domingo, 13 de março de 2016

FanFic: "Mistério em Forest Grove" (+18)

Autora: Tay Jackson




Quando o pai de Claire Connon morreu, ela teve que se mudar da casa onde passou a vida inteira, acompanhada por sua mãe. Viu-se obrigada a deixar para trás toda a vida tranquila e feliz na cidade de Phoenix, assim como todas as lembranças alegres de toda a sua infância. 

Apesar de saber que o rumo da sua vida mudaria, Claire jamais imaginou os segredos ocultos da pequena cidade do interior de Forest Grove, nem como eles iriam mudar drasticamente seu próprio destino. Ela viverá na companhia de três jovens subversivos. Um professor arrogante e antipático. 

Diferente de Phoenix, Forest Grove era uma cidade com histórias macabras de assassinatos cruéis, aparentemente sem motivo algum. Sua nova casa era o alvo, sua vida e de sua mãe está ameaçada. Claire descobrirá que a morte tem dois lados. Caberá a ela saber em qual lado ela ficará.












Prólogo

Forest Grove, Oregon, 1977.



—Ei, John! Já terminamos por aqui. O que faz aí? 

O coroa chamado John, de pança avantajada e trajes de fazendeiro, ao qual Norman falava, tentava arrumar o trator que usaram depois de capinar o vasto hectares da "Fazenda Wood". Uma música alta tocava no automotor, enquanto suas vistas estavam limitadas por causa do breu da noite. Ele tentara: uma, duas vezes, fazer o trator funcionar, porém sem sucesso algum. 

Norman, seu parceiro, terminara há poucos minutos de guardar os instrumentos usados para a manutenção das cercas de arame. Estavam exausto, fora um dia árduo de trabalho, o que geralmente ocorre todos os dias a fio. Era o seu ganha pão, trabalhadores honestos tentando ganhar a vida e alimentar sua família. A Fazenda Wood era só mais um dia normal de trabalho. 

Homens comuns, com defeitos e qualidades. Certo que John gostava de dar uma passadinha pelo bar da cidade e beber duas garrafas de cerveja preta. Chegar em casa bêbado e às vezes discutir com a esposa. Entretanto, no fundo sabia que suas atitudes de ultimamente eram errôneas, e por mais que tentasse mudar, uma força maior o impedia. Talvez o poder entorpecedor do álcool correndo por suas veias e lhe fazendo esquecer que perderia sua casa a qualquer momento, depois de tê-la apostado em um jogo ridículo quando estava nestas condições. 

—O motor não quer pegar. Estou tentando há horas, mas nem um barulhinho se quer é ouvido. —Ele ajeita o boné da sua cabeça. Ao longe Norman aponta uma lanterna em sua direção, para iluminar o seu caminho até o parceiro. 

—Deixe-me dar uma olhada. 

Aquele homem era o melhor parceiro que alguém possa ter. Diferente de John, Norman jamais passaria em um bar para encher a cara. Sua mulher e sua filha de apenas quatro anos, o espera. Jamais decepcionaria as duas melhores coisas que já lhe aconteceu no mundo. 

O passo dele em direção a John, é tranquilo, mas firme e despreocupado. John não para de ligar o motor, já começa ficar de saco cheio com aquela "porcaria". 

—John, deixa esse trouxo aqui, amanhã traremos um mecânico.
—Não! É questão de honra, se ele não pegar, irei abri-lo e concertar eu mesmo. 

John desce do trator, seu intuito é ir de encontro ao motor e concertá-lo. Porém passos rápidos atrás do veículo lhe chama atenção. Ele paralisa imediatamente, diante da ação repentina e bastante curiosa. 

—Norman? —Ele chama o parceiro, mas não obtêm resposta. Ele considera o caso dito por não dito, e não se preocupa mais. Deve ser o Norman passando por ali. —Venha até aqui, preciso que segure esta parte, para que eu dê uma olhada aqui dentro. —Ele abre o compartimento frontal, mas precisa de ajuda. 
Norman não responde mais.
—Ah cara, se não quer ajudar tudo bem, pode ir embora, eu ficarei por aqui. 

Outro passo rápido é audível, chama atenção do homem que se atenta para o ruído inesperado. Um arrepio cobre o seu corpo, ele sabe que não é Norman. Até porque, seu parceiro não usava galochas negras e calças pretas. Sim, ele notara pela brilho das luzes do farol, assim que agachou em frente ao veículo para dar uma olhada na parte inferior, alguém passando do outro lado. 

—Quem está aí? —Assume um tom grosseiro, a fim de tentar intimidar o invasor. —Diga logo, não tenho o dia inteiro. Norman o mandou para consertar o trator? Se for, vá embora, eu dou conta. —Dá um tapinha do ar e continua com o seu trabalho inútil, que pelo que aparenta não teria um fim satisfatório. 

John ouve um tranco ao seu redor, algo que não soube definir. Seus olhos assustados percorrem o espaço, em questão de segundos. Logo depois, tudo que se encontra é um silêncio incômodo. Fica assustado, pois se não é Norman que vira embaixo do trator, quem seria? E por que está tão calado? Esta resposta ele não teria, mas uma visão lhe tremeu as bases.

Algo é arremessado para cima do trator, bem em frente a John, algo pesado e grande. Ele se assusta, treme as bases, por não ter a mínima noção que tipo de jogo era aquele. Estreitando os olhos curiosos, para saber do que se trata, liga uma lanterna enfiada em seu bolso. Tenta identificar. Seu corpo sofre um susto tremendo, seus olhos arregalam. Um grito alto rompe sua garganta, quando dar de cara com o corpo mutilado do seu parceiro Norman, estirado no seu fiel meio de transporte, ao qual usava para airar terras do campo. Seu rosto esta deformado, há sangue por todo lado. Na verdade, o sangue de Norman continua jorrando em seu corpo desfalecido, em cima do trator. Ele não entende o que acontecera, não sabe explicar, mas também não tem muito tempo de pesar sobre isto. 

Assim que olha para atrás, um homem de máscara negra, usando as mesmas galochas e calças pretas, que vira a poucos minutos caminhando apressadamente por detrás do veículo, desfere uma foice no meio da sua cara. Nem se quer lhe dar a chance de questionar, ou implorar por sua vida. A lâmina da foice, atinge sua jugular, é rápido e mortal. John desaba no chão morto, sem saber direito o que lhe aconteceu. Sem saber se quer o motivo.














Capítulo 1 
Bem Vindo a Forest Grove




Forest Grove, Oregon, 2000


Ah qual é? O que tem de errado com nossa pacata e antiga casa no Arizona? Não é justo ter de mudar toda uma vida só por conta de um acontecimento que já estava previsto. Papai sofria de câncer cerebral há anos, uns cinco para ser exato, sofreu tanto que nem gosto de imaginar, mas aquela casa era tudo que ele construiu. Phoenix era o sonho de adolescência do meu pai, fora lá que se casou e fora lá que nasci. Todas as lembranças felizes de criança estavam armazenadas em cada tijolo do casarão. A vizinhança era como a minha própria família, brincávamos até tarde sem se preocupar com a violência, apesar de que Phoenix estava com uma crise danada de roubos e assassinatos. O mais interessante é que nunca afetava pessoas que conhecíamos e nem próximo ao nosso bairro. Graças a Deus! 

Lembro de quando ele fazia casa da árvore para que eu pudesse brincar de casinha com as minhas amigas. Sua dedicação em ser um bom pai, e um ótimo marido, era exemplo. Queria muito conservar tais lembranças, sem precisar ir embora do único lugar que finquei raízes, mas para mamãe era o oposto. Se por um lado, eu queria conservar o máximo de lembranças possíveis, ela pelo outro queria ficar o mais longe possível, a distância mais longínqua que alcançasse. A machucava conviver em um lugar onde fora feliz, sem tê-lo por perto. Eu até posso entendê-la, mas por que não outra casa ao redor de Phoenix mesmo? Temos mesmo que ir para outro estado onde não conheço ninguém? 

Enquanto mamãe dirige, permaneço emburrada no banco da frente, ouvindo Coldplay no último volume nos fones de ouvido. Para falar a verdade, não estou ansiosa para conhecer a casa nova, o que quero mesmo é saber como é a faculdade. Quem serão os meus colegas de turma, como é a localidade, as salas. E como irei me manter focada nos estudos, tudo que mais quero é conhecer os métodos de educação do professor e finalmente estudar História da forma que preciso. Estes assuntos de evolução da história e as principais personalidade que compunha o nosso vasto campo de ideologias e conhecimento me encanta. É isso! Estou ansiosas para minhas aulas. 

—Claire! Será que pode me ouvir? —Mamãe retira o meu fone do meu ouvido, e pelo tom de voz furioso, deve ter estado há muito tempo me chamando. 
—Nossa, desculpa! —Sou intolerante. Às vezes não gosto das atitudes dela de me fazer prestar atenção em tudo que diz. Faz com que eu pareça uma criança de cinco anos. 
—O que estou tentando dizer há duas horas... —Nossa, exagero! —É que eu sei que vai gostar de Forest Grove, é uma cidade perfeita para adolescentes como você. Não tem tanto movimento de carros no perímetro da fazenda, não há vizinhos se metendo em nossas vidas. Acho que a faculdade você vai adorar, principalmente toda a galera. —Mamãe sorri, mas eu a olho com desprezo. 
—É tudo que eu detesto! Mamãe, o que há de errado em poder ficar em Phoenix? Eu adorava aquele lugar, papai não iria gostar de saber que viemos pra cá. Aliás, só para constar, eu não sou mais uma adolescente. —Suspendo meus pés para cima do porta-luvas. 
—Para mim é sim, ainda mais essas atitudes que assume. Tira o pé daí! — Levo um tapa na perna e as desço de novo. —Você não sabe nada o que seu pai queria, Claire. Você não lembra, mas eu lembro muito bem do quão difícil foi ter que ficar presa naquela casa cuidando do seu pai, só esperando a morte chegar. Foi horrível, um verdadeiro pesadelo. —Reviro os olhos por conta do drama. 

Eu até entendo o desespero de mamãe de ter que fugir o mais longe possível das lembranças, mas tenho certeza que esta não fora o melhor caminho. Elas nos acompanharia, certo? Onde quer que iriamos. Não temos escolha.

—É claro que eu lembro, eu também convivi. Não haja como se só você sofreu! — Me irrito, já quero chegar na tal Fazenda Wood e me trancar no quarto. 
—Eu sei que não foi só eu. É por isso que não entendo esta resistência de querer recomeçar. Seu pai não está mais aqui e não estará para sempre. Vamos tentar ao menos criar uma vida nova para nós duas. Algo concreto que vamos poder construir um futuro novo. Pense melhor, minha filha. Vai se acostumar, eu sei que vai. —O carro para abruptamente, mamãe o parou no meio da estrada, no meio do nada. Ela olha para mim e passa a mão nos meus cabelos castanhos e revoltos por conta do frio. Os ondulados sempre ficam revoltas em tempos chuvosos.

Não sei, não consigo ainda me acostumar com a ideia, mas não tenho dúvidas de que mamãe realmente quer o melhor para nós. Vai que seja uma coisa boa? Quem sabe melhor que Phoenix? Qualquer coisa é possível nessa vida. 

—Tudo bem, mamãe, olha. —respiro fundo, já cansada de brigar pelo mesmo motivo. —Já que estamos aqui e que já comprou a fazenda, vou tentar me acostumar. Vou encarar o fato de que vinhemos a este fim do mundo com o único intuito de tentar construir um lar para nós duas, uma vida nova. Mas não tente impor regras, porque não será fácil me acostumar de uma hora pra outra —Seu rosto é emoldurado por um sorriso satisfeito. Ela aperta as minhas bochechas fazendo um som animado.
—É disso que estou falando, Claire. Vida nova! Sei que vamos ser felizes aqui, eu sinto isso! —Dou de ombros um pouco com dúvida do que fala, mas não quero mais contestar. 
Mamãe liga o carro e retomarmos a nossa viagem. 


Não me surpreendo muito com a aparência do lugar assim que chegamos depois de cinco horas de viagem. Parece uma casa mal assombrada, com portões enferrujados e janelões que me remetem à casas abandonadas de beira de estrada. As folhagens das árvores estavam todas secas, e espalhadas pelo chão, por conta do Outono. A mata alta e amarelada me faz pensar que teríamos muito trabalho pela frente. Não queria pensar sobre isso, estava exausta demais. Tudo que penso é conhecer o meu quarto e me jogar na minha cama. 
Desço do carro sem tirar os olhos daquele casarão. Era enorme, mas um pouco sombrio, precisava muito de tintas alegres e uma varanda com mais vida. Dá a impressão que cairia aos pedaços a qualquer momento. "O Arizona não tem casas como estas" é o que penso. 

—Esta foi a única espelunca que encontrou? 
—Era o único que encontrei com o meu orçamento no anuncio da internet. —Sorrio com incredulidade. É bem a cara dela mesmo.
—Por que eu não estou surpresa? 

Olho para o lado e há uma placa escrito: "mantém à distancia" e "bem vindo a Fazenda Wood". Meio contraditório, não acha?

—Tem certeza que é uma boa, mãe? —Não consigo me agradar. Aquilo me traz sentimentos ruins, não dá para ser chamado de lar.
—Claro que é. Agora ande, vá explorar! — Olho para mamãe um pouco desconfiada, mas seu incentivo me faz caminhar em direção a casa. Não teria outra opção mesmo.

Subo aos degraus precários da varanda, a cada passo soa um ruído diferente. Um, bem parecido com portas batendo, outro com cortinas sendo rasgadas. A madeira parece podre, mas olhando bem, a casa inteira parece podre e antiga. Parece um filme de terror.

—Mamãe! —Mostro a minha insatisfação em uma manha. 
—Nós vamos fazer melhorias, é claro. —tenta me convencer, mas não me convence. —Vá conhecer os móveis novos que comprei, quem sabe se anima mais. —Me incita com gestos de mãos. 

Abro a porta enferrujada e adentro a casa. A sala é ampla, muito mesmo, parece até um auditório, ou uma pista de gelo. Os móveis estão cobertos por plásticos, para protegê-los da poeria. Ainda está tudo desorganizado, mas creio que logo irá dar uma visão de lar. Faço um esforço para concordar com minha mãe. Olho para cima, os candelabros são antigos, me vejo em um palácio real dos tempos pré-históricos, já me fascina. Subo as escadas as pressas para conhecer o restante. Há pelo menos uns cinco quartos, começo a procurar um com a minha cara. 

—Seu quarto é o último, Claire! Perto do meu. —Mamãe grita de lá de baixo, não perco tempo. 

Há uma cama de solteiro, uma cômoda e uma TV. Já começo a planejar o que colocaria da cômoda, provavelmente os meus CDs e livros da faculdade, livros comuns também cabia. A vista é que me impressiona. É possível contemplar o vasto campo de toda a extensão da fazenda, há um pequeno celeiro ao lado, que logo desperta a curiosidade em conhecê-lo. As janelas são velhas, e parece emperradas quando força para abri-las. Mas eu sei que daríamos um jeito também. Até que meu coração começa a se abrir. Abro um sorrisinho de leve me agradando com a nossa nova vida. 


***



Mamãe e eu ficamos o resto da tarde toda fazendo organizações. Os móveis cobertos por plásticos, ganharam vida assim que depositamos em seus lugares adequados. Colocamos um carpete marrom no chão, e limpamos bem a poeira. A sala ganhou um tom rústico e bem clássico. Arrumamos nossos pertences pessoais em nossos armários, e na cozinha toda a prataria que mamãe ganhou no dia do casamento, mas que nunca teve coragem de tirá-los da embalagem. Agora sim, parecia ser bem válido usá-los — na cabeça dela. 

Os candelabros acesos durante a noite pareciam velas em castiçais, pois não adiantava muita coisa, continuava escura. Porém quando olho para o lado de fora, a sensação que dá é que nunca pisaria os pés por lá durante a noite. Acho que nem um animal com olhos espertos enxergaria qualquer coisa. 

—Finalmente acabamos. —Mamãe suspira depois de colocar a última peça da prataria no lugar. 
—Pois é, estou exausta, acho que vou tomar um banho. 
—Vá sim, querida. Vou preparar o jantar e logo vou tomar um banho também. —Assinto. 

Subo as escadas com desanimo. Aquela faxina toda acabou comigo, sinto que os meus pés e minhas costas estão me matando. Preparo a banheira assim que entro no banheiro. Uma água quentinha cairia bem. Retiro minhas roupas de frio azul e quando despida me "Afogo" na banheira. Está tão bom, que nem sei se vou sair daqui tão cedo. Graças a Deus que levei meu Ipod para continuar ouvindo James Bay até algumas horas. Let it go é suave e me acalma.





Descanso a cabeça no encosto da banheira branca, suspiro de olhos fechados pensando um pouco na vida. Tenho um breve pesamento do que faria manhã, logo pela manhã. Provavelmente mamãe chamaria alguém para capinar o quintal, airar a terra para plantarmos alguma coisa. Eu conheceria o celeiro e veria se daria para fazer um refúgio para mim. Um lugar sem ser o meu quarto para que eu pudesse ler um pouco e ouvir músicas. Não sei, a vida de agora em diante parece tão monótona que me dá depressão só de imaginar. Não terei os meus amigos por perto, e os lugares que costumava frequentar. Mas a ideia de novas pessoas até que me alivia. Não via a hora de começar as aulas. 

O estrou que ouço desperta-me de uma forma indesejada do meu devaneio. Meu coração palpita por conta do susto, e meus olhos vão em direção a ele, ao qual está vindo da janela do banheiro, mas especificamente na área externa da casa. Mamãe deve estar mexendo com alguma coisa. Mas sabe aquele sentimento incômodo de quando você está no banheiro, e tem aquela sensação de que tem alguém lhe vigiando? É horrível, eu sei. 

—Mamãe? —Chamo por ela, torcendo que a resposta venha daquela direção. Não obtenho respostas. Ergo um pouco da banheira, sem sair totalmente. Imposto a voz no rumo da janela. —Mamãe, você está aí? Mamãe? 
—Estou aqui, Claire! O que houve? —A voz dela parte do corredor dentro da casa e não pelo lado externo. Estremeço. 
—Não é nada. —Acho estranho, muito mesmo. Foi uma presença de alguém, alguma pessoa estava ali, e não alguma coisa. Tento me convencer que não é nada demais. Deve ser o vento que derrubou os escombros daquela espelunca. 

Termino o meu banho, visto um moletom de dormir. Está muito frio, coloco até mesmo luvas e meias. O jantar que mamãe preparou tem um cheiro delicioso, estou morta de fome. 
Os jantares em minha casa sempre foram na mesa. Papai fazia questão disso, era uma forma de reunir a família após todo mundo fazerem suas coisas durante o dia. Continuamos mantendo a tradição. 
Me sirvo de um ensopado com aspargos e lentilhas. Estou louca para provar, sei que mamãe é a melhor nisso, cozinheira de mão cheia que é. 

Ela havia tomado um banho também, percebo pelas roupas trocadas. Está tentando se aquecer com suéter bege e calças de moletom. Os cabelos louros estão amarrados em um coque, enquanto os meus soltos e rebeldes. 

—Ouvi um barulho do lado de fora, acho que alguém resolveu bisbilhotar. —Comento o acontecido, mas mamãe parece não se importar.
—Deve ter sido um animal. As cercas estão bem fechadas, e não há ninguém por estas bandas. —Ela se serve do ensopado logo após mim. 
—Não acha perigoso? Nós duas sozinhas nesse fim de mundo? —levo uma colherada à boca, nem me importando se estava quente. —Hum! Que delícia! —Estava com tanta fome que eu comeria ajoelhada agradecendo aos céus. Mamãe dá um sorrisinho de gratidão pelo elogio.
—Claro que não. Oregon é um dos estados mais calmos dos Estados Unidos, bem mais seguro que o Arizona. Qual é Claire, um estado que tem pouco mais de vinte e duas mil pessoas? —Dou de ombros. —Não me venha com paranoias, por favor.
—Pode ter sido um animal sim. —Tento me convencer e ela agradece com um aceno de cabeça. 
—Está animada com a nova faculdade? —Estou um pouco preocupada, está é a visão perfeita que tenho dos meus sentimentos, mas não confessaria.
—Estou, principalmente em conhecer novas pessoas, sabe o quanto eu adoro fazer novas amizades. —Sou irônica e mamãe logo nota.
—Ah, querida, não fala assim. Logo vai estar com um namoradinho andando pra cima e pra baixo nesses milharais. —Rio alto. O comentário da mamãe é de gargalhar mesmo. 
—Para, senhora Connon! Até parece que vou entrar para a faculdade pra conhecer garotos. 
—Na faculdade pode ser que não, mas no povoado, pelas redondezas. Não é possível que não haja homens por aqui. —Balanço a cabeça incrédula. 
—Homens pode até ser, mas a agitação do Arizona com certeza não. —Mamãe começa a rir do meu pessimismo e eu lhe acompanho. 

Até que a mesa de jantar não se torna uma tortura sem fim sem o meu pai. É como se ele tivesse se atrasado no trabalho e não viesse para o jantar, coisa que já aconteceu várias e várias vezes. Apesar de sempre estar discutindo com a minha mãe, eu amo, e adoro nossas conversas. Ela sabe respeitar o meu espaço e minhas vontades, isto se não afetar as vontades dela. Mas não reclamo, ela é uma ótima mãe, e fora assim desde sempre. 

A ajudo a tirar a mesa do jantar após terminarmos. Lavo as louças enquanto ela seca. Começo a enxergar mudanças à vista. Nunca fizemos o trabalho de casa juntas. Nós tínhamos regras; um dia você faz uma coisa, e no outro eu faço. Sorríamos uma para outra enquanto trabalhávamos. Acho que mamãe também percebeu que realmente estávamos em outra fase de nossas vidas. O que eu acho incrível, pois por um momento, consigo me encaixar em tudo aquilo. 

Quando deito na cama sou envolvida por um sono só. Mal vejo a hora em que dormi, tamanho era o cansaço. Aquela viagem de cincos horas acabou comigo, sem contar com a arrumação da casa logo depois. Mas não pararia por aí, no dia seguinte me espera mais trabalho. 


Acordo com o barulho e tratores do lado de fora da casa. Olho pela janela e percebo que estão limpando o terreno. Mamãe deve tê-los contratado logo cedo. Caminho em direção ao espelho encarando a minha cara amassada após acordar. Meus olhos enormes haviam diminuído um pouco e meus cabelos longos faziam seu próprio destino na minha cabeça. 

Primeira coisa que faço, é a minha higiene matinal. Lavo o rosto e escovo os dentes. Depois troco de roupa. Pelo que vi pela janela tem raios de sol, que serviria para aquecer um pouco, mesmo que não muito. Então visto uma calça jeans e uma camiseta. Não sigo modas de temporada, o que visto é mais do que encontro na minha bagunça. 

O cheirinho de café fresco exala assim que desço os degraus da escada. Aquela mansão durante o dia, quando o sol finalmente aparece ganha outra aparência. É mais iluminado e menos sombrio. A mesa do café já está pronta só esperando que eu me sirva. Capturo um bilhete ao lado da jarra de suco, a caligrafia perfeita de mamãe. 


Espero que tenha dormido bem, e que seu dia possa se iluminar como este sol. Boa apetite, querida. - Mamãe


Sorrio encantada com os mimos de mamãe, ela adora me agradar, e eu aprecio o seu esforço. É realmente uma boa mãe. 

Me sirvo de suco de maracujá e corto uma fatia de torta para comer. Estou faminta, e tudo vem a calhar. 
Vou para o lado de fora da casa quando finalmente estou de barriga cheia. Está uma movimentação assídua, com vários trabalhadores cumprindo com o dever de colocar aquele lugar apresentável. Mamãe está conversando com um homem de farda, acho é que é o xerife. Me aproximo dos dois, curiosa para saber do que falavam. 

—Eu não sei bem, chegamos ontem. Ainda não conheço nada. Ah! Essa aqui é a minha filha. —Mamãe me abraça de lado e me coloca de frente para o xerife. Dou uma meio sorriso. 
—Muito prazer. —Assinto. Sou um pouco tímida para começar uma conversa com quem eu mal conheço. Aliás, não há o que conversar. —Este lugar está sob vigia desde 1977, quando ocorreu aquele fato que mencionei. Não sei como a senhora conseguiu comprá-lo, mas deve saber que será inspecionado com frequência. —Acho aquele assunto estranho. Parece uma alerta de algo ruim, um preságio. Mamãe não me parece preocupada. 
—Não se preocupe, Xerife Graham. Sabemos nos cuidar. Assuntos desta época... é... creio que não afetará o nosso presente. Mas se quiser inspecioná-lo, fique à vontade. —Estreito a testa percebendo que algo de errado está acontecendo, mas não falo nada até o xerife ir embora. Ele despede de nós e retirá-se. 
—Do que ele estava falando, mamãe? 
—O xerife disse que na Fazenda Wood aconteceu alguns assassinatos no passado. Ninguém ainda conseguiu descobrir o assassino, mas creio que não seja nada demais, querida, não se preocupe. —Mamãe começa a caminhar em direção a casa, mas só de imaginar o acontecido fico toda tensa. E se por um acaso almas penadas percorrem pela casa durante à noite? Barulhos de correntes se arrastando se ouviria pela madrugada? Me tremo. 
—Não se preocupar? Mamãe aconteceu um assassinato aqui, e pela preocupação que o xerife demonstrou, foi coisa séria. Não se importa? —Ela para de caminhar, e olha para mim. Seus olhos verdes em contraste com o sol fica ainda mais brilhantes. 
—É claro que me importo! Mas não vou ter um ataque de pelancas. Assassinatos acontece em qualquer lugar, todos os dias. Não é porque aconteceu uma vez aqui, que vai voltar a acontecer. —Ela segura o meu ombro atenuando toda aquela tensão. —Viemos para cá pra recomeçar, Claire, e é isso que faremos. Não vamos deixar nada atrapalhar o nosso momento. 

Retiro a mão dela do meu ombro. Essa obsessão que mamãe tem de colorir o futuro de nossas vidas parece um pouco redundante. 

—Vou dar uma olhada no celeiro. Ver o que posso encontrar por lá. —Mamãe assente. 

Fico impressionada com o tamanho daquele celeiro, mas me impressiono mais com a quantidade de entulho. Há instrumentos de empreiteiro, carrinhos de mão enferrujados e um monte de sujeira aparente. Mas me foco em uma escada que leva ao segundo andar. Subo às pressas, conhecendo o lado superior. Há sofás velhos empoeirados, e um carpete sujo, mas logo tenho planos para organizar cada canto. Dá para construir um "escritório" para estudos e leituras. Acho até que uma boa parte dos meus livros ficariam aqui. Belo refúgio solitário para minha vida sem graça! 

A vista é que é espetacular. O grande janelão fica localizado bem à frente, as portas de madeira estão bem ruins, mas tem como consertar. É possível ver quase Forest Grove inteira. Não, é exagero, mas até o povoado perto das montanhas é possível ver daqui. Mal via a hora de conhecer uma boa parte daquela cidade. Descobrir o que há de interessante em toda aquele "recomeço" que mamãe tanto prega. 












Capítulo 2 
O lado negro de Forest Grove


—Claire, onde vai querida? —Mamãe interrompe os meus passos em direção a saída.

Não sei, decidi que sairia um pouco de casa para conhecer minha nova cidade. Explorar para saber o que há de interessante pelas redondezas.

—Até o povoado. Você não disse que seria uma boa tentar conhecer pessoas? É o que vou fazer. —Ela segura o meu rosto com carinho. O sorriso terno e satisfeito está lá, me provando que tomei a atitude certa ao seu ver.
—Muito bem. Vai ver como vai se acostumar rapidinho. — Tenho minhas dúvidas, porém não faço vista grossa.
—Vou pegar a caminhonete, tudo bem?
—Pegue sim, mas não demore. Ainda temos muito trabalho pela frente. —Dou uma olhada ao redor.

