre.

 — E você pode, por que virão outros. — Assegura e inclino-me na mesa para beijar sua testa.

— E qual o cardápio da noite? — Questiono percebendo que não há nada além de taças, guardanapos e uma fina porcelana posta sob mesa.

— O garçom trará logo a entrada — Michael Gargalha do meu espírito de pobre faminta ou talvez da ansiedade exacerbada.

 — Eu te amo! — Repito em um fio de voz, dessa vez mergulhando nos olhos negros que retribuem meu gesto igualmente. Essa noite é como nossa despedida, Michael nunca me perdoará pelas mentiras e se sua porta trancar-se eu entendo.

***

A luz do dia anuncia que o sol está nascendo e o anoitecer já se foi, indicando que chegou o momento de confrontar Martin e pedir demissão. Michael ressona ao meu lado na cama em um sono profundo e invejável. Ontem fizemos amor da forma mais sublime que se possa imaginar, cada caricia, sussurro abafados pelos beijos apaixonados. Nossos corpos conectados, as almas entrelaçadas no ritual do amor. Eu me entreguei, ele também, queríamos selar a noite mágica nos amando e o fizemos, mas agora não posso prosseguir enganando-o. Cometi um erro imperdoável ao me transformar em uma garota de programa, haviam outras alternativas, eu tinha o inteiro apoio dele e optei por perder minha dignidade. Michael foi um anjo, guiou meus passos e eu me desviei do caminho por orgulho. Quis salvar minha filha a qualquer custo sem depender da ajuda de terceiros, e hoje sei que fui egoísta. Não pensei em Michael, na decepção que isso trará a Cindy. Apenas agi pelo impulso e revolta pela vida medíocre na qual emergia. Recusei-me a enxergar que aceitar um empréstimo de um homem que me ama era somente ser humilde. O que fiz, não tem justificativa, mas nesse momento só me resta agir corretamente. Devo isso a Michael, mesmo que Martin seja poderoso e um assassino chantagista, chegou a hora de responder pelos meus atos. - Durma com os anjos. Eu te amo! Deslizo os dedos pelo peitoral desnudo de Michael e ele remexe-se na na cama, porém volta a dormir tranquilamente dentre segundos. Uma lágrima silenciosa molha meu rosto e enroscada em um lençol me dirijo até o toalete. Se esse é meu destino não fugirei dele, Cindy estará segura com Michael e eles meu coração...

Michael

— Jerry, eu já tomei a decisão — Paro te teclar no notebook e observo o escritório milimetricamente, tudo por aqui parece mais belo. — Qual decisão? — Ri estreitando o cenho. — A única coisa que soube por minha mais nova amiga, Cindy é que seu namoro com Lana anda as mil maravilhas e morando debaixo do mesmo teto posso apostar que estão tendo tempo de se conhecerem a fundo — Dispara a falar e eu desisto de pedir-lhe discrição ou elegância.
— Comprei um anel de noivado e sem mais delongas, ou desculpas, farei o pedido.— Confidencio.

— Tão rápido? — Ironiza com aquele sorriso de canto vitorioso, ele realmente tinha suas apostas. — Não irei dizer que avisei que Lana lhe resgataria daquela vida movida a trabalho e amargura, apenas vou parabeniza-lo! Felicidades e por favor não faça nenhuma besteira...— Adverte em seguida soltando um riso.
— Acha que ela irá gostar? — Abro nervoso uma caixinha de veludo e exponho o anel para Jerry avaliar. Eu sei, estou excitado e inseguro porque Lana é a mulher da minha vida.

— Com certeza nenhuma mulher resiste a brilhantes, não as em seu perfeito juízo meu amigo... Mas me conte, passaram um noite "agradável" juntos? — A ousadia dele intimida um homem da minha idade que deveria conversar naturalmente sobre sexo. Sei ao que ele se refere, entretanto lhe dá prazer falar entrelinhas. — Jerry, isso é pessoal. Debater minha vida sexual com meu melhor amigo não seria sensato.
— Dou uma tossidela para despistar a vergonha.

— E quem falou em sexo aqui — Se faz de desentendido e vira o jogo. — Será hoje mesmo o pedido de casamento? E se for muito cedo e Lana não se sentir segura, você sabe que o ex dela... — Pondera, sua cautela é compreensível, realmente as coisas acontecerem vertiginosamente.

— Nos amamos, agora tudo é diferente. Existe confiança mútua, ninguém está mentindo ou atuando, somente estamos deixar fluir. A cada dia descubro algo nela que me encanta mais...

— Meu caro, marquem logo a data desse casamento ou não vou tolerar seus discursos de poeta apaixonado — Dramatiza pondo a mão do lado esquerdo do peito.

— Essa noite, agora seguiremos juntos pela eternidade.Eu, Lana, Cindy, seremos uma família! —Sorrio em êxtase com a nova vida que estou prestes a embarcar. Sim, sempre é possível amar novamente e por isso não devemos teme o amor. Lana me ensinou a efemeridade da vida, e se ao pó iremos por que esperar?

 ***
 — Mamãe? Fale comigo, consegue me ouvir? — O buquê de rosas vermelhas que eu seguro em mãos louco para encontrar meu anjo colidi com o chão no instante que os gritos chorosos de Cindy preenchem o corredor que leva até minha suíte. Exprimo os olhos e capturo no bolso da calça social o anel que escolhi minuciosamente na joalheria. Meus pés parecem estar presos ao chão e não conseguem exercer sua função de locomoção, meu olhar perdido vaga pela joia caríssima em função de seu significado. Sinto medo, medo de minha ilusão ter fim e Lana estar gravemente ferida. Medo de que aquele terrível episódio do suicídio se repita no dia no qual decidi pedir para que se tornasse minha mulher, pois ela é a escolhida do meu coração.

                        
Capítulo 21
                                                 
"A verdade é sempre a mais dolorosa das provações"
                            
                          
               
"Michael
 


— Mamãe!!! O que fizeram com você? — Os gritos cada vez mais estrondosos me dão o impulso necessário para invadir o quarto e eu o faço. Cindy segura o pescoço da mãe e afaga seus cabelos ensanguentados tentando reanima-la. Essa visão, Lana, minha doce menina, estirada em uma cama talvez já sem vida, com o rosto irreconhecível devido a hematomas e escoriações profundas que ganham destaque em cada membro do seu corpo. Essa maldita cena ficará queimando no fundo da minha mente enquanto eu viver. Onde foi que eu errei? Como não a protegi? Que monstro espancou-a tão brutalmente. Querem mata-la, arrancar o amor da minha vida. É nisso que devo acreditar?


— Me ajude Michael — Ligue para uma ambulância imediatamente, mamãe está morrendo — Em meio aos soluços trêmulos Cindy dirigi-se a mim e eu automaticamente pego o celular e chamo por uma ambulância implorando por urgência, alegando que há uma ferida grave que está perdendo muito sangue. Todas as perguntas e respostas não tem espaço mediante ao estado de Lana. Temos que salva-la depois, punir judicialmente o culpado por essa barbaridade. Sobreviva meu amor, eu preciso da sua luz. Rogo aos anjos silenciosamente, assistindo o pranto de Cindy que apenas faz de mim um impotente, um ser humano sem arbitrariedade de escolher quem vive ou morre. Não possuo o controle sobre a vida, ninguém o tem. Por que perdemos tanto tempo julgando as pessoas e sustentando medos? O tempo inevitavelmente destrói tudo.

***

As horas soam como longos e tortuosos séculos. Cindy precisou ser sedada em detrimento da crise de nervos que teve assim que chegamos ao hospital, não podia ficar ao lado da mãe e assistir a uma cirurgia cerebral, da mesma forma que não foi autorizada minha entrada. O médico não me deu grandes esperanças, explicou que o crânio de Lana foi traumatizado, praticamente esmagado devido as pancadas violentas e nesses casos podem haver sequelas irreversíveis. Um ortopedista veio me comunicar quais ossos ela fraturou e garantiu que a recuperação nesses casos é lenta e dolorosa. As chances de eu vê-la sorrindo tão docemente para mim são ínfimas e eu nem sei quem lhe fez isso. Nunca me senti tão solitário, apesar de saber que nossas dores são intransferíveis Lana é tudo que me sobrou.


— Michael eu sinto muito, nem sei o que dizer. — Escuto a frase e reconheço a dona da voz que se
compadece do meu tormento. — Mas vim lhe dar um abraço e apoia-lo como sempre fiz — Uma nova pessoa se põe presente na sala de espera do hospital e enfim tomo coragem e me viro, deparando-me com a expressão solidária de Lilly. Esquecendo o Michael marrento e orgulhoso que sou, me refugio em seu abraço, absorvendo o calor de sua amizade.


— Eu vou perdê-la, não posso suportar... — Sou impossibilitado de concluir a frase graças as lágrimas que me atingem em cheio. Lilly segura minhas mãos e permanece em silêncio. Palavras seriam como farpas nesse momento, já que elas trazem lembranças e uma esperança distante da realidade.


— Não pense nisso.— Limita-se a proferir. — Lana está sendo operada por excelentes doutores, e os milagres acontecem todos os dias. Vamos mandar boas vibrações para ela, fechar os olhos e mentalizar sua cura — Entrelaçamos as mãos entrando em prece pela vida de Lana, não posso salva-la com minhas próprias mãos, mas a força do pensamento.


— Com licença...— Abro os olhos ardidos pelo choro e a figura altiva do neuro cirurgião que se dispôs a operar Lana fita-me tão sobriamente como a maioria dos médicos, a profissão exige certas peculiaridades.

— Como ela está Dr.? — Uma angústia excruciante toma meu coração e ele bate tão desregulado que sinto que não suportarei uma notícia trágica.


— A cirurgia foi um sucesso.— Abraço Lilly novamente, querendo dar pulos de alegria com a notícia mesmo sem permitir que o médico conclua os detalhes da operação. — A paciente tinha danos cerebrais consideráveis mais resistiu, porém só saberemos se houveram sequelas quando ela despertar — Frisa não afetando minha esperança de que minha guerreira saíra dessa perfeitamente saudável e em breve seu sorriso irá alumbrar aquela mansão.


— Ela ficará bem Michael, não perca a fé — As mãos delicadas de Lilly percorrem meus ombros.

— Posso vê-la? — Indago de relapso ansiando muito ver meu anjo.


— Infelizmente, ainda não foi levada para o quarto e aconselho a não entrar em uma UTI Sr. Jackson. Quanto a Cindy, está mais tranquila e pediu para eu lhe dizer que sente precisam conversar urgentemente. O cirurgião ortopedista também falará com você, mas pelo que me relatou os transcorreu tudo conforme ele esperava, e ao contrário do previsto a recuperação será rápida — Lamurio silenciosamente ter que passar por toda essa espera árdua
.

— É possível que eu fale com Cindy nesse momento? — Esfrego os dedos e eu e Lilly nos entreolhamos, cuidar dessa menina é minha prioridade momentânea. Não permitirei que sofra sozinha e passe por essa situação sem uma mão para segurar.


— Sim, ela já foi liberada, acalmou-se assim que soube que a mãe está viva, e pediu para lhe avisar que encontre-a na cafeteria do hospital. Agora se me permitem vou visitar alguns pacientes — Checa o relógio de pulso e eu aquiesço forçadamente.


— Prefere ir sozinho falar com Cindy?— Lilly se pronuncia e já posso avistar o Dr. abandonar-nos após cumprir seu dever.


— Eu não sei o que está para acontecer, é possível que ela queira sua melhor amiga por perto...  — Acho que ela precisa de você — Enfatiza aos suspiros, ela sempre tem as palavras certas. — Depois quando Lana for transferida para um quarto, e toda essa tempestade passar terei todo o tempo para ouvi-la, Michael.


— Tem razão.... Lilly sabe que bem vinda, certo? — Ela assente cordialmente. — Obrigado por ter vindo até aqui hoje! — Beijo-lhe a testa e começo a caminhar apressadamente até meu destino. Não me demoro mais que alguns minutos e chego a cafeteria do hospital avistando uma menina sentada sozinha em uma mesa, atenta a cada passo das pessoas presentes no ambiente, como se buscasse inutilmente por alguém.