Os campos capinados não iria ser limpos sozinhos, e nem as cercas consertadas por si só. Só de olhar já fico cansada de novo.

Também tem o celeiro que pretendo fazer alguns reparos para deixá-lo bem a minha cara. As aulas começariam semana que vem, e preciso terminar tudo a tempo.

—Não vou demorar nada. —Recebo um afago na cabeça e tomo o meu rumo.

Não posso negar que dirigir em uma estrada deserta é bem melhor do que a vida agitada da cidade grande com tanto trânsito. Contemplar as montanhas era sensacional, mas confesso que não gosto muito de tanta tranquilidade assim. Aquela vida parada causa-me depressão.

Finalmente chego no povoado, finalmente me deparo com pessoas. Caminho pela cidadezinha do comércio como se fosse acostumada. Gente do interior não são tão bicho do mato assim, não vestem roupas caipiras e definitivamente não são ignorantes. Há crianças brincando, donas de casa saindo e entrando da mercearia, e alguns policiais colocando ordem no pedaço.

Olho para cima, ao redor é completamente coberto por montanhas. Estranhamento me sinto sufocada. Como disse, vida parada não me remete coisa boa. É como se estivesse em uma prisão e não fosse mais capaz de me libertar. Olhando as montanhas, me sinto pequena, como se elas fossem se fechar em cima de mim e me cobrir inteira. Estou louca para sair correndo e nunca mais voltar. Um aperto no peito me consume, esfrego o local para passar. Por minha sorte a sensação ruim não dura muito.

Na minha frente há uma lanchonete, seria uma boa conhecer algumas pessoas. Vejo que alguns jovens da minha idade se aproximam do lugar. Um conversando com o outro como se conhecem há anos. Lembro-me da minha vida no Arizona, e fico louca para me enturmar.

Abro a porta de puxar e adentro o lugar. Surpreendentemente é aconchegante, e muito bem organizado. As delícias posta nas vitrines do balcão está de aparência boa. As mesas têm lugar para quatro pessoas. Me sento em uma delas, não estou afim de pedir nada, apenas quero observar aquelas pessoas conversando sem parar a minha frente. Ainda bem que não vesti a camisa xadreza que havia no meu guarda-roupas para querer "parecer" como eles. Eles se vestem como os jovens da minha cidade, nada de breguice.

Uma menina loira me olha, cochicha com os outros colegas, é um rapaz. Acho que começam a falar de mim, pois me olham e comentam uns com os outros. Sinto vontade de ir embora, mas daria muito na cara, tento me manter firme.

A moça loira levanta-se da mesa e vem em minha direção.

—Posso me sentar? —Ela tem uma aparência de uns dezenove anos, um ano mais nova que eu. Assinto, permitindo-a que tome seu assento. —Você é nova por aqui, não é? —Ah, agora entendo o motivo da especulação entre eles. Sou "carne nova no pedaço"
—Sim, cheguei ontem de Phoenix. Eu a minha mãe estamos morando por perto. —Ela me olha da cabeça aos pés.
—Phoenix é? Vai estranhar a atmosfera de Forest Grove, ainda mais as pessoas. —Ela inclina a boca em minha direção para sussurrar. —Aqui todo mundo sabe da vida de todo mundo. Sabe como é? —Ergue os ombros e sorrio. Em Phoenix não é diferente, já até estou acostumada.
—Não tem muito o que saber sobre mim. —Dou de ombros.
—Qual é o seu nome?
—Claire Connon. Começo as aulas semana que vem na faculdade daqui, vou cursar História. —Ela começa a rir, e consigo notar incredulidade em sua expressão.
—Oh meu Deus, sério? Eu também vou cursar essa faculdade. Ficaremos na mesma sala. Meu nome é Julia. —Ela fica toda animada.

Me alivia um pouco saber que não é uma daquelas pessoas que te conhece só para saber da sua vida e depois te zoar por ser diferente delas.

—Onde você mora?
—Na Fazenda Wood. Estamos em fase de manutenção, mas creio que logo vamos organizar cada tijolo. —Não notei antes de começar a falar, mas depois, só depois de terminar, percebo que o tom de pele da Julia ficara amarelado, e seus lábios curvaram em um perfeito "O".
—Ai... meu.... Deus! —Vi pavor em seus olhos. Aquela reação é tão sinistra que atinge o meu estômago. —Ei galera, ela mora na Fazenda Wood. —Fico sem jeito pelo alarde de Julia. 

Queria pedir para não gritar tanto, porém tarde demais, os olhares foram todos para mim. Um garoto e uma moça que estão com ela, correram para a mesa, se sentam nas cadeiras vazias como se fossem receber a notícia do século.

—Não! Isso é sério? — O Garoto pergunto impactado.
—É... é sim. —Confirmo toda desconsertada. —O que há de errado?
— O que há de errado? —Julia pergunta perplexa. —A Fazenda Wood é só o cenário de vários crimes dignos de filmes hollywoodianos.
—Reza a lenda que todas àqueles que passarem ao menos nos portões, são assassinados de uma forma cruel. —Franzo o cenho olhando para o menino loiro que mais parece o irmão de Julia, pois os traços são idênticos. Sorrio nervosamente, achando aquela história macabra demais.
—O assassino usa galochas e máscara negra. —Diz a outra moça de aparência asiática.
—Pera aí, gente. Isso está mais para lenda urbana do que realidade. Galochas e máscaras? Qual é? Olhem para mim, estou bem, a minha mãe também. —Lembro do barulho que ouvi no banheiro ontem à noite, e a sensação de que alguém estaria me vigiando, mas claro, não comentaria com eles.
—É só questão de tempo, o assassino sempre vem. —Julia tem uma expressão de pesar. Mas dá para ver em seus rostos que nem mesmo eles acreditam nesta história, ou apenas não têm certeza de nada. —Mas não se preocupe, ainda pode ser nossa amiga. Não temos preconceito nenhum. 

Ela abre um sorriso tranquilizador. Os demais concordam com ela. Não sei se é bom ou ruim o seu comentário, mas não me apego a este fato.

Conhecer pessoas diferente até que foi bacana, soube o nome do Patrick e da Lucy. Descobri que Patrick é sim irmão de Julia, que todos nós vamos nos encontrar todos os dias na faculdade. Pedimos cupcakes e continuamos nos conhecendo.

—Bom, mudando esse assunto de Fazenda Wood e tudo mais. Como era morar em Phoenix?

A curiosidade de Julia me faz entender como morar em um lugar como Phoenix me faz sentir. Sou tomada por uma onda boa de nostalgia, o que me faz querer voltar para lá desesperadamente. Aquele lugar representa tudo que sou, e ficar longe é como estar longe de mim mesma.

—Sabe, foi o lugar que eu cresci. Todos os momentos felizes e tristes tinha como cenário as folhagens do jardim verdejante que papai cultivava. Minhas primeiras palavras, meu primeiro caminhar. Onde conquistei grandes coisas, mas também onde perdi a pessoa que eu mais amava na vida. —Todos me olham como se eu recitasse o poema mais bem escrito de todos os tempos. Fico sem graça, meu jeito tímido aparece.
—Isso é lindo, Claire. —Patrick está em um momento contemplativo fora do normal. Desconfio que seja forçação de barra. — Me faz pensar o quanto minha infância foi ferrada! —Todos começaram a gargalhar, o que me fez confirmar as suspeitas. Entro na onda das gargalhas desenfreadas.
—Não, agora falando sério. O que você veio fazer em Forest Grove? —Sinto uma pontada no peito ao lembrar o verdadeiro motivo.
—Meu pai faleceu! Foi comedido por um câncer severo, as coisas se complicaram. Minha mãe assustada com as possíveis lembranças que nossa antiga casa nos traria, resolveu mudar a nossa vida completamente. Vinhemos para cá, porque era o lugar mais barato que encontramos na internet.
—Eu sinto muito. Deve ser difícil perder um dos pais. Lucy também perdeu o dela, mas quando ainda era um bebê, então não se lembra muito bem.
—Julia tá dizendo a verdade. Eu não o conheci, mas ainda assim sinto falta de ter tido um pai na minha vida. É engraçado porque, nunca tivemos a sensação de como é um determinado sentimento, mas mesmo assim temos a necessidade de ter pelo menos experimentado uma única vez. —Assinto com a cabeça, me compadecendo de Lucy. Eu pelo menos cresci com a presença de um pai na minha vida, acho que começo a ter sorte a partir daí.
Por um instante paramos de degustar nosso cupcake para nos depreciar. Eu não estava gostando nada disso, tudo que queria era esquecer, mas pelo jeito, acho que teria de conviver com isto. Encarar o olhar de pena voltado para mim.
—Vamos parar com esse assunto? —Patrick salvando a minha vida. —Estamos quase chorando e não é uma boa ideia. — Concordo plenamente. —Já disse a Claire, meninas, sobre o evento do ano? —Fico com cara daquelas pessoas que são as últimas a saber de uma novidade estrondosa.
—Não, ainda não tivemos tempo.
—É o seguinte, Claire. Todo ano em Forest Grove, acontece uma festa na floresta, para agradecer pela abençoada variedade de flores e árvores que temos aqui.

A careta desdenhosa que ele assume, me faz perceber o quanto o jovens daqui não dão a mínima para costumes bobos da cidade. Que bom, pois eu também não dava a mínima para as festas em homenagem aos imigrantes latinos que lá vivem. Apenas ia para me encontrar com os amigos.

—Mas, não pense que as pessoas andam por aí fantasiados de árvore, porque não é verdade. —Sorrio. —Tem música alta, bebidas e muita droga. —Me remexo na cadeira toda desconfortável.
—Ah não, Patrick, não é a minha.
—Não, não, não. Não se preocupe, é o que rola sempre que os baderneiros aparecem por lá. Mas para nós, os "jovens comportados" —faz aspas com as mãos. —Vamos só curtir um som, conhecer a galera e se quiser beber, não tem problema nenhum.
—Patrick, a Claire vai pensar que somos um bando de maus exemplos. Não Claire, esta festa é onde todos da cidade se reuni, já que é uma cidade pequena. É quando podemos chegar em casa até tarde sem que nossos pais possam falar nada, entende? —Saco na hora qual é o esquema.
—Mas não esqueçam de mencionar que coisas estranhas acontecem nesses dias. —Lucy parece a mais medrosa do grupo, e deixa ressaltar algo bem importante.
—Tipo o quê? —Pergunto toda tensa.
—Lucy, não seja estúpida. Ninguém nunca provou que aquelas mortes foi o cara de galochas. —Julia a repreende revirando os olhos. —Eram as patricinhas vagabundas e drogadas que se afogaram no lago, só isso. —É, eu fico toda tensa de verdade.
—Mas é bem próximo da Fazenda Wood onde Claire mora. Não acha coincidência? —Arregalo os olhos.
Começo a me perguntar como podemos deixar uma cidade tão tranquila, para vir para esta com tanto mistério.
—Essas coisas acontecem em qualquer lugar. —Patrick não se importa nem por um instante.

Não sei se são as melhores pessoas para se fazer amizade, mas por enquanto não estou podendo escolher. Eu precisava me enturmar, fosse quem fosse. Mas também não são as piores pessoas, me fazem sorrir e fizeram com que eu descobrisse um monte de coisas sobre a minha casa e sobre a cidade. Coisas assustadores, confesso, mas pelo menos não fico leiga em relação ao tal assassino de galochas.

Chego em casa tão tonta que nem sei tomar o meu rumo direito. Encontro o carro do xerife na porta de casa. Ele está conversando com a minha mãe como de manhã. Mas ao me aproximar, aquele homem da lei, loiro e de olhos azuis — um belo figurão — só falta babar ao olhar para a minha mãe. Sei o quanto ela é linda, e muito nova aparentemente para a idade, mas qual é? Ela acabou de perder o marido!

—Mamãe? —Eles param de conversar só para prestar atenção na minha chegada.
—Que bom que chegou, Claire, já estava preocupada. —Olho desconfiado para um, depois para o outro.
—Por isso chamou o xerife? Não acha que está exagerando?
—Não, não mocinha. Estou apenas checando, para ver se está tudo bem pelas redondezas. —aquela desculpa não me convence.
—E está? —O quarentão fica todo sem jeito com a minha pergunta.
—Sim, sim, está sim. Não há nenhum problema. —Ele olha para mamãe todo sem graça. Só não começo a rir para não deixá-lo ainda mais tímido. —Bom, eu vou indo. Qualquer coisa é só me ligar através do número que anotei. —mamãe assente e eu me pergunto o quanto o cara é rápido. —tenham uma ótima noite. —Agradecemos e ele toma o seu rumo.

Adentro a casa louca para beber água, estou sedenta ainda mais por causa daquele tanto de açúcar que consumi com o trio de esquisitos. Ou será que a esquisita sou eu? Ainda não sei.
Mamãe está toda desconfiada ainda, como uma criança depois de uma travessura.

—Qual é a do xerife? —mamãe me olha tão rápido que parece que perguntei coisa de outro mundo.
Bebo um gole da minha água que logo mata a minha sede.
—Ah não invente coisas, Claire. Ele só estava preocupado. Disse que coisas estranhas aconteceram aqui, e ver duas mulheres indefesas como nós sozinhas é preocupante. —Coloco o copo dentro da pia para lavar.
—Então ele decidiu cuidar da gente? A que ponto, mamãe? — A encaro, cruzando os braços na frente do peito, tentando tirar uma com a cara dela. Eu não quero aborrecê-la, só zoar, mas sabendo como senhora Connon é, se irritaria fácil, fácil.
—Chega desse assunto? —Passo um zíper imaginário na boca prendendo o riso. Sei o quanto ela achou o coroa um gato, assim como ele a achou uma gata.
—Não está mais aqui quem perguntou. Mas é verdade, parece que assassinatos aconteceram por aqui e ao que parece é que todo mundo tem medo do tal homem de galochas. —Ela dar um tapinha no ar, de novo, encarando como se tudo fosse uma bobagem.
—Deve ser uma dessas lendas urbanas malucas que todo interior tem.
—Já parou pra pensar que pode ser real? Existem corpos para provar. Eu não contei para as pessoas que conheci hoje à tarde, mas eu ouvi um barulho quando estava tomando banho e foi bem real.
—Crimes passionais também existem e não é nada incomum. O mito que criaram de um cara que nem sabem quem é, sim. Um animal, Claire. Era uma animal que você ouviu, nada demais! Por favor, pare com este assunto de novo. —Não entendo a irritação dela, às vezes eu até entendo, mas não seria pior ficar ignorando? Levanto as mãos em rendição, ela suspira fundo. —Conheceu alguém?
—Sim, um trio, vão estudar na mesma faculdade. Uma delas vai cursar o mesmo curso que eu. Parecem legais. —Dou de ombros.
—Viu só? Eu disse que daria tudo certo nossa vinda pra cá. Não há o que se preocupar.
Para mamãe está tudo certo. Mas não sei, tudo ainda parece não se encaixar.

Vou para o meu quarto, visto roupas de dormir, mas ainda não pego no sono ao deitar na minha cama. Prefiro ler um livro enquanto Gary Jules suaviza os meus ouvidos no fone. Amanhã o trabalho continuava nos esperando. 











Capítulo 3 
Visita surpresa



O aspirador de pó retira toda a poeira depositada há anos no sofá velho. É ainda utilizável por este motivo não o jogo fora. Sempre gostei de reutilizar objetos que ninguém quer mais e transformá-lo em uma obra prima. Até que deu certo! O vermelho opaco ganha uma cor vívida, e os bordados azul e amarelo é como se havia acabado de bordar.

Faço uma decoração rápida no meu novo espaço no celeiro. Levo uma estante e deposito os meus livros favoritos em cada compartimento. Alinho uma mesa de centro entre os dois sofás. No chão um tapete negro. É, eu sei que as cores não combinam, mas não dou a mínima. Prego cortinas de cetim no vão da janela, para evitar um pouco o vento forte ou até mesmo o sol do dia perturbar as minhas leituras. O barulho do martelo arremetendo contra a cabeça do prego chama atenção de minha mãe, que estava terminando de recolher as folhagens secas que espalhou pelo quintal.

—Está tudo bem? —Ela grita para que eu pudesse escutar.
—Sim, está sim. Já estou terminando por aqui. —Ela assente, lançando um sorriso para mim.

Para algumas pessoas pode até ser a tarefa mais horrível a se fazer, mas na minha opinião a melhor coisa de se mudar é poder organizar o seu espaço do jeito que mais combina com você. Em Phoenix minhas coisas ficavam apenas no meu quarto. Se eu precisasse de privacidade, era sempre de portas fechadas, não tinha um lugar amplo só meu, onde eu pudesse olhar aquela vista espetacular. Acho que começo a encontrar as vantagens de morar nesta fazenda.

Ouço as botas de mamãe batucando os pisos amadeirados das escadas para subir até o segundo andar, onde estou terminando de colocar o último livro dentro do armário. Está com um porta-retrato na mão, presumo que queira me mostrar alguma coisa.

—Que trabalho lindo fez por aqui! —Seus olhos percorrem por todo o espaço. Noto satisfação em seu tom e em sua expressão.
—Queria deixá-lo o mais confortável possível. Não é todo dia que se encontrar algo como este para aproveitamento.
—E como peça de decoração, por que não coloca o último artefato faltante? —Ela estende o porta-retrato e noto que há uma foto minha, de papai e ela. A nossa família perfeita. Corro para pegá-la.
—Ai meu Deus! Eu não via esta foto há anos!

Era uma foto que tiramos em uma viagem ao Canadá. Estava tão frio que congelava os dedos dos pés mesmo com botas grosseiras de couro. Nota-se pelo visão nevasca ao fundo, os casados pesados cor de rosa em mim e em papai e mamãe azul. A toca na minha cabeça apertava muito e eu mal conseguia ouvir, mas estávamos tão felizes por, finalmente ter tido a oportunidade de viajarmos todos juntos, que não me importei, apenas aproveitei ao máximo. Eu tinha uns quatorze anos e a vida parecia tão longínqua que era como se nunca existisse a dor.

—Seu pai! Ele estava guardando nas coisas dele, achei quando as levei para doação. —Sinto um sentimento ruim dentro de mim, me esforço muito para engolir o choro.
—Eu adoro essa foto, mamãe. —Coloco o porta-retrato contra o peito depois de admirar a foto. —São tantas recordações.
—Era o dia do seu aniversário. Lembra o quanto ele adorava preparar surpresas pra você nesses dias? — Me sento no braço do sofá, mamãe senta ao meu lado. Assinto com a cabeça, nunca vou me esquecer do quanto Jonny Connon foi o melhor pai do mundo. —Ele mesmo gostava de preparar o bolo. Ficava o dia inteiro na cozinha fazendo a maior bagunça, que no final das contas, a arrumação, ficava por minha conta. Ele não sabia nem cozinhar um arroz, mas lia nos livros de receia que pegava nas minhas coisas, dizendo que não devia ser tão difícil preparar um bolo. Não sei o que ele aprontava, mas até que dava certo. —As lembranças eram divertidas, mas a falta que elas nos remete é completamente dolorosa.
—Ele levava na minha cama, como café da manhã, e me pedia para escolher qualquer lugar que eu quisesse visitar. Escolhi o Canadá, porque tinha sido o cenário de um filme muito bom que eu gostava na infância.
—Se chamava Happy Gilmore. —Começo a gargalhar por lembrar do quanto era idiota aquele filme, mas eu adorava. —Seu pai ficava igual um bobo assistindo com você alinhada no peito dele.
De repente tudo fica em silencio, começamos a refletir sobre a importância daquele homem em nossas vidas e o quanto tudo ficara tão sem graça sem ele.
—Eu sinto tanta...a falta dele.

A voz de mamãe embarga, olho para ela, seus olhos estão cheio de lágrimas. Aperta o meu coração, pois não posso fazer nada a respeito.

—Eu não aguento essa saudade, Claire. Parece que vai destruindo tudo aqui dentro. Eu não podia continuar lá, entende? —Também sinto vontade de chorar, meu coração parece pequeno, o ar me falta.

É claro que entendo que ela não podia continuar lá, mamãe é frágil demais para lidar com a situação. Não posso dizer que sou forte, mas agora consigo compreender melhor essa ânsia de ir embora o mais rápido possível. Sei que não adianta muita coisa, mas ao menos ameniza.

—Eu sei, mamãe, eu sei. —Puxo-a para um abraço, a amparo com muito carinho. A dor dela é a minha, estamos compartilhando o mesmo sentimentos e não sabemos direito o que fazer com eles. Nada faz sentido, tudo é tão recente, que a sensação que dá que nunca mais irá deixar de existir. —Vamos recomeçar, a senhora mesma disse. Vai ser difícil, mas conseguiremos passar por mais esta. —Uma lágrima minha pinga em seu ombro, no casaco de couro que ela está vestida.
—Você sempre foi tão mais forte que eu. Me sinto perdida sem ele. É o mesmo que perder o meu chão, o meu mundo inteiro. —Seguro o seu rosto, olho bem para os seus olhos chorosas esverdeados.
—Eu estou aqui. Vamos conseguir, eu sei que vamos, mamãe. —Ela balança a cabeça rapidamente, um pouco assustada, mas acho que consigo confortá-la.

Nos abraçamos mais uma vez com força. Tudo que desejo agora que passamos pelos momentos difíceis de cabeça erguida.

***

Os dias passaram como um conto ligeiro, nunca as horas foram tão corrente como estas de ultimamente. Porém há o seu lado bom, as aulas começariam em algumas horas e estava animadíssima para conhecer tudo. Logo de cara já me impressiono com o visual do prédio. Acho que fico alguns minutos dentro da pick up tentando imaginar como eu não me perderia dentro daquele imenso prédio. Mal vejo a hora de conhecê-lo por dentro.

Desligo o carro, destravo o cinto e pego minhas coisas no banco do passageiro ao meu lado. O caminho que faço até a entrada é trôpego e receoso. Não sei bem o que me espera, na verdade eu nunca tive problemas em me socializar, porém Forest Grove tem sido uma enxurrada de momentos fora da minha realidade. Não conheço as pessoas e definitivamente elas também não me conhecem. Não sei se posso confiar ou não.

Adentro a Pacific University pelas portas da frente, de cabeça erguida. Todos os meus receios e dúvidas ficam do lado de fora, e não permito que me acompanhe. Esta é uma nova etapa que enfrentarei da minha vida, e não tem espaço para fracassos. No final das contas, tudo que importa é a minha carreira, ser uma grande estudante de História e atuar na área com honrarias.

—Claire! Olha só ela ali. —Meu pescoço gira em direção a voz animada que me chama. É Patrick ao lado de Julia e Lucy.

Eles veem em minha direção quase correndo, é como me sentir acolhida em um lugar desconhecido.

—Precisamos mostrar as instalações. Tenho certeza que vai adorar, principalmente o salão de festas. —isso mais parece o que a Julia gosta, do que propriamente eu.
—Não, Julia, precisamos mostrar a ela as pessoas que definitivamente ela deve ficar longe. É suicídio social. —Lucy entra no meio da conversa, fazendo careta de nojo. Me imagino do ensino médio de novo, onde a galera cool são as mais importantes. Fico me perguntando o que na verdade esse trio de malucos esperam da vida a final, mas são pessoas legais e eu não estava podendo escolher. —Tá vendo aquela garota ali?

Aponta para uma menina que espirra sem parar no canto da parede, ela parece assustada e desconfiada que os seu problema, — seja ele qual for —, chame atenção. Fico com pena dela.

—Se chama Gertrudy, estuda medicina na segunda torre, é veterana. Ela é legal, mas ninguém suporta ficar ao lado dela por muito tempo. A alergia não passa nunca e atrapalha a aula. Fique longe dela. —Avisa terminantemente.

Acho aquelas recomendação infantil e injusta, não concordo, mas também não falo nada. Aquele velho ditado que sempre menciona, faz todo o sentido agora. "Conhecemos as pessoas quando elas abrem a boca. "

—Isso mesmo! —Apoia Julia. —Aquele outra ali, vê? —Aponta para um rapaz, muito bem apessoado, de cabelos loiros e um porte masculino bem bonito. Ele usa calças jeans e uma camiseta polo azul. O clima ainda está frio e eu me pergunto onde está o seu agasalho. —Gato, não é? Mas eu já estou de olho, tire os olhos dele. —Sorrio de lado como se falasse " é todo seu"
—Vem Woodie, não liga para o que essas meninas idiotas dizem. Vamos conhecer o prédio. —Agora Patrick fala a minha língua, conhecer as instalações é tudo que quero, mas pera aí...
Woodie? —Ele dá uma risada.
—Você mora na fazenda mais famosa dessas bandas, acaba que vira uma lenda também. —Balanço a cabeça incrédula, mas não digo para parar de me chamar assim, até que gosto. —Anda, Woodie, vem.

Sou puxada, até as escadarias. Lá em cima é tão lindo que meus olhos brilham. Há um corredor imenso onde as salas preenchem lado a lado até o final do corredor. O piso é tão brilhante que nossas faces é refletido nele, como um espelho. Do outro lado há uma sala que posso jurar que é a biblioteca. Óbvio que era, as estantes de livros estão todas repletas.

—Ai meu Deus! —Não há como não se surpreender, vislumbrar, é um achado. A minha fonte de conhecimento, estou louca para começar as minhas aulas o mais rápido possível.
—Gostou, não é? Eu sabia!

Dou um passo à frente, com o proposito de entrar por aquelas portas, mas não sei bem, acho que é a emoção. Meus pés não me obedecem, eles tropeçam um no outro, me desequilibrando. Vou ao chão como uma idiota no primeiro grau. Meus livros e fichário se espatifam no chão como abobora madura. Tento capturar tudo, para só depois me levantar, mas o tilintar de sapatos arremetendo contra o piso bem limpo, me paralisa por completo. É tão alto que ensurdece, nunca vi alguém caminhar tão depressa e com tanto escândalo. Procuro o som o mais rápido que posso. O que encontro é um homem, de aproximadamente trinta e seis. Ele anda com elegância, apesar do barulho. Seu rosto era bem jovem, mas ele tinha uma postura que diferia dos demais alunos. Não parecia ser aluno. E não é somente por causa dos óculos de grau, que lhe dava uma sofisticação a mais, e nem os cabelos compridos negros, cheios e bem cuidados. Me sinto na Europa, transitando pelos europeus em dias de inverno. As calças de alfaiataria negra preenche bem suas coxas bem torneadas. Ele usa uma camisa cinza com gravata e um colete por cima. Definitivamente não era um aluno.

Não dá para levantar, estou presa ao chão. As pessoas ao redor estão tentando me falar alguma coisa, eu sei, mas não ouço absolutamente nada. Definitivamente estou aos pés daquele homem.

Fico sem ar no exato momento em que ele se agacha diante de mim, ainda não entendo o motivo, acho que está recolhendo as minhas coisas, mas eu não consigo desgrudar os meus olhos do dele. Meu cérebro manda mensagens de comando, mas não ouço nenhum. Ele tem um rosto angelical, mas ao mesmo tempo muito duro. Não esboça nenhuma expressão, é completamente nula. Os olhos negros e austero me encaram com frieza, sinto o meu peito comprimir. É como se eu fizesse algo de errado, mas não sabia o que era. Os lábios carnudos abrem são rubros como sangue. Parece uma fruta fresca saborosa. Sei que são, um homem como ele não pode ser menos que apetitoso. 

Ele me entrega os meus livros. Pego rapidamente, não ouço nenhum milimetro da sua voz, também não consigo encontrar nenhum resquício de boa vontade da parte dele. Seu jeito é rude, e fazem os pelos nos meus braços se arrepiarem, mas não é no bom sentido.

—O...—Tento abrir a boca para agradecê-lo, mas ele dá o fora dali mais rápido do que um raio. —Obrigada. —Acho que a gratidão fica comigo mesma.

Patrick estende a mão para mim, para que eu a pegasse para levantar. Me levanto finalmente daquele chão gelado.

—Se chama Michael, Michael Jackson. É o nosso professor, Claire. —Julia anuncia tão desanimada que acabo me convencendo que há algo de errado com esse professor. —É um gato, mas é um babaca. —Ela estala os dentes com a língua, balançando a cabeça.
—Que maravilha! —Meu tom sai mais monótomo do que eu gostaria, mas desanimado como deveria ser.

***

Ouço a voz de Michael pela primeira vez naquele dia. Ele ministra a aula com tanto conhecimento que me impressiona. Era uma assunto sobre Hittle e sua revolta contra os judeus no Holocausto. A teoria dele sobre a antiga paixão judia de Hittle ter destoado tudo. Mas não pense que fala sobre o despeito e a vingança do ditador mais conhecido do mundo. Ele presume, que o fora que Hittle ganhou, fora por telefone. Aqueles antigos de corda que eram necessário puxar e soltar para completar as discagens —o que devia dá um tédio monstruoso.
Aquela voz! Suave, mas ao mesmo tempo rouca e discreta. Bastante culta e misteriosa.

—Suponhamos que ela tenha lhe tido que não precisava de um homem como ele. Puf, presidente? —Ele desdenha como se fosse a mulher dizendo. —"Qual é? Eu sou uma mulher e sou uma historiadora. As minhas teorias podem revolucionar o mundo e somente nós os judeus, tem essa capacidade única de revolucionar o mundo com apenas um pensamento. Não preciso de homens que disponibiliza babás para limpar o meu traseiro logo pela manhã, se posso simplesmente viajar o mundo fazendo descobertas?" —Ele arregala os olhos e aperta a boca, como se o fora atingisse a ele. —É, não é fácil ganhar um fora de uma mulher, ainda mais quando temos uma mente perturbada quanto a de Hittler. Muito menos quando ela simplesmente, não pode ser páreo para nós. 
Fiquem espertos, garotos. As mulheres fazem com que começamos uma guerra, ou dominar o mundo. Isso vai depender.

Não consigo tirar os meus olhos dele. Graças a Deus que não estou em uma situação onde olhar seja algo constrangedor. Todos estão prestando atenção, ouvindo-o falar, eu sou apenas mais uma e gosto disto. O jeito como caminha pela sala, de um canto a outro. Às vezes coça a nuca quando pensa em algo de repente. Sorrio de mim mesma, por ser assim tão boba, mas não me importo. Ele é tão diferente dentro da sala, tão quanto fora. É bem mais à vontade e mesmo que seja pouco, consigo encontrar expressões. Mas quando está fora, parece mais um estranho intocável que não atura ninguém ousar a se meter em seu caminho. É gelado e impenetrável.
Quando chego em casa a primeira coisa que mamãe me pergunta é como foi o primeiro dia de aula. Tagarelo sem parar do quanto foi magnifico tudo. As salas, a biblioteca. Recrimino Julia e os amigos dela, mas não dou muitos detalhes.

—E o professor. Ele é tão lindo, mamãe! —Senhora Connon me olha com uma rapidez fora do comum, me sinto uma criminosa.
—Uau! Alguém já andou mexendo com o seu coraçãozinho? Que milagre! —Me sinto uma frigida pelo comentário de mamãe, mas eu até entendo. É difícil a beça um cara me impactar de cara. Professor Jackson me impressionou muito.
—Ele é diferente. Não sei, tem algo de estranho no olhar dele. Não estou apaixonada, não se preocupe. Ele não parece gostar das pessoas, é isolado demais pra isso.
—Nossa que horror! Um professor isolado?
—Não, nas aulas ele é completamente diferente, mas nos corredores, ele falta fugir das pessoas a base da corrida. É como se todas elas tivesse uma doença que irá contagiá-lo. São duas personalidades completamente diferentes.
—Não estou gostando nada disso, Claire. Fique longe dele. Pessoas assim esconde segredos terríveis. —gargalho pelo comentário paranoico de mamãe.
—Ah qual é? É só o jeito dele. Vou guardar as minhas coisas e já venho para o jantar. —deixo o assunto de lado e vou para o celeiro.

Percebo que algumas coisas estão fora do lugar, principalmente o porta-retrato que mamãe me deu. Franzo o cenho, mas logo me tranquilizo com a possibilidade dela ter ido olhar de novo.
Ouço passos pesados e firmes adentrando o celeiro. Não consigo ver nada, pois está escuro. Ultimamente ando ouvindo muitos passos, acho que começo a ficar craque em distingui-los. Eles estão bem mais próximos agora e bem nas escadarias. Não me parece nenhum pouco com a leveza dos saltos de mamãe.

—Mamãe? É você?

Sinto um arrepio sobre humano quando não obtenho nenhuma resposta. Porém os passos cessam, como se parasse de caminhar. Se realmente fosse a minha mãe, ela teria respondido. Por que não me responde? Uma sensação horrível de ser invadia me toma, sinto o meu peito palpitar, minhas mãos suam.

—Mamãe? —Os passos voltam a caminhar, desta vez com mais rapidez.

Me lembro sobre a história de Julia e os demais. Sobre o xerife comunicando com a minha mãe. E toda aquela história sobre a nossa fazenda, que ignoramos, fazer tanto sentido que o pavor é inevitável. Meu Deus do céu, eu estava perdida!

Dou dois passos à frente, chegando no corre-mão das escadas. Novamente os passos cessam, como se estivessem tão cautelosos quanto eu. Eles começam a batucar com mais força e rapidamente no piso, como se estivesse correndo e se afastando cada vez mais dali. A pessoa estava fugindo, sem se apresentar. Não sei o que foi, mas finalmente consigo fazer com que o ar flua nos meus pulmões. O medo começa a alivia os meus músculos. Mas não consigo ficar ali sozinha nem por mais um segundo se quer. Alguém havia invadido a minha casa, o meu celeiro. Boa gente não era, e não tinha boas intenções. Me lembro do homem de galochas.









Capítulo 4  

Alma sombria, coração ferido




Desço as escadas em uma velocidade impressionante, corro o mais rápido que posso até em casa. Minhas pernas estão pesadas, a falta de ar começa a me fadigar, minha cabeça gira. Sinto tanto medo que não raciocino. Abro a porta em um empurrão.

—Mãe! —Meu grito é tão alto que minha mãe desce as escadas às pressas, abandonando o seu quarto para me socorrer. Pela sua expressão, aposto que desconfia que algo muito grave acontecera comigo, não posso discordar.
—O que foi, Claire? O que aconteceu com você? —Mamãe segura nos meus ombros, verifica se não há nada de errado fisicamente comigo.
—É ele! Ele estava lá, mamãe. Eu disse!
—Quem? Quem estava lá? Pelo amor de Deus, do que você está falando? Está tremendo. —Ela esfrega as minhas mãos, eu não conseguia me manter instável.

Começo a pensar o que aconteceria se aquele homem terminasse de subir as escadas, me encontrando sozinha e indefesa. Só de imaginar aquele homem mascarado frente a frente comigo, o meu estômago começa a revirar de pavor.

—Eu ouvi passos. Eram passos firmes. Julia, Patrick e Lucy disse que ele usa galochas. Se o assassino esteve aqui agora pouco, tentando nos matar? —As lágrimas nos meus olhos escorrem. Eu nunca senti tanto medo em toda a minha vida. —Mamãe respira fundo, segura o meu rosto na tentativa de me acalmar.
—Não era ninguém, Claire. Deve ter sido o vento. —Fechos os olhos com força, não consigo entender essa forma que mamãe encontrou para fugir da realidade.
—Eu ouvi! —Grito, me afastando dos seus abraços rudemente. —Eu chamei por você, falei seu nome por diversas vezes e não obtive resposta. —Olho no fundo dos olhos dela, tentando desesperadamente que me ouvisse. —Eu também o ouvi quando estava tomando banho. Aquela presença, mamãe... Aquilo foi assustador. —Só de lembrar volto a me arrepiar. 

A atmosfera gelada domina o meu corpo mais uma vez. É como a morte. 

—Você pode até querer negar, mas se esse assassino voltar ele pode facilmente nos matar. Matar as duas dentro da casa que você escolheu para recomeçar!

Meus nervos estão à flor da pele. Tudo que quero agora é sair correndo, mas eu não podia deixá-la sozinha, não com esse monstro à solta.

—Tudo bem, Claire. —Ela segura minha mão apertando como se quisesse conter todo o tremor. —Eu acredito em você. Pode ter sido alguém com curiosidade. Disse que ele saiu correndo quando se aproximou. Se fosse um assassino teria feito alguma coisa. Meu Deus do céu, ainda bem que não aconteceu nada. —Vejo a aflição em seus olhos pela primeira vez depois de toda esta história. —Vamos comprar cercas mais fortes, colocar grades nas portas. Ficaremos seguras, eu prometo, tudo bem? —Assinto, encontrando um pouco de paz em sua voz. —Não vai acontecer nada.

Ela me abraça forte, atenuando toda aquele sentimento ruim. Me sinto segura em seus braços. É como uma criança depois de ter caído e machucado. Aquelas palavras de que tudo iria ficar bem, parece verdadeiro, mesmo sabendo que não é verdade.

Ela pede para que eu vá para o meu quarto, prepara um chá quente para acalmar os meus nervos. Funciona, pois volto ao meu normal, apesar de não conseguir parar de pensar sobre o ocorrido nem por um só segundo.
Ela cobre o meu corpo com o cobertor até o pescoço. Recolhe a xícara de chá, começo a ficar com sono.

—Trancou bem as portas? —Pergunto ainda me sentindo preocupada.
—Sim, não se preocupe. Dei uma olhada lá fora, amanhã converso com o xerife. Vamos ficar bem. Agora dorme um pouco. —Assinto.
—Obrigada, mamãe. —O sorriso tranquilizador dela termina de me acalmar.
—Tenha bons sonhos, querida. —Recebo um beijo na minha testa e adormeço.

***

Me encontro com Julia, Patrick e Lucy na entrada da faculdade. Eles estão animados com a festa que se daria nesta noite, já eu não paro de pensar no que me aconteceu no celeiro. Não acho que seja um invasor como mamãe disse, ou até possa ser um invasor sim, mas com intenções bem ruins. Não me sinto confortável de comentar nada com eles. A ideia de ter toda atenção voltada para mim e para aquele assunto não me agrada em nada. Já basta Patrick me chamando de Woodie o tempo todo. Não queria um interrogatório, ou comentários que me traria mais pavor do que soluções. Pois tenho certeza que iria me encher de histórias macabras e o quão rápido eu deva ir embora daquele lugar.

—E aí, Claire? Está animada? —Lucy pergunta me arrancando do devaneio. Mal ouvi o assunto direito, pois ele nem me interessa.
—Ah, claro. —Minto. Às vezes fingir que concorda, lhe impede de ter que continuar discutindo.

Não me entendam mal, eu até gosto deles, mas não os conheço direito. Não sei se posso confiar, ou não. Além do mais, o que os diverte nem chega perto do que me diverte. Sou uma mulher de vinte e três anos, careta. O que me faz feliz tem a ver com chás no fim da tarde, uma chuva regando os campos, me fazendo dormir. Livro na mão e cobertor. Festas e barulhos, somente no fone de ouvido.

—Tá tudo bem? —Julia olha nos meus olhos, como se procurasse algo lá dentro. Me empertigo toda, me sentindo péssima por ter deixado transparecer.
—Está tudo ótimo. Eu estou bem. Nos encontramos lá dentro.

Arrumo a alça da bolsa direto no meu ombro. Ergo os livros no meu braço e caminho até a sala de aula. Professor Michael está bem calado hoje, apenas escreve anotações básicas na lousa e pede para que copiemos. São assuntos que iríamos estudar ao longo do semestre, mas para a falar a verdade eu estou tão desanimada quanto ele.

O antissocial e discreto professor, está sentado agora na sua mesa lendo algo. O observo concentrado em sua leitura, porém de vez quando me olha discretamente. Aquele olhar com foco, como se me notasse dentre de todos naquela sala. Quando percebe que noto, ele desvia para o livro de novo. Mas é só eu me distrair, que estava lá ele, prestando atenção em mim novamente. Não, não era algum tipo de paquera, ou algo parecido. Ele me analisa, como se me conhecesse, ou quisesse se lembrar. A forma como ele franze o cenho, e morde os cantos da boca ao olhar para mim.

No final da aula, professor Michael lista vários títulos para que pudéssemos pegar na biblioteca para o assunto do primeiro trabalho do ano. Estou tão ansiosa para me ocupar que assim quando a aula termina corro imediatamente para a biblioteca. Aquele lugar por dentro é ainda mais encantador. Não consigo imaginar como uma cidade pequena conseguiu construir algo como aquilo sendo que não é fácil encontrar nem em cidade grande. Não me interessa, só quero conhecer cada livro anotado na minha agenda.

Passo no balcão para poder registar os livros que peguei e adivinhe só? Michael estava como atendente, todo à vontade de pés em cima da mesa, e livro na mão. Ele foi para lá depois da aula. Acho que eu não sou a única que estava ansiosa para estar na biblioteca. Nem ao menos se alimentou antes, mas estava lá, como se fosse o dono do mundo. Ele é um pouco como eu, solitário e antipático. Não que eu seja antipática, mas ele sim é, e muito.

—Desculpa, eu... —Gaguejo miseravelmente. —Estava esperando a atendente.
—E não posso atendê-la por quê? Por que sou homem? Esperava uma velha senhora, sem vida própria? —Nego com a cabeça. Aquele olhar me intimida, me deixa desconcertada.
—Não, não é o que eu quis dizer... é. Você é o professor. —Ele dar de ombros, não faz a mínima diferença para ele.
—Quando não se tem muitos funcionários, os professores fazem o serviço dos faxineiros, é a coisa mais normal do mundo por aqui. Vai se preparando quando for lecionar, e ter que limpar a bunda dos alunos quando forem ao toalete. — Faço careta para ele. Sua insatisfação é fora de hora, um tanto retrogreda. Coloca o livro de lado e retira os pés do balcão.

O jeito que permanece me olhando é incômodo, preciso que pare de me encarar com tanta insistência. Pega os meus livros nas mãos e os registra cada um.

—Obrigada por me ajudar no corredor ontem. Não tive tempo de agradecer. —Na verdade, se ele não tivesse praticamente saído correndo sem me dar a chance de agradecer teria sido bem mais fácil.

Dar de ombros mais uma vez. Ele não liga para nada e nem para ninguém, a não ser para ele mesmo.

—Não me importo. —É curto, grosso, e mal educado. Fecho a cara para ele, pegos os meus livros e vou embora.

Passo pelos meus colegas quase correndo ao cruzar a saída. Queria chegar em casa o mais rápido possível. Esses dias estavam sendo tão loucos e não tenho tempo nem de respirar.

—Ei, ei, espera! — Não percebo que estavam me esperando, eu nem ao menos os vi ali.
—Desculpa. —Recupero o fôlego. Tenho certeza que me acham uma maluca, toda descabela correndo daquele jeito com livros nas mãos. —Não notei que estavam aí.
—A festa começa às oito, quer que te buscamos. —Patrick é tão gentil comigo. Eles são todos gentis e atenciosos. Percebo o quanto querem que eu me sinta acolhida.
—Não precisa, eu vou de carro. Às oito, não é? Estarei lá. Agora preciso ir. —Me despeço e vou embora.

Não sei porque a grosseria do meu professor me afeta tanto, porém não estou a fim de descobrir. Ele é um cara muito azedo e tem experiência em arrogância, nas aulas de babaca ele não faltou nenhuma. Grunho de raiva.
O carro do xerife está estacionado logo na entrada da fazenda. Que bom! Mamãe avisou a ele sobre a pessoa que invadiu o celeiro. Sinto um pouco de alívio diante de tudo aquilo.

—Claire, querida, venha até aqui. —Deixo minhas coisas dentro do carro e vou até lá, depois de desligá-lo.

Xerife Graham assume uma postura altiva e muito séria. Seu olhar é bem firme, e penetrado, acho que nunca vi uma pessoa agir assim com tanta seriedade no ambiente de trabalho. Ah é! Michael Jackson , ele também é bem "focado". Não sei, não parece em nada com aquele anfitrião que encontramos quando chegamos.

—Ela vai saber contar melhor.
—Muito bem. Diga o que viu, Claire? —Relembrar aquele quase ataque é muito incômodo, porém respiro fundo e começo a falar:
—Eu não vi ninguém, não sei quem era o que poderia ser. Mas eu ouvi os passos. Ele chegou bem perto de mim, mas quando eu insisti em me apresentar ele saiu correndo. Ouvi algumas coisas indo ao chão quando ele passou feito um raio. Olha eu sei o que parece, e que eu estive diante de um perigo, mas por favor, não me diga que seja o cara de galochas? —Pela primeira vez sua expressão atenua. O pesar que tinge seus olhos é como a confirmação do caos.
—Estaremos de olho. Não vamos deixá-las sozinhas durante à noite. Já convoquei uma equipe para a ronda por estas bandas. —Ele dar dois passos em direção a mim e mamãe. Segura no ombro dela e no meu também, ao mesmo tempo. —Olha, Claire, não deixaremos que ninguém faça nenhum mal contra vocês. Podem contar comigo. —O jeito que olha para minha mãe no final, é bem claro. Ele tem intenções, por isso faz tanta questão assim de "cuidar" de nós duas. Um xerife comum, não mostraria tanto empenho assim, mesmo sendo o seu dever.
—Obrigada, Xerife. —Meu sorriso é sem graça e cheio de desconfiança.

Vou para dentro de casa, sem falar mais nada. Preciso de um banho, de almoçar. Não tenho fome, parece que a angustia dos problemas é como bloqueador no meu estômago.

Ligo o chuveiro depois de despida. Queria me lembrar qual é a sensação de privacidade, enquanto se toma um banho tranquila, no banheiro da sua casa, sem sentir aquela paranoia irritante de ter alguém lhe vigiando. Acho que demoraria muito para recuperar. O banho é rápido, mas de grande valia.
Visto calças jeans apertada e um suéter vermelho, colado ao corpo.

—Viu só? Jack irá nos ajudar. —mamãe entra no meu quarto enquanto estou peteando os meus cabelos. Chamar o xerife pelo nome soa mais íntimo do que o normal. Paro de petear os cabelos só para olhar para ela
—Mamãe o que tá rolando entre vocês? —Mamãe se aborrece com a minha pergunta, eu até entendo, mas não dá mais para ignorar. —Não adianta mentir porque está bem claro o interesse dele. Aconteceu alguma coisa?
—Jack é só um cara legal que está tentando nos ajudar, não há nada de romântico nisso, Claire. Chegamos há duas semanas, eu perdi o meu marido tem poucos meses. Acha mesmo que estou à procura de marido? —Ela se defende como se quisesse convencer a si mesma. Balanço a cabeça.
—Se ele tirar esse cara daqui é o que vale pra mim. —Suspiro. —Tem uma festa na cidade, mas nem sei se estou com ânimo. Prefiro começar a ler o livro que aquele professor desgraçado indicou. —Quando vi já proferi palavras de injúria para o ditador acadêmico.
—Nossa! Você nunca se chateou com nenhum professor, o que houve? —Bufo com raiva. Largo o pente para qualquer canto e me sento na cama. Mamãe está parada na minha frente com a mão na cintura.
—Não é nada, é só que ele... —Tento encontrar um adjetivo que lhe caia bem. —Ele tem um ar de arrogância, é impetuoso, como se fosse o dono do mundo. Pra você ver como tudo nessa cidade é novo pra mim.
—Meu Deus! —Ela sorri incrédula. —Você vai acabar se acostumando, Claire, vai ver. E claro que você vai à esta festa. Não vou deixá-la trancada no quarto tendo milhões de pensamentos ruins. É jovem, precisa se distrair.
—Mamãe! —Reclamo. —Será que não dá pra ser super protetora uma única vez? —Ela olha bem para mim, como se eu tivesse falando uma grande besteira, concordo.
—Estou sendo. Ir àquela festa irá protegê-la de entrar em depressão. Não quero você assustada o tempo todo. Vai ser bom, vai ver. Agora desce, vamos almoçar.

***

Cogitei tanto a possibilidade de ir ou não ir à festa da árvore, que o relógio começava a marcar nove e meia, e eu ainda estou decidindo que roupa usar. Mas acho que mamãe está certa. Não adianta ficar trancada em casa, a vida ainda continua lá fora, e meus amigos estão me esperando.

Opto por uma calça jeans preta e botas de cano longo. A jaqueta de couro marrom me aquece do frio que faz lá fora. Forest Grove é bem gelada, e por mais que eu gostasse de frio, ainda assim conseguia me perturbar. Minhas orelhas estão congeladas, tive que usar luva para aquecer as minhas mãos.

Caminho no meio daquela floresta um pouco deslocada. O som está alto, tocando um eletrônico de balada. As pessoas conversam alto, riam, bebiam. Me sinto um peixe fora d'água. Pensei que fosse uma festa toda para população, mas só os jovens que comparecem.
Encontro Julia conversando com um garoto. Era o mesmo que disse na faculdade que estava de olho. É engraçado porque quando me nota vem correndo até mim, sem nenhuma cerimônia. É, acho que eles são ótimo amigos.

—Que bom que você veio! Patrick apostou comigo dizendo que não viria. Ele não botou fé na sua "animação". —Sorrio sem jeito.
—Eu não viria mesmo, não está sendo muito fácil ultimamente. Mas preferi vir.
—É a saudade do seu pai? —Confirmo com a cabeça, mesmo sabendo que não é só isso.
—Lugar novo, sabe como é?
—Sei sim, mas divirta-se um pouco. Bebe alguma coisa. É festa da árvore, mas ninguém aqui liga. —Ela gargalha. Percebo olhando ao redor.
—Onde está Patrick e Lucy?
—Patrick deve está enchendo a cara por aí. A Lucy sumiu faz algumas horas, deve ter ido arrastar asa pra algum gatinho. Não se preocupe. Vou ali e já volto. Trago uma bebida pra você. —Assinto.

O incômodo me pega de jeito mais uma vez, não conheço mais ninguém. Olho ao longe e percebo o Xerife Graham com um copo na mão, mas trajado com a farda. Acho que está cuidando da segurança. O que me tranquiliza é que vi duas viaturas em frente de casa antes de sair. Ao menos minha mãe não está sozinha. Graham bate pontos comigo, havia cumprido o que prometeu. Mas posso assegurar que a visão que tive logo em seguida foi uma surpresa tamanha que eu tive que sorrir. Professor Jackson estava parado perto de uma árvore, tão deslocado quanto eu, ou até mais.

—Que palhaçada! —Debocho gratuitamente.

Minha vontade é de ir até ele e falar umas boas, pela primeira vez não me intimido e vou em sua direção. O ditador estava encantador com aqueles trajes. Ele gosta mesmo de se destacar! Enquanto as pessoas usavam roupas comuns, lá estava ele todo elegante. Com jaqueta de couro cinza, calças de um corte sofisticado. Pelas minhas contas há um suéter verde por dentro da jaqueta, e uma camisa branca por dentro o suéter. Na cabeça um fedora preto, onde seus cabelos escorriam pelos ombros, que o deixava ainda mais bonito. Michael é uma visão, não posso negar.

—Pelo visto, decidiu reintegrar à sociedade, não é mesmo? —Ele leva um susto quando me aproximo. Levanto as mãos em rendição, lhe mostrando que não estou armada. Ele revira os olhos pelo meu comentário.
—Mais cedo ou mais tarde, todos nós somos obrigados a cumprir este dever cívico. —Sua expressão está mais suave, apesar do olhar gritar "caia fora" o tempo todo. Não dou a mínima.
—Mas fala aí? O que está fazendo aqui? Gosta mesmo de festas jovens e beber até cair por aí?
—Não é a minha praia. Só estava passando e resolvi vir, sabe como é? Não tive nada de interessante pra fazer nesta noite. —Não acredito nele. Não é do seu feitio aparecer só porque não tinha nada a se fazer. Franzo o cenho. —E você?
—Eu? Bom, eu não tinha nada pra fazer também. —Ele força um riso completamente sem graça por eu tirar onda com a cara dele. Gargalho. —Eu já saquei qual é a sua. —Reflito enquanto ele presta atenção em mim. —Gosta de manter seus alunos bem distante de você, deixando bem claro que é a autoridade e que não pode ter nenhum tipo de relação amigável com nenhum de nós. Cada um no seu canto, exercendo suas funções normalmente como um universo em curso. —Sua cabeça vira para o lado, depois me encara ferreamente. Aquele olhar definitivamente me causa arrepios.
—É por causa dos seus livros que caiu e eu não a tratei como a princesinha indefesa? Não, senhorita Connon, eu não sou simpático com a maioria das pessoas, é o meu jeito. Não posso fazer nada se não curte. —Ele tenta se retirar, mas eu impeço.
—Como sabe o meu nome? —Acho que me foco apenas naquele momento crucial. Ele vira para mim novamente.
—Sou seu professor, não sou? —Assinto, me lembrando que tem uma caderneta com o nome de todos os alunos, mas relacionar a mim, é o que é mais incomum. Ainda mais em dois dias. Pior ainda, por ter me tratado tão mal das outras vezes, reconhecer o meu nome seria bem difícil. —É o meu dever conhecer todo mundo.
—É, mas eu me mudei faz pouco tempo. Não tem duas semanas direito.
—Ah é? E pra onde se mudou? —Ele caminha para perto de mim, parece interessado. Engraçado, pois eu nunca imaginei ver Michael interessando em algum assunto meu.
—Fazenda Wood. —Seu semblante muda de uma hora para outra. Não parece surpreso, mas sim todo nervoso. Essa seria a reação de todos quando menciono a minha casa de agora em diante.
—É, eu sei o que todos pensam. Ganhei até um apelido por causa daquele lugar.
—Sério? E qual é?
—Woodie. Foi o Patrick, um amigo que conheci. —sorrio ao lembrar do dia que decidiu mudar o meu sobrenome.—Conhece a lenda, não é? O que você acha dela?

Tenho tanta necessidade de comentar isso com alguém, que Michael acaba sendo a minha escolha, talvez a não certa, mas a melhor. Ele deve conhecer melhor que eu aquele lugar.

—Não acho nada. Não me interessa. —E lá está o professor arrogante que conheci uma vez.
—Duas pessoas morreram lá. Não se importa mesmo? —Ele balança os ombros e nega com a cabeça. E mais perturbador é que ele tem uma calmaria significativa. 
—Pessoas morrem todos os dias e ninguém dá a mínima. Só prestam atenção porque têm medo do assassino. Ninguém quer ser a próxima vítima. —Minha testa enruga pela sua resposta precisa e certeira.
—Acredita mesmo nisso?
—Você não?
—Pra falar a verdade eu não sei o que pensar. Mas tenho certeza absoluta que me compadeço da dor dos outros. O sofrimento de quando perdemos alguém que nós amamos. —lembro do meu pai, sinto uma vontade de chorar, mas me seguro ao máximo.
—A dor faz parte de quem somos, não há como evitar. Nós nascemos pra isso. —A negatividade dele me afeta como um raio, eu nunca vi alguém falar desta forma antes. O pior que olhando assim, me certifico o quão frio ele é.
—Você fala da vida com tanta aspereza. Eu não acredito que há somente dor. Existem momentos felizes. —Não mesmo.

Fui feliz tantas vezes, principalmente em Phoenix, tudo era tão bom que não queria que acabasse nunca.