— Cindy? Hey, você está bem? — Seus olhos enchem-se de lágrimas e ela as enxuga enquanto arrasto uma cadeira e me sento a sua frente, não poderia ser diferente sua reação perante ao estado que presenciou a mãe.


— Deve estar se perguntando como tudo isso foi acontecer. Michael, quando um homem que se dizia amigo de mamãe chegou a mansão com ela nos braços praticamente desfalecida eu não queria acreditar no que via — As mãos trêmulas dela são difíceis de alcançar mas são onde as minhas devem estar nesse momento e eu as conecto tentando acalmar os nervos, transmitir boas energias a ela.


— A qual amigo se refere Cindy?— Questiono confuso. — Lana nunca citou que havia alguém de sua confiança — Censuro fitando-o diretamente.


— Martin, foi assim que apresentou-se, depois me fez uma revelação e..— .Novamente lágrimas escapam de seus olhos azuis e suas mãos pressionam as minhas com firmeza.

— Diga-me o que esse homem lhe disse, por favor, algo muito grave aconteceu e eu não faço ideia de quem provocou essa desgraça, me fale a verdade — Peço fingindo uma segurança que nessa situação aflitiva é escassa, e a agonia já faz a garganta secar.


— Michael me prometa que tentará entender o lado de minha mãe, que mesmo indignado e se sentindo traído não irá comparar os fatos com seu passado e confundir duas mulheres totalmente diferentes. Acima de tudo, Lana, o ama, essa é a única certeza que tenho, portanto, cuidado para não perdê-la pelos pré julgamentos, motivado pela raiva, não a subjugue — Implora ciente de cada uma das palavras que pronunciou. — Pode parecer a principio um erro sem perdão, uma traição sem precedentes, mas lembre-se que minha mãe se sentia na obrigação de pagar pelo meu tratamento, e o amor de mãe é ilimitado, agora eu a me ponho no lugar dela. Sacrificou-se por mim, talvez a verdade o machuque, mas ninguém nessa história sofreu como mamãe, suportando todas as humilhações, retornava para casa e tentava sorrir por nós — Meu semblante congelado e os punhos agora fechados denotam que gostaria de fugir, mentira? Traição? Eu não poderia aguentar uma desilusão amorosa partindo de Lana. Agora sou dependente emocionalmente dela e de sua voz doce ao me despertar pelas manhã. Ela jamais faria algo que me magoasse ou colocasse nosso amor em risco. Não Lana, ela me ama, sentia seu amor quando a tinha acolhida em meus braços, ali fazendo amor, o sorriso dela, os corpos unidos como se fossem feitos um para o outro e tivessem o encaixe perfeito. Lana não pode ter forjado ser alguém que não é, eu conheço sua alma.


                        
Capítulo 22
                                                 

                            
                     
               
"Michael
 


— Isso é impossível, não tem sentido! Apesar de todas as adversidades que infringiam Lana, ela nunca tomaria quaisquer atitudes propositais para me magoar  — Brado, ondulando minimamente o rosto. — Lana é humana e tem falhas, uma delas eu identifico como dignidade, o orgulho, ademais ela é a pessoa mais sincera que já cruzou meu caminho, e confio nela. Do que está falando Cindy? — Meneio freneticamente a cabeça negando-me a encarar a realidade que novamente meu coração pode ter sido feito as traças por ter me entregado.

— Mamãe arranjou um trabalho em uma boate aonde dançava, e servia mesas, essa era sua jornada noturna. Acontece que lhe pagavam mal, e o dono da boate e os frequentadores começaram a se encantar por ela, eles queriam mais dela, além de um espetáculo de dança, creio que aproveitaram-se de suas condições miseráveis. Empresários ofereciam fortunas por uma noite com a dançarina mais bela da casa e mamãe rejeitava as propostas, mas Victor Fontes o dono da "casa" deu seu ultimato, ou ela se transformava em um garota de programa ou perderia seu lugar ali...


— O que está me dizendo Cindy ? — Levanto-me abruptamente da cadeira. — Lana esquentava os lençóis desses homens e depois se entregava a mim? Ela optou por ceder as chantagens desse homem ao invés de permitir que eu cuidasse dela, de você! Responda Cindy! Ela teve a coragem de aceitar essa oferta asquerosa? — Ordeno furiosamente.


— Deixe-me terminar. Ela tentou sair dessa vida várias vezes, porém Victor a ameaçava. Mamãe tinha ido atrás dele determinada a abandonar a prostituição por isso ele agrediu-a e estamos nesse hospital. Martin me garantiu que ela sabia que esse homem podia mata-la, mas não aguentava mais trai-lo. O arrependimento estava a corroendo.


— Eu não quero mais ouvir uma palavra sequer — Sentencio intimamente desejando que tudo não passe de um pesadelo.— Pegue esse cheque e pague por todas as despesas hospitalares, e para seu bem estar mental, não se iluda — Arremesso um cheque em branco na mesa e sinto o ressentimento oxidar todo amor que dava sentido a minha vida. — Jamais perdoarei Lana, ela morreu para mim a partir do momento que mentiu descaradamente, assim como Sophie. Sua mãe infiltrou-se em cada pedacinho do meu coração, mas não posso perdoar essa traição.


— Não Michael! — Em uma fração de segundos ouço os gritos de Cindy e ela agarra-se aos meus braços. — Vai deixar a mulher da sua vida ir? — Indaga sustentando uma pífia esperança que ainda há conserto e o amor basta para apagar o passado.


— Ela fez sua escolha, foi Lana que estragou tudo. Se ela não tivesse sido orgulhosa e egoísta, certamente estaríamos juntos agora, rindo pelos quatro cantos da minha casa. Seríamos noivos apaixonados ansiosos para nossa lua de mel, nossa nova vida. Ontem eu havia tomado a decisão, faria o pedido de casamento — Despejo todos meus antigos planos sob ela, sabendo que palavras já não servem de nada, o encanto foi quebrado e perdeu-se no tempo. Aquilo não passou de uma ilusão ancorada por mentiras.


— Pois não mate esse sonho, recomecem, mas dessa vez sem mentiras. Revelem-se um ao outro.

— Eu fui leal todo o tempo, mostrei-me a Lana como nunca antes a outra mulher. Ao contrário dela, que foi incapaz de confiar em mim ou me explicar que cometeu um erro e queria mudar. Isso já acabou! É um o capítulo rasgado de um livro que nem deveria ter sido escrito — Praguejo como se o correto a fazer é estrangular esse amor.


— Espere — Desvencilho-me bruscamente dela e me ponho a correr até encontrar um elevador e me enfiar dentro dele. Droga! Recordo-me que minha amiga está aguardando por noticias na sala de espera. Terei que fazer uma ligação para Lilly, no entanto no momento só necessito de muitas doses de whisky e meu parceiro, Jerry. É para o apartamento dele que vou, minha casa, um mar de lembranças. O cheiro dela está impregnado em casa cômodo, seus risos podem não ecoar mais naquele lugar mais ficarão em meus pensamentos ardendo, inflamando o coração. Lana me envenenou e agora terei que arrancar esse veneno do sangue, da alma terminantemente.

***
— Pare com isso! — Jerry repete a mesma ladainha e eu dou de ombros. — Porra, acha mesmo que se entupindo de whisky irá resolver seus problemas? — Jerry repreende e eu desdenho seus conselhos. O que mais eu deveria fazer após descobrir que me apaixonei por uma vadia sem escrúpulos? Me resignar com esse destino, claro.


— Agora vai compactuar com as atitudes daquela vagabunda? — Incrédulo com meu insulto ainda persisto com a tortura em recordar cada traço de Lana e sua personalidade cheia de ternura. Porque eu deveria saber, ela é um pesadelo vestido de sonho, a tentação que me levou a ruína e não me importo em novamente ir ao fundo do poço — Murmuro já sentindo o álcool subir a cabeça, tudo nesse lugar se modifica, uma metamorfose de vultos, os objetos chegam ao meu globo ocular em forma de borrões e nem sei quem sou ou que diabos estou fazendo aqui, lastimando, odiando o dia que fui arrebatado pelo amor, enfeitiçado e aí estão as consequências.


— No torpor da embriaguez acredita mesmo que tem discernimento para compreender a diferença entre uma mulher descarada e golpista e uma moça humilde encurralada pelas dívidas? Não sabe o que está dizendo, meu amigo. Ela em seu desespero mais profundo precisando de dinheiro para criar a filha e arcar com o tratamento da menina, tornou-se prostituta, porém, apenas a última palavra você consegue assimilar. Então, decidiu injustamente que vai mesmo colocar Sophie, a bonequinha de luxo no mesmo patamar que Lana, uma mãe solteira batalhadora, que embora tenha o ocultado um segredo, e sim cometeu erros, amou-lhe verdadeiramente.


— As duas fizeram a mesma coisa, debocharam doa meus sentimentos e já as mandei para o inferno, elas morreram, estão mortas para mim! — Vocifero esforçando-me para proferir tais certezas. Minha linha de raciocínio dissipa-se a medida que bebo e afogo as mágoas, mergulhando do vazio sem esperança.


— Irá se arrepender se deixar Lana. — Assevera convicto — Seus desejos estão por um fio de se realizarem, e por quem ela arriscou a própria vida? — Desafia me fuzilando com o olhar, e de fato eu mereço, afinal, foi por minha culpa que Lana está definhando. Não ela o fez sozinha, entrou nesse caminho traiçoeiro sem volta mesmo sabendo que poderia contar com meu apoio, sou somente o apaixonado estúpido, e não irei me punir por isso.  — Me diga Michael, por que ela está em um leito de hospital morrendo? Pelo que me contou foi devido a afrontar um marginal para sair da vida de garota de programa e ser honesta contigo. — Eu não poderia resistir se esse fosse o fim de tudo, a morte de Lana, essa possibilidade me enlouquece, embora, não devesse, ela precisa sobreviver. — E você recusa-se em sua imponência de homem honrado, a perdoa-la, decerto porque é um um engomadinho que nunca enfrentou dificuldades financeiras na vida. A alma daquela mulher é pura, e isso nada mudará, e eu a defendo porque já vi a tristeza expressa nos olhos dos meus pais por não poderem me proporcionar conforto ou um simples presente de natal. Por mim sei que fariam qualquer sacrifício. Você não pode enxergar já que é um afortunado, nunca lhe faltou luxo. Seus férias eram em Aspen, dá para considerar o motivo de pressupor que Lana se meteu nessa vida por prazer e no intuito de feri-lo! — O discurso ríspido de Jerry faz mais sentido do que tudo que já foi dito antemão, mas a verdade escrachada corta o coração, porque basicamente eu não costumo agir como um prepotente de língua afiada, preocupado apenas consigo mesmo, um nato egoísta de terno e gravata. Entretanto, de repente soo como um mimado que fracassou no amor e desprovido de sensibilidade condena os outros por suas desgraças.


— Eu amo Lana e ela é tão terrivelmente meiga — Admito desistindo de enganar a mim mesmo. — Aquela mulher tem aquele sorriso amplo que derreteria qualquer coração de gelo.—   Por que ela fez isso com nosso amor? Eu achava que a desposaria e seríamos uma família, eu honestamente acreditei nisso — Enrosco minhas mãos ao redor da cabeça finalmente soltando o copo de whisky e descobrindo que só conseguirei machucar q mim mesmo a cada insulto que direcionar a Lana, simplesmente porque a amo.


— Michael, vamos, erga a cabeça, não seja covarde, ou tente fugir! — A voz firme não é suficiente para me me manter consciente, o excesso do álcool eu suponho, me impede de me locomover sozinho e tão fatalmente como o amor me parece queimar as entranhas, minhas pálpebras pesam, e a escuridão vem, levando-me a inconsciência por alguns instantes.Gostaria de sumir e voltar quando tudo estivesse bem, e já não existisse esse inferno da consciência, e da alma, seria um afortunado caso adormecesse eternamente, e meus olhos mantivessem-se fechados, e o breve desmaio perdurasse até apagar todas as memórias.