—Pensa na dor como um corte de faca na pele. —Ele me força a refletir, acabo entrando no jogo. —Aquele ferimento vai sangrar, doer, talvez infeccionar. Para depois, só depois, começar a reconstruir novamente, criando uma membrana grosseira até cicatrizar. Às vezes as cicatrizes somem, outras não. Quanto tempo você acha que vai durar? Pelo menos umas... quatro semanas? A dor da vida nem sempre passa. Ela infecciona, e, o ferimento precisa recomeçar o processo por diversas vezes. Vira um circulo que; dói, sangra e demora semanas para curar. —Mordo o meu lábio sabendo que em parte ele está certo. A dor sempre é impactante.
—Mas a felicidade também pode durar muito tempo, não pode? —Ele concorda com a cabeça.
—Só que tem um pequeno detalhe: Não percebemos! A felicidade é tão sagaz que nos traz a ilusão de que a vida só é perfeita quando a possuímos. Quando ela vem, nos acostumamos tão rápido que nem prestamos atenção. Voltamos a sentir falta somente quando ela vai embora de novo, permitindo que a dor ganha o seu lugar. Pra que se atentar à felicidade se ela é tão boa? A dor marca, penetra na alma, por isso nossa atenção é toda dela. Daí vem a sensação de durabilidade.

Fico sem fala por um instante. Perco todos os meus argumentos, se por um acaso eu possuía um. Ele tinha uma visão errada da vida, ou talvez fosse a sua realidade. Porém eu tinha que admitir: ele tem toda a razão!

Os momentos com papai foram tão bons que passaram em um piscar de olhos. Claro que saboreei alguns momentos, mas a grande parte foram gastas em livros e estudos. Sei que eu precisava crescer na vida, mas às vezes não damos o devido valor no que há de mais importante em nossas vidas. E agora que ele se foi, aquela dor, sangrenta e cruel ao qual Michael mencionou, perduraria por muitos anos. Seco uma lágrima teimosa que escorre pelas minhas bochechas.

—Preciso ir. —Ele vai se retirando, não quero que ele vá embora ainda. Tem algo entalado na minha garganta que precisa sair.
—O homem de galochas apareceu no meu celeiro ontem à noite! —Altero a voz só para fazer com que ele parasse de caminhar. É instantâneo e eficaz. Ele vira para mim. Seu olhar tem um pesar como o do xerife, como se eu estivesse perdida.

Caminha em direção, vindo bem próximo de mim. Seus dedos deslizam pela a minha bochecha e meus cabelos é posto atrás da orelha. Fechos os meus olhos sentindo aquele toque inesperado, mas muito, muito bom.

—Tome cuidado. —É só o que ele fala, só pra me deixar ainda mais maluca.
—Pensei que não se importasse.
—Não me importo com coisas que já passou, não há como fazê-las voltar. O que ainda pode acontecer é o que me preocupa. —Sinto os meus músculos contrair, os batimentos cardíacos pulsa em descontrole. Sua mensagem é sombria e me dá medo, muito medo.

Mas não tanto quanto o grito de pavor rompendo no lugar, que se deu em seguida. Meu corpo chacoalha de susto. Olho para a direção do grito e é Julia, berrado, chorando.

—Ela está morta! Alguém a matou! —O desespero da minha amiga me arrepia. Olho para o lado e Michael não está mais lá. Ele havia desaparecido entre as árvores e não encontro nenhum sinal dele.

Corro na direção de Julia, para saber o que houve. A cena que vejo me deixa aterrorizada. Eu nunca havia presenciado algo como aquilo em toda a minha vida. Lucy está completamente desfigurada, deitada no gramado. Seu rosto tinha cortes profundos. Nos braços, marcas roxas, e o pescoço quebrado.

—Meu Deus! —Solto um choro com a cena pavorosa.

Aquilo me choca de uma tal forma que entro em pânico, estou tremendo. Me afasto com as mãos na cabeça, para tentar fazer parar aquela sensação horrível, mas não adianta. Lucy está morta diante de nós, e eu tenho certeza que é obra do homem de galocha. 











Capítulo 5 
A morte chega sem avisar



—Lucy! Pelo amor de Deus, minha amiga, responde! 

Julia começa a sacudir o corpo desfalecido de Lucy ao chão. Ela berrava como nunca, estava ao ponto de perder a voz, provavelmente sua garganta sofria uma irritabilidade grave, mas ela não se importava nem um pouco. Estava desesperada demais para se preocupar com sua garganta inflamada. 

Nunca vi alguém tão descontrolada quanto ela. Era como se quisesse a recuperação da amiga a qualquer custo, mas todos nós sabíamos que não seria possível. Vi a perplexidade nos rostos de todos. Patrick estava bêbado, completamente entorpecido, mas ainda assim noto lamento em sua expressão. 

—Acorde, Lucy! Precisamos ir pra casa, acorde , por favor? —Eu não aguento mais vê-la sofrer tanto, acho que sou a única que quero acabar com aquela cena. 
Puxo Julia, mas ela me empurra tão forte que cambaleio para trás.
—Me solta! Lucy. —Ela grita de novo, descontrolada. Mas não desisto. Seguro sua mão com força, alcanço o meu objetivo com êxito.
—Fica calma! Se acalma pelo amor de Deus. —Eu a abraço, afagando o seus cabelos. Seu corpo está trêmulo, ela está gelada. Nada diferente que eu. 
—Você não entende. —Ela agarra o meu rosto, seus olhos estão tão vermelhos. O estado de Julia em si é de dar pena. —Crescemos juntas, ela era como irmã para mim. Pra quem eu vou contar as minhas coisas agora? Sem ela eu não sou nada. —Tento arrumar o pouco que consigo dos seus cabelos. Eu consigo entendê-la perfeitamente, conheço sua dor. 

A abraço com força, com tanta força que é como se eu quisesse transferir o meu amor para ela, como se tentasse penetrá-lo com muito empenho. O choro dela é ininterrupto. Ás vezes até penso que iria desmaiar.
Vejo Xerife Gaham indo de encontro ao corpo, ele o examina com uma lanterna. Eu não tenho mais coragem de olhar para saber o que exatamente ele procura. As pessoas ao redor estão comentando, nunca vi algo tão bizarro. Graham fala ao rádio, com certeza chama uma viatura. 

—Sim, assassinato. Uma jovem de pelo menos vinte anos. Não, não tem sinais de estupro. Apenas cortes profundos no rosto. Estrangulamento é possível. — Aquele relado dói os meus ouvidos. Aperto ainda mais Julia contra mim. Descanso a minha cabeça em cima da sua, na tentativa de me "esconder" daquele pesadelo. 

Nunca havia presenciado um assassinato, nem de alguém tão jovem quanto Lucy. Nada batia, era como se não tivéssemos mais salvação. 

Julia abandona os meus braços e corre para o irmão. Os dois choram juntos, acho que finalmente Patrick cai a ficha do que está acontecendo. Preciso ir embora, mas não sei como fazer isso. 

—Anda, eu te levo em casa! —Xerife Graham puxa o meu braço. O impeço imediatamente. 
—E a Julia? —Não quero deixá-la sozinha, ainda mais desesperada do jeito que está.
—Ela vai ficar bem. Vão vir reforços, vão cuidar do corpo, você precisa ficar com sua mãe. 

Minha mãe!

É nela que começo a pensar, acho que é o único lugar que preciso estar mesmo é ao lado dela. 
Sigo o caminho conduzido pelo Xerife até a sua caminhonete. Sento no banco do carona, colocando os cintos. O xerife rodeia o carro e entra pelo banco do motorista. Ele arranca dali bem rápido. A ânsia que tem de me manter em segurança é admirável. 

A estrada está escura, apenas os faróis da caminhonete ilumina o caminho. Há árvores dos dois lados da estrada. Mesmo diante do escuro, é possível enxergar uma silhueta caminhando tranquilamente, pelo asfalto. Conheço aquela silhueta, conheço aquele caminhar firme, mas ao mesmo tempo, ansioso. O carro passa por ele. O Olhar de Michael quando está perto de nós é bastante peculiar. Olho pela janela e não consigo desviar. São intensos, densos e profundos. Mas pacíficos, como se nada houvesse acontecido. Ele havia ido embora assim que Julia gritou anunciando o assassinato e nem se deu ao trabalho de saber o porquê. E agora estava caminhando por esta estrada deserta como um andarilho sem destino. 

O carro do xerife desliza sobre as britas distribuídas no chão em frente a Fazenda Wood. Assim que estaciona saio de dentro como um furacão. Tudo que quero agora é abraçar a minha mãe. Abro as portas rapidamente, ela estava aos pés da escada, provavelmente terminando de descer quando chego. Me jogo em seus braços a apertando com força. 

—O que houve, Claire? —odeio deixá-la tão preocupada, mas não há muito o que fazer. Sou uma garotinha assustada precisando do colo da mãe. 
—Um assassinato. —O Xerife anuncia sem rodeio algum. Ouço o som de espanto ecoando pela garganta de mamãe. 
—Você está bem? —mamãe me desprende do seu braços, começando a procurar possíveis ferimentos pelo meu corpo. Bate algumas vezes no meu rosto, para saber se estou inteira. —Claire, me diga que você está bem. Minha nossa! Não deveria ter deixado você ir. —Os olhos verdes dela estão dilatados, chorosos. Se tivesse acontecido alguma coisa comigo, ela morreria. 
—Eu estou bem, estou sim, mamãe. —Ela me puxa para o seu corpo mais uma vez, seu som agora é de alívio. 
—Ela foi encontrada morta, em direção a mata fechada. As coisas ficaram bem feias. —Me afasto de minha mãe e olho para Graham. 
—Você acha que pode ter sido o tal homem de galochas? —Ele aperta a boca fazendo uma linha, balança a cabeça em negativa. 
—Ainda não sei, isso vai depender das investigações. 
—Vocês estão querendo dizer que o mesmo cara que Claire acha que invadiu a casa, é o assassino? —Posso ver daqui o pânico de minha mãe. Está em seu olhar que finalmente se deu conta do perigo em que estávamos vulneráveis. 
—Ainda não sabemos, Monica! Não sabemos. —Graham se aproxima de mamãe, e segura firme o rosto dela. Percebo que há algo entre eles. Até porque não a chamou pelo sobrenome, assim como ela uma vez. —Mas não se preocupem, nada vai acontecer com você. Eu não vou deixar, ouviu bem? —Uma lágrima pinga dos olhos da minha mãe, e ela assente freneticamente. 
—Obrigada por me trazer, Graham. Saímos tão rápido que deixei o meu carro na floresta. —Ele me encara gentilmente. Percebo um toque paterno no jeito que segura os meus ombros.
—Não tem problema, eu pego pra você. Só preciso que cuide da sua mãe e fique bem. Passou por muita coisa hoje. 

Nem me fala! 
Tudo estava desabando de uma hora para outra, sem previsão de estabilidade. 

—Vou cuidar sim. —Ele acarinha o rosto da minha mãe e vai embora. 
Graham gosta de nós, ele tenta fazer a figura do meu pai na nossa família. Ainda não tenho uma opinião formada sobre ele, mas adoraria conhecê-lo melhor. 


***




O enterro de Lucy fora o mais triste que já havia presenciado em toda a minha vida. A família dela estava inconformada, Julia chorava tanto que a sensação que dá é que não havia parado desde aquele dia, —há quase três dias atrás. Patrick sóbrio estava tão abatido que perecia que não aguentaria por muito tempo em pé. 

Às vezes fico imaginando sobre a morte, ela chega em um momento inesperado, devagar, e silencioso. É como a tempestade nos oceanos: calma e quieta. Porém quando menos esperamos, ela vem furiosa, devastando o que encontrar em seu caminho, "engolindo" o barco pesqueiro, satisfazendo sua necessidade de crescer e criar ondas perfeitas e sinuosas. É derradeiro, acabando com toda a sua esperança de submergir. É assim que eu a vejo, é assim que parece ser. 

Lucy era jovem, apesar de eu não a conhecer muito bem, eu sabia que possuía muitos sonhos para o seu futuro. Tinha toda uma vida pela frente e fora lhe arrancado por um assassino psicopata, afim de destruir vidas como a tempestade. Ele instaurara o caos e temo por cada um dessas pessoas que chora a morte de Lucy hoje. Quem iria nos salvar amanhã? 

Olho ao longe, Michael estava encostado em uma árvore; solitário, desgarrado da multidão em frente ao caixão. Uma mão dentro do bolso da calça jeans, e o ombro escorado no tronco. Ele me encarava, me observava. Era como se dissesse que tudo que havia me falado naquele dia, fosse apenas confirmação do que eu custei acreditar. O pior de tudo é que começo a concordar; a dor é como uma ferida mal cuidada, sendo aberta e reaberta sem parar. Um circulo, uma sentença de morte. Até que cicatrizasse e parasse de doer, levaria um longo tempo. 

Volto a minha atenção para o enterro. As roupas escuras em respeito ao luto é tão negro quanto aquele dia nebuloso. Acho que o clima juntou-se a nós diante do sepulcro, cultuando a nossa dor. Era como se nada fizesse sentido. 

***

Olho pela janela do celeiro, ainda é dia e não tem aula. Encerramos as atividades acadêmicas por uma semana em respeito ao luto. Não tenho nada para fazer, a não ser pensar sobre a vida, sobre como tudo passa num piscar de olhos. Ora estamos aqui, ora fazendo companhia a Lucy. 

Percebo alguém parado na cerca de arames farpados em frente a entrada. Não posso acreditar que seja ele. O que deu nele para estar na minha casa naquela hora? Ou melhor dizendo, o que deu nele para estar na minha casa qualquer momento do dia? Decido ir até lá. 

Michael está todo nervoso quando me aproximo, não está assustado nem nada do tipo. Apenas sorrir sem jeito, como se vir até aqui, fosse a coisa mais difícil que ele já fez na vida. Eu até posso imaginar como deve se sentir. Estou curiosa, e ávida por respostas.

— O que faz aqui? —Ele coloca a mão na cabeça, se mexe um pouco, está sem jeito. 

Abro a passagem na cerca e saio para fora. 

—É, que... Bom, você deve saber que não sou muito bom nisso, mas... Acho que lhe devo desculpas. —Sua expressão retrai toda como se ele estivesse desviando-se de um soco. Aquele jeitinho todo de "É, fiz besteira" me encanta completamente. 
—Mas por quê? Acha mesmo que passou dos limites? —O questiono por saber que Michael Jackson jamais se importaria se está me magoando ou não. Jamais pediria desculpas, e muito menos viria até a minha casa para fazer algo fora de seus princípios. 
—É, sabe como é? Fiquei falando um monte de besterias sobre as bobagens em que acredito. Acho que acabei te assustando. —Fito seus olhos, aquele costumeiro brilho intenso e frio estava bem mais amigável agora.
—Acho que não são bobagens, em partes você tem razão. Até que é legal encontrar alguém que não tem medo de falar sobre coisas que sabemos, mas que não temos coragem de dizer. Sinceridade é uma artigo de luxo hoje em dia, sabemos que tem pra vender, mas não temos grana o suficiente para possuí-la. 

Ele me encara por um instante, o sorriso de lado aparece com tanta sutileza, que nem dá para ser notado, mas sei que está ali.

—Eu não sou um cara fácil em lidar, acho que acontece com todos que viveram por sua própria conta. Tanto tempo sozinho, rende muitos pensamentos. —Me encho de curiosidade em saber mais sobre aquilo. —Por que não me acompanha até a sorveteria? Soube que é o melhor estabelecimento da cidade. —Franzo o cenho, estou muito, muito perplexa. 
—Michael Jackson, o meu professor me chamando para tomar um sorvete? —Ele gargalha, e poxa vida, que sorriso incrível era aquele? Eu nunca o vi sorrir antes. Agora que conheço como é, penso que jamais imaginei vê-lo algum dia. 

Quando sorrir, suas bochechas curvam até próximo aos olhos negros. Há algumas covinhas; pequenos riscos próximo as bochechas, na pele macia e branquinha, que neste momento estou muito afim em conhecer o cheiro. Seus dentes são branquíssimos e perfeitos. Os lábios parecem ser macios. Me sinto péssima em ter tais pensamentos com o meu professor, mas não posso fazer muito a respeito, ainda mais quando me atrai tanto. 

—Não precisa vir se não quiser. Só foi um convite para que me conheça melhor e não pense que sou um babaca. 
—Um babaca! —Repito o que disse. —Foi exatamente o que eu pensei. 

Ele sorri de novo, e meu Deus! Preciso fazê-lo sorrir mais vezes. É tipo um orgulho que aflora por saber que você consegue fazer um cara com suposta pedra de gelo no lugar do coração.

Eu poderia muito bem recusar aquele convite, dizer que não estava nem um pouco interessada neste passeio. Dizer que não saio com quem mal conheço e ainda mais com alguém que me destratou tanto. Porém estou curiosa, e com muita vontade de ir. Não posso negar, Michael me atrai, talvez por sua beleza incomum. Talvez pelos seus mistérios, mas de alguma forma me sinto ligada a ele. 

—Aceito sim, professor. —Sorrio com ternura, e ele balança o dedo. 
—Michael! — Me corrige em seguida. —Não estamos na sala de aula. —Maneio a cabeça. 
—Então tudo bem, Mike. —Invento um apelido ousado e íntimo. Ele franze o cenho, mas não me interrompe. 

Entro no carro dele, é tudo tão limpo e lindo que começo a pensar no fato que Michael ganha muito bem dando aulas em uma faculdade do interior. Ou se não, tem uma renda muito boa fora dali. Pais ricos, ou um emprego extra muito bem remunerado. Inteligência eu sei que ele tem. É incrível como se sente mais desconfortável do que eu dentro do seu próprio carro. Parece até que sou a primeira a estar lá, o único contato com um ser humano que ele teve na vida. Parece bizarro, mas a antissocialidade de Michael vai além do que imaginei. 

A balconista nos entrega o sorvete, escolhemos uma mesa da calçada da sorveteria. Definitivamente não estava em um clima bom para sorvetes, mas o sabor era espetacular, e tínhamos que ter alguma desculpa para nos conhecermos. 

—Como você está depois do que aconteceu? —Ele se refere a morte de Lucy, fico deprimida. Ainda me abala muito. 
—Eu só falei com ela algumas vezes, estávamos nos conhecendo. Foi um baque. Sinto pena da família dela, Julia ficou arrasada por ter perdido a amiga de infância. Quem você acha que pode ter sido o tal assassino? —Michael balança a cabeça, parece não saber. 

Termina de engolir o pouco de sorvete que tinha em sua colher.

—Você não deve se preocupar com esse cara. As atenções não podem ser voltadas a ele. —Gesticula as mãos apontando a colher para mim, como um conselho. 
—Como não? Ele mata pessoas, Michael. Destrói vidas, está por aí só esperando alguém desatento. Tenho certeza que foi ele quem invadiu o meu celeiro. —Ajeito meu casado rosa, e passo a mão nos meus cabelos longos com um penteado "princesinha" 

Michael fica incomodado, não olha mais para mim, pisca os olhos por diversas vezes. 

—Não é isso o que quero dizer. Devemos sim encontrá-lo, mas não devemos temer. Você acha que toda essa atenção não o satisfaz? Que todo o pavor que todos têm em relação ao que ele representa não o incentiva a comentar esses crimes mais e mais? —E mais uma vez Michael tendo razão. 
—Ele é um psicopata. Deve ser preso. —Michael não responde nada. Fica na dele por um instante. —Você foi embora naquele dia, depois vi caminhando pela estrada sozinho. Por que não ficou lá? 
—Não gosto de toda essa comoção que fazem diante de um cadáver. Relembro coisas do meu passado e não são nada boas. —Esses pedacinhos que ele vai soltando sobre sua vida me intriga cada vez mais. 
—Não precisava ver, era só... ficar. —Ele se empertiga, esfrega a mão na nuca, olha para cima, como se eu estivesse sendo uma completa pé no saco. —Já que me trouxa aqui para conversarmos, me conta mais sobre você? —Tento mudar o foco por um instante.

O sorvete de baunilha dele está derretendo, o meu está quase no final, mas não tenho vontade de terminá-lo. Michael respira fundo, acho que quer sim contar um pouco sobre tudo. 

—O que quer saber primeiro? —Subo e desço os ombros algumas vezes. 
—Começa pela sua infância. —Ele suspira, não quer falar sobre isso, mas acaba cedendo. 
—Vivi a minha vida inteira em um orfanato. Sai de lá quando completei meus dezoito anos. Sabe, ninguém se interessa por um menino de seis anos que perdeu os pais. Eles gostam de bebês recém nascidos, onde podem criá-lo com suas manias. Fazer deles o seu "bebê de criação". Ninguém quis me adotar. Fui expulso por atingir a maioridade. —Sinto um pesar tremendo por ele. Posso imaginar como deve ter sido. —Eu não gosto muito de falar sobre isso, mas foi o que combinamos. 
—Minha nossa, Michael, eu não fazia ideia! O que aconteceu com os seus pais? —Ele suspira, tenho certeza que é difícil tocar nisso. —Não precisa me contar essas coisas, Michael. É sua vida, eu respeito. 
—Mas eu quero. Nunca falei nada pra ninguém sobre isso, sabia? Mas acho que chegou a hora de experimentar algo diferente na vida. Às vezes fazer coisas diferentes do que você está acostumado, pode revelar quem você é. —Meu sorriso terno é todo dele. Assim como a minha atenção toda voltada para àquele assunto. 

Ele suspira fundo mais uma vez. 

—Passei a vida inteira trancado dentro de mim mesmo, mantendo todo mundo longe de mim, me fechando. Não digo que não gosto, eu gosto de ficar na minha ter o meu momento. Mas sinto que perdi muito, tentando me proteger. 

Estou orgulhosa por ser a escolhida por ele, para contar a sua vida, me sinto especial pela primeira vez na vida. Se quer falar, é porque confia em mim de alguma forma. Não sei o que fiz para merecer tal honra, porém não a questiono. 

—Eles morreram quando eu tinha apenas seis anos de idade. Nossa casa pegou fogo. Só não morri porque me acharam embaixo da minha mãe. Ela havia debruçado sobre mim e não fui capaz de respirar a fumaça. —Minhas mãos estão trêmulas, não sei se me emociono pelo que a mãe de Michael fez por ele, ou se me entristeço por ter perdido seus pais tão cedo. 
—Eu lidei com a dor, Claire, eu soube doma-la. Mais cedo ou mais tarde temos que aprender a ser mais fortes. Matar os nossos demônios dias após dia, ou senão... eles acabam com a gente. —Abaixo a cabeça, ele havia me pego de surpresa. Não sei o que falar, não tenho nenhuma palavra de ânimo, se for o que ele quer de mim. 
—Eu sinto muito. —Ele gargalha com tanta vontade que acabo rindo também, só por causa da sua risada. —O que foi? 
—Sua cara de compaixão... ela é hilária. Faz de você a garota mais inocente que já conheci. É como um anjo compadecendo de todos, só esperando o momento exato para abençoar. Gosto disso, alivia um pouco toda a vida sombria que eu levo. —Finalmente ele experimenta um pouco do seu sorvete. Me parece encantado, um pouco besta. —Eu sei que não é hipocrisia. Porque existem aquelas pessoas que fingem adotar uma personalidade cheia da moral. Defensores uns dos outros, mas eu sei que você é de verdade. —Fico tímida, posso jurar que estou corando. Ele me deixa sem jeito falando essas coisas. Meu coração acelera. Eu nunca ouvi um elogio assim. 
—Michael, obrigada, eu... —Ele toca o meu rosto com suavidade. Busca o meu olhar escondido para encarar. 

Deus! Dar de cara com aqueles olhos negros e intensos me fitando com admiração, é como levar um soco no estômago. Você perde o fôlego na mesma hora. Ele sorri de lado.

—Não precisa ficar tímida, sabe que só falo a verdade. —Ele dar uma piscadela, só para terminar de me quebrar. Preciso me agachar e juntar os cacos. —Agora me conta sobre você. Como veio parar em Forest Grove? 
—Hum... é. Perdi o meu pai, ele também morreu há alguns meses, vítima de câncer. Mamãe não queria mais ter recordações. Para algumas pessoas é complicado essa de conviver com as lembranças. A Fazenda Wood era a única que podíamos pagar.
—Sei bem o que é isso. Mudanças de vida. Quando sai do orfanato comecei a trabalhar de tudo que eu encontrasse pela frente. Sério, não estou mentindo. Trabalhei de mecânico, ajudante de pedreiro. Até Encanador eu me meti. —Gargalho ao imaginar um cara todo elegante como ele se meter em empregos assim.
—Não dá pra imaginar, Michael. Você pegando no pesado? Meu Deus do céu, parece outra pessoa. —Ele acompanha o meu riso. 
—Viu só? Até o menos improvável tem suas histórias. Mas dei a volta por cima, eu aprendi rápido e não demorou muito pra eu conseguir uma grana e entrar na faculdade. Escolhi Relações Internacionais, porque eu amava a ideia de interagir com vários países. Conhecer o mundo, conhecer as pessoas. Dominá-lo pra falar a verdade. Mas não deu muito certo, sou introvertido demais pra isso. —Gargalho de novo. —Voltei pra cá e preferir trabalhar como professor, em uma cidade que eu sabia que era o meu lugar. Não sou tão ambicioso.
—Você nasceu aqui? —Ele assente. — Como mantém o carro, as roupa chiques, só com o salário de professor? —Me dou conta de como sou invasiva. —Me desculpe, não é da minha conta. 
—Ainda recebo o fundo de pensão dos meus pais. Eles deixaram muita grana pra mim. —Entendi. —Você disse que sua mãe quis vir pra cá, mas e você? —Me ajeito na cadeira, não consigo esconder a minha resistência em ter abandonado Phoenix. 
—Eu não queria me mudar. Por mim iria embora agora mesmo, ainda mais depois de tudo que ouvi falar daqui. Phoenix é a minha cidade do coração. —Ele sobe seus olhos e isso provoca rugas em sua testa. Tão lindo e tão misterioso.
—Então é de Phoenix? —Assinto. —É como Forest Grove, aqui é a minha cidade do coração. 

Conversar com Michael depois de todo aquele clima horrível que se passou era como anestesiar de toda aquela tensão. Por um momento me esqueci de tantas coisas ruins, mesmo conversando sobre elas. Parecia algo distante, como se acontecesse a outras pessoas e não comigo, não perto de mim. Acho que é disso que se trata, conhecer Michael é como conhecer a mim mesma. Sou capaz de pensar sobre a vida, questionar tudo que acreditei um dia. Não é difícil me identificar, não é complicado entender as pessoas e a vida que elas levam todos os dias. 












Capítulo 6 
Labirinto


Mamãe já estava me esperando sentada no sofá. Ela estava tão bonita com um vestido florido e o seu costumeiro penteado chique nos cabelos louros. Mamãe nem parece que está nos seus quarenta e seis anos, ainda é muito jovem para idade. Seu cuidado com o corpo e sua beleza típica também ajudava muito. Não que fosse maníaca por beleza, não precisava de se esforçar tanto. É natural, vem dela.

Monica Connon sempre fora uma ótima mãe, sempre carinhosa e sempre preocupada com os meus assuntos. Acho que é porque sou filha única, este instinto de super proteção sempre a acompanhou. Nunca me incomodou, muito pelo contrário, mamãe sempre soube respeitar os meus limites, respeitar a minha privacidade. Mas pode ter certeza que ela iria querer saber onde fui e se deu tudo certo. Ainda mais do que ocorreu com Lucy.

—Saiu sem avisar, fiquei preocupada. —Sorri de lado sabendo que essa era Monica Connon.
—Fui à sorveteria. Michael Jackson me chamou. —A face contorcida de espanto de mamãe me fez rir.
—Sorveteria, nesse frio? —Gargalho mais.
—Michael não é o tipo de cara comum que a gente ver por aí. É imprevisível como as chuvas de verão. —Entorto a boca ao lembrar do quanto.
—Michael Jackson? Esse não é o seu professor? —Fico toda sem jeito, ajeitando meu casaco.
—Ele mesmo. —Mamãe me analisa, sei que está buscando algo poético em minhas ações. E sei que falaria algo que eu negaria até o último momento.
—Esse não é o mesmo cara, arrogante, rude, babaca, a quem você mencionou? E que por uma caso estava furiosa ao ponto de não querer vê-lo nunca mais? —É, só agora me dou conta de como sempre estamos mudando nossas opiniões em relação a outras pessoas. Tanto para o bem, quanto para o mal.
—Michael não é muito fácil em lidar, sofreu muito desde cedo, eu até entendo. Mas é um cara legal e eu estou começando a conhecê-lo melhor. Sabe? As pessoas têm seus lados bons e ruins, vai depender de qual lado ela quer mostrar primeiro. —Mamãe me encara de cabeça erguida, está achando as minhas desculpas uma bobagem.
—Sei... sei bem como é.
—Mamãe! Não há nada demais.
—Não, não há nada demais, eu sei. —Ela se levanta do sofá e caminha até mim. Aquele olhar verde e profundo me mostra que uma preocupação tinge o coração de mãe. — Mas cuidado tudo bem? Não quero que se magoei.
—Não vou. —Ela alisa os meus cabelos com as mãos e me dá um beijo na testa.