                        
Capítulo 23
                                                 

                            
                     
               
"Michael
 



Depois do episódio deplorável que se sucedeu, comigo protagonizando o infeliz traído, nada mais de uma ducha gelada é o que ganhei. Evidentemente, também, Jerry me dando sermões pela bebedeira irresponsável e alguns comprimidos para enxaqueca. Resolvi não voltar para casa essa noite, aqui, ficarei mais seguro no que em um mausoléu cercado de recordações de Lana.

(...)


A cabeça latejando, a dor no corpo lancinante, sintomas provenientes de minha inconsequência em buscar me refugio no álcool, tudo só me faz recordar, que preciso não só curar essa ressaca como também a moral. Não sei como cheguei a essa cama, mas sinto a maciez do colchão em minhas costas. Jerry provavelmente me trouxe até aqui, ele realmente fez isso, certamente amaldiçoando minha atitude, enchendo-me de broncas assim como sempre fez, ele é um exímio na arte de me repreender, porém dessa vez estava correto. Me remexo vagarosamente e exprimo os olhos almejando espantar a vertigem e as lembranças da noite anterior regada a desilusões. Mas um dia ela irá voltar, o coração vai doer e Lana se dará conta que fui eu quem só quis faze-la feliz, daria tudo por aquela mulher, ela saberá, não pode se esquecer. Ou se esqueceria? Por que diabos crio expectativas? É pura ilusão preciso reconstruir mimha vida ao lado de outra mulher. Lilly, o destino nos unirá, talvez ela apague as cicatrizes da alma, é a companheira ideal para a tarefa de cuidar do meu coração partido, feito aos pedaços por uma descarada.


— Finalmente o Don Juan equivocado despertou! — Jerry adentra o quarto e posso garantir que não sou capaz de ignorar sua sátira, embora apenas o timbre agudo de sua voz provoca efeitos avassaladores na minha enxaqueca.


— Por favor, não agora, silêncio é o que preciso para me restabelecer — Suplico para que não me venha com lições de moral, pois estou pagando por meus atos.


— Tome, esse comprimido resolverá as dores acarretadas pela ressaca pungente — Entrega-me um remédio e um copo com água e não hesito em engolir tudo e devolve-lo o copo vazio. — Ou acha que pretendo enterra-lo antes de ir atrás de Lana? Pedir desculpas pelo seu acesso de fúria e por ter deixado-a sozinha naquele hospital, caso ela não aceite, que se humilhe, rasteje aos pés dela, Michael — Pressupõe que sufocarei todo o ressentimento e e raiva, admito que amo Lana e estava certo de havia encontrado "ela" a mulher a qual me dedicaria a fazer feliz.


— Não! — Rujo prendendo o choro na garganta, um dia Lana vai saber, se lembrará de quando eu a resgatei da solidão, verá o quão se equivocou ao se esconder atrás de mentiras. — Ligarei para Lilly, ela tem os requisitos para ser minha esposa, me compreende, é generosa e necessito dela para arrancar a outra do meu coração, eu juro que o farei, Jerry — Proclamo e recebo uma risada sórdida dele, claramente inconformado com minha decisão repentina em enxergar Lilly da maneira que ela merece.


— Enlouqueceu? — Exclama se opondo a minha escolha. — Isso não pode ser verdade, está enganando a si mesmo — boicotando seus sentimentos, — Contesta.


— É minha ultima palavra — Respondo desdenhando seu olhar de incredulidade.


— O arrependimento vai bater Michael — Meneia a cabeça sóbrio em um gesto de indignação. e quando esse dia chegar talvez seja ela que não conseguirá perdoar seu egoísmo, esse orgulho que o cega não é definitivo, porque sabemos que ama Lana como nunca poderá amar Lilly ou nenhuma mulher que idealizará sendo perfeita para você.


— Eu sei é uma lástima, não? — Coloco a mão no queixo respirando ruidosamente. — Lana conseguiu destruir absolutamente tudo! — Ironizo, encarando Jerry e suspirando pesadamente, como se até a ação mais de suspirar doesse, ardesse dentro dos pulmões.


— Então, fale com Lilly, já tem um anel, não é verdade? — Argumenta franzindo o cenho, ele perdeu o juízo e meus olhos arregalados poderiam servir de motivação para que esquecesse que não é um cupido terminantemente. — Tenho certeza que ela não recusara seu pedido de casamento — Sorri sem mostrar os dentes, controlando-se para não insistir que eu estou errado e sou o vilão da história. — Fito-o altivo, e ele percebe meu desprezo, retirando-se do quarto, mas não sem antes dar mais um de seus espetáculos, batendo bruscamente a porta.


Lana

— Ele não me perdoou não é? — Suspiro resignada observando o quarto branco e inalando o cheiro característico de hospital, Cindy limita-se a esboçar um sorriso fraco em resposta e eu me concentro em piscar lentamente, observando o soro pingar, ilustrando meu estado de espírito, não estritamente a saúde debilitada, sinto que morro por dentro a cada instante sem saber o que aconteceu . A essa altura Michael já tomou consciência de cada um de meus pecados, o principal deles, a mentira, imperdoável, embora hajam outras vertentes por trás de todos meus erros. Apesar de cada músculo do meu corpo estar dolorido e os efeitos da anestesia não terem cedido completamente, sinto o peso da perca, que ele já se foi, do contrário estaria aqui segurando minha mão e afagando meus cabelos enquanto seu sorriso amplo invadia o ambiente, tornando-o cada espaço desse lugar belo.

— Apenas feche os olhos e relaxe, estarei aqui — Minha filha sussurra brandamente e eu acato sua suplica para que repouse, e me disperse dos maus pensamentos. Eu realmente preciso me desconectar do corpo físico e sonhar com campos de tulipas e céus esplendidamente azuis. E quando abrir novamente os olhos e me recuperar irei através de meus próprios pés atrás do homem que amo. Devo explicações a ele, é o mínimo, após ter destruído suas ilusões, e quem sabe a fé no amor definitivamente.

Meses depois...

— Eu não irei olhar novamente para aquela...—  Pondero as palavras, pois me custa a crer que Lana está debaixo do mesmo teto que eu e não perdeu tempo em vir se desculpar, atuando em seu papel de pobre moça inofensiva.  —  Aquela mentirosa disfarçada de menina ingênua — Clamo furioso concluindo meu discurso de ódio, quanta audácia de Lana vir até minha casa após meses, provavelmente ela permaneceu todo esse tempo no hospital e voltou no intuito doentio manipular o pobre soropositivo carente, ela deveria saber que não há mais nada a ser implorado. — Diga a "estimada" Srta. que viajei a negócios e passarei longos meses fora do país, ou a verdade, simples, que me nego a recebe-la — Reforço austero a minha governanta que não pretendo atender a Lana. Perdi a noção das ligações ignoradas, das vezes que Cindy e até Martin, seu "cão" fiel suplicaram para que eu ouvisse Lana e minha resposta prossegue sendo não. As portas do meu coração estão trancadas para aquela traidora, não importa se também estou afundando com essa saudade fincada no peito, nunca mais nos veremos, e persistirei indiferente.


— Sr. como quiser. Somente gostaria de informar que a Srta. assegurou que não sairá dessa residência sem falar com o Sr., mandou lhe advertir que não irá embora — Cumpre sua missão devidamente e eu cerro os dentes disposto a encarar Lana e definitivamente dizer o que mulheres de sua laia merecem escutar. Suas lágrimas não me desviaram do meu objetivo, é hora de dizer adeus, e eu direi além de ratificar todas as perguntas que me martirizam.


— Mande-a subir — Fecho o notebook energeticamente e retiro o óculos de leitura que uso raramente, estritamente para trabalhar. — Ela sabe onde é meu quarto não se preocupe em guia-la, Lana saberá me encontrar — Uma recaída me domina e lembro de quando ela tinha não apenas um lugar no meu closet, mas em meu coração. Gostaria que este espaço fosse preenchido novamente, por ela, seus beijos e sorrisos. Eu gostaria de mudar o imutável. De fazer amor até o anoitecer anunciar que o sol se escondeu e voar para longe do resto do universo através da conexão de nossos corpos.

                        
Capítulo 24
                                                 

                            
                     
               
"Michael
 



— Com licença — Inerte em meus próprios pensamentos mal escuto a voz da governanta, eu poderia ser engolido por um maremoto que permaneceria absorto em lembranças que entristecem e alegram contraditoriamente. Lana, como ela estará? Será que mudou-se para o apartamento de Martin? Nada disso me diz mais respeito, não desde que nos tornamos dois estranhos. Mas e esse frio no estômago? Essa ansiedade por revê-la? Por que apenas ao saber que ela está tão perto o rancor dissipasse-se.


— Michael, então eu posso? Podemos conversar? — A porta abre-se revelando a mesma silhueta conhecida, esbelta, e que um dia eu defini como sendo a personificação de anjo, mantenho-me alheio ao olhar lacrimejado dela e não me oponho a sua aproximação até minha cama. — Deus quanta saudade eu sufoquei! Quantas noites passei acordada vislumbrando o brilho das estrelas solitárias iluminando a escuridão do céu e orando aos anjos para que me permitissem esse reencontro. — Ela ajoelha-se próxima a minha cama e suas mãos tentam se encaixar as minhas, porém eu interfiro, embora sinta que elas se pertencem, esquivo-me e fito-a triste, os olhos azuis que me fascinaram naquele bar em uma noite na qual resolvi reviver a nostalgia da juventude já não reluzem, perderam o brilho.


— Quem é você ? — Indago e minhas sobrancelhas envergam-se involuntariamente. — Quem é você de verdade? — Acrescento não sentindo piedade de seu desespero.


— Sou uma pessoa que errou, arrependeu-se disso e se pudesse voltaria no tempo e faria tudo diferente — Tento disfarçar o impacto que vê-la significa e que com algumas palavras já não consigo odiá-la. - Uma mulher orgulhosa que perdeu a inocência ao trilhar o caminho de pedras da vida e fez escolhas erradas. Mas ainda assim, de uma coisa não me arrependo, nem mudaria. _Enfatiza segurando-se para não se entregar as emoções. - Ama-lo, pois foi a melhor coisa que me aconteceu, e em meu coração jamais o trai, esteve sempre comigo, dentro de mim, em todos os momentos que pensei em desistir ei me lembrava que por você eu deveria lutar e me revigorava. Todos os dois meses que fiquei em uma cama de hospital era seu sorriso que me dava forças, e eu decidi sobreviver para vir até aqui hoje e dizer, eu sinto muito. Perdão Michael, perdão pela decepção que provoquei e o vazio que deixei em sei coração. Me perdoe por mentir, mesmo sabendo das consequências. eu quis preserva-lo, que acreditasse que eu era seu anjo e não uma reles mortal que a noite encarnava uma sedutora garota de programa. Queria viver nosso amor mais um segundo e não ser a culpada por partir seu coração.


— Eu te perdoa Lana — Digo em um fio de voz, tendo uma atitude inesperada, oposta ao dilúvio de ofensas que ensaiei. — Se veio até aqui em busca do meu perdão para viver em paz e seguir em frente, já tem o que precisa — Decreto friamente, mas interiormente ela me cativou, suas palavras parecem tão reais, partem das profundezas de sua alma, me estremecem.


— Eu vim até aqui porque ainda acredito que possamos salvar nosso amor. E se me pedir para ficar, sei que toda aquela felicidade que sonhamos se tornará concreta. Por favor Michael, não me expulse de sua vida — Dessa vez não hesito em abraça-la, provavelmente essa é a última vez que sentirei o calor do seu corpo colado ao meu, o perfume floral delicado que transferia a minhas camisas e aonde tocasse.


— Lamento tanto, mas não há salvação Lana. Desejo que encontre a felicidade e que agarre essa ajuda que Martin lhe oferece. De só terá o perdão — Reforço me obrigando a afasta-la de meus braços.


— Martin está lá embaixo me aguardando no escritório... Ele só requer minha confirmação de que não tenho motivos para permanecer em Nova Iorque e caso — Pondera suspirando vagarosamente — Se não me aceitar novamente em sua vida partiremos daqui para o aeroporto, direto para uma agência de modelos, é a oportunidade que tenho e vou aproveita-la, Cindy mandou lembranças ela preferiu ficar no carro, odeia despedidas — Talvez eu devesse esquecer de todas as mentiras e a desilusão absoluta que Lana acarretou. Toma-la em meus braços e beija-la até nos faltar o fôlego, no entanto nosso caminhos se deslocaram e sinto que toda aquela carga de saber que ela foi de outros, esteve em braços que não foram os meus estará entre nós como uma sombra. O veredicto está dado e o que levo dela é aprendizado, a julguei, quando na verdade ela só errou, viu-se sem saída, e me amou a cada batida dentro de suas possibilidades. Estou a perdendo por uma nobre cauda, Lana irá prosperar, conhecer países incríveis e enfim viver dignamente. Vai subir cada degrau do sucesso tendo sua filha para aplaudida-la isso já é o suficiente. E quando ela ganhar o mundo serei seu admirador secreto.


— Boa sorte, e não se esqueça de dizer a Cindy que se quiser retornar a Nova Iorque pode ficar aqui comigo, eu cuidarei dela,essa casa está de portar abertas para sua filha  — Me disponho a não colocar em risco a amizade com aquela rabugenta que alojou-se em meu coração. Embora, por dentro esteja chorando lágrimas de sangue, gritando e morrendo de amor o passo foi dado. Os fantasmas do passado sempre saltariam em nos caso ficássemos juntos, não há nada a se fazer.


— Devo dizer adeus Michael? — Ergue-se do chão delicadamente e contemplo cada traço de seu rosto para guardar na memória, eterniza-la na minha mente.


— Não adeus, essa não precisa ser nossa despedida, quem sabe até um dia? —Lana compartilha de minha melancolia e fecha os olhos tentando não chorar copiosamente.

— Apenas me prometa uma coisa — Aquiesço engolindo a seco, esse categoricamente soa como o nosso fim. — Que ira se lembrar de mim mesmo em seus sonhos, ou encarando o mar encantada por sua imensidão e as infinitas possibilidades de vida, naquela manhã que fugi de você. — Prossegue com dificuldade em proferir tudo que precisa e deter a emoção. — Somente recorde-se das barreiras que atravessamos juntos. Espero que o sol brilhe amanhã novamente e consiga sorrir todos os dias. _Sua voz trêmula e todas as lágrimas não derramadas estão prestes a tornar essa despedida ainda mais dolorosa. Jamais imaginei que acabaríamos assim.
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Lana
 
— Estou tão nervosa Martin e se o tal Jonhhy não gostar de mim! — Aperto com firmeza as mãos do meu amigo, não paro me suar e me perguntar como será daqui para frente, tamanha aflição. Cindy persiste em seu ardiloso silencio desde que soube que entre eu e Michael nada voltaria a ser como antes. A viagem empolgou-a, mas nada considerável, ela o venerava e não posso esquecer que ele salvou-a daquela vida promíscua devolvendo minha menininha a mim. Mudanças são difíceis, que dirá para minha filha que tão jovem já sofreu em demasia..
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— Vai dar tudo certo, impossível alguém que enxergue corretamente não se encantar por Lana Clark.— Descontrai o clima de tensão, e sim consegue me arrancar uma sutil risada. — .Agora, durma um pouco, sei que não pregou o olho pensando em como seria seu reencontro com Michael — Aconselha e afaga meus cabelos fazendo-me relaxar na poltrona confortável do avião. Quando ele me contou que viajaríamos de avião senti medo,primeiras vezes são experiências necessárias, todavia colocamos expectativas e elas podem ser catastróficas. Minhas pálpebras pesam e eu permito que elas se fechem instantaneamente. E que tudo que seja destrutivo se vá, e as lembranças limitem-se a me relembrar de sorrisos e daquele dia ensolarado que senti os lábios de Michael colados aos meus enquanto tínhamos a imensidão do mar como testemunha. Ele foi, a maré levou nossos sonhos e deixou apenas um vazio, a ilusão daquilo que poderia ter sido e nunca se concretizará. Ele encontrará uma garota que não o fará chorar..

                         
Capítulo 25
                                                 

                            
                   
           
"Lana
 
Nervosa, inquieta, e como agravante todos aqueles olhares vagos e desdenhosos lançados a mim de meninas que são minhas rivais, já que disputamos uma vaga no grupo de modelos que abrirá o desfile explosivo de estreia da nova coleção do estilista que Martin me falou. Todas ela me fazem sentir a gata borralheira,em detrimento da postura altiva, os cabelos absurdamente longos e bem cuidados, maquiagens dignas das que vemos em capas de revistas, claro, eu deveria saber que seria páreo duro competir de igual para igual com quem dedicou a vida para conseguir essa chance. Diria que essas mulheres estavam prestes a pisar no tapete vermelho do Oscar e se perderam no caminho, maldição de qualquer forma estão prontas para receber a estatueta dourada. Ademais todas essas garotas já foram avaliadas, fotografaram e eu sou a última da fila, o que apenas serve para me desnortear mais. Eu nunca fui boa com poses, e nem imagino qual meu ângulo favorável, ou como me portar diante aos holofotes, mas acredito no meu potencial por algum motivo, uma voz interior grita dentro de mim que posso fazer isso.


— Lana, minha querida por favor me acompanhe.— Uma moça loira e de modos polidos reivindica minha atenção e mecanicamente eu a sigo, tentando não cometer gafes, tampouco transparecer meu nervosismo agradeço aos céus assim que atravessamos uma porta e adentramos um estúdio. Eu gostaria de descrever detalhada mente a decoração impecavelmente fabulosa do local, feita com esmero para encantar os admiradores de moda, mas inesperadamente dois braços fortes me acolhem e soltam-me na sequência.


— Lana Clark, a protegida do meu grande amigo Martin. Me diga, o que almeja? — Vamos começar conversando... — Aponta para uma poltrona vermelha e eu me sento estranhando a casualidade e simpatia que as coisas fluem.

— Sr. eu...

— Para você apenas Jonh, — Interfere e isso gera uma onda de serenidade da qual eu necessito urgentemente. — Aceitaria um drink? — Oferece uma bebida para pôr fim a formalidade a qual considero uma proposta tentadora.


— Sim, é claro. — Aceito sem pestanejar e ele sorri empático.


— Minha assistente Judy, trará em alguns segundos. Mas o que me intriga...— Fita-me diretamente e articula as palavras. — Como uma uma mulher com todas as características adequadas para a carreira de modelo, incluindo o porte físico, se escondeu durante tanto tempo.— Suspiro pesadamente e antes que formule alguma resposta convincente uma mulher sorridente me entrega o drink que logo trato de dar um gole somente para molhar a garganta e assimilar o comentário.


— Eu não sei — Meneio a cabeça. — Sinceramente, nunca me considerei atraente, as coisas aconteceram tão repentinamente na minha vida. Martin me propôs vir conhece-lo, e aqui estou, pronta para tentar. — Determino minhas intenções, especificando indiretamente que jamais frequentei aulas de etiqueta e me estudei para brilhar em uma passarela ao contrário das bonequinhas de luxo que encontrei lá fora.


— Vou transforma-la em uma das modelos mais cobiçadas pelas grifes de renome mundial.— Decreta tranquilamente, em contrapartida não me sinto confortável, calma e confiante, apesar de sua segurança absoluta. - Ganhará não só as passarelas de Londres, Alemanha, Estados Unidos, meus colegas de trabalho caíram aos seus pés e as outras modelos a invejarão.

— Tenho adversárias em vantagem, tem certeza que mereço seu empenho? E caso falhe? — Desafio.


— Bastou um olhar para saber que irá vencer qualquer uma delas em todos os aspectos Lana. — Promulga. — Enxergo em você o rosto que preciso para impactar e encantar. É você minha principal aposta! Jude,vá até lá fora e informe as garotas que entro em contato em breve. — Requisita novamente a Srta. que na minha opinião ostenta no máximo vinte anos de idade.


— Faremos algumas fotos, porém antes passará pelas mãos do meu maquiador de confiança. — Elucida cruzando as pernas descontraidamente. — Lana, o desfile será em uma semana e nos veremos por lá, quem sabe um dia desses descubro o motivo dessa tristeza no seu olhar? — Desconversa e eu encaro o chão intimida. — Martin não quis me revelar nada, ele apenas me contou que trouxeram sua filha, e eu respeito que seja reservada, sinto muito embora não saiba o que ocorreu... — Lamenta mudando de comportamento, passando de adorável, e profissional compenetrado a sensível e amistoso, talvez acabe de ganhar um amigo.


— Um dia, eu sei que me sentirei forte o suficiente para falar a respeito. — Argumento sincera quanto a essa possibilidade. - Quando for grande o bastante para ninguém me atingir... Quero renascer como uma nova mulher, esquecer a Lana ingênua, também orgulhosa que errou no passado e não conseguiu se perdoar... — Meus olhos inundam-se de lágrimas e os soluços já saem mesmo eu querendo conte-los. — Por isso estou aqui, lutando para seguir em frente com a cabeça erguida. Eu não escolhi a moda, ela me escolheu, é tudo que posso dizer-lhe. — Concluo obrigando-me a me controlar.

— Por favor pegue isto. — Jonh estende-me um lenço e eu enxugo o rosto. -Sabe que esse dia, no qual nada, nem ninguém ofuscará seu talento está perto de acontecer, talvez quando ele chegar eu possa ver o sorriso lindo que oculta de mim._Subitamente sinto que ele quer elevar minha auto estima e sim, nada como um flerte para essa função. — Obrigada Jonh. — Devolvo o lenço dele que provavelmente tem o valor de todo meu guarda roupa. — Espero começar a ocupar meu tempo o mais rápido possível, assim não terão lacunas que me façam pensar nele... — Deixo escapar a palavra "ele", e sei que minha pausa brusca apenas me denuncia sobremaneira.


— Eu imaginava que havia uma história de amor falida nisso tudo, o amor é o maior vilão, quase sempre, - às vezes cega e torna-se um inimigo perigoso. — O canto de seus lábios retorcem-se resultando em um sorriso resignado. — Outras vezes parece que estamos flutuando sob as nuvens e inesperadamente chega uma tempestade, destruindo todos os planos, e os sonhos perdem-se. A dor, toda desilusão, e frustração, posso compreende-la melhor que ninguém Lana. — Sua metáfora me faz lembrar toda a explosão de sensação me martirizam. O inverno rigoroso que me carregava, uma luz brilhando, o amor de Michael entrando em minha vida. Depois sua recusa a nos dar uma nova chance. Ele refará sua vida, sei que não há mais o que fazer, tudo contribui para nos separar, no final da estrada alguém precisou partir e fui eu, que o amo o suficiente para domar meus impulsos, driblar a saudade e me dedicar de corpo e alma a me converter em um modelo. Boa sorte meu amor, uma lágrima grossa trilha o caminho do meu rosto desejando nada além do melhor a Michael Jackson e Jonhhy se atreve a enxuga-la, denotando sua compaixão.


— Quer um tempo antes do maquiador começar a moldar a nova Lana? — Sem o menor esforço ou questionamentos indiscretos, ele rompe minha insegurança, e após o desabafo sinto-me pronta para dar prosseguimento ao projeto, e renovar as energias. Serei uma nova mulher, a mudança começará dentro de mim.

— Chame-o, estou bem! — Aquiesço, forçando um sorriso e Jonh requisita a sua assiste dando-lhe as instruções para se comunicar com o maquiador e cabeleireira responsáveis por radicalizar meu visual, pela animação dele devem ser indiscutivelmente experts.