***


A semana de luto havia passado, e, as aulas no Pacific University havia retomado. O que me deixou animadíssima, estava afim de sair um pouco de casa, encontrar com Julia e Patrick, tirar aquele clima ruim que se instalou por todos àqueles dias.

Logo encontro os dois irmãos em frente à faculdade. Julia estava com um aspecto melhor, estava maquiada, seus cabelos loiros estavam peteados em um rabo de cavalo. Os rosto angelical bem maquiado em cores claras. Patrick usava uma calça jeans e um casaco marrom. Eles pareciam gêmeos de tão parecidos. Embora Patrick fosse um pouco mais desleixado. Deve ser por causa das drogas. 

—Como você está? —Pergunto para Julia. —Não a vi durante essa semana inteira.
—Estou indo, ainda é recente. E vir para este lugar sem a Lucy ainda é estranho. Não sei lidar com isso ainda. Mas tudo bem, a vida se segue. —Ela abaixa a cabeça. —Percebi um monte de coisas com tudo isso, Claire. Acho que me importei tempo demais com coisas inúteis e fechei os olhos para as coisas que realmente valem a pena. A morte de Lucy foi uma aprendizado.

Às vezes as maiores lições da vida se dá ao momento de dor, pois, na minha opinião, são nesse momentos que descobrimos quem somos realmente. O que queremos ser ou o que queremos não ser.

—Lucy queria ser uma jornalista reconhecida. Queria trabalhar nos melhores jornais do país. E agora a sua morte foi noticiada. —Patrick tinha um semblante monótomo ao relatar a ironia da vida. Ele também havia sofrido muito. —Somos jovens, Claire. Não podemos mais boicotar o nosso futuro com coisas banais.

Ele tem razão, espero do fundo do coração que faça o que disse. A vida é curta demais para estragá-las com festas e maconha, eu sei que Patrick cheirava.

Em um descuido olho para os portões de entrada, Michael estava parado olhando em nossa direção. Voltar a vê-lo depois desses dias faz com que o meu coração sofra um impacto de um jeito que não sei descrever. Gemo um pouco de dor pela força, mas tento disfarçar. Michael está mexendo comigo de uma forma que ainda não consigo acreditar.

—Vamos estudar juntas, todos os dias. Eu quero aprender a matéria e sei que você é uma CDF de qualidade. —Julia está animada, eu fico honrada em poder ajudar.

Desvio os meus olhos para a portaria de novo. Michael continua no mesmo lugar e não, ele não desviar a sua atenção de mim, nem por um só segundo. Até penso que queira falar comigo, mas não dá nenhuma dica em relação a isto.

—Eu também quero! —Destaca Patrick. —Estudo geografia, mas sei que conhece do assunto. —Não era para me gabar não, mas eu tinha um acervo extenso de pesquisa sobre o assunto.
—Um pouco. —Sou modesta. —Se precisar é só me chamar.
—É disso que estou falando!! —Patrick vibra, me puxa para um abraço e beija as minhas bochechas uma de cada lado. Começo a rir com a situação, mas ele está tão animado que acho um pecado interrompê-lo ainda mais depois de tudo. —Você é a melhor! A mais inteligente, a mais esperta. E ainda anda com essa dupla de irmãos burros. —Gargalho.
—Ei, eu não sou burra! —Julia fica emburrada, e Patrick dá uma piscadela para mim.

Olho para a porta e Michael está com uma fisionomia bastante intrigante. Parece irritado, muito mesmo. Tento imaginar o motivo, mas ele entra para dentro sem mais e sem menos.

Decidimos entrar.

As aulas já começariam e eu queria pegar o melhor lugar, na verdade, eu tinha o meu lugar certo — bem no meio, centralizada na sala — e não queria que ninguém sentasse lá. Passo por Michael pelo caminho, dou de cara com ele. Até abro um sorriso, pronta para cumprimentá-lo, mas não me dá nenhum espaço para fazê-lo. Michael está sério, bem mais do que eu gostaria. Me olha como se estivesse com raiva de mim. Tento imaginar que alguma coisa de ruim havia acontecido. Não fico pensando que a culpa é minha, e que fiz algo para aborrecê-lo, até porque não aconteceu.

—Olá, professor. —Chamá-lo pelo nome naquela circunstância não parecia apropriado.
—Senhorita Connon. —O cumprimento dele é tão frio quanto o inverno. Ele passa por nós como se nem me conhecesse. Quem diria que tivemos aquela conversa outro dia? Seria a minha palavra contra a dele, ninguém acreditaria em mim.

Sinto o segundo impacto no meu peito, mas desta vez não era pela alegria em vê-lo, era por chateação. Lembro que Michael não se importa com os sentimentos das pessoas, ele cresceu não se importando, por que é que eu deveria me importar com os dele também?

Vou para sala de aula com Julia. Patrick vai para a dele. Me sento no meu costumeiro lugar. Mesmo sabendo que não fiz nada para chatear Michael, aquela sensação ruim perdura por dentro e não consigo me livrar.

Sua aula se dá normal, como de costume: monótona, e muito, muito técnica. Sem interação ou pausas. Michael não tem humor para isto. Algo aconteceu, eu tenho certeza. Fala baixo, distraído. Há momentos que erra as palavras ao dizer. Troca historiador por hitoricador.

Ele me olha com seriedade. Pera aí, percebo raiva nos seus lábios franzidos? Que diabos aconteceu?
Copio o texto enorme que passou na lousa, mas sempre prestando atenção nele quando se senta em sua mesa. Ele me olha também, como se eu fosse mais uma entre todos; não se importa, não dá a mínima.

Quando a aula acaba, espero todos irem embora. Julia pergunta antes de ir, se não a companharia, falo que mais tarde nos encontramos. Que tinha assuntos para resolver. Eu estava olhando para o assunto a se resolver, ali arrumando a sua pasta para poder ir embora. Antes que Michael cruzasse a porta o interrompo.

—Olá, Michael, como vai? —Sou irônica, como se o ensinasse a cumprimentar as pessoas, soltando fumaça pelas ventas. 

Ele se vira para mim, ajeita a alça da sua pasta no ombro. É a terceira vez que sinto o impacto no peito só naquela manhã. O jeito que me olha é como se quisesse me matar. É hostil e conturbado. Seus lábios franze novamente.

—Preciso ir. Se tiver alguma dúvida sobre o conteúdo, mais tarde a tiramos. Vou ficar o dia todo por aqui. —Ele menciona ir embora, mas eu o impeço de novo.
—Não é sobre o assunto da aula que estou em dúvidas, e sim do seu comportamento imaturo durante toda a manhã. Qual é? Ora age como se fôssemos melhores amigos e no outro como se nem me conhecesse? —Bufa irritado, seu olhar antes cheio de ressentimentos estão um pouco maleável, mas ainda assim bem sério.
—É, eu sou assim, senhorita Connon, bipolar. Não se preocupe comigo, logo, logo, nem vai lembrar que eu existo. —Ele torna a mencionar ir embora, mas eu seguro sua jaqueta cinza no ato.
—Você pensa que eu sou quem? Que fica se abrindo para qualquer um, e depois sou tratada como lixo?
—Eu me abri muito mais do que você, e não estou choramingando. —Fica aquele clima ruim entre nós, estou perplexa.
—É isso que acha que estou fazendo? Vai mesmo agir como um babaca de novo?
—Não, não vou. Por que não vai até o seu namoradinho e me deixa em paz? —Estou sem fala, nem sei por onde começar. Aquela frase me deixa tonta e confusa. É tão absurda que até parece mentira.
—O quê? —Foi quase um grito, um grito estridente e cheio de espanto, parece um filme de comédia.
—Patrick! Eu vi o jeito que vocês estavam conversando. —Quanto mais ele falava, mas pasma eu ficava.
—Você não tem o direito de ficar com ciúmes! Patrick é o meu amigo, um ótimo amigo por sinal. —Ele faz cara feia para mim.
—Eu não tô... eu não tô com ciúmes, porra! —Os olhos arregalados dele me assusta a sensação que dá é que ele vai me dar um tapa. Eu nunca vi alguém tão transtornado assim.

A culpa é minha, eu não deveria ter tocado em ciúmes. Óbvio que ele não estava, por que teria?

—Me deixe em paz, Claire. —Sua voz está mais branda como se desse conta que passara dos limites. —Nosso relacionamento deve ser restritamente acadêmico e nada além disso. Foi um erro aquele "passeio". —Faz aspas com a mão e vai embora.

Lamentavelmente sinto o meu quarto impacto no peito, mas desta vez é de abandono. Michael não queria me ter como amiga, e isso é como uma faca no coração. Aquela amizade seria boa para mim, talvez para ele também. Bom, nem sei se é importante para ele, provavelmente não. Se não importa para ele, também não deveria importar para mim. Tomo uma lufada de ar e recupero a minha essência. Nada e nem ninguém me derrubaria.
Michael é um ser volúvel e imprevisível. Não dá para saber qual será a máscara de personalidade que usaria para enfrentar o dia. Se seria da cordialidade ou da rugosidade. De qualquer forma, no final das contas ele mostraria quem é. Pessoas assim são capazes de machucar você se por um acaso se apegar. Não é confiável e muito perigoso. Sorte a minha que descobri a tempo.

***



Naquela mesma tarde, Julia me chamou para ir às montanhas com ela e Patrick. Eu admirava essa relação entre irmãos que eles têm. Parecem inseparáveis. Sou filha única e nunca imaginei a minha vida dividindo tudo com alguém. Não sou egoísta, mas já estava tão acostumada que nem me fazia falta. Mas agora vendo-os nesta harmonia até que dá vontade de ter alguém com quem dividir uma amizade fraternal.

Aquelas montanhas eram lindas, dava para ver Forest Grove inteira, senão Oregon. Acho que a melhor coisa nesta cidade é o visual, ela é bem convidativa para amantes do frio, uma companhia válida para quem curte a solidão. Embora, as matas ressequidas por conta do outono agradável, dava um colorido morno em tons amarelo e marrom. Olhando à direita, nota-se a estrada completa. O zigue-zague tem silhuetas formosas, dá até vontade de saber o que tem no final dela. Dá para ver a floresta que Lucy foi morta, um arrepio ruim apossa de mim, mas tento desviar os meus pensamentos. Não quero pensar em tristeza apesar de ter a atitude de Michael martelando na cabeça. Aquilo deixou o clima estranho dentro de mim, apesar de dizer que não me importara.

—O que houve? Está estranha desde cedo. —Julia me pergunta.

Estávamos sentadas em uma rocha enquanto Patrick caçava aves com estilingue.

—Não é nada, é só uma coisa chata que aconteceu mais cedo, nada demais. —Estalo a língua no dente, apenas uma vez. —Deixa pra lá, isso passa.
—Tem a ver com o Jackson? Eu vi vocês na sorveteria e senti o clima pesado na sala hoje. É, eu sou observadora. — Aperta os lábios, mostrando que não pode fazer nada sobre isso. —E também estava passando pela rua e vi vocês dois lá. O que foi estranho pra caramba! — Começa a rir. —Quer me contar?

Parece que não é fácil esconder nada de ninguém naquela cidade, ou é Julia que não consegue se controlar.

—Ele tem um humor oscilante. Ora te trata como se fosse melhores amigos, ora como uma completo estranho. Eu não sei, não estou acostumada com isso. Ele sempre foi assim? Conhece ele há muito tempo?
—Michael oscilante? Isso nem chega perto do que ele é. Michael é um completa idiota. Adora ser melhor do que todo mundo, rebaixa as pessoas quando ele bem entende. Costumava vê-lo por aí quando ainda estava no colegial. Sempre na dele, sem contato com ninguém, pior que bicho do mato. —Talvez Julia fala dele desta forma porque não conhece a sua história como eu conheci brevemente. Ele realmente dá esta impressão. Mas analisando como a vida dele foi até que dá para compreender.
—Michael não teve uma vida fácil, sempre teve que viver por si só. Até entendo, mas poxa vida! Ele não deveria ser sempre assim.
—Ele é um babaca, Claire, é o que os babacas fazem. Até que é bonitinho e até dá pra compreender a afeição derradeira, mas tome cuidado. Ele não se importa com as pessoas. Como você disse, vem pela criação, ou a falta dela. —Fico pensativa, acho que Michael tem mais coisas contra do que a favor dele. Eu não o conhecia direito, então é impossível opinar.
—Não é afeição, é só...
—Eu vi como você olha pra ele. Acha que sou boba? Aquelas trocas de olhares entre vocês na sala de aula. —Fico corada, não acredito que ela percebeu. Será que mais alguém notou? — Sei que Michael é um sociopata repugnante, mas acho que ele também gosta de você. Senão não ficava olhando daquela forma, e o que o torna ainda mais perigoso. —Aquela declaração de Julia me intriga, será que o conhece tão bem assim para ter uma opinião tão categórica do professor?
—Pera aí, já viu isso antes? —Ela me olha toda sem jeito, aperta a boca fazendo uma linha e confirma com a cabeça.
—Você sabe como eu sou, eu adoro paquerar, e Michael é o tipo que você com certeza vai paquerar. O cara é um absurdo de lindo, todo inteligente. Não parece aqueles lindos idiotas e burros com que estou acostumada sair. Ele era diferente de tudo que já experimentei. Fiquei curiosa.
— O que aconteceu? —Ela sorri sem humor algum.
—Ele me chamou de vagabunda. —Fiquei chocada. —Viu só? É assim que ele trata as pessoas que têm afeição por ele.

O Michael do primeiro dia até poderia ser este tipo, mas o Michael da sorveteria, ele não chega nem perto daquele que Julia falara. Talvez o de hoje se aproximasse. Deus! Aquele homem era um labirinto sem fim, e eu não tinha vontade de encontrar o caminho.

—Ele estava furioso comigo, porque conversei com o Patrick. Ele mencionou como "namoradinho". Não sei qual é a dele, mas em pouco tempo ele consegue fazer uma volta no meu cérebro. —Julia gargalha bem alto.
—Epa, pera aí! Eu ouvi o meu nome? —Patrick interrompe sua caçada para se juntar a nós.
—Professor Michael Jackson estava morrendo de ciúmes de você, Patt. —Balanço a cabeça incrédula. Ele me analisa com divertimento.
—Olha, até que não é uma má ideia. Você é uma gata, Woodie! Esse seu rosto todo de menina santa é encantador, esses olhos expressivos dá uma agitação filha da mãe no estômago. Mas não creio que faço o seu tipo, o que é uma pena. —Ele abaixa a cabeça em lamento e eu começo a rir.
—Não seja bobo. —Dou um tapinha no seu ombro.
—O professor... —Patrick continua. —Ele é o tipo do cara prepotente que acha que tudo que ele tem é dele e de mais ninguém. Ele mostra que é um egoísta assim mesmo. —Olho para a Julia e ela concorda.
—Se ele sente ciúmes é porque gosta de você, está na cara. Ninguém sente ciúmes de alguém sem propósito. O que lhe coloca em maus lençóis da mesma forma.
—Minha nossa! Do jeito que vocês falam até parece que o Michael é um maníaco psicopata.
—Não, um maníaco não, mas um completo sem noção gostoso pra caramba. Ah isso ele é! —Fico sem graça enquanto ela gargalha junto com o seu irmão.

Acho que traçaram um perfil completamente mirabolante do professor Michael Jackson, algo que noto de cara que são mais fantasia do que a realidade. Sei que ele tem suas peculiaridades, mas Julia está magoada justamente por conta do fora que recebeu, se é que foi mencionado tais palavras pejorativas. Sabe aquelas pessoas que preferem guardar as coisas boas à coisas ruins, acho que é isso. Ainda mantenho o Michael que vi na sorveteria e acho que Julia tem razão enquanto ele está com ciúmes. Abro um sorriso satisfeito nos lábios, mas não deixo que percebam.

O resto do dia fora tranquilo e cheio de aventura. Escalamos algumas outras montanhas. Eles me mostraram uma cachoeira que só de olhar gelava o meu corpo inteiro, mas disseram que no verão é possível aproveitar. Mal esperava para fazê-lo.

Chego em casa à noite, depois de irmos à uma lanchonete. Acho que merecíamos aproveitar o máximo. Em outros tempos eu estaria trancafiada estudando sem parar, mas agora não, não quero ser aquela garota estranha, apesar de também não querer abandonar os meus períodos de estudo. Acho que dá para fazer de tudo, eu só tinha que saber dividir o meu tempo.

Encontro a caminhonete do xerife Graham na porta de casa, já sinto o meu peito retumbar em aflição. Será que aconteceu alguma coisa? Será que é por causa da minha demora, que fez mamãe surtar? Apresso em entrar o mais rápido possível, não quero preocupá-la mais.

Aparentemente está tudo quieto dentro de casa, as luzes estão acesas, mas não vejo movimento algum da minha mãe e o xerife. Subo as escadas quase correndo, tudo está normal até onde vou. Decido ir até o quarto dela. Abro a porta com tudo e sinto minhas bochechas corarem com a cena que vejo.

Xerife Graham está por cima de minha mãe, embaixo dos lençóis, deitados na cama dela. Ouço ruídos, são gemidos e cama rangiam pelos movimentos frenéticos.

—Minha nossa!

Volto para trás rapidamente, fecho a porta com tudo e corro para o meu quarto.

—Claire! —Ouço minha mãe me chamar, sua voz é bastante assustada, posso imagina como se sentiu. 

Sento da minha cama, e sorrio para mim mesma. Ver minha mãe naquela situação é no mínimo hilária, eu nunca imaginei vê-la nessas condições, nem mesmo com o meu pai. É de queimar a retina e cegar os olhos, mas é tão boba que não me contenho.

Acho que se passaram uns cinco minutos até que ela viesse atrás de mim. Está tão envergonhada e sem jeito, que senta na cama toda sorrateira.

Meu Deus, mãe, não precisa ficar assim.

—Claire, eu preciso explicar.
—Você não tem que me explicar nada! Sério, mãe, falar o quê? Está na cara que vocês se gostam. O xerife parece um cara legal, ao menos demonstra que gosta de você. Até um cego ver isso.
—O Jack tem sido um cara incrível. Ele tem segurado as pontas por aqui. —Percebo que se refere aos sentimentos conturbados dentro dela. —Eu gosta da companhia dele, do jeito que fala comigo, de como me trata. Claire, eu nunca fui tratada assim. —Uma fisgada no meu peito me atingiu certeiro.
—Papai não era assim, não é mamãe?

Papai era um ótimo pai, tenho certeza que um ótimo marido também quando referimos a cuidar da nossa família, trabalhar para pôr comida dentro de casa. Ser uma pessoa agradável e respeitar a minha mãe. Mas sei que um homem de verdade para ela, ele nunca foi. Papai era do tipo de homem que não era romântico, não paparicava ela, assim como nós mulheres desejamos. Ele era seco nesta parte, tenho certeza que fazia anos, bem antes da doença, eles não tinha uma relação íntima. Custava para eu presenciar um único beijo. Ele era o homem da minha vida, mas eu sei que com a minha mãe não era bem assim, apesar de ela respeitá-lo da mesma forma que ele. É normal que tenha encontrado em Graham um amor arrebatador, daqueles que fazem você ser teletransportado para outras dimensões. Eu não a julgo.

—Seu pai era muito especial pra mim. Eu o amava como nunca, mas a nossa relação se tornou amizade por muitos anos. Fomos completamente apaixonados um pelo outro em uma época bem distante, mas as coisas mudaram. Não sei se pra pior ou melhor, levando em conta a vida conjugal que tínhamos, mas era boa, pelo menos para mim. —Seguro com firmeza as mãos dela. Lanço-lhe um sorriso amigável. Não é justo querer que guarde o luto por tanto tempo.
—Só quero que seja feliz. É tudo que eu desejo, mamãe. Se é isso que Graham te faz sentir, vou agradecê-lo pelo resto da vida. Caso contrário... —Aponto o dedo, ressaltando o lado oposto. —Eu chutarei as bolas dele, e enfiarei aquela estrela de xerife na sua bunda! —Nunca vi mamãe tão perplexa pela minha boca suja, acho que estou andando com Julia e Patrick demais.
—Onde aprendeu isso, Claire? —Começo a sorrir igual uma maluca.
—Eu não sei. —Ela acompanha o meu riso, mas logo em seguida me encara como se eu fosse a melhor pessoa do mundo. E acredite, ter aquele olhar da sua mãe é a melhor coisa.
—Eu amo tanto você. Foi a melhor coisa que já me aconteceu. —A abraço com fulgor. Temos uma a outra e adoro tê-la na minha vida. Eu a amo de todo o meu coração. Nunca ninguém teve tanta importância para mim como os meus pais.
—Eu também te amo muito, mamãe. —Aperto com força balançando de um lado para o outro. 










Capítulo 7 
Ataque real



Tirei aquela noite para finalmente, terminar de ler o livro que peguei na biblioteca. Como não tive nada para fazer decidi estudar um pouco. Assim me manteria a par das aulas a seguir, já que necessitava manter o meu foco nos estudos do que em Michael Jackson. Mas sei que é complicado, eu nem estava me focando direito no assunto da militância de um governo opressor nos anos quarenta, deitada na minha cama, coberta até a barriga. Quem dirá estando cara a cara com ele. Eu tinha que parar de pensar no Michael, ainda mais sabendo que é um idiota, mas definitivamente eu não conseguia. Não parava de pensar sobre o que Julia havia me dito, e nem parar de relembrar aquela cena de ciúmes. Não sei o que pensar desse cara, ele tem o poder de enlouquecer, e não é no bom sentido, apesar que no outro ele também fazia muito bem. 

Logo na saída para ir para a faculdade no dia seguinte, quem está parado encostada em sua viatura da polícia é o xerife Graham. Estava tão envergonhado que eu podia jurar que se sentia desesperado para esconder o rosto da minha presença. Me sinto uma santa e ele o pecador. 

—Podemos conversar alguns minutos? —O encaro por baixo dos olhos. Semicerro os olhos em uma falsa acusação, mas nem percebendo que estou de brincadeira ele não alivia. 
—Se não atrapalhar as minhas aulas, pode ser. 
—Ah... ah... desculpa! Pode ser mais tarde, então. —Começo a rir.
—Não seja bobo, xerife, é claro que podemos. —Tento tranquilizá-lo e dá certo, pois consigo ver um sorriso ali, mesmo que tímido. Agora vejo que fez mamãe gostar dele. Graham é tipo de coroa que mais parece um meninão. Dá para notar só pelo jeito doce que ele tem. 
—É sobre ontem à noite. É... —Não consegue completar, é como se algo o engasgasse. — Sabe? Eu e sua mãe... —Levanto a sobrancelha esperando que terminasse. —É... ontem à noite. 
—Xerife eu não sou mais criança, se o senhor não percebeu. Acha mesmo que eu não percebi os olhares insinuantes em cima dela assim que a conheceu? Se tem uma coisa que eu sou nessa vida é observadora. —Ele apertou os olhos como se houvesse levado um soco no estômago.
—Ficou tão na cara assim? 
—Oh! Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que não me meto nos sentimentos das pessoas. Eu conversei com ela ontem e sabe? Ela gosta de você. Disse que você a faz feliz, é tudo que importa pra mim, xerife. A não ser que a faça chorar, aí vai ter que se ver comigo. —Fico séria, muito, muito brava. 
—Eu juro... eu... não vou magoá-la. —Começo a rir e dou um tapinha no ombro dele. Nunca vi um cara tão assustado com as minhas "ameaças" antes. Sinceramente? Acho fofo. 
—Eu sei que não, é um cara legal. Vi pela forma que me trouxe de volta pra casa depois do que houve na festa. —Ele sorri de lado. Ele tem a cor dos olhos no tom dos da minha mãe; Ora verde, ora azuis. 
—Ela se preocupa muito com você. É que mais fala durante nossas conversas. Eu não podia ter outra atitude senão trazê-la sã e salva de volta pra ela. —Minha nossa! Aquelas palavras me tocaram tão forte que me encho de um sentimento bom. Xerife Graham acaba de ser de novo aprovado por mim. —Venha, eu levo você pra escola. 
—Faculdade. —O corrijo. 
—Ah é, faculdade! —Sorrio junto com ele e aceito a carona. 

Adoro andar de viatura pela primeira vez. Dentro há todo um equipamento da polícia, rádios de comunicação, e até algumas armas. Fico um pouco apreensiva, mas nada que me faça sair do carro. 

—Sempre foi da lei? —Estou curiosa para saber um pouco da vida dele, já que agora iríamos nos ver sempre. 
—Desde os meus dezoito anos. É uma cidade pequena, você não tem muitas opções de carreira. O que mais dá dinheiro por essas terras é Prefeito, mas acho o sistema muito corrupto, principalmente em Oregon. 

Ele passa a quarta macha e vamos em uma velocidade maior. Continuo amando o visual daquela estrada apesar de está prestando atenção no que Graham diz. 

—Sei como é. Aqui para ter algum, tem que aprender a passar a mão também. —Ele confirma com convicção a minha afirmativa. 
—Às vezes há corrupção na polícia também, mas o importante pra mim é tentar proteger a população. Isso sempre foi uma grande paixão. Não penso muito em dinheiro, apesar de não ser hipócrita ao ponto de repudiá-lo. 
—Entendo. Ótima escolha a que fez, então. Agora é o xerife, o manda chuva por aqui. 
—Viu só? Acho que prosperei na vida. —Pisco para ele. 
—Conhece todo mundo daqui, não é? Conhece bem o assassino que matou Lucy e aqueles dois caras na nossa propriedade. Por que nunca conseguiram detê-lo? —Ele suspira fundo, parece desanimado com a minha pergunta. 
—Esse assunto é tão desgastante que você nem possa imaginar. O tal homem de galocha é algo impossível. Tentamos por anos; armadilhas, flagrantes, mas tudo que encontramos é um cadáver e pegadas de galochas que não dão em lugar nenhum. Parece um fantasma. —Percebo que o que aquela cidade enfrenta é bem pior do que eu pensava. 
—Ele não deixa vestígios? Quer dizer, provas irrefutáveis de que aquela pessoa é o homem de galochas? —Ele balança a cabeça. 
—Por vários anos encontramos pistas, suspeitos. Mas nenhum chegou à conclusão definitiva. As supostas provas nunca batiam, e pegar o cara se tornava cada vez mais fora da realidade. Até que ele deu um tempo. Ficou anos sem aparecer, tornando nossa vida um pouco mais fácil. Contudo, sempre que voltava, era mil vezes pior. —Sinto um arrepio medonho na espinha. 
—Tenho medo de aparecer na fazenda, parece que aquela casa é o marco zero de tudo. Não sei, tem algo ali que o atrai, não acha? —Ele concorda. 
—Sim, os corpos sempre são encontrados dentro da propriedade ou nas proximidades. Sei que Forest Grove não é tão grande assim, mas é bem evidente o "apreço" que o assassino tem daquele lugar. Tentei alertar a sua mãe, mas ela não me ouviu. 
—Talvez se você implorasse. Bem, conversasse com ela, tenho certeza que lhe ouviria. —Balança a cabeça, como se o trabalho fosse inútil. 
—Ela não quer. Mas não tem problema, Claire. Temos protegido as duas com muita dedicação. Se alguém se aproximar da propriedade saberemos. É uma forma que encontrei para mantê-las seguras. Sua mãe se sente bem assim também. 