Logo após meia dúzia de homens e mulheres me rodearem e trabalharem arduamente em destacar meus traços com maquiagem, cortar, tingir meus cabelos de loiros, fazer e refazer minhas unhas incontáveis vezes, horas de pura impaciência posso finalmente mirar meu reflexo no espelho. Pareço outra mulher, tão oposta a Lana que considerava uma produção "cinematográfica" dispensável e fútil. Apesar da demora excessiva, admito gosto de como o batom rosado e os olhos esfumados de preto desenham meus olhos, o cabelo novo, um pouco mais curto, mantém o volume de cachos que amo, mas está naturalmente repicado, com ondas mais largas conferindo sofisticação ao visual. De fato, todos mudam, e comigo não seria diferente, a aparência renovada, veio agregada a uma mudança interior e a sede de me tornar uma modelo deslumbrante, que arrasta olhares a cada passada longa e elegante na passarela. O desejo de oferecer oportunidades a Cindy cresce exponencialmente diante a esse espelho e o burburinho da equipe de John, encantados com sua "obra prima". Eu. Meu propósito ainda recém-nascido é realizar o sonho de infância de estudar música da filha da qual agora tanto me orgulho, vê-la convivendo normalmente com colegas de faculdade mesmo tendo aids, nada impedirá sua felicidade, minha pequena grande mulher já demonstrou que vencerá qualquer luta, seja a batalha que for e eu confio em sua força imbatível contra o preconceito e claro seu maior inimigo ela mesma. Não recitam ruidosamente os poetas que temos que morrer de amor pelo uma vez na vida? Pois a mulher que um dia foi rosa se converterá em pedra. Renascerá em sua própria era, na qual consiste meu objetivo em acreditar que posso escalar montanhas. Que venham os fingidores, tragam os que duvidaram e eles verão com seus olhos a espreita, Lana Clark, nada além de uma modelo deslumbrando a todos, talvez absortos em sua inveja tentem negar, praguejem, mas eu chegarei lá.


Michael
 


— Michael eu não estou entendendo a razão pela qual me convidou para jantar, tampouco seu semblante sério. — Lilly fita-me demoradamente à procura de uma explicação plausível para meu comportamento. Sei que nunca agi tão intimamente com ela, quero dizer enlacei sua cintura, segurei suas mãos e essas atitudes integram meus planos de vê-la não restritamente como minha melhor amiga. Preciso de uma pessoa que me ajude a apagar a brasa do amor que ainda queima dentro do meu peito constantemente a cada vez que me recordo da voz de Lana.— Aceita namorar comigo? Tudo isso pode parecer uma tremenda loucura mas é o que desejo — Disparo sentindo um nó se apoderar da minha garganta ardilosamente.

                      
Capítulo 26
                                                 

                            
                   
           
"Michael
 

— Claro que eu aceito meu amor — Os olhos dela transbordam lágrimas de felicidade e eu gentilmente enxugo seu rosto e ergo-o. — Essa é a realização de um sonho, amei-o sozinha durante tanto tempo e agora...


— Agora concretizaremos seus sonhos, seremos parceiros de vida nos bons e maus momentos. Espero ser digno de retribuir seus sentimentos . Prometo ser um namorado leal e bom o suficiente para faze-la sorrir todos os dias — Seguro suas mãos trêmulas certamente pela adrenalina, o torpor das últimas emoções e me inclino dando-lhe um beijo cálido na bochecha. Chegarei a ama-la. Superei a traição de Sophie, minha única condição é me resignar com meu destino ao qual Lana não pertence. Ela voou, aliás nada dura para sempre, não poderia ser diferente com nós.


— Hey, querida, gostaria de dar uma volta lá fora. A noite está perfeita para um novo casal andar de mãos dadas — Proponho, aproveitando do momento oportuno para usar um dos meus cortejos oficiais, a piscadela e Lilly, bem ela assente sorridente. Serei feliz ao lado dela, confio nas mudanças elas não ocorrem pelo acaso, tudo existe uma razão de ser. Talvez coisas boas se separem para que outras melhores ainda se unam. Coisas ruins aconteceram por um motivo, no entanto sinto que o melhor está por vir.

***
— Eu não consigo fechar os olhos mediante ao erro que está cometendo. Tem consciência de que pode ferir Lilly e si mesmo ao buscar refúgio para a decepção amorosa que sofreu recentemente? —Jerry larga drasticamente o relatório que tinha em mãos e brada sua opinião como se pudesse me fazer mudar minhas convicções.


— Estou certo disso, não perca seu tempo se esgotando, jamais machucarei Lilly — Rebato austero virando o rosto na direção oposta a mesa na qual ele trabalha ou deveria faze-lo ao invés de me sobrecarregar com conselhos inúteis.


— Permitiu que Lana se fosse por que? Diga-me! — Exige. — Ela o ama e você também, então pode me explicar que tipo de ser humano otimista, que deseje ser feliz deixa a felicidade escapar assim, deliberadamente? — Seu cenho se franze grosseiramente.


— Sou um homem cheio de péssimos hábitos um deles durante meses foi ter pena de mim mesmo, Jerry. Sei que não sou perfeito, o quão posso ser frio, orgulhoso e às vezes egoísta, mas Lana precisava de algo que desse sentido a sua vida, uma nova vida, e havíamos... — Respiro fundo, engulo a seco e reflito sobre tudo que perdi. — A verdade é: eu a perdoei, entretanto naquele momento não pude aceita-la de volta, — porque suas mentiras quebraram a confiança,— e chegamos no ponto de não reconhecermos que ambos necessitavam de espaço. Eu não pude apagar o passado quando a reencontrei, não sou um homem, esperançoso, otimistas, somente entreguei meu coração para ela, e pensei que bastava, lamentavelmente enganei-me. — Praguejo meneando a cabeça em sinal de negação, cometi um equívoco não dei o bastante a Lana, e prossigo à procura de respostas. Ela recuou quando ofereci ajuda financeira, optou por seguir uma vida promíscua, vender-se a aceitar meu dinheiro, é difícil compreender porque as pessoas tomam decisões extremistas quando tem outras oportunidades, as alternativas dela eram entre eu, o homem que a ama incondicionalmente e a prostituição, no final o orgulho triunfou, venceu o amor. — Promulgo.

— Infelizmente, não possuímos oportunidades ilimitadas de termos aquilo que queremos — Suspira pesadamente fitando-me sério. — Não importa que Lana tenha sido garota de programa, para você permanece sendo a mesma garota desamparada de sorriso encantador que conheceu casualmente em um bar. Sabe Michael, talvez seu caráter não tenha se modificado, prova disso foi que ela arrependeu-se e por sua causa desistiu de se prostituir, lembra-se que graças a confrontar o chefe da boate pôs sua vida em risco? Ela o fez por você, em nome do amor, resolveu ser honesta e creio que poderia ter morrido, e não se importou, apenas em tentar ser sincera contigo meu amigo, não pensou em si, nem na filha, quer prova de amor maior que essa? — Inopinadamente meu coração se comprimi e os olhos queimam, as lembranças da pureza dela em meus braços após nossas tórridas noites de amor me afetam demasiadamente.

— Acabou, ela se foi — Limito-me a exclamar, porém admito não estar aliviado por esse fim, a separação, nosso término brusco depois de tantas juras de amor, eu faria qualquer loucura por Lana Clark, nesse instante gostaria que estivéssemos juntos beijando-nos sob milhares de estrelas, juntos. Doces ilusões, sinto-me incompleto,parte de mim partiu com a mulher que transformou minha vida, me salvou da escuridão da alma na qual emergia, definhando desde meu diagnóstico.

Lana 

Londres

 

A primeira vez nunca se esquece essa frase tão repetida, vangloriada e que sim, influencia gerações, e aguça os medos, nos motiva a arriscar e provar o gosto da primeira vez, pois no fundo a idealizamos como perfeita mesmo que tudo tenda a fluir estranhamente embaraçoso em primeiras experiências.


— Acha que me sairei bem, as outras veteranas parecem tão seguras e... — Argumento sabendo que esse comentário pessimista só serve para atiçar minhas inseguranças. henry simplesmente se aproxima de mim ajeita delicadamente a alça do vestido suntuoso que mostrarei nas passarelas e me abaixa os olhos lentamente, talvez ponderando o que responder.


— Não acho, tenho a absoluta certeza, a prática leva a perfeição e sei que nasceu para brilhar, em breve vai superar suas colegas._Afirma brando, sempre amável comigo. Henry tem agido admiravelmente, além de acreditar em mim sobretudo ele é paciente e agradável. Me vendo assim recoberta por maquiagem bem elaborada e trajes opulentos de estilistas a um fio de desfilar não consigo me recordar da antiga Lana, que andava por aí com seus costumeiros jeans, no máximo se atrevia a usar um batom e rímel, todavia por trás de toda essa produção ainda sou a mesma. Nada mudou, salvo raras exceções como minha fé cega no amor, o orgulho e minha auto estima deteriorada a qual recuperei desde mergulhei no ramo da moda. — Esse é o primeiro de muitos desfiles que estão por vir, considere-o um desafio, seu testem. Lana assim como as estações do ano se vão, elas deixam boas lembranças e trazem novos sonhos, reacendendo nossa esperança de dias melhores. — Discursa tão genuinamente que meu medo desvanece-se subitamente. Essas são as palavras mágicas que pensarei enquanto caminho elegantemente por uma passarela. Esse pensamento ecoará a cada vez que sentir algum temor. E agora eu descobri que há uma magia na famosa primeira vez, fazer-nos nos superar, ela faz causa o amadurecimento imprescindível aos que desejam combater seu pior inimigo nós mesmos.


— Agora estou pronta, de verdade! — Sorrio abertamente transmitindo meu novo estado de espírito, alegria, sinto-me destemida, e o caminho que irei trilhar tenho que seguir sozinha e mantendo o coração na linha. Todas as coisas boas vem no tempo certo. No tempo certo. Nada é fruto do acaso, sorte ou azar.

                          
Capítulo 27
                                                 

                            
                   
           
"Lana
 

— Esperem, abram alas para a filha da nova "estrela" passar. Em breve morrerão de inveja porque ela será uma das mais poderosas modelos queridas! — Cindy exclama se infiltrando entre as outras top models e assim que me alcança não perde tempo em me agraciar com um abraço apertado. Seus olhos azuis como o céu num dia de verão estão brilhando mais do que nunca. Ela está sendo minha grande motivação, é minha vida, o motivo pelo qual meu coração já não mais inteiro pulsa.


— Eu te amo! Você é tudo que tenho, minha menina, e espero que esteja sentada na plateia. — Sorrio contendo a vontade de chorar, não posso me emocionar ou borrarei toda a maquiagem e isso seria um desastre para consertar. — Preciso ir — Beijo a testa da minha filha e encaro nervosamente as outras modelos também nitidamente ansiosas enquanto esperamos a nossa vez de brilhar.


— Eu estarei lá mamãe, e na primeira fileira acompanhada de Henry — Grita correndo para não perder o desfile. Não posso prender o riso, essa é a autêntica Cindy, ela consegue ser o centro das atenções sem nenhum esforço, adoravelmente espontânea, e sinto que matricula-la em uma universidade para estudar música é a melhor coisa que já fiz por ela, por nós. Veja como o mundo é estranho, antes eu mal podia oferecer remédios e comida a Cindy e agora a vida me concede a oportunidade de lhe pagar seus estudos e dessa maneira realize os sonhos que haviam morrido para ela. Não vou desperdiçar a chance da minha vida, pois o futuro é incerto. Desconhecido.


3 anos depois...
 


— Mamãe. Preciso dizer que estou orgulhosa? Tão bela, pronta para entrar naquela passarela e arrebatar corações? — Suspiro profundamente não me contagiando com o êxtase da minha filha, ela está visivelmente mais empolgada do que eu. O mesmo sorriso forçado no rosto, as suntuosas peças de roupa, desta vez o estilista apostou nas cores e ousou, meu vestido vermelho sangue é uma mistura esplêndida de renda inglesa preta e seda, o decote profundo mostra parte de meus seios e termina próximo as costelas. Ao menos hoje não peguei um daqueles trajes repletos de plumas, penugens, pedrarias, acredite são pesado e desconfortáveis para caminhar, você sente como se pesasse uma tonelada.


— Estou pronta! — Ajeito os cabelos e olho ao meu redor, as outras modelos finalizando a maquiagem com a ajuda de assistentes para vesti-las, claro uma imensa movimentação antecede cada desfile. Por trás dos bastidores são horas de preparação, afinal nada pode denunciar que não somos um modelo de beleza, não quando carregamos o peso de grandes grifes e as criações sublimes dos grandes percursores do espetáculo, os estilistas.


— Lana, sempre veste as roupas mais bonitas! — Exclama Georgina balançando seus charmosos cabelos loiros os quais caiem como cascata sob sua cintura afiliada. Uma colega, a qual aprendi a conviver e até mesmo admiro. — Está linda, prometo não te desconcentrar. — Ri crendo que eu esteja afoita, sensação desconhecida para mim desde que descobri que podemos ser o queremos, sem temores ou aflição, então tudo que faço é uma breve prece em agradecimento anteriormente aos desfiles. Ela batalhou durante anos, passou por mais de trinta testes, teve que lidar com a rejeição, no entanto persistiu sonhando e graças a sua residência está entre as poucas garotas do mundo que chegam ao nível de escolher para quem desfilar.


— Lana dessa vez você é a escolhida para iniciar o desfile! Mantenha o sorriso, a postura corporal alinhada e claro, sua leveza natural! — John agora meu velho amigo, massageia meus ombros e dá sua piscadela costumeira. — Eu não poderia deixar de comparecer, peguei o primeiro vou para Paris — Cruzo os braços contendo o riso, estou a instantes de entrar na passarela, mas as palavras motivacionais dele me fazem ratificar minhas expectativas, apesar de notar um brilho atípico em seu olhar. Será que preparou alguma surpresa? John me confidenciou a meses atrás que após a semana de moda na França eu mudaria de vida, e voltaria a recuperar a parte da doçura que perdi ao perder Michael Jackson. Esse nome! Céus. Não. Por que ainda me lembro de tudo tão bem, quando eu ria despretensiosamente no banco de passageiro e ele ao volante retribuía com um sorriso torto.


— Lana. Vamos é sua vez, seu momento! — Esporadicamente a voz feminina de Georgina me arranca do abismo de devaneios e sinto que chegou a hora de por o mesmo sorriso aberto nos lábios. Ao trabalho, e novamente abandono a garota ansiosa pelo futuro e foco no presente.


— Boa sorte — Ouço um saudoso coro me felicitar e entre as vozes das conhecidas parceiras de trabalho a de Cindy destacar-se. Ela vibra a cada vez, consegue escapar das aulas da universidade para vir me bajular, ou formalmente dizendo, minha filha vem me prestigiar somente para lembrar que me ama e agora somos unidas, inseparáveis como deveria ter sido no passado.


— Hey, meninas essa noite está vibrante, teremos o apoio de uma bela plateia, portanto, boa sorte para todas! — Clamo recebendo calorosos aplausos que vão soando fracos a medida que meus passos se aproximo da passarela e os flashes, música me adornam, e os passos mais elegantes, o sorriso mais largo, o olhar mais otimista. Essa é minha nova vida! E um ótimo dia para modelar.


 ***



Curiosamente eu ainda me sinto sendo uma forasteira a cada vez que embarco com Henry e John em um jatinho particular. Apesar de nossa relação ter saltado do nível profissional para uma sólida amizade não consigo de adaptar a certas regalias que ele faz questão de me proporcionar. John não é somente o dono de uma agência de modelos, tampouco um olheiro que me descobriu casualmente, tornou-se uma pessoa essencial na minha vida. Conhece minha falida história de amor com Michael, sabe sobre meu ex marido e sua morte "prematura", as adversidades que enfrentei em virtude da falta de recursos financeiros dos quais necessitava para oferecer um tratamento digno a Cindy. Creio que até que compartilhamos muitos sorrisos e lágrimas, posso dizer que Henry foi minha força quando estava fraca e tudo que sou hoje devo a sua nobreza, obstinação em converter-me a uma modelo bem sucedida.


— Tão pensativa, seus pensamentos provavelmente devem estar voando longe — John reclina-se na confortável poltrona sorrindo largamente, enquanto Henry ressona profundamente em uma poltrona ao lado, ele sempre adormece — Nova York, Lana. — Meu coração acelera subitamente e a expressão de espanto que sustento no rosto é proeminente já que meus lábios estão abertos, a testa franzida. — Essa é a surpresa. — Elucida — Passaremos uma temporada de ferias por lá, eu sabia que se lhe propusesse diretamente recusaria então decidi surpreende-la.

Continua...






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160 comentários:

  1. Cheiro de emoções fortes vindo ai..
    Contando os dias.. ^^

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  2. Louca pra lê. Que chegue dia 28 *..*

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  3. Amores demorei um pouco, mas aqui estou... Trago para vocês uma fic que aborda alguns temas bastante delicados, embora na sinopse tudo pareça clichê, o enredo é repleto de temas socialmente relevantes, os quais resolvi não incluir na sinopse. Michael não é apenas um empresário infeliz no amor, sem perspectivas, ele perdeu também a saúde, e de uma forma excruciante. Lana não é a mocinha omissa, ingênua, ela é guerreira, sonhadora, mesmo que sua filha adolescente sugue boa parte das esperanças dela, na verdade toda essa rebeldia é porque a menina não se conforma com o suicídio do pai.

    Como não quero dar muito spoiler, deixo para mais adiante outros detalhes reveladores rs. Espero que estejam comigo durante essa fanfic, meus leitores me causam tantas alegrias. Então por favor, embarquem comigo nesse romance "diferente".

    Desde já sou grata, não só pelo apoio que vocês me deram em todas minhas fics, mas por poder compartilhar minhas histórias com meninas tão gentis, sonhar junto com vocês.

    Nos vemos em breve suas lindas...

    LOVE,

    Larissa Rabelo

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  4. Concordo com o que a Lais disse. Pelo visto vem fostes emoçoes mesmo hein!! E eu ja estou aqui a sua espera.

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  5. Se só em uma sinopse você já está arrasando, imagino como será quando começar a postar. Enredo sensacional e realmente como as meninas disseram, virão fortes emoções por aí, e eu estarei aqui para acompanhar, claro! kkk
    Parabéns e que venha mais um sucesso!
    Beijinhos <3

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  6. OMG ansiosíssima para ler ... Lari arrasando como sempre ❤

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  7. Me identifiquei só com a Sinopse dessa fic, Agora imagino como será quando ela começar.. Estou super ansiosa pra ler o primeiro capítulo!

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  8. Mais o que !?, tô ansiosa, as hrs podem ir voando para os dias passarem rapidinho kkkkkkkkkkkkkkkkk, lá vem mais um Michael seduzindo 😍👑💙

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  9. Olá meus amores. Conforme o prometido aqui estou, trazendo o primeiro capítulo de "Escrito nas estrelas". Como amo vocês, trouxe um capítulo extenso, e isso ajudará melhor na compreensão do passado trágico de Michael.

    Já vou logo avisando que aqui ele não será um romântico incorrigível, tampouco denotará facilmente paixão pela vida. Em breve trarei mais para vocês. E provavelmente as postagens serão nas segundas e quintas.

    Obrigada pelos comentários gentis. <3

    Beijos

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  10. Uau.. O que dizer desse primeiro capítulo?
    Forte, intenso e emocionante. Exatamente como imaginei.
    Nossa, que barra é a vida do Michael.. :(
    Mas não é se fechando pra vida que ele vai demonstrar força.
    Espero que ele consiga mudar seus conceitos e aahh.. Estou ansiosa por mais!!
    Parabéns, Larissa! Eu sabia que ia arrasar!! Você merece!
    Beijos <3

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    1. Aí eu entro no blog e me deparo com esse comentário maravilhoso <3. Amore, sinto-me honrada em estar agradando, você sabe que faço com amor e minha intenção é tocar os leitores. Sinta-se a vontade para opinar. E muito obrigada pelo imenso carinho, sua linda.

      Beijos

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  11. Parabéns,Larissa este capítulo deixa claro todo o sofrimento de Michael.

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  12. Parabéns, Larissa! Começou arrasando!!
    Até senti a dor do Michael, nossa!

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  13. Capítulo 2 postado meninas. Em breve veremos como Lana é forte, ela também mostrará seu lado sonhador...

    Obrigada, pelos lindos comentários Ana e Maria, isso me faz sorrir.

    Até o próximo

    Beijinhos no <3

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  14. Adorei a Lana de cara! Me parece uma mulher digna, forte e até engraçada.
    E o mais bacana foi que logo ela, uma estranha, conseguiu arrancar um sorriso do Michael!
    Ela realmente precisa de ajuda, assim como Michael. Tenho certeza que se completarão de alguma forma.
    Mas hein, o que será que houve com a filha "rebelde"? Coitada da Lana, imagino o sofrimento de cuidar sozinha de uma adolescente.
    Continua, amore!!
    Perfeito como sempre.
    Beijos!!

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    1. Eles com certeza se completam rs. Lana é uma mulher muito forte amore.

      Fico tão feliz com seus comentários. Muito obrigada! <3

      Beijos

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  15. Muito bom! Como estou ansiosa! Vejo na Lana um "luz no fim do túnel" para Michael.
    Continue por favor.

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  16. Segundo capítulo melhor ainda! Lana vai ajudar o Michael á voltar a viver de novo.

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  17. Olá amores! Cheguei com mais... Enfim, conhecerão a filha rebelde de Lana... E sim a vida dela é árdua.

    Maria e Ana muito obrigada pelo incentivo, de verdade, amei os comentários. <3

    Abraços meninas

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  18. Cara, que garota rebelde. É eu acho a minha filha rebelde, mas não chega nem aos pés dessa garota. Coitada da Lans!
    Mas, vamos ver no que vai dar isso.
    Continua.

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  19. Cara, que garota rebelde. É eu acho a minha filha rebelde, mas não chega nem aos pés dessa garota. Coitada da Lans!
    Mas, vamos ver no que vai dar isso.
    Continua.

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  20. Nossa esta menina ficou fora de controle,ainda bem que a Lana tem o Michael para ajudar.Continua!

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  21. Chocada com o tratamento de Cindy para com a Lana.
    Um absurdo a própria filha odiá-la desse jeito. E agora com esse diagnóstico, o clima tende a piorar..
    A maior sorte dela é ter Michael ao seu lado. Com a experiência dele, Mike vai conseguir ajudá-la.
    Continua, amore. Não preciso nem dizer que está perfeito né?
    Parabéns, Larissa!!
    Beijos!

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  22. Atualizada meninas. Como certamente perceberam Michael e Lana estão tecendo uma bela amizade. Em breve eles estarão mais íntimos e tentarão ajudar Cindy.

    Maria, Ana e Marícia saibam que seus comentários me deixam muito feliz. Amo vocês!

    Beijinhos de luz

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  23. Michael não me engana.. Pode até vê-la como uma amiga, mas tá na cara que se encantou por Lana e não adianta brigar com o amigo por falar a verdade kkkkkk
    Mas sério, Michael tem mudado muito! Estou gostando de ver.
    Será que aconteceu mais alguma coisa com a Cindy?
    Aaah por que parou agora, hein?? Kkkk
    Continua agora!! Estou in love com essa fic <3

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  24. Michael também não me engana. Esta sentindo alguma coisa por Lana. O amor é assim vem devagarinho...
    Continua. Estou amando essa fic!!!!

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  25. Michael esta encantado por Lana.Continua.

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  26. Ridículo. Quando começa a ficar bom acaba. Se não tem todo o conteúdo melhor não postar.

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  27. Ridículo. Quando começa a ficar bom acaba. Se não tem todo o conteúdo melhor não postar.

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  28. Capítulo 5 postado, amores. Gostaria de esclarecer algumas coisas. Embora não esteja falhando com as postagens que prometi, (dois dias na semana), acreditem estou fazendo o impossível para postar dois capítulos por semana em nome do respeito que nutro por cada uma que me acompanha desde minha primeira FanFic. Infelizmente, ando realmente atarefada, mas pretendo continuar com o mesmo ritmo das postagens. Se eu tivesse mais tempo livre traria capítulos novos todos os dias, porém isso dá trabalho, tenho que revisar a escrita pois gosto de oferecer o melhor aos meus leitores. Espero que estejam gostando da fic, e continuem comigo.

    Michael e Lana estão criando uma ligação forte e finalmente tendo uma trégua dos problemas. Em breve Cindy mudará seu jeito de pensar...