Mas eu não me sinto, não sei, esse tal treco pode não funcionar. E se alguém invadir a casa como já fez algum dia. Esse homem não parece perigoso, ele é! Há uma ameaça real aqui, e ela é como fúria de um vulcão. Não estou afim de estar por perto quando ele entrar em erupção, e nem quem amo. 
Xerife Graham gira o volante do carro e entramos no estacionamento da Pacific University. 

—Obrigada pela carona, xerife. —Retiro os cintos de segurança e pego os meus livros de cima do porta-luvas. 
—Me chama de Jack, somos quase parentes agora. —Dou uma piscadela para ele. 
—Até mais Jack. —Ele bate no chapéu como os militares fazem em forma de continência. Desço do carro. 

***

A chuva caia sem parar do lado de fora do celeiro. O frio parecia faca cortando a minha pele. Para falar a verdade tempos como estes são bem agradáveis. Você simplesmente não é obrigado a fazer nada do que não queira fazer. Sua mente esvazia e é possível estudar com tranquilidade. 

Depois do que houve nem sei como tive coragem de voltar sozinha ao "refúgio" que julguei ser meu, precipitadamente. Entretanto, não iria deixar um louco assassino estragar um pouco de alegria que me restava. Se é que ainda sou dona de pelo menos um pouco. Michael continua sendo um idiota, mal olha para a minha cara, só responde "sim" e "não" para todas as perguntas que faço. Nem um professor profissional ele consegue ser direito, pelo menos não comigo, ou quem sabe, nem com ninguém? Haviam coisas bem erradas no meio disso tudo, coisas que por mais que tente ignorar não consigo. 

Escrevo alguns tópicos no meu fichário, para facilitar o estudo. As provas ainda estão distantes, mas como gosto de me manter adiantada, procuro meios para fixar o conteúdo. Os trovões me assustam um pouco, e o clarão dos relâmpagos me repelem, porém continuo focada na militância governamental. 

O barulho que ouço me arranca de uma vez dos livros. O vento forte começa a bater a janela com uma força sobre humana. Nunca ouvi ventos uivantes com toda a força como aquele. Levanto de onde estou e tento fechar as janelas, mas custa muito conseguir, só depois de muitos esforços que finalmente fecho. A energia acaba e eu fico em um completo breu. 

—Ai não, era só o que me faltava! —Procuro lamparinas em um baú no canto superior no segundo andar, lá mesmo, onde criei o meu espaço, com a ajuda do celular para iluminar. 

Ligo com ajuda de um fósforo, ainda bem que me preveni, justamente prevendo energias acabando de repente. Morro de medo de escuros, detesto ficar no meio deles, não sei, me sinto exposta e propensa à atividades ruins. Pode-se dizer que tenho medo de espíritos rondando no escuro, ou almas penadas dispostas a assustar. Porém outra coisa me assusta, e posso dizer com toda a certeza do mundo que não eram almas e nem espíritos. O grito de mamãe é de um pavor inigualável, eu jamais presenciei tal horror em toda a minha vida. Meu corpo todo treme, paraliso. Mas são a suposição do que possa está acontecendo que me desespera. Me lembro do assassino de galochas na hora.

—Mamãe!! 

Disparo a correr com intuito de salvá-la. Minhas pernas estão trêmulas, mas não o suficiente para me parar. Nem sei como desci as escadas com tanta pressa. Chego em casa, lá as luzes estão bem acesas, não sei se havia acabado de chegar, ou somente no celeiro que faltou. Não tenho tempo para análises. Adentro a casa chamando por minha mãe, uma angustia se apodera de mim, mas é a cena que presencio que me arrebata deste mundo. Mamãe está deitada no chão desmaiada, há sangue por todo o carpete, ela tem um corte no braço, provavelmente tentara se defender usando-os. Não consigo identificar nenhum outro ferimento. 

—Mamãe! —Começo a berrar desesperada com a cena, tudo que penso agora é se ela estava viva ou morta. Minha cabeça gira, estou sem apoio nas pernas. Eu não poderia perder aquela mulher. —Por favor, acorde! Não faça isso comigo! —Bato de leve em seu rosto e não obtendo respostas, fico ainda mais inconsolável. 

Verifico os seus punhos, ainda tem batimentos, mesmo que bem fracos. Não sei se bateu a cabeça ao cair, mas sei que fora atacada e nada me tira da cabeça que tenha sido o assassino. Meu Deus! Estamos vulneráveis, sem proteção alguma. Olho para o redor, não consigo encontrar nada. É evidente que, seja ele quem for, já teria ido embora faz tempo. 

Encontro o celular de minha mãe no bolso de sua calça, encontro o número do xerife logo de primeira. 

—Alô, Graham! Graham, minha mãe foi atacada, por favor venha depressa, eu não sei se aguentará por muito tempo. —Desligo o telefone com o namorado da minha mãe em choque do outro lado da linha com a promessa de vir o mais rápido possível. 

Não demora muito para que a propriedade esteja repleta de ambulâncias e a equipe de Graham vistoriando o local. Me jogo nos braços dele, estou tão assustada. Morrendo de medo que aquela desgraça recaísse sobre nós. 

—Calma, Claire. Ela vai ficar bem, não foi nada grave, fique calma. —Ele tenta me acalmar, mas é inútil. Choro por tudo, por tudo que tem acontecido desde que chegamos. Por todo o medo que tenho de enfrentar desde que chegamos a Forest Grove. 

Acompanho minha mãe na ambulância. Há curativos em sua testa, e um balão de oxigênio. Acredite, ver sua mãe, a pessoa que você mais ama nesse mundo, sendo hospitalizada, é a pior coisa que existe no mundo. Nem quero pensar se alguma coisa mais grave pudesse ter acontecido. 

A maca que ela está deitada é levada por três paramédicos até dentro do hospital. Tento segui-los, mas sou impedida logo antes da sala de atendimento. Eu não consigo parar de chorar, uma onda ruim me atinge. Meu peito está tão apertado que me sufoca. Acho que se passam quase duas horas desde que minha mãe entrou e não sai. Meus pensamentos não estão me ajudando, não consigo parar de pensar o pior. As chances dela ter batido a cabeça são grandes e é isso que me enlouquece. 

—Jack! —O xerife chega no hospital, está bem sério, mas eu sei que está preocupado e morrendo de raiva.
—Não há pistas do desgraçado, aquele maldito não deixou nem um único rastro! —Ele grita tão forte que cospe. 
—E agora? —Meus lábios estão trêmulos. 
—Vocês vão pra minha casa, até as coisas resolverem. Eu já conversei com a sua mãe sobre isso, agora acho que essa é a hora. Vocês não podem ficar sozinhas naquele lugar. O maldito ataca apenas perto da propriedade, vão está seguras lá. —O abraço com força, é tudo que mais quero, ficar segura. Não dá para voltar depois de tudo. 
—Quem é responsável por Monica Connon? — O médico aparece finalmente. Me manifesto. —Ela está acordada. —O alívio me toma de um jeito que sinto todo aquele peso sair de cima de mim. Posso jurar que é possível flutuar. 
—Posso vê-la? 
—Sim, me acompanhe. —Olho para Jack.
—Pode ir, preciso resolver algumas coisas, mais tarde eu volto. —Assinto e sigo o médico em seguida. 

Mamãe tem um curativo em cima da sobrancelha, está acordada, mas em choque. Vejo que não há vida em seu olhar, parece aérea.

—Mamãe? A senhora está bem? —Ela me olha bem devagar. Um susto no estômago faz meu corpo pular. Ela não está bem.
—Ele usava uma máscara, Claire. Estava com uma foice nas mãos. Ele disse que me mataria se eu não fosse embora da Fazenda Wood. Disse que é sua casa, e não permite mais ninguém viver ali. —Me espanto! Pelo que eu saiba ninguém nunca ficou frente a frente com aquele homem e saiu vivo para contar. A ameaça é pessoal. É claro que a Fazenda Wood é dele, e encontrou esta forma assombrosa de enxotar o intruso.
—Você ouviu a voz dele? —Ela negou com a cabeça, apertando os olhos para chorar. Lágrimas escorrendo em seu lindo rosto, e é de partir o coração.
—Estava alterada. Não pude ver nada, estava todo coberto de preto. Usava botas, nada de galochas. Nunca mais passei tamanho pavor em toda a minha vida. —Abraço a minha mãe com força.
—Está tudo bem, mamãe. Agora está tudo bem. —Meu choro se junta com o dela. —Vamos pra casa de Graham, ele vai cuidar de nós. —Ela balança a cabeça positivamente. Tenho certeza que se sente tão aliviada quanto eu. 

***


Vou até em casa buscar algumas roupas minhas e de minha mãe, para levar à casa de Jack. Ainda há muitos policias por ali. O xerife ainda comanda o trabalho. Faço uma pequena mala com poucas coisas. Pego os meus livros da faculdade. O essencial. Guardo tudo dentro do carro com a intenção de levar a casa de Jack e depois ir para o hospital ficar a noite toda com a minha mãe. 

Sinto-me humilhada. Estamos sendo enxotadas da nossa própria casa por um psicopata perigoso nos ameaçando de morte. Ver aqueles policiais dentro de casa, é como ser prisioneira sem ter feito coisa alguma. Lágrimas rolam do meu rosto. As imagens de mamãe caída no chão volta a me angustiar. E se esse homem vier atrás de nós de novo? Ele foi atrás de mim uma vez, e agora atacou a minha mãe. Não me sinto segura em canto nenhum, mesmo sabendo que a Fazenda Wood é o seu principal alvo. Levo um susto, quando termino de bater a porta do carro e me viro, dar de cara com Michael Jackson atrás de mim. Estava visivelmente transtornado. Olhos arregalados, como se visse o terror em sua frente. 

—Eu soube da sua mãe. Vim o quanto antes. —Suspiro. Aprecio o seu gesto, muito mesmo, mas não era a pessoa que eu estava esperando no momento, aliás não era uma boa hora para vê-lo. 
—As notícias correm rápido demais por aqui. 
—Mal de cidade pequena. —Sorri de lado. 

Está diante de Michael naquele momento, estranhamente me dá vontade de chorar. Parece que tudo que estive guardando por muito tempo volta com força total assim que meus olhos o encaram. É tão forte que mal consigo respirar. 

—Ele a atacou! —O choro me engasga, não posso controlá-lo. —Minha mãe estava deitada sobre o próprio sangue. Agora estamos fugindo como se fôssemos umas criminosas! —Meus lábios tremem tanto que não consigo controlar. Michael me olha com um pesar impressionante. Acho que pela primeira vez na vida consigo notar sentimentos neste homem. —E se ele vier nos matar, Michael? Se ele nos caçar como animais e vir destroçar as nossas carnes? Pra onde iremos? O que faremos da nossas vidas! 

Estou tão transtornada que as palavras saem da minha boca sem freio. Sou puxada pela cintura, caibo perfeitamente bem no peite de Michael. Meu choro é tão forte e tão intenso quanto as batidas do coração dele, que acelera em descontrole. Seus braços me envolvem com carinho, me sinto protegida, incrivelmente protegida. É uma sensação estranha, porque é como se eu estivesse no lugar que deveria estar. Sinto uma conexão inexplicável, e um conforto inigualável. 

—Nada vai acontecer com você. Nada! —Ele segura no meu rosto me fazendo olhá-lo. Ainda estamos abraçados, a mão dele aperta a minha cintura como se não quisesse soltar nunca mais. 

Seus olhos escuros estão lacrimejados. Ele assume a minha dor, é tão forte que sinto que ele realmente se preocupa comigo, como nunca se preocupou com mais ninguém. Me sinto especial, única. Nossos olhos se fitam, é como se transmitisse um para o outro o nosso sentimento. Eu sei que o dele é de proteção "conte comigo sempre, eu estarei ao seu lado" os meus com certeza são "por favor, não me abandone." 
Olho para os lábios de Michael, são tão vermelhos e carnudos que sinto uma atração imensa. Seu rosto de anjo tem um cheiro bom, sei que é o perfume que usa, e me lembro que está no meu corpo pelo fato de tê-lo abraçado há alguns minutos antes. 

Ele é tão bonito! Tão sedutor que não me vejo atraída por mais ninguém. Acho que percebe toda aquela atmosfera atrativa que pairou sobre nós, pois minha boca é coberta pela dele de uma forma tão envolvente que sinto minhas pernas bambas. Os lábios dele são macios, e sua língua tem um sabor descomunal. É forte os movimentos, como uma batalha, como se toda a turbulência dentro de nós é reflexo daquele beijo. Sua mão segura meu rosto com força, e sei que está trêmula. Meus lábios são sugados freneticamente, uma tentativa que ele encontrou de demonstrar o quanto me queria e queria para ele. Estou gritando por dentro, é como satisfação dos meus desejos. 

Toco em seus cabelos cumpridos, para manter sua boca ainda me beijando. É macio, do jeito que imaginei. Mordo os seus lábios de levinho, gemo baixinho, completamente apaixonada por ele. 

—Michael... —Sussurro rente aos seus lábios, completamente pasma com o que houve. Ele não está diferente, perplexo eu diria. 
—Não diz nada, por favor. —Balanço a cabeça. 

Sua testa cola na minha, seus lábios estão vermelhos e inchados por conta do beijo. Meus dedos passeia pelos seus cabelos. É maravilhosa a sensação. 

—Não vai acontecer nada com a sua mãe. Eu não vou deixar, ouviu? —Assinto, quase passando mal com aquela demonstração excessiva de proteção. —Você é tudo que eu preciso, Claire. —Ele beija o meu rosto com delicadeza enquanto fala. —Não consigo parar de pensar nenhum só minuto em você. É engraçado, porque eu nunca senti isso antes. É como uma conexão que me atrai sempre para perto de você. —Uma lágrima escorre de meus olhos ao saber que o que sinto é o mesmo que ele sente. —Então eu sei que você é a pessoa. Que você é pra mim, Claire. —Juro que se ele dizer mais alguma coisa como isto irei desmaiar de tanta felicidade. 

Parece que às vezes em que Michael fora um babaca comigo se apagou, e só ficou a vontade de ficar com ele. Só penso em coisas boas e os motivos que o fez me beijar daquela forma. 

Desta vez, sou eu que beijo a sua boca. Nossas línguas entrelaçam um na outra, Michael falta engoli-la de tanta necessidade que tem. Eu também tenho esta necessidade, tudo em mim é atraído por ele, como um imã. Sou levada deste mundo ao sentir o seu toque, o seu carinho e o seu cheiro. Eu também o quero para mim. 















Capítulo 8 
Mais perguntas do que respostas 


Acho que passa-se alguns longos minutos que Michael e eu estamos nos abraçando daquele jeito. Minha nuca é acariciada por ele com tanta delicadeza que atenua toda turbulência dentro de mim. Minhas mãos acariciam suas costas rígidas. Aquele abraço é tão bom que não sou capaz de pensar em mais nada. 
Recebo beijinhos nas minhas bochechas, algumas vezes mordias nos lábios, que me fazia querer beijá-lo desesperadamente, mais uma vez. 

—Michael, por favor, me explica? 

Preciso entender os motivos dele, preciso saber se não estava brincando comigo. Michael é um cara difícil, não quero correr o risco de ser enganada por ninguém. Seria destrutivo levando em conta o que sinto. 

—O que há para explicar, se nem eu consigo entender? —Esfrego meus dedos em seus cabelos, para olhá-lo nos olhos. Aquele sorriso é perfeito. —Eu nunca senti nada parecido, Claire. Eu estava lá, vivendo a minha vida como se não existisse mais nada melhor. Você chegou e percebi que... que eu não preciso ficar sozinho pelo resto da vida. 
—Você nunca precisou. Existem um monte de mulheres que com certeza cairiam ao seus pés, você que não dá brecha para ninguém se aproximar. —Ele balança a cabeça com um sorriso de confirmação estampado. 
—É aí que tá. Eu nunca contei nada sobre mim como contei pra você. Eu nunca tive uma conversa nem por um minuto sequer com ninguém. Não confio nas pessoas, vivi a minha vida inteira tendo a certeza que elas traem, machucam e magoam. Eu sei que você não é assim, Claire. Você é boa demais, um anjo capaz de me libertar de toda essa couraça que vesti durante tantos anos. 

Não desvio os meus olhos dos dele, não sei o que dizer, na verdade gosto desse papel. Adoro o fato de ser tão importante assim para ele. Fico em choque com as suas palavras, não sei o que fiz. 

—Michael, o que você falou pra mim outro dia eu... 
—Eu estava morrendo de ciúmes! —Altera a voz, todo transtornado de novo. Me afasto por conta da sua grosseria. —Desculpe. 

É claro que ele percebe que não consigo me acostumar com o seu jeito, por mais que eu tente. Michael tem noção no que causa às pessoas. 

—Eu preciso ver a minha mãe. —Tento sair, mas ele me puxa. 
—Claire, por favor. Não sou uma pessoa fácil em lidar, eu entendo. As pessoas vão embora porque não suportam, muitas vezes eu não ligo, não faz diferença para mim. Mas você... odiei vê-la de papinho com o idiota do Patrick. Minha vontade foi de matá-lo! —Ele range os dentes, e aperta as mãos com força. Arregalo os olhos, pelo seu ataque de fúria. 
—Você está me assustando, Michael. 
—Não! —Ele me abraça de novo com força, como se não quisesse mais me soltar. Sua testa cola na minha. Sua respiração está alterada. —Desculpa, desculpa, desculpa. Eu não quero assustar você. É a última pessoa que quero fazer isso.
—Michael, não precisa pedir desculpas. O Patrick é só uma amigo, não temos nada. Não tenho nem interesse. —Seguro seu rosto fazendo-o me olhar. —Você é o cara que me interessou desde o primeiro momento. —Seus lábios vão se curvando lentamente em um sorriso satisfeito. Parece mais tranquilo, bem mais aliviado. —É sério, não é fácil eu gostar de alguém assim tão rápido.

Recebo um beijo doce na boca, bem mais pacífico e suave. O sabor do seu beijo melhora cada vez mais, e cada vez mais me sinto apaixonada por ele. 

—Você é tão linda. —Murmura no meu ouvido. —Vem para a minha casa, você vai ficar segura lá. 
—Já combinei com o xerife, vamos ficar na casa dele. 
—Xerife Graham? Aquele idiota? —Parece que Michael detesta todo mundo. Assinto. 
—Ele é o namorado da minha mãe e quer nos ajudar. 
—Sério? —A cara confusa dele me faz rir. 
—Pois é. 
—Tudo bem, olha. Eu vou para o hospital com você, fico o tempo necessário. —Me jogo em seus braços, o abraçando com força. Adoro o fato que quer ficar comigo, e fazer isso por mim. Acho que ninguém nunca havia feito nada por mim. 
—Vou precisar muito de você. 




Michael não desgruda das minhas mãos nem por um só segundo. Ele segura com tanta força que a sensação é de esmagamento. Penso que seja um reflexo de tudo que sente por dentro. Talvez se apaixonar seja a coisa mais difícil que já aconteceu na vida dele. Não o julgo, depois de ter os pais mortos de uma forma tão cruel, viver em um orfanato por toda a sua vida, sem ter uma base de uma família, ninguém para amá-lo. Deve ser sim a coisa mais difícil. 

Percorremos o longo corredor até o quarto onde minha mãe ainda estava internada. Michael parece deslocado, não sabia direito como reagir. Parece um bicho do mato. Ele está lá por mim, sou o motivo da sua vida ter saído da rotina costumeira, até mesmo das obrigações sociais do qual faz questão de evitar. Dá para notar o quanto ele gosta de mim. 

Olho pela janela de vidro do quarto onde minha mãe estava em repouso. Está dormindo, parece tranquila, o que me tranquiliza um pouco. 

—O médico disse que ela só está em observação. Talvez amanhã já receba alta. —Michael balança a cabeça.
—Isso é bom, muito bom. 

Olho atrás de Michael, Jack está vindo pelo mesmo caminho que nós. Ele caminha rápido, mas também está bem mais tranquilo que antes. 

—Conseguimos resolver quase tudo, Claire. Mas ainda não há rastros do bandido. 

Quando Michael vira o corpo para olhar Jack, juro que notei algo estranho no ar. Jack se assusta quando percebe que quem está ao meu lado é Michael, não entendo porque, mas vi que seu semblante mudou na hora. 

—O que ele está fazendo aqui? —Michael o encara com aquele costumeiro olhar que já me conturbou uma vez. 
—Preciso de um motivo para visitar alguém moribundo? —Os dois parecem galos de briga. Um querendo acabar com o outro.
—Vocês se conhecem? —Pergunto toda apreensiva.
—Quem não conhece o babaca que acha é o dono do mundo? Pessoas assim você reconhece de longe, é como sintomas de doença. 
—Jack! —Fico furiosa com o cara que se diz apaixonado pela minha mãe falar desta forma do homem que eu estou apaixonada. 
—Não se preocupe, Claire. —Michael caminha dois passos próximo dele. A ameaça fumega nos olhos, e não vacila. —Você nunca vai encontrar esse assassino, xerife, sabe por quê? Sua incompetência não permite que chegue nem perto da sombra dele. Essa cidade está perdida com um homem como você, ter permissão de "cuidar" dela. Nem a mulher que você namora não consegue tomar de conta. O que será desse lugar nas suas mãos? —Xerife Jack Graham avança minimamente para cima de Michael, mas desiste no meio do caminho. A tensão entre eles está tão pesada que só consigo pensar no pior. 
—Quem sabe eu tenha as pistas, e o assassino está diante de mim? —Levo um susto, é tão forte que uma pontada no peito me faz perder o juízo. Olho Para Michael, ele não se abala nem por um só instante.
—Está me acusando de algo, xerife? —Jack não responde, invés disso o encara com um sorriso contido. Tem algo nitidamente estranho entre os dois, do qual não sei o que é.
—Parem! —Entro no meio. —Não é hora e nem lugar para brigas inúteis. Minha mãe está em uma cama de hospital e há um assassino à solta. Pelo amor de Deus parem de serem tão infantis. —Jack ajeita o chapéu na cabeça, se recompondo, mas não tira os olhos de Michael. 
—A casa já está organizada para vocês. Amanhã assim que Monica receber alta, vou levá-las. —Assinto e ele toma o seu rumo. 
Me coloco na frente do meu namorado, ávida por informações que me levariam a entender o motivo de tudo àquilo.
—Michael o que foi isso? —Sua mão segura o meu rosto com delicadeza, recebo um beijo nos meus lábios. Beijos suaves e quentes. 
—Não se preocupe. Nunca fui simpático ao xerife, e pelo jeito nem ele a mim. —Ele me puxa para sentarmos em uma das cadeiras de espera postas no corredor. 
—É, mas ele acusou você. —Meu coração acelera ao lembrar, e como Jack tinha tanta propriedade para dizer. 
—Pessoas antissociais, que não gostam muito de outras pessoas, são sempre taxas como estranhas. Eu não ligo para as acusações dele. É preguiça! Não consegue colocar a mão nesse cara e acha mais fácil colocar a culpa em terceiros. 

Estou tão confusa que acho que vou pirar, são tantas coisas acontecendo que nem sei se resolveria. Minha cabeça gira feito um carrossel e tudo que encontro são mais perguntas que respostas. 

—Eu acho que você deveria ir para a minha casa. Não acho que esteja segura na casa desse cara. —Sorrio de lado pela preocupação dele, mas não sei direito o que fazer. Prefiro optar pela opção certa, do que ouvir o meu desejo. 
—Minha mãe vai se sentir melhor com ele, e eu preciso ficar ao lado dela, Michael. Mas obrigada pela sua preocupação. Eu não sei como seria se não tivesse ido até mim e... você sabe, me consolando daquela forma. —Fico sem graça, mas ele segura as minhas mãos e olha no fundo dos meus olhos. Notar que aquele olhar doce era para mim quando na maioria das pessoas são bem diferente, é como uma pedra preciosa, raro e... precioso! 
—Você não tem que agradecer a ninguém pela forma como você as fazem feliz, Claire. Porque é isso que faz, e está fazendo comigo. —Ele beija a minha boca de novo, adoro senti-la colada na minha. Sua língua me experimentando é como ir ao céu. 
—É sério isso? Não acredito! —Ouço a voz de Julia atrás de nós. Está incrédula porque viu Michael e eu nos beijando. 

Tenho certeza que as reações das pessoas de agora em diante seria esta, quando nos vissem juntos. Percebi que Michael não é bem visto por ninguém nesta cidade, sempre alguém tem algo ruim a dizer sobre ele. Até mesmo eu tenho algo ruim para dizer, mas acredite, eu sei que estas mesmas pessoas não o conhecem, como eu o conheço hoje. Michael é só garotinho perdido no mundo que precisa de alguém para encaixá-lo. Me sinto ótima sendo esta pessoa. 

A atitude de Michael é rápido e objetiva. Se coloca de pé com uma pressa impressionante. 

—Preciso ir, depois nos falamos. —Ele nem espera que eu responda nada, passa por Julia sem olhá-la nos olhos e vai embora. 

Céus! Que homem mais complicado foi esse que arrumei para mim? 

—Oi, né, senhor simpatia? —Julia fala alto, mas é tarde demais, ele já foi embora e nem liga para as ironias dela. 

Seu olhar em cima de mim é pasmo. Ergo os ombros não sabendo responder a atitude dele. 

—O que você estava fazendo com o mal educadinho? 
—Nos beijamos. —Respondi o óbvio. 
—Vocês estão namorando? —Para falar a verdade fiquei tão surpresa quanto ela me fazendo esta pergunta. Nem eu mesma sei qual é a do Michael. Mas confio nas palavras dele quando disse que queria ficar comigo, ele pode ser como for, mas eu acho que mentir não seria capaz. Ainda mais sendo tão sincero e honesto com as coisas que acredita. Pessoas assim são raras. 
—Eu não sei. —Sussurro um pouco envaidecida. 

Será mesmo que estávamos namorando? Mordo os meus lábios de leve sem que Julia perceba o meu contentamento. Eles ainda estavam marcados pelos lábios de Michael, sugando e mordiscando. Ainda posso sentir o gosto dos seus beijos. Não tenho dúvidas de que estou louca por ele. 

—Se não estão, está bem perto de estarem. Bem, mas não foi pra isso que vim. Soube do que aconteceu com a sua mãe. Ela está bem?
—Está sim. Precisa ficar em observação agora, mas logo pela manhã ela receberá alta. Graças a Deus não foi nada grave. 
—Acha que possa ter sido o cara? 
—Eu tenho certeza, Julia. Ele não a matou por um motivo, e com certeza irei descobrir o porque. 

Falo determinada de um jeito que não havia sentido antes. Eu precisava descobrir quem era o assassino, precisava fazer alguma coisa para ajudar Graham e a população de Forest Grove. Minha casa fora ameaçada duas vezes e ainda estamos aqui. Uma boa razão deve ter, e irei me agarrar a ela para conseguir ajudar aquelas pessoas. Nunca tive tanta certeza de algo na vida. 

—Você é louca, Claire. O que acha que vai conseguir? No mínimo vai acabar como os caras na fazenda, e como... Lucy. —A voz dela embarga no momento em que menciona a amiga. 
—Alguém tem que fazer alguma coisa. Eu sei que não vou conseguir nada se nem mesmo Graham conseguiu, mas não sei. Deve haver um jeito. Esse cara não pode ser completamente desconhecido. Arrisco dizer até que está no meio de nós. 

Me surpreendo com o meu próprio argumento. Ai, Meu Deus é isso! Com certeza o assassino está entre nós. Ele não pode simplesmente aprontar das suas e sumir. Forest Grove nem é tão grande assim. Não sei porque não tinha pensado nisso antes. Queria saber se alguém havia pensado nisso antes. 