    Maria, Ana, Madu eu fico tão honrada em saber que estou agradando a vocês meninas, muito, muito obrigada mesmo pelo carinho. <3

    Quinta eu volto com mais Michael e Lana rs.

    Beijos

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  29. É Michael é só "amizade" que vc está sentindo. Estou percebendo isso. Rsrs
    Continua.

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  30. Michael é um verdadeiro anjo na vida de Lana.
    Fico feliz de ver essa relação se firmar, principalmente com Cindy. Apesar da rebeldia irritante acredito que ela possa mudar! \o/
    Bom em relação à Mike e Lana, tá na cara que pra ele já não é só amizade kkk
    Ansiosa pra ver esse desenrolar!! Está tudo perfeito como sempre, não preciso nem falar ne? kk
    Continue do jeito que está, amore. Amando de qualquer forma.
    Beeeijos!!

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    1. Michael está confuso ainda, a certeza que ele tem é a de que quer ajudar Lana e ser um amigo leal rsrs.

      Awww amore, eu fico literalmente radiante ao ler um comentário lindo assim.<3

      Beijos

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  31. Michael esta cuidado da Lana é da sua filha.Estou percebendo que a vida dele ganhou sentido com isso.

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  32. Hello babies, cheguei com mais para vocês. Cindy está finalmente colocando sua dor para fora, ela quer mudar de vida e isso é o principal...

    Lana está sim escondendo um segredo de Michael, e mais adiante verão que isso causará uma reviravolta na fic. Mudará o destino da amizade dos dois...

    Obrigada por estarem aqui Maria e Ana (:


    Beijão

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  33. De nada, Larissa.
    Que bom que Michel está saindo dessa vida depressiva, que ele estava vivendo!
    Ah, meu Deus o que será que Lana está escondendo?
    Continua, por favor.

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  34. É visível a mudança que está acontecendo na vida do Michael *---* Lana está fazendo muito bem à ele, mas ela deveria se abrir, confiar mais nele.
    E quanto a Cindy, tenho certeza que vai melhorar muito esse estilo de vida com o apoio do Michael.
    Continua!! Está tudo lindo, perfeito e maravilhoso <3
    Parabéns!!!

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  35. Estou curiosa para saber o que ela esconde.

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  36. Capítulo 7 postado, amores. Como puderam perceber Cindy precisa de ajuda e está permitindo que Michael lhe ajuda a reerguer-se, o que já é um enorme passo para o fechamento do ciclo rebelde dela rsrs.

    Michael tem um novo desafio pela frente, e já devem imaginar que o reencontro com Sophie não será nada amigável, um confronto desagradável se dará. Isso mesmo. Melhor eu parar por aqui, porque não quero dar spoiler girls.

    Maria, Marícia e Ana vocês são incríveis <3. Obrigada pelos comentários! E quinta tem muito mais...

    Beijokas

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  37. Sem palavras para esse capítulo!!
    Foi muito, muito emocionante. Meus olhos estão suando kkkkk
    Enfim, foi lindo ver essa regeneração da Cindy e em como Michael está disposto a ajudá-la.
    Adorei os indícios de ciúme da Lana... jkkkkkk é bom ela ficar e olho mesmo!
    Ah meu Deus, Sophie retornou das cinzas e só quero ver como será esse reencontro.
    Mais uma vez, parabéns!! Cada dia mais apaixonada com essa Fic.
    Beeijos!!

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    1. Não tenho palavras para agradecer seu carinho amore. Cindy irá sim mudar de vida graças a Michael. Lana com ciúmes rsrs, será?

      Beijos <3

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  38. Sensacional, esse capítulo!Agora que eu quero vê! Essa ex-mulher do Michael parece que será uma "pedra" no sapato dele. Estou percebendo um certo clima entre Michael e Lana. Continua, por favor.

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    1. Fico imensamente feliz com sua presença por aqui flor.

      Clima entre Lana e Michael? Vamos ver...

      Beijão <3

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  39. Vamos ver o que essa Sophia vai fazer é como Michael agira.

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  40. Olá meninas. Trouxe mais para vocês. Em breve haverá uma reviravolta que mudará o destino de Michael e Lana! Quanto a Sophie bem, ela já especificou seus interesses, dinheiro.

    Obrigada pelos comentários girls, são muito importantes para mim! <3

    Abraços

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  41. Este comentário foi removido pelo autor.

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  42. Esse empregado precisava dizer para Lana que Michael estava trancado com a "esposa", essa cobra disfarçada de gente? Que chato! agora eu só quero saber como Lana irá reagir?
    Continua.

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  43. Acho que esse empregado podia ser mais discreto,espero que Lana o deixe explicar primeiro antes de tirar qualquer conclusão.

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  44. Acho que esse empregado podia ser mais discreto,espero que Lana o deixe explicar primeiro antes de tirar qualquer conclusão.

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  45. Capítulo 9 postado. Desculpe a demora meninas, tive um problema com minha interner e não pude atualizar antes. Mas vamos ao que interessa a fic.

    Lana tomou uma decisão que lá na frente vocês entenderão. Sei que há muito mistério no ar, no entanto ela só está fazendo o que julga melhor para a saúde da filha. Michael terá uma surpresa ao retornar ao EUA. Paro por aqui, pois não vou dar spoiler.

    Beijão <3

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  46. Será que ela se casará com um milionário? Ou pior será uma garota de programa?
    Ah, são tantas possibilidades!! O jeito é esperar.
    Continua.

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  47. Gente,me deu uma penina da Lana... Poxa, Michael! Você tinha que ter dito a verdade,que a ama. Tenho certeza que ela não teria tomado nenhuma atitude precipitada.
    Tenho medo do que ela possa ter feito..
    Continua logo amore. Estou amaaando e vc sabe!!kkkk
    Bjos!!

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  48. Flor continua .... Nossa q fic maravilhosa ... Meus parabéns... Tô amando.... Mas continua pq agradescemos kkkkkkk e

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    1. Não sabe como fico feliz com sua presença aqui flor. Muito, muito obrigada pelo carinho. Já atualizei. (:

      Beijos

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  49. Cheguei com mais meninas! Lamento por semanda passada, mas aqui estou de volta, trazendo um capítulo que como puderam observar traz também a narração de Lana.

    Marícia, Maria, Ana, vocês são incríveis, sério sou extremamente grata pelos comentários amores. <3

    Beijinhos

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  50. Tadinho do Michael! Os dois se amam! \0/
    Tenho certeza que MJ vai encontra-las.
    Continua, por favor!

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  51. Nossa? Sinto tanta pena dos dois.. e agora vendo o ponto de vista da Lana, dá para entendê-la e sentir na pele o que ela passa
    Espero que o Michael a encontre logo e diga tudo o que sente por ela.
    Continua!!! Estou amando!
    Cada dia melhor, beijos!!

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  52. Tomara que o Michael encontre a Lana logo.

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  53. Meninas devido a alguns problemas de saúde não estou atualizando. Vim para dar uma satisfação para minhas leitoras maravilhosas. Espero voltar nessa semana ou no máximo na próxima.

    Peço-lhes compreensão.

    L.O.V.E

    Larissa Rabelo

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  54. Tudo bem, Larissa. Fico esperando e melhoras para vc.

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  55. Quando voltar, vamos ter que ler do começo, para entender a história. É uma pena parecia interessante.

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  56. Quando voltar, vamos ter que ler do começo, para entender a história. É uma pena parecia interessante.

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  57. Meninas, embora não esteja totalmente recuperada, resolvi trazer um capítulo para vocês que já estava escrito.

    Espero que valha a pena tera a paciência rsrs. Recapitulo meus votos de desculpas e obrigada pela compreensão. Até mais meus amores.

    Beijos doces <3

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  58. Este comentário foi removido pelo autor.

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  59. Tomara que Lana volte logo, antes que essa Lily "lace" o Michael. Não gostei dela. Faltou só ela dizer que ele esquecesse a Lana e ficasse com ela.
    Continua e melhoras, amore!

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  60. Xiii.... um capítulo por mês. Tá difícil.

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    1. Infelizmente eu não estou conseguindo escrever tão frequentemente, por questões médicas. Sempre me preocupei em cumprir com as postagens, mas imprevistos acontecem.

      Obrigada por estar aqui

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  61. Cheguei com mais e como já expliquei ainda estou em tratamento, portanto posto de acordo com o que consigo.

    Maria, querida, fico muito feliz que continue acompanhando a fic e pela compreensão. Beijos florzinha. <3

    Espero estar agradando, e trarei mais para vocês ao menos uma vez na semana.

    Abraços

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  62. Finalmente,Michael admite que ama Lana.Que bonitinho! Agora ele vai atrás dela. Será que Lana está apanhando de alguém no trabalho?
    Continua,por favor.😘

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  63. Só existe trajédia nesse fic. ta na hora de mudar. Se contimuar assim ninguém mais lê. Está muito chato. Só tem tristeza.

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  64. Capítulo 13 postado! Maria, Lorena, Ana muito obrigada pelo carinho. <3

    Beijão

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  65. Que fofos! Mulher desprezível essa Sophie. Só espero que ela não atrapalhe o relacionamento de MJ e Lana.
    Continua, por favor.

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  66. Foi lindo!Deve tomar cuidado com Sophie.

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  67. Meninas trouxe mais para vocês e caso hajam erros perdoem-me, ainda estou em tratamento médico e sem tempo de revisar os capítulos. Mas, enfim, eu amei escrever essa parte da fic, e espero que gostem do resultado.

    Beijão. <3

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  68. Que capítulo fofo! Eu viajei. Parabéns!
    Agora, por favor, continua.

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  69. Meninas eu tive uma emergência médica e estou indo viajar para me consultar! Sei que as leitoras não tem nada a ver com isso, mas infelizmente estou doente. Peço-lhes desculpas pelos atrasos, porém também conto com o apoio de vocês.

    Forte abraço

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  70. Ta mais do que na hora de terminar esse fic. Nunca vi demorar tanto. É muito mais fácil postar tudo de uma vez , do que ficar essa demora.

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  71. Tudo bem, Larissa! Cuida da sua saúde.Fico esperando sua volta. Boa viagem e melhoras!

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  72. Essa história ta enrolada. ta complicado continuar lendo.

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  73. Essa história ta enrolada. ta complicado continuar lendo.

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  74. Tudo bem, vou ficar esperando que sua saúde restabeleça .

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  75. Amores trouxe mais para vocês. Infelizmente, irei para outra cidade me tratar, mas farei um esforço para trazer pelo menos um capítulo por semana. Apesar das más notícias que recebi, prosseguirei com a fic.

    Maria e Ana muito obrigada pela compreensão. <3

    Bjs

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  76. Desejo que vc melhore o mais rápido possível e não se preocupe aguardo vc.
    Que capítulo mais romântico!E espero que Lana não estrague seu relacionamento com MJ por conta do orgulho.

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  77. Melhoras ! Se Deus Quiser Logo Vc Estará Bem!

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  78. Obrigada pelas mensagens de apoio meninas. <3

    Beijos a todas!

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  79. Ih, como eu pensava! Ela é uma garota de programa. Tadinho do Michael!
    O que o orgulho não faz?
    continua, por favor.

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  80. Capítulo 17 postado, como expliquei pelo menos uma vez na semana tentarei trazer mais para vocês, esse mês ainda vou viajar para me consultar e pode ser que suma, mas prometo voltar.

    Maria, muito obrigada pelo comentário! <3

    Beijos

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  81. Larissa se cuida direitinho e volta a postar com sua criatividade e saúde em dia tudo de bom bjs.Nani Jackson.

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  82. Poxa vida se Lana continuar escondendo a verdade de Michael, quando ele descobrir vai odiá-la. É melhor ela falar do que ele descobrir de outra maneira.
    Pode deixar Larissa, vou esperar. Como já falei antes, cuida da sua saúde e depois posta quando vc estiver bem de saúde.
    Fico esperando e melhoras.<3

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  83. Lana deveria contar á verdade para Michael.Larissa cuida da sua saúde isso e o que importa neste momento.