—Você acha? —Julia dá um grito pela a minha afirmação. —Será que conhecemos? —Olha ao redor assustada, como se acusasse até mesmo sua sombra. 

Penso por algumas vezes a acusação do xerife a respeito de Michael. É uma possibilidade descartada, eu sei, aquilo fora mais implicância do que de fato uma afirmativa. Michael é um chato e cheio de manias, mas não é um assassino. Porém tenho certeza que Graham partiu do principio que acabo de esclarecer. Óbvio que o assassino está entre nós. 

—Quem sabe? 

***



Depois que mamãe deixou o hospital naquela manhã, tudo ficou melhor. Eu estava mais aliviada, e bem mais disposta. Ainda bem que não fora nada grave, mas o meu receio ainda estava latente, por isso que fomos para a casa de Graham. A casa é pequena, mas tinha pelo menos dois quartos, o dele e o nosso. Eu ficaria com a minha mãe, ela na cama e eu no colchão que pegamos em casa. Nada confortável, porém sendo seguro é o que vale. Como o xerife está de plantão nas ruas de Forest Grove, a casa ficara sendo só para nós. 

—Foi horrível, Claire. Não quero voltar pra aquela casa nunca mais. Se eu tivesse escutado você, nada disso teria acontecido. 

Quando conversávamos eu preparava o almoço. Haviam poucos ingredientes na cozinha, acho que o xerife não é adepto a compras, mas consegui me virar com o que tinha. Mamãe estava sentada na cadeira da pequena mesa de madeira me observando. 

—Quem saberia, mamãe? Esse cara é um psicopata, precisa de ajuda. Acho que Michael tem razão quando disse uma vez que o que o sustenta, é o medo que as pessoas têm dele. Deveríamos enfrentá-lo, caçá-lo. Sei lá fazer alguma coisa. 
—Lá vem você querendo dar uma de heroína. Eu quero você longe disso tudo Claire, está me entendendo? Sorte a nossa que temos Jack ao nosso lado, já pensou? O que seria de nós? —Remexo a colher de pau no ensopado.
—Deve haver uma solução, mamãe. Qualquer que seja tem que haver. —A porta de alvenaria abriu em uma estrondo. Era Jack chegando. 
—Como estão as coisas por aqui? Hum, que cheirinho bom! —Deposita um beijo nos lábios da minha mãe, e outro na minha bochecha, estranhamente me sinto em um lar com mãe e pai juntos. Óbvio que não me esqueci do meu, mas seria bom se ele ainda estivesse conosco. 
—Está tudo bem, na medida do possível. Claire quer dá uma de super heroína e achar o assassino. —Reviro os olhos pelo exagero de mamãe. 
—De jeito nenhum! Você e sua mãe ficam longe disso. Estamos trabalhando e tudo vai dar certo. —Bufo exaurida e largo o ensopado. 
—Pelo visto não estão se empenhando muito. O bandido ainda está por aí. —Jack me olha com irritação, percebo a aba da suas narinas se mexerem e o olhar me encarando. 
—Está falando igual o seu namoradinho. Ele encheu sua cabeça, não é? —A raiva vai subindo por todo o meu corpo, pela ousadia do xerife. Não posso me calar.
—Não é da sua conta! —Nos encaramos como se quiséssemos confrontar um ao outro, começo a ficar cheia de ressentimento para o lado de Graham, coisa que eu não havia sentido antes. 
—Não acredito que estão discutindo por causa disso. Que namoradinho é esse, Claire? 
—O professor, Monica. Aquele babaca que acha que pode consertar o mundo. Claire está andando com ele. Tome cuidado, nem sempre o que parece, ser na verdade é. 
—Fala por si mesmo, xerife? —O enfrento, sem vacilar os olhos dele. Aquele papinho está me enchendo. Só porque está namorando minha mãe acha que pode falar comigo daquele jeito? —Ao menos Michael é honesto consigo mesmo, não precisa se fazer de bonzinho para conseguir o que quer. —Falo e saio. Ouço minha mãe me chamar, mas não me importo. 

Não quero saber de jantar, não quero saber de falar com ninguém. Mamãe tenta por diversas vezes tocar no assunto, mas não dou a mínima. Estou furiosa com aquela situação e com Graham. Não sei o que ele tem contra o Michael, mas eu irei descobrir isso também. Os problemas estão tão cheios que até me esqueço que Michael e eu ficamos. Sinto tanta falta dele, queria está ao seu lado agora mesmo. 

Não tenho sono! 

Enquanto todos estão dormindo, decido ir até a cozinha beber um copo d'água. Além de não ter ingredientes suficiente para preparar uma sopa na sua dispensa, não há um copo limpo para ser usado. Mamãe ainda está se recuperando, eu a entendo, até porque a conheço o suficiente para saber que se estivesse bem tudo estaria limpo, mas Graham? Pelo amor de Deus que sujeito mais desorganizado. 

Deixo a água para depois. Mas algo me chama atenção. Percebo uma porta ao lado do armário, com certeza levaria até o porão. Queria explorar naquela noite insone. Logo imagino um porão cheio de armas e fardas velhas de Graham. Quem sabe um monte de entulho velho que guarda naquele espaço? Pode ser que "levo" o meu celeiro para lá, já que passarei alguns dias, embora eu já queira ir para casa. 

Abro a porta com cuidado para não fazer barulho. Acedendo a luz tocando no interruptor. A luz verde me leva a um sob mundo distinto e bastante peculiar. Dou alguns passos para frente, percorrendo os meus olhos por toda a parte. Tudo que vejo me impressiono. Não há armas, fardas velhas e tampouco entulhos. Tudo que há lá dentro, me deixa intrigada de uma forma insana. Há fotos e mais fotos de pessoas mortas pregadas em um mural. Todas com datas do acontecimentos. O motivo também está impresso no roda pé. Vejo ao menos umas dez só na Fazenda Wood. As imagens são fortes, tão fortes que embrulha o meu estômago. Pessoas mutiladas, esfaqueadas e decapitadas. Os motivos são: "Se meteu no que não devia" Presumo ser a tão misteriosa Fazenda Wood, onde o assassino mata quem ousar a se aproximar. Só não entendo o porque de Graham guardar tudo isso. É mais um obsessão do que qualquer outra coisa. O gabinete do xerife, aquele lugar não é. E sei que não se trata de nenhuma investigação pessoal, pois também creio que não estariam em um lugar tão pessoal. Olho do outro lado, há pás, e foices postas no canto da parede. Sinto um arrepio na espinha, lembro-me da minha teoria de que o assassino poderia ser qualquer um.

—Meu Deus do céu! —Coloco a mão na boca. Tenho vontade de sair daqui o mais rápido possível. 

Me viro preparando para sair, quando a figura de Graham me detêm imediatamente. 

—O que faz aqui, Claire? —Ele está bravo pela minha intromissão. Eu não tenho palavras. Estou tremendo tanto que mal consigo abrir a boca.











Capítulo 9 
Um passo à frente 

—Responda! O que faz aqui? —Dou alguns passos para trás quando Graham caminha em minha direção. Me assusto quando minhas costas batem na parede. Me sinto encurralada. 
—E...e...eu só estava passando. Vi a porta e decidi entrar. Me desculpe. 
—Não é lugar para crianças. —Olho ao redor, realmente não era. Era um lugar especialmente para gente doente. 

Quem em sã consciência cultivava um espaço como este? Fotos e mais fotos de um crime bárbaro. Uma lista de motivos para cada um dos crimes. Todos levam ao misterioso caso da Fazenda Wood. Não pode ser somente uma investigação de um xerife. 

—Não sou mais criança. 
—Olha, eu sei que está chateada pelo que disso do seu professor. Mas eu não confio nele. —O encaro risonha. Pelo visto não é só o Michael que é digno de especulações por aqui. 
—Então me responda, xerife. Por que mantém esta sala dos horrores aqui dentro, se não confia em quem quer que seja. —Ele olha ao redor, tão tranquilo como nunca. 
—Pesquisas. —Dar de ombros, agindo como se fosse uma coisa normal do dia-a-dia. —Um policial tem que estar a par do que está lidando. É só uma forma de entender o assassino. 

Não sei porque, mas aquela desculpa não me convence. Não consigo acreditar nele, e estou morrendo de medo de ser tão paranoica ao ponto de enxergar o assassino de galochas em todo mundo. Decido não discutir, finjo que aceito as explicações por hora, até porque não tenho nenhuma prova que diga ao contrário. 

—Certo. Me desculpe por invadir o seu "espaço." —Faço aspas com as mãos. —Isto não vai mais acontecer.

Me preparo para me retirar quando Graham segura no meu braço bem forte, me impedindo de prosseguir. Olho o local do aperto lançando uma careta de descontentamento. É incrível como você muda a opinião em relação às pessoas o tempo todo. 

—Não conte nada a sua mãe o que viu por aqui. Ela pode ficar assustada. —Noto temor nos seus olhos. Se não quer que minha mãe saiba, algum motivo deve ter. Ninguém age assim se não há nada para esconder. 

Quero ir para minha casa! Graham disse uma vez que ao seu lado estaríamos seguras, não concordo mais com essa hipótese. Me sinto cada vez mais encurralada, como se estivesse na boca do lobo. Não vejo saída e nem onde me esconder. É como percorrer por um labirinto e não ser capaz de sair nunca mais. Meus nervos estão à flor da pele, preciso encontrar uma solução. 

—Não se preocupe. —Nos encaramos como uma promessa de que o assunto não estava resolvido. Eu conhecia o seu segredo, ele está em minhas mãos. 

Saio dali o mais rápido que posso. 

Vou para a minha cama e me cobro. Mamãe está dormindo como se a paz reinasse, mas na verdade tudo está desabando de uma vez só. Tenho certeza que se ficasse mais tempo sozinha naquele porão, encontraria as galochas e a máscara. Eu tinha que dar uma jeito de entrar de novo ali. 

Michael Jackson, o professor de História, ao qual estudo, que confessou seus sentimento ao meu respeito, e acabamos nos beijando, vem a mente. Michael já deixou bem claro que se importa mais com comerciais dos Tele tubes na TV do que com este caso. Mas já demonstrou preocupações em relação a mim e minha mãe. Mostrou também que detesta o xerife. Se por um acaso eu lhe dissesse o que achei, tenho certeza que me ajudaria. Eu só poderia contar com ele naquele momento, é o único que eu confio, apesar de tudo. Preciso de resposta honesta, e somente ele é capaz de me dizer o que preciso ouvir. E não é só porque estou apaixonada por ele. Michael é o cara mais centrado que eu conheço. Bom, ele é grosseiro, mas muito muito coerente. Tem uma visão ampla da vida e conhece bem as cicatrizes dela. Não deixa que ninguém passe por cima das suas verdades e sempre está certo, porque ele sabe lidar com cada situação. Ele é bem mais forte que eu, e sendo assim, tenho certeza absoluta que juntos encontraríamos o assassino.

***


Ainda bem que não tenho que ver a cara do xerife logo pela manhã, ele já tinha saído para o trabalho. Preparou um café da manhã para mim e mamãe. Um bilhete estava no meio dele. Um bilhete que sinceramente me enojou. 

Sejam bem vindas ao lar! 
Claire, você é ótima. 
Monica, eu te amo.

Mamãe achou um amor, eu por outro lado.

—Você tem que me dizer direitinho sobre o seu namorado, Claire. Não gostei nada de ficar sabendo pela boca de Jack. —Reviro os olhos mordendo um pedaço da minha torrada. 
—Não é o meu namorado. Pelo menos não por enquanto. A gente só ficou mamãe, e nem conversamos direito a respeito. 
—Mas já é alguma coisa. Namorar o professor não é proibido? Pelo menos era nos meus tempos de faculdade. Você gosta dele? —Penso um pouco sobre o que sinto por Michael, não consigo esconder o meu sorriso encantado. 
—Muito. —Ela sorri empolgada. 
—Você e o professor, eu e o xerife. Nós duas apaixonadas, quem diria? 

Nós duas com homens — um mais estranho do que o outro. Suspiro desanimada. Mas pelo que sei, Michael não chega nem perto do Graham. Ele é falso, finge gostar das pessoas, que se preocupa com elas. Não sei não, deixo de confiar. Já Michael não gosta e pronto, muito mais honesto. 

—Traga-o para jantar? Quero conhecê-lo melhor. 
—Tenho certeza que Graham não irá concordar com isso, mamãe. Ele detesta o Michael, e é bem recíproco. 
—Por que será? —Dou de ombros enquanto ela fica imaginando a picuinha dos dois. 
—Preciso ir para aula, não posso me atrasar. —Na verdade estou ansiosa pra ver o meu professor favorito. 
—Boa aula, querida. —Jogo o beijo para mamãe antes de sair pela porta. 

***


—O que são os sonhos? 

A voz de Michael Jackson explode pela sala silenciosa enquanto ministra mais uma de suas incríveis aulas. Acho que perco as pálpebras, pois mal consigo piscar.

— Para uns, são imagens aleatórias que nosso cérebro produz a partir de momentos vividos. Freud, um dos maiores pesquisadores sobre o assunto, relata que os nossos sonhos são traduções dos nossos desejos e das realizações deles. Eles se apresentam com uma aparência ou sentido manifesto de se vale o superego, — censor de nossa mente —, que oculta o significado do seu significado. O sentido latente, o conteúdo que realmente tem valor na compreensão da nossa psique e dos nossos anseios. Este teor que é chamado onírico, reveste-se de símbolos. Histórias surreais que na verdade mascaram os desejos sufocados daqueles que o sonha. Para o pesquisador, é possível conhecer a alma humana, dos que sonham. —Ele arregala os olhos ao mencionar esta maravilha da natureza. Em uma manifestação de vislumbramento.
—Já para Jung, os sonhos não são realizações de desejos que nada! —Dá um tapa no ar como se fosse uma bobagem. —Para ele, o sonhos vão beeem além disto! Eles são uma forma de revelar quem somos, algo que nem mesmo nós conhecemos e compreendemos. E que através deles, podemos modificar atitudes não desejadas. 

Olho ao redor, a sala toda está prestando atenção na aula de Michael, Julia dá risadinhas ao olhar para mim. Seus lábios se movem um: "Ele é bem mais simpático na sala de aula" Reviro os olhos e volto a olhá-lo. Michael me encara com profundidade, parece que somente eu existo naquele lugar. Adoro quando me faz sentir especial. 

—E para vocês, o que acham sobre a análise desses dois pesquisadores de maior prestigio no mundo da psicologia? —O professor olha ao redor e ninguém se manifesta, na verdade estão bem tímidos para falar qualquer coisa. —Claire? — Quando Michael olha diretamente para mim, meu corpo inteiro gela, e não é pela obrigação que eu terei em respondê-lo, mas sim pelo impacto que aquele olhar profundo me remete. —Gostaria de ouvir a sua opinião. —Ouço o gemidinho de Julia, é tipo um vibrato de empolgação só porque sabe que eu e Michael estamos tendo algo. 
—Bem... 

Tento conter o nervosismo. Fica difícil responder tal pergunta com aqueles olhos em cima de mim. De repente morro de medo de dizer alguma besteira. Ele encosta seu traseiro na quina da mesa e me observa falar. 

Pigarreio antes de mais nada, me coloco de pé, tão trêmula que a sensação é de que vou cair sentada de volta a cadeira.

—Acho que tanto o sonho abstrato, quanto o concreto têm um significado lógico. Quando temos um pesadelo por exemplo, eles nem sempre acontecem do nada como uma invasão noturna indesejada. É sempre um reflexo do que tememos. Algo que está latente dentro de cada um de nós, e que aparece para nos assombrar durante o sono, quando estamos repousando. O mesmo acontece com os bons, penso que seja um reflexo que desejamos muito que aconteça. Algo suplicante dentro de nós, que acabamos realizando nos sonhos. Sendo assim concordo com Freud. Mas também concordo com Jung, acho que de alguma forma as duas teorias se encaixam. Temos sim este poder de modificar algo das nossas vidas que vem como um aviso em forma de sonhos. Sonhamos deitados para realizá-los de pé. 

Acho que Michael fica quase trinta segundos me encarando após o meu termino, sem piscar. Ele fica bestificado com a minha respostas e não é porque respondi uma grande coisa assim. Noto que a expressão dele é de cair na real, como se ele pudesse entender, assim como nós, como funciona. Olhando assim não dá para analisar ou prever o que Michael está pensando, mas acho que o ajudei de alguma forma. Percebo que ele enxerga a coisa por uma nova perspectiva. 

—Muito bem! —Quando finalmente cai na real, agradece a minha participação e começa a anotar algo na lousa. 

Ouço a turma grunhir em lamento por ter de copiar mais. Sinto um toque na minha mão. Julia, ela está afoita, tenho certeza que é por causa da reação do professor. Me encho de orgulho.

Quando a aula acaba fico louca para conversar com Michael , então enrolo alguns minutos até todos saírem para ficar a sós com ele. Dou uma desculpa qualquer para Julia. Adoro aquelas pessoas que entendem quais são nossas reais intenções e colaboram com ela. 

A sala está vazia e ele está ali diante de mim terminando de arrumar as suas coisas. Fico toda trêmula quando me lança um sorriso de "que bom ver você" largando tudo que está fazendo para voltar sua atenção toda para mim.

—Fiquei aqui imaginando quais são os seus sonhos abstratos. Adoraria ser como Freud e conhecer a sua alma. —Dou uma risadinha enquanto ele me puxa pela cintura, na intenção de colar nossos corpos. 
—Acho que você já conhece, já que faz parte deles. —Ele morde os lábios todo satisfeito pelo que eu falei. 

Nunca vi Michael tão disposto quanto naquele momento. Seu rosto tinha outro brilho, um brilho mais suave, nem chega nem perto daquela tempestade pesada de quando o conheci. 

—Hum! Então acho que você sonhou deitada para realizar de pé. —Gargalho toda boba. Ele apenas me olha com ternura que me derrete toda.

Sua boca cobre a minha com um beijo, que para falar a verdade, estava desejando desde o momento em que as aulas começaram. Já estava morrendo de saudades de sentir aquele rosto roçando o meu, enquanto sua língua experimenta a minha boca com delicadeza. Não perco tempo e me aproveito dos seus lábios, com sugadas firmes, ao apertar a sua nuca. Tenho vontade de gritar! Estar nos braços de Michael é como flutuar, mal consigo sentir os meus pés, eles não tem aderência com o chão. 

Sua testa cola na minha, após o beijo, como se quisesse ficar assim comigo por mais um tempo. Ele está tão lindo com aquela camisa jeans, de mangas dobradas até o antebraço. Realça ainda mais o charme que ele tem. Consigo observar melhor as veias saltadas dos seus braços masculinos. É como revelar toda a sua masculinidade em pele e nervos. As calças pretas caem bem em seus quadris como uma luva. Não consigo tirar os meus olhos dos pelinhos ralos do seu peito saindo pela gola da camisa. 

—O que temos, Michael? —Dou uma risadinha nervosa. Eu precisava saber. —Estamos ficando, namorando? Ou você só está tentando me enrolar? —Ele arruma o meu cabelo atrás da orelha, acaricia o meu rosto de leve. 
—Você deve me conhecer o suficiente para saber que não perco o meu tempo enrolando ninguém. —Ele é direto, convicto. Não sei se me alegro ou se me perturbo. —Eu quero estar com você, e eu nunca tive tanta vontade assim de ficar alguém. 

Fico sem jeito, começo a mexer. Acho que é por causa da pontada suave de alegria que sinto no peito. Suas duas mãos seguram o meu rosto mantendo meus olhos encarando os dele. Vejo verdade naquele poço em negro intenso. 

—Você é um anjo, Claire. Um anjo capaz de me trazer de volta à vida. A partir daquele primeiro momento em que conversamos, eu percebi o quanto preciso de você. Vejo o jeito que me olha e sei que sente o mesmo. Eu nunca tive uma família, nunca tive ninguém que me queira como você me quer. Percebi o quanto é maravilhoso sentir-se amado, apesar de nunca fazer falta. É diferente com você, me sinto em paz, como se fosse embora toda aquela rapina de temor dentro de mim. E eu sei que posso me tornar uma pessoa melhor. 

Fico sem ar depois que termina, eu nunca imaginei ser tão importante para alguém como ele diz que sou. Não sei, me sinto em uma missão mais do que prazerosa. Fazer com que Michael se sinta amado como nunca sentiu, durante sua vida inteira, é como ser para ele um lar, onde ele pode contar todos os seus problemas e aflições, mas também pode dividir suas alegrias e conquistas. 

—Eu amo você, Michael. —Minhas palavras saem sem eu ao menos perceber. Eu não queria ter dito aquilo tão cedo assim, mas não teve como controlar. Acho que a melhor recompensa foi contemplar aquele sorriso lindo satisfeito todo para mim. 
—Eu preciso de você, Claire. —Não era muito bem o que estava esperando ouvir, mas pensando bem, dá no mesmo. Precisar e amar são quase a mesma coisa, quando se trata de um relacionamento. Michael, pelo seu histórico, nunca demonstrou sentimentos pelas pessoas, e demonstrar desta forma para mim, não pode ser irreal. 

Meus lábios são sugados por um longo período, minhas pernas estavam tão bambas que eu agradeci aos céus por ele está me abraçando, senão era queda na certa. Me agarro em seu pescoço, na tentativa de senti-lo bem coladinho a mim. Os ritmos fortes do nosso beijo aquece o clima. Eu nunca estive tão conectada a alguém assim. Suas mãos acarinham os meus cabelos de uma forma perfeita em relação aos movimentos de nossos lábios. Michael consegue me deixa cada vez mais louca por ele. Em cada gesto, em cada olhar, em cada batida do seu coração. Ele me deixa sem fôlego, as palavras somem, eu só sei sentir. 

—Vou levá-la pra casa. 
—Eu estou com a pick-up, Michael. —Ele pega suas coisas na mesa. 
—Não tem problema, eu dirijo e levo você pra casa. —Dou um sorrisinho. Pelo menos ficaria mais tempo com ele. 



—Podíamos almoçarmos. Sei lá encontrar algum lugar para ficarmos a sós. —Bem que eu queria ir, mas mamãe precisa de mim na casa de Graham, e não estou querendo muito deixá-la sozinha lá. 

Ele dirige bem nas estradas, fica um charme conduzindo o meu carro, como se tivesse intimidade com ele. 

—Fiquei de ajudar minha mãe com o almoço. Ela ainda está em recuperação e não quero deixá-la sozinha. 
—Tudo bem. Então eu pego você hoje à noite, pode escolher qualquer lugar que quiser. Só preciso ver você de novo ainda hoje. —Meu sorriso é contido, não quero mostrar para ele o quanto estou dando pulinhos por dentro. 
—Tudo bem. —Ele olha para mim e sorri. 
—Como está indo na casa do otário do Graham? Ainda acho que deveria ir comigo pra minha casa, estaria mais segura lá do que com ele. —Foi bom ele mencionar este assunto, pois decido de última hora lhe contar o que achei no porão de Graham. 
—Minha mãe não concordaria, e eu não posso deixá-la sozinha. 
—Eles não estão juntos? Qual é o problema de você ficar comigo também? —Michael percebe minha expressão pesarosa, nos segundos que desvia os olhos da estrada para olhar para mim. —O que houve?
—Encontrei umas coisas estranhas no porão dele. Há fotos e mais fotos das vítimas do homem de galochas. Em cada foto tem o motivo pelo qual morreu, coisas pavorosas, Michael. —Sinto o carro frear tão bruscamente que meu pescoço inclina para frente e volta rápido para trás. 
—Merda! —Isso foi um grito. —Você tá brincando comigo. —Balanço a cabeça.
—Infelizmente não. Não deu pra ver muita coisa porque ele apareceu todo furioso mandando eu sair dali, mas o que vi foi o suficiente. Consegui ler só um dos motivos, que era: "Se meteu no que não devia". 

Michael engole em seco, sinto que fica um pouco perturbado, mas não é para menos. A coisa realmente é pesada. 

—Não sei, eu acho que as coisas não batem. — Continuo. —Pensei ultimamente em tentar encontrar o tal assassino. Não posso afirmar que Graham seja o cara, mas está tudo misturado, eu não consigo entender nada.
—Fica fora disso, Claire! O mais longe que você puder. —A aspereza na voz dele me deixa toda tensa. Aquele olhar furioso estava lá de novo. O humor de Michael Jackson muda de uma hora para outra, ou deve ter sido algo que falei que o preocupou. 
—Eu não posso! Minha mãe está envolvida com esse cara, eu não posso simplesmente fechar os olhos enquanto está em perigo. 

Os olhos de Michael piscam freneticamente. Olha ao redor, para fora do carro, é como se visse se não estaria vindo ninguém. 

—Se Graham for o assassino, eu tenho que fazer alguma coisa. —Seguro no seu rosto fazendo-o olhar para mim. —Por favor, eu sei que você não está nem aí pra esse cara, mas me ajuda encontrar alguma pista, é importante pra mim. 
—Por que tem que ser tão importante? Esse cara é perigoso, não e o bastante para se manter o mais longe possível? Eu não vou deixá-la naquele lugar. Pegue suas coisas e vamos embora. Você adora Arizona, podemos ir pra Phoenix. — Fico tonta com a enxurrada de coisas que ele queria que eu fizesse. 

Em nenhum momento menciona levar a minha mãe em todas às vezes que me chama para ficar com ele. O que me faz pensar que este plano não a inclui, sendo assim eu não poderia concordar. Sou realmente a única que ele se importa, e não sei se é uma coisa boa, ou só o começo das minhas aflições. 

—Não, não, não Michael! Pelo amor de Deus! Eu não vou fugir disso! E se eu for a única pessoa capaz de encontrar esse cara, de fazer esses assassinatos acabarem? —Ele me olha de um jeito meigo. Tenho certeza que estou sendo ingênua agora, mas Michael não demonstra isso no olhar. 
—Eu sei que quer ser responsável por isso, Claire. Ele assustou você, matou sua amiga e atacou a sua mãe. Mas isso não vai acabar bem. —Suspiro fundo, cansada das pessoas terem que me proteger o tempo todo. 
—Uma vez você disse para não demonstrar medo a este cara, porque é isso que o torna ainda mais temível e que é tudo que ele quer. —Michael está resistindo muito em descordar comigo, percebo seu maxilar balançando, como se cogitasse alguma possibilidade. —Se eu investigar, se eu buscar algo, qualquer coisa que me leve até ele. Eu sei Michael, que o pegaremos. 

As pernas dele estão tremendo, ele bate a mão no volante do carro, inclina a cabeça nos braços esticados. Está nervoso, mas do que eu gostaria que estivesse. Eu precisava do Michael desinteressado do que aquele poço de ansiedade que demonstra. 

—Eu não vou apoiá-la nesse suicídio, me desculpe. —Aperto o meu punho com força me sentido derrotada pela sua negativa. —Espero que se convença de que é um. Sabe bem disso, não sabe? —Me sinto uma idiota por ele está falando daquele jeito. A minha boa vontade se torna uma bobagem completa, detesto isso. 
—Michael... —Choramingo. Mas não adianta, ele gira as chaves na ignição de novo fazendo o carro entrar em movimento. Encerrando aquele assunto de uma vez. —Não me trata como se eu fosse uma criança. 
—Então não aja como uma! — Fica um silêncio quase perpetuo. Eu sabia que estava sendo infantil sim. O que eu faria atrás de alguém perigoso? —Agora vou ter que vigiá-la durante vinte e quatro horas por dia, olha só o trabalho que você me deu. Bela namorada você se tornou. —Sinto um arrepio na espinha ao afirmar que sou sua namorada, fico toda inquieta no bom sentido. —Vou ficar de olho no Graham, e você trate logo de se decidir se vai pra minha casa ou não. —A autoridade dele me desarma, pelo visto não contaria com ele, mas não me importo, Michael não decide isso, eu sim. 