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  84. Meninas ontem passei o dia correndo atrás de consultas e não foi possível postar, mas trouxe mais um capítulo para vocês hoje.

    Obrigada pelas mensagens de apoio e espero que Michael e Lana estejam agradando.

    Beijos

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  85. Meninas gostaria de me desculpar por qualquer erro na escrita, parágrafos... Não estou revisando os capítulos por causa da correria com médico, então podem vir a notar alguns erros

    Att,

    Larissa Larissa

    Abraço

    Nos vemos em breve

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  86. Apesar do sumiço de vocês aqui estou meninas. Como disse terminarei a fic, mas estou em tratamento, por isso ainda não finalizei.

    Beijos

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  87. Larissa a correria do dia á dia nos rouba muito tempo,mas nunca deixo de acompanhar a fic obrigado por continuar postando.

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  88. Estou viajando frequentemente para consultas, então, por isso o motivo dos atrasos, peço desculpas e agradeço aos leitores que continuam aqui.

    Ana obrigada por sua presença (:


    Bjs <3

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  89. Minha querida se trata e não se preocupe com a fic qdo puder você continua sossegada, bjs saúde Nani Jackson.

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  90. Ficou sem sentido esse capítulo. O que aconteceu, ela (Lana) tentou suicídio de novo? Acho que falta partes ai.

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  91. Capítulo 21 postado, em breve compreenderão tudo que ocorreu a Lana. Nani, muito obrigada pela força, estou fazendo o possível para não atrasar com a fic! <3

    Bjs

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  92. Tadinho do Michael! Vai sofreu outra decepção.
    Continua.

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  93. Acho que Lana deveria já ter contado á verdade para Michael.

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  94. Meninas obrigada pelos comentários, viajo novamente na próxima semana para meu tratamento, mas tentarei postar mais um capítulo.

    Bjs

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  95. Ok,melhoras!
    Estou gostando.Continua.

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  96. OK boa viajem e melhoras,continua quando puder.

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  97. Tomara que ele a escute e não a maltrate. Ela foi orgulhosa quando não quis a ajuda do Michael, mas também corajosa em sair da prostituição.
    Continua, por favor.

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  98. Nossa... Espero q ele a entenda... Continua flor!!

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  99. Espero que ele ao menos escute a Lana e reavalie sua decisão.

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  100. Meninas estou passando para lhes dar uma justificativa por não ter postado semana passada, pois tenho respeito por vocês leitoras! Infelizmente não foi possível, mas amanhã retorno ao médico e tentarei postar mais no final da semana. Desculpem os atrasos, sei que vocês não tem culpa.
    Agradeço a todos os lindos comentários! <3
    LOVE

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  101. A cada vez que entro nessa pagina leio a mesma desculpa. Melhor parar de escrever. e cancelar essa fic.

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    1. Não irei cancelar a fic em respeito a leitoras que gostam do meu trabalho. E não se trata de uma desculpa, estou doente, a vida é assim, as pessoas adoecem então se não pode compreender e acredita ser uma "desculpa", simples não perca seu tempo entrando aqui!

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    2. Boa noite, Anônimo. Venho observando, e não é de hoje, seus comentários desrespeitosos em algumas postagens do blog, algumas apaguei e outras as autoras responderam. Bem, dessa vez resolvi interferir, vou tentar deixar claro pra você alguns pontos. As autoras que aqui estão escrevem POR AMOR, a única coisa que ganhamos nos empenhando para escrever histórias e vir aqui postá-las é o carinho de muitas leitoras (E acredite, isso é o de mais importante para nós). Apesar desse amor com o qual escrevemos TODAS temos uma vida fora daqui e nela imprevistos acontecem. Eu por exemplo, antes tinha tempo integral para me dedicar ao blog, escrevia várias história, interagia com as leitoras, mas minha vida entrou em outra fase, hoje estudo, trabalho, faço estágio, e tento equilibrar minha vida literária em meio a essa confusão, isso por que eu amo o que faço, assim como as demais autoras daqui. A Larissa não é diferente, mesmo enfrentando problemas sérios a alguns meses ela tem se dedicado até onde pôde, mesmo doente (E SIM, ELA ESTÁ DOENTE, NÃO É UMA DESCULPA) ela está postando, finalizou uma fic comigo, e ainda quando não pode concluir a postagem vem se desculpar com vocês. Por isso eu lhe peço respeito, não só com ela, mas com todas as autoras. Sei sim que é chato iniciar uma postagem e não ver a história ser finalizada, que é ruim aguardar novos capítulos, mas temos de entender, ninguém tem controle sobre o outro nem sobre a vida, os obstáculos estão aí mesmo. Então ao invés de vir machucar uma pessoa que está dando seu melhor para finalizar a fic, pratique a humanidade, pratique o amor que o MICHAEL (PRINCIPAL MOTIVO DESSE BLOG TER SIDO FEITO) tanto espalhou. Você e toda leitora que quer ler e vivenciar junto de nós esse mundo fantástico da leitura, estão super convidadas a ficar, mas respeitando as autoras, o blog, e o nome do Michael. O blog foi criado justamente para isso, para aprendermos umas com as outras, para dividirmos conhecimentos, para fazermos amizade, para disseminarmos amor através de palavras. E é pessoas assim que quero nesse blog. Pense um pouco, okay. Obrigada.

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  102. Meninas o motivo dos atrasos das postagens todas vocês sabem, e mesmo assim volto a pedir desculpas, mas não desistirei dessa fic.

    Espero que o capítulo esteja bom pois não o revisei, no entanto escrevi com todo o carinho!

    Obrigada pelo apoio das leitoras que compreendem e não desistem de vir até aqui.

    Abraços

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  103. Gostei como ficou o capítulo pois as feridas ainda estão abertas então Larissa continue escrevendo no seu tempo.UM abraço bem carinhoso!

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  104. Tomara que Lana fique muito famosa e que saia em todas as capas de revistas. Acredito que MJ vai ficar só babando e nunca irá esquecê-la. Estou torcendo por esses dois.
    Desejo tudo de bom para vc Larissa e não se preocupe. Estarei esperando pelos próximos capítulos. Melhoras e muito amor para vc.

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  105. Queridas, Larrisa e Paulinha, continuem com estas estórias maravilhosas que nos leva ao romantismo, ninguém aqui é idiota para não saber da dedicação que voces tem para conosco , pois quando lemos essas fics relaxamos e temos a certeza de que td vai dar certo, e quem não estiver satisfeito não procure o bloq vai na livraria e compra um livro pronto e lê de cabo a rabo sem encher a paciência das autoras e das leitoras que não são obrigadas a lidar com pessoas sem consideração pelo próximo. Boa sorte e tudo vai dar certo.bjs Nani Jackson.

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  106. Queridas, Larrisa e Paulinha, continuem com estas estórias maravilhosas que nos leva ao romantismo, ninguém aqui é idiota para não saber da dedicação que voces tem para conosco , pois quando lemos essas fics relaxamos e temos a certeza de que td vai dar certo, e quem não estiver satisfeito não procure o bloq vai na livraria e compra um livro pronto e lê de cabo a rabo sem encher a paciência das autoras e das leitoras que não são obrigadas a lidar com pessoas sem consideração pelo próximo. Boa sorte e tudo vai dar certo.bjs Nani Jackson.

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  107. Meninas eu não tenho palavras para agradecer todo o carinho e apoio. Atualizei a fic, e embora os atrasos vocês estão aqui, compreendem meu problema de saúde, não desistem da fanfic. Muito, muito obrigada. Ana, Maria, Nani, fico feliz pela força!

    Beijos de luz

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  108. \0/ Lana vai dar o "troco"!!Quero que venha linda, sexy e poderosa.
    Deixando MJ louco quando ela sair nas capas de revista e roxo de ciúmes! Rsrs
    Que maluquice de Michael namorar a "amiga" para fugir do sentimento que sente por Lana. Nunca pensei que Michael fosse tão babaca! Afinal, a pessoa que tem AIDS sofre descriminação e ele está descriminando Lana. Ela errou, mas ela largou a prostituição e quase foi morta por causa dessa decisão. Então, ela merece uma oportunidade. Tadinha!
    Ohhh, Larissa não precisa agradecer. Entendo perfeitamente seu lado.Você tem que cuidar da sua saúde, é claro! Quem gosta da história irá esperar. Tudo de bom para vc, querida!
    E continua, quando vc puder. Bjs.

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    1. Maria muito obrigada pela força e total compreensão, isso é muito importante para mim nesse momento difícil. Sinto-me feliz em saber que a fic está agradando! Deus te abençoe!

      Beijos

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  109. Larissa obrigado por continuar a postar gostei muito do capítulo vou sempre esperar o seu tempo.

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  110. Super bem vinda o seu retorno é sinal que tudo está correndo bem, posta na paz e no seu tempo sempre torcendo por você saúde e paz bjs Nani Jackson.

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    1. Nani estou postando quando posso, e fico grata pelo seu apoio. Desejo-lhe o melhor também.

      Abraços

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  111. Capítulo 26 postado meninas muito, muito obrigada pelas mensagens de carinho. Por isso não desisti dessa fanfic, por vocês. <3 <3 <3

    Beijinhos

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  112. Não tem que agradecer. Deus te abençoe também,Larissa!
    Estou amando essa fic e torcendo por Lana e MJ!

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  113. Obrigado pela historia linda que está escrevendo. Torcendo para eles serem feliz.

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  114. Meninas eu que agradeço o carinho que estou recebendo. Só consegui atualizar hoje, mas espero que gostem do capítulo. (:

    Beijos











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  115. Ela vai voltar! Será que verá MJ?
    Continua, por favor! 😁

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  116. Fico feliz por vc continuar postando bom sinal bjs e paz e principalmente fé em Deus.Nani Jackson.

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  117. Oba ela vai voltar!!!!!!!!!!!!obrigado muita paz no coração ate .

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  118. Outra fic bem enrolada. Mais uma que poderia ser retirada do blog ou acabar logo. Escreve ums dois capítulos e termina, melhor que ficar assim.

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  119. Shiii... Acho que a autora esqueceu esta fic. Quanto tempo não posta nada. Até as leituras esqueceram. Pois não há comentários.

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  120. Este comentário foi removido pelo autor.

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  121. Este comentário foi removido pelo autor.

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  122. A todos que criticam a falta de atualizações da fic, venho esclarecer o motivo da minha ausência, explicar porque a história está pausada! Recentemente passei por centenas de problemas pessoais, meu pai operou, e foi uma cirurgia crítica, grave, não entrarei em detalhes, somente posso afirmar que é uma fase difícil em vários aspectos... Eu sempre finalizei as fanfics no blog e se não o fiz até agora não é por falta de vontade, tampouco, desconsideração com meus leitores os quais respeito e sou grata. Descobri uma anemia profunda e os sintomas são fortes, cheguei a ter crises intensas e ficar de cama, pois mal conseguia me manter de pé. Serei transparente, mediante a tudo, a doença, não estou com cabeça e inspiração para prosseguir a fanfic no momento, peço desculpas, mas às vezes as adversidades da vida ocorrem. E não, eu, não esqueci a fic, escrevo-a por amor, nunca ganhei para isso, minha recompensa se detém a faze-las sonhar com nosso rei, e claro aprecio os comentários gentis, todo carinho que recebo de algumas meninas. Ademais sinto muito pelo ocorrido, no entanto, creio um pouco de compreensão e empatia caberiam nas atuais circunstâncias.

    E por favor não me julguem sem saber o que estou vivendo, não estão na minha pele, direciono essa observação aos dois últimos comentários.

    Att,

    Larissa Rabelo

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    Respostas
    1. Ok, Larissa! Estou esperando. Não se preocupe. Entendo o seu lado. Faça no seu tempo. Que Deus te abençoe e fé Nele!
      Desejo a vc e sua família saúde, paz e muito amor! Feliz 2017!

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    2. Larissa passei pela fic pra saber se tinha continuado, espero que logo vc retorne e acabe com esta fic e de tabela publique mais fics e que Deus te.protje te de saúde e guarde desejo o melhor pra vc.fica com Deus bjs Nani Jackson

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