O carro para na porta da casa em que estou morando, o olhar que Michael lançar para o lugar é como se quisesse descobrir o que há atrás das paredes. Eu sei que ele tem um senso de investigação, e iria acabar querendo tomar nota do que descobri, é questão de tempo. 

—Pego você às oito, não se atrase. Detesto atrasos. 
—Estarei. Só me promete uma coisa? —Seguro no seu braço. Me permite prosseguir com um aceno de cabeça. —Não diz nada do que falei pra você pra ninguém, tudo bem? Nem tente confrontar o Graham. Percebi o quanto vocês se odeiam, e eu não quero correr nenhum risco. 
—Só basta uma palavra minha para Graham colocar você e sua mãe para fora da casa dele, é quando eu entro e me torno o herói, levando vocês para a minha casa. Mas não farei nada. Só tome cuidado, e não vai se meter em encrenca, Claire. Poderá encontrar coisas que você não quer achar. —Me arrepio toda com este aviso. 
—Não se preocupe comigo. 
—Aí é que tá. Você é a única pessoa que me preocupo nesse mundo. —Ele me dá um longo beijo de despedida. Com direitos a chamego e tudo.

Eu estava tão acostumada com os beijos de Michael, que até chegar à noite, já acho que será uma eternidade.
Ele desliga o carro e me entrega as chaves. Michael vai embora à pé. Não sei de onde vem esta atitude dele em relação a mim, mas só pelo fato de saber que sou a única pessoa que desperta essas atitudes nele, eu me sinto uma privilegiada. 











Capítulo 10 
Velocidade máxima


A primeira coisa que faço ao chegar em casa é tomar um banho, ainda não me sinto como a minha casa, mas levando em conta que já não tenho para onde ir, ter um teto estava valendo. Vejo minha mãe e Graham com frequência juntos; na sala de jantar, na sala de visita e fico pensando: e se ela descobrir o que tem naquele porão? Será que vai pensar da mesma forma que eu? Ou vai insistir que é apenas uma investigação de um xerife? Não sei bem qual resposta seria, mas morro de medo da minha mãe não acreditar em mim. Prefiro não arriscar por enquanto, ela está tão feliz com ele, tão apaixonada. O que é uma pena, pensei que Graham fosse o cara perfeito para ela, mas infelizmente não é. 

Se quero mesmo chegar até o verdadeiro assassino de Forest Grove, eu teria que entender os motivos dele. Acho que descobrir o porque de a fazenda Wood ser o alvo, seria o primeiro passo para descobri-lo. Pelo que vi nas fotos, rapidamente, aquela frase. "Se meteu no que não devia" Me remete a possibilidade daquela fazenda ser algo emaculado pelo bandido. Com certeza ele tem um apreço pela fazenda ao qual não permite nenhum intruso se aproximar. Algo de muito importante devia ter acontecido, para que pudesse explicar as atitudes assombrosas do homem de galochas. Outro ponto: por que as galochas? Pelo que vi, não é somente dias chuvosos que ataca. No caso de mamãe sim, mas no de Lucy com certeza não. Seria sua marca registrada, uma mania de galochas? Este ponto eu também teria de investigar. 

—Sua mãe quer muito conhecer o seu namorado. —A voz simpática de Graham desperta os meus devaneios. 

Minha cabeça estava pipocando com tanta coisa que estava pensando, mas a presença dele, ainda mais tentando conversar me irritava mais.

—Sei que não me dou muito bem com ele, mas é seu namorado, e acho importante que sua mãe o conheça. —Olho para Graham lutando ao máximo para não fazê-lo, mas sei que é um dever, se não quero que perceba minha indiferença. —Apenas não o traga na minha casa. É tudo que eu peço. 

O analiso por um instante, esta resistência é complicado para a minha compreensão, mas procuro ser maleável. 

—Não se preocupe. Mas o que você tem contra ele? O que o Michael fez? —Ele estala a língua nos dentes, faz um som irritante. 
—Jackson é um cara difícil de lidar. Ele tem manias inaceitáveis. 

Nossa, que novidade! Cruzo os braços no peito, escutando aquele discurso.

—Ele é mal educado, não liga para regras e nem para a lei. Uma vez ele estava em uma área proibida perto do lago. Estava pescando, em um lugar que não era permitido pescar. Pedi educadamente que se retirasse, mas ele não me deu ouvidos. Soltou meia duzia de palavrões, e atirou pedras contra a viatura. 

Imaginar Michael dando uma de menino rebelde sem causa, por causa de uma pesca, é bem fora da minha compreensão. Definitivamente não combina nem um pouco com ele. 

—Tá, mas, você o acusou. Disse que pode ser o assassino, por quê? —Não sei até que ponto quero desvendar aquela história toda, mas especular o meu namorado? Acho que já passei de todos os limites. 
—Jackson está sempre em lugares suspeitos. Ele aparece e desaparece de uma hora para outra. Sempre está por perto, sempre! —Franzo o cenho. 

Pensando bem aquilo procede. Michael estava no dia da festa, em um lugar que normalmente ele não estaria. Quando Julia achou o corpo de Lucy, ele desapareceu. No dia em que minha mãe fora atacada, logo ele deu um jeito de me ver, sabendo de tudo, alegando ser uma cidade pequena. Balanço a cabeça morrendo de raiva de mim, por se quer ousar, pensar neste assunto. No dia do assassinato de Lucy ele estava comigo na festa. Ele fora embora porque já fazia alguns segundos antes que ele mencionava ir. No ataque da minha mãe, provavelmente ele soube por alguém sim, Julia também soube por alguém e alegou ser cidade pequena. Fico furiosa com Graham por me fazer duvidar do homem que me apaixonei para livrá-lo da culpa. Não é ele que possui fotos das vítimas com os motivos listados, e uma foice que segundo testemunhas o assassino usava como arma? 

—Já chega! O Michael não tem nada a ver com isso! Não inventa histórias para encobrir a sua incompetência! —Bufo irritada, e saio da presença dele ouvindo-o me chamar de volta. 

Maldito dia que apoiei esse namoro repentino da minha mãe. Agora dá para entender o porque aquele xerife arrastou asa para ela. Se realmente ele for o assassino, não seria nada difícil tentar ludibria-la para deixar o lugar. Vendo que não obteve resultados quis assustá-la. Agora enxergo o motivo pelo qual não a matou, ele tinha assuntos pessoais com ela. As provas me levam cada vez mais até Graham, mas estava farta daquele assunto, queria um pouco de paz e encontraria nos braços de Michael. 

Passei quase uma hora encontrando uma roupa descente para sair com ele. Queria ficar bonita, e bem feminina. Não seria nada mal ficar atraente também. Usei um vestido rodado vermelho, fiz um penteado bonito, onde algumas mexas caiam sobre o meu rosto. A maquiagem era bem marcante, com lábios bem vermelho para combinar com o vestido. Olho-me no espelho algumas vezes, estou bem do jeito que quero.

—Está tão linda! —Ouço a voz de mamãe entrando no quarto. —O Michael vai enlouquecer. —Sorrio um pouco sem graça pelo comentário dela. Se Michael me achar bonita já está bom para mim. —É tão bom saber que você está com alguém, Claire. Espero que seja feliz. 

Olho para ela com um pesar que somente eu senti dentro do peito. Era inexplicável a angustia que se apossou de mim. Tudo que eu queria que mamãe estivesse tão feliz quanto eu estou. 
Seguro sua mão com uma vontade chata de chorar. 

—Eu também quero que seja, mamãe. —Não consigo segurar, e algumas lágrimas caem dos meus olhos. 
—Oh Claire, não precisa ficar assim, estamos bem, não estamos? —Assinto com a maior dificuldade do mundo. O nó que se forma na garganta impede que eu fale qualquer coisa. Eu queria protegê-la o máximo que eu pudesse, mas antes tinha que encontrar provas contra Graham. —Vai borrar sua maquiagem. —Ela me ajuda a limpar o rosto com cuidado para não manchar. —Pare de chorar.

Assim que cruzo a porta para sair, uma visão espetacular causa um reboliço inquietante dentro de mim. Nunca senti meu coração retumbar como naquele momento. Necessita somente ver Michael parado ao lado do seu carro, com aquele sorriso enorme todo para mim, que fico toda agitada. Ele estava um gato com aquele suéter preto bem colado ao corpo, nunca imaginei que os braços de Michael fossem tão fortes como aparentam. Ele sempre usando jaquetas pesadas por conta do frio. 

A calça de alfaiataria, com bolsos largos, aumentava o seus quadris, eu não conseguia tirar os meus olhos daquelas coxas. Sem contar com o volume evidente entre as pernas. Aquele visual reafirma a aparência européia no inverno, ainda mais por conta daqueles cabelos cumpridos que emolduram em seu belo rosto. Michael é uma visão e me quer! Na verdade, ele precisa de mim, como disse umas, duas vezes. 

—Uau! Está maravilhosa! 

Seu olhar me despe por inteira, a forma que ele percorre pelo meu colo, até os meus sapatos de saltos baixos. Me mostra o quanto acertei na produção. Apesar de que não era grande coisa assim. 

Caminho em sua direção, ele captura a minha mão direta e deposita um beijo no dorso, como um verdadeiro cavalheiro. Michael é outro, completamente diferente daquele cara que eu conheci. 
Ele me puxa para seu corpo, sinto o cheiro do perfume masculino dele, me inebria. Fico entorpecida de desejo, nem sei mais quem sou. 

—E você está um gato. —Ele sorri de leve, me guiando para o seu carro, me sinto uma dama. 
Me acomodo no banco do carona enquanto ele rodeia o carro para assumir a direção. Antes de colocarmos o cinto, recebo um beijo forte e repleto de desejo assim que sua mão puxa a minha nuca para perto. Minha mão boba apalpa o seu peito, enquanto sou agraciada por sua boca que foi feita para beijar. Michael desperta os meus desejos e sei o quanto é perigoso, ou não, vai depender do que acontece depois. Sorrio com os meus pensamentos caóticos, entre sua boca. 

—O que foi? —Pergunta sorrindo sem saber do que se trata. 
—Só me sinto bem apenas isto. —Ele captura o meu lábio inferior com o dente e puxa. Suga somente aquela parte bem de levinho, com toda a sensualidade do mundo, perco o meu rumo de uma hora para outra. 
—Vamos? —Ele comenta e eu trato de me recompor. 
—Vamos. 



O lugar que Michael escolheu era incrivelmente acolhedor. Bem diferente de tudo que vi no pequeno povoado de Forest Grove. As mesas estavam bem organizadas em uma decoração bem sofisticada, na verdade todo o ambiente era bem sofisticado. Decorações fechadas sempre dar um clima mais aconchegante ao lugar, foi o que encontrei ali. Havia uma árvore como peça decorativa entre as mesas, cobertas de luzes como pisca-piscas de natal. As luminárias eram criativas, pareciam pequenos abajus coloridos depositadas e distribuídas em pontos estratégicos sobre o salão. As luzes não era tão forte, estavam em um clima bem agradável e confortável. 

Algumas pessoas apreciavam seus pratos, enquanto o garçom atendia o máximo de cliente possível. Me senti em uma cidade grande, onde só os ricos e famosos teriam acesso àquele lugar. Mas estou no interior, ao lado do homem mais bonito que já vi, sou namorada dele. Acho que a felicidade de que Michael disse, o quanto é rara e incerta, estava ao meu lado agora, finalmente a ferida havia parado de doer. Eu iria aproveitar aquele momento ao máximo que pudesse. 

Michael com toda a delicadeza do mundo, puxa a cadeira para que eu pudesse sentar, eu não consigo parar de me surpreender com a suas atitudes. Na verdade, elas são bem oposta ao que eu esperava, desde o começo. Mas eu tinha que parar de questionar, senão não saborearia nunca. Ele senta-se a minha frente com um sorriso lindo no rosto, não consigo parar de admirá-lo. 

—Esse lugar é lindo! Ótima escolha. —A toalha de mesa em cor parda era tão macia que parecia veludo, ou talvez fosse, não entendo bem de tecidos. 
—Me lembro quando era criança de passar por aqui várias e várias vezes. Sempre quis entrar, mas guardei este dia para um momento especial. —Mordo o lábio, e sorrio de leve para ele. Os cabelos bem penteados de Michael deixa o seu rosto ainda mais bonito, de um jeito educado e polido. 
—Por quê? —Ergue os ombros algumas vezes.
—Não sei, me lembro de sempre estar chateado a vida inteira. Revoltado com o mundo, às vezes me questionando o porquê da minha existência. —Dá uma risadinha. —É, já tive vários momentos assim, ainda mais na adolescência. Olhava por essas janelas quando passava por aqui e tudo que pensei foi que queria muito vir, mas só quando eu estivesse me sentindo perfeitamente bem. 

Meu Deus! Fico sem ar com a revelação de Michael, às vezes este jeito que fala sobre nós dois me faz sentir como uma pedra preciosa capaz de devolver a vida à alguém. Não sei se mereço tanta honra assim, mas só de olhar em seus olhos e perceber o quanto é sincero quando fala dessa forma, me faz querer permanecer em sua vida e nunca mais sair. 

—Michael! —Estou emocionada, muito mesmo. —Se sente mesmo feliz? —Ele segura na minha mão com delicadeza. A aspereza da mão masculina causa-me arrepios múltiplos por todo meu corpo. O perfume de Michael exala de uma forma retumbante. Preciso tanto abraçá-lo, beijá-lo, sentir o seu carinho em mim. 
—Como nunca antes. Eu disse que preciso de você, Claire, e é verdade. Há coisas sobre mim que... —Ele abaixa a cabeça, não completa a frase. —Bem, você me desfoca dessas coisas de uma forma que nem mesmo eu pude. 
Penso sobre a forma que tem em "resolver" suas coisas a base da ignorância, e arrogância. Acho que ninguém tem esta receptividade para tentar entendê-lo, como eu tive logo de cara. 
—A Julia me disse como você a tratou quando se mostrou interessada por você. Meu Deus! —O semblante dele muda, fica irritado. Aquela ruguinha aparece no meio da sua testa e particularmente adoro aquela ruguinha. 
—A Julia é uma vagabunda! —É curto e grosso. Arregalo os olhos por conta da agressividade das palavras. —Eu sei que é sua amiga, mas é a pura verdade. Ela vai atrás de qualquer macho que sorrir pra ela. Mulheres assim me dá náuseas. 
—Ela é legal, tem suas manias, mas tem um bom caráter. 
—Não duvido, mas não me interessa. Gosto das honestas, àquelas que sabem o que quer, mesmo sabendo que não terá tudo no mundo. Àquelas que honram o que sentem. —Ele arruma o meu cabelo. Ele adoro fazer isso, e eu adoro sentir seus dedos fazendo cócegas na minha pele. Me arrepia inteira. 
—Eu nem sei o que estou fazendo, Michael. Às vezes me sinto tão perdida no mundo, como se nada fizesse sentido. —beberico um gole do meu vinho para fazer descer o nó na garganta. O garçom trouxe enquanto conversávamos.
—Isso é bem mais normal do que você pensa. Eu também me senti assim, mais do que possa imaginar. —Ele acarinha o meu rosto tão suave que fecho os meus olhos, na tentativa de fazer durar mais tempo. —Temos mais algo em comum do que você pensa. É por isso que sentimos essa conexão tão forte. Você é o meu anjo, é capaz de fazer desaparecer tudo de ruim em mim. 
—Não há nada de ruim em você, Michael. —Ele adora ficar repetindo essas coisas, mas não é o que vejo. —Só porque usa da agressividade para afastar as pessoas? Acho que seja uma defesa. Mais cedo ou mais tarde todos nós devemos saber como nos proteger. É um mecanismo. Não se julga um caráter assim. Eu conheço você. 

Ele sorri, traz a sua cadeira para mas perto de mim, e esfrega sua barba no meu rosto. Se Michael soubesse como me sinto por dentro quando está tão perto de mim desse jeito, eu acredito que faria de proposito só para me provocar. Seus lábios encostam nos meus, já posso sentir o cheiro do corpo dele, é como um imã que me atrai e me enlouquece. O meu instinto feminino aflora de um forma que não consigo controlar. 

Sou eu quem cobre a minha boca na dele, acho que sinto mais fome da sua língua do que de comida propriamente dita. É uma ânsia que me toma e me impulsa, sem controle algum. Ele me pega forte, pressiona seus lábios contra os meus com uma brutalidade impressionando. É o jeito dele de confirmar que precisa de mim tanto quanto eu preciso dele. Não quero sair dos seus braços, quero pertencer a eles o máximo que eu puder. Ouço o seu gemido, meu desejo por ele se mostra bem mais forte do que das outras vezes. Sua língua circula a minha, enquanto seus lábios suga os meus. Michael Jackson sabe como deixar uma garota louca por ele com um simples beijo. 

Começo a sentir algo dentro de mim, algo bem forte que nunca havia sentido antes. As mãos dele migram para as minhas coxas, em um movimento sensual e ousado. Perco o fôlego ao me assustar com a pulsação inesperada que sinto entre as pernas. Minhas mãos nos seus cabelos, se apertam entre os fios, um reflexo de toda aquela turbulência desenfreada que sinto. 

—Michael... —Sussurro no momento em que abandona os meus lábios por um momento. É um prazer poder notar seus lábios carnudos inchados daquele jeito. 

O olhar de Michael é entorpecido, faíscam luxuria. Não consigo me conter. Quando penso em avançar, na intenção de beijá-lo novamente, ouvimos o garçom pigarrear anunciando o nosso jantar. 
O jeito que Michael se volta para ele, o semblante obscuro que assume, é como estar diante de duas pessoas completamente diferentes. Consigo fazer distinção das duas personalidade dele de um jeito tão assustador que dá medo. 

—O jantar, senhores. —Michael se fasta de mim. Suspira chateado, mas não diz nada. E torço muito, do fundo do meu coração, que não fale mesmo. Pelo forma que estar a coisa ficaria bem feia. 
—Coloque aí e dê o fora o mais rápido que puder, idiota! Pretendo nunca mais ver suas fuças por aqui, ou será bem mau mesmo. —Fico perplexa com a grosseria dele. Nem menciono sobre a cara assustada que o garçom fez. Me sinto envergonhada por ele. 

Olho ao redor, as pessoas estão me encarando, como se eu fosse uma criminosa. Olham para o Michael e faz careta para ele. Não é por causa da sua atitude com o garçom, foi tudo bem sutil e baixo. Michael não precisa gritar para amedrontar, ele faz isso com o olhar. É um dom, ou sua maior arma. 
Elas me olham por eu estar com ele, é como se somente ficar ao seu lado, fosse um pecado capital. Me sinto despida, e julgada. 

Os pratos são postos rapidamente, posso ver daqui as mãos trêmula do garçom. Sei que está sofrendo uma luta interna em fazer o que tem que fazer e "cair fora" como Michael o sugeriu. Meu vinho cai um pouco dos lados quando ele o reabastece por conta da tremedeira. Esfrego a mão no rosto já agoniada pela sua situação. Balbucia um "desculpe" de leve, sorrio para tranquilizá-lo um pouco. Falta pouquíssimo para começar a correr quando abandona nossa mesa. 

Michael, beberica um gole do seu vinho, e prepara os dedos ao segurar na colher para comer o seu jantar, como se nada tivesse acontecido. 
As pessoas ao redor, por outro lado, continuam me encarando. Estou sem jeito, me remexendo na cadeira. 

—Precisava? —Rebato, mas não furiosa. 
—O quê? —É impressionante a forma que ele age como se não soubesse de nada. O encaro firme. —Não vamos estragar está noite linda por causa desse cara, não é? 
—Eu estragando? Michael!
—Não, não, não. —Toca no meu rosto. —Não vamos brigar, por favor? Tudo menos isso. Não quero brigar com você por nada e nem por isso. —Suspiro fundo, eu também não quero brigar, mas às vezes há limites. 
—Prometa que nunca mais fará coisas como estas, por favor? —Ele me encara sério. Não há prova de que concorda com o que falo, mas prefere não discutir. 
—Claro. Pode deixar. —Ele força um sorriso frio, não me convence. Mas ele não está mesmo afim de convencer. 

Michael tem suas manias, eu tenho as minhas. Somos diferentes neste ponto, mas nada me impede de molda-lo conforme o meu gosto. Mas não agora.

Apreciamos o jantar de uma forma suave e divertida. Agi como se o episódio com o garçom tivesse sido como ele agiria " nada demais". As pessoas finalmente se meteram com suas vidas e pararam de me encarar. O que foi uma alívio. 

A lagosta tinha um sabor tão maravilhoso que me lembrei do tempero da minha avó, mãe da minha mãe, quando íamos para lá em comemorações populares. O tempero da Senhora Gina Cox era tempero de lar, gostinho de aconchego de família. Era exatamente o sabor daquela comida ao qual aprecio ao lado de Michael Jackson. 

—Já namorou alguma vez? —Estou curiosa para conhecer esse lado secreto de Michael. Tudo em sua vida é tão diferente que preciso saber como é um antigo namoro seu, e como fora o seu termino. Se quero embarcar nessa, tenho que saber seus extremos e riscos. 
—Pensei que as namoradas atuais detestavam esse assunto. —Ergo os ombros. Era o que deveria acontecer, porém a minha curiosidade não permite. —Já namorei uma vez, mas não gosto muito de falar sobre o assunto. —Ele abaixa a cabeça, faz cara de decepção. —Ela era uma promiscua. Fingiu que gostava de mim, mas na verdade saia com a metade dos caras que sorriam para ela. 

Entendo o motivo pelo qual Michael dispensa pessoas como Julia, ele não quer correr o risco de novo. Deve ser por isso que me escolheu, sabe que eu não faria uma coisa dessas com ele. Já me disse que confia em mim, eu não teria mesmo coragem em magoar ninguém, ainda mais quem gosto, e ele sabe disso. 

—Sua vida não foi fácil mesmo, não é? —Ele gargalha da sua própria desgraça. Não posso evitar sorrir também. 
—Você nem imagina! —Joga a cabeça para trás, mostrando o quanto fora. —Minha vida foi tão filha da puta que ao invés das velhinhas encontrarem um pobre menino sozinho e sem rumo no meio da rua, estendê-lhe um simples copo de água, elas simplesmente me chutavam e dizia que eu estava sujando a sua calçada. Nem as "pobres santas" me suportavam. —Sinto um embrulho no estômago, por saber a dificuldade do garotinho órgão que Michael fora. Não consigo nem imaginar o quão dolorido poderia ser. 
—Eu sinto muito, Michael. —Estala a língua no dente uma vez,.
—Não se preocupe com isso, já passou. Tenho um futuro melhor pela frente. —Deixa claro com um olhar terno que aquele "futuro melhor" sou eu. 
Seguro sua mão com força, determinada a ser esse futuro realmente. 
—Vou fazê-lo muito feliz, pode confiar em mim. —Esfrega o dedo no meu lábio com delicadeza. 
—Eu sei, é por isso que estou aqui. 

Uma música toca no salão, vejo algumas pessoas caminhando para o centro da pista de dança. Me bate uma vontade absurda de dançar. 

—Então para começar essa sua nova vida, sabe? Fazer do seu futuro melhor, deveríamos dançar essa música. 
—O quê? Ah não. Eu não danço. —Ele esconde a mão no rosto parecendo uma criança envergonhada. —Não, Claire, me deixa fora disso? —Me levanto da cadeira. 
—De jeito nenhum. Se quer mesmo me namorar, acho melhor começar a mexer esse corpinho. Anda vamos. —Puxo sua mão e olha só, Michael não protesta. Caminha comigo direitinho, onde há casais agarradinhos dançando. 

Michael agarra gentilmente a minha cintura, enquanto eu o seu pescoço, estamos colados e olhando um para o outro. Começamos a nos movimentar ao ritmo da música. 

—Só você mesmo pra me fazer dançar feito um idiota no meio dessa gente. 
—Você não está feito um idiota, está perfeito e é só uma dança. O que há de mal nisso? 
—Quando eu conheci você, a vi completamente descolocada no meio daquela festa, e agora olha pra você. Me obrigando a fazer isso. 
—Era festas mundanas, regada a bebida e muita droga. Você acha o quê? —Me defendo e ele sorri. 
—Ora essa, drogas e bebidas? O que há de errado nisso? —Ele revira os olhos. Balanço a cabeça por tentar me provocar desta forma. 

Deito minha cabeça no seu ombro, é tão confortável que me sinto em paz, mas acho que seu cheiro contribui muito para isso. Salpico beijinhos no seu pescoço, percebo Michael se arrepiar, o que exalta o meu orgulho feminino. Quando olho para ele, — sem cerimônia alguma —, meus lábios são tomados, beijamos com força, mas logo abandonados. 

—Quero que vá comigo às montanhas no feriado. É um lugar bacana e podemos ficar sozinhos. É tudo que quero. —Sinto um arrepio na espinha por imaginar o que faríamos sozinhos por um final de semana nas montanhas. —Há uma cabana que tenho acesso. Vai curtir, eu sei disso. 
—Qualquer lugar que você estiver eu vou adorar, Michael. —Ele gosta da minha resposta, esfregando as costas dos dedos no meu rosto. Como adoro receber este tipo de carinho! 
—Será ótimo. Vou fazer de tudo para ser bom para nós dois. 
—E o que vai ter de especial nesse lugar? —"Penduro" em seu pescoço toda charmosa. O tom baixo ao me responder indica que sentiu o impacto do chamego.
—Hum, um papinho perto da lareira. Talvez um filminho, enquanto bebemos um chocolate quente. Outras coisas mais... não sei... o que vier. 

Esse "outras coisas mais" me arrepia do fio de cabelo a pontas dos pés. Sei o que Michael tem em mente. Incrivelmente não me aborreço, na verdade não há como me aborrecer se "outras coisas" me agrada da mesma forma. 

—Não sabia que era romântico, não me parece em nada. —Franzo o cenho, um pouco surpresa.
—E não sou. Mas eu sei que as mulheres gostam dessas baboseiras. Com você não me parece uma tortura sem fim. —Dar de ombros e eu gargalho. 
—Obrigada pela parte que me toca. 
—Não há de quê. —Encosto o meu nariz no dele, fazendo gracinha. Esfrego de um lado para o outro. 


Michael segura na minha cintura na saída do restaurante, me guiando até o seu carro. O clima do lado de fora estava bem diferente dos outros dias. Havia estrelas brilhando na imensidão escura. O vento que batia nos meus cabelos era fresco e não gelado como nas duas últimas semanas. Sou empressada contra a lateral do Strada vermelho que vinhemos mais cedo. Aquele carro é lindo e combina com a personalidade austera de Michael, porém igualmente elegante. Sua boca ataca o meu pescoço sem nenhum receio, arrepiando o meu corpo, aumentando a necessidade que tenho dele. 

Minha mão segura a sua nuca enquanto ele permanece trabalhando os beijos envolventes na curvatura do meu pescoço. Michael tem uma forma impressionante em me deixar completamente envolvida por ele, sua calma e paciência em sugar a minha pele me acende, perco o juízo por um momento. Mas eu preciso de mais. Aperto seu corpo contra o meu, mantendo-nos bem próximos, é uma necessidade estranha de querer possuí-lo, não sei de onde vem aquela vontade, mas sei que depois que conheci Michael tudo em mim reage de uma forma naturalmente incomum. 

Sua língua enfia na minha boca provando cada espaço em que tinha direito. Solto um gemido inevitável pela sensação de prazer que sua língua me transmite. É macia, envolvente. Adoro o seu gosto, amo a forma que me toma. Ele imprensa seus quadris com firmeza na minha barriga, posso sentir o vigor da sua virilidade masculina. Perco o fôlego, meu corpo treme tanto que não consigo suportar. Enfio minhas mãos por dentro do seu suéter, sentir a textura da sua pele e rigidez dos músculos, das suas costas, me deixa de pernas bambas. Eu precisava me sentar, ou ele teria que se esforçar o bastante para me segurar quando eu cair. 

O beijo aumenta e junto com ele a sensação de que não sairíamos dali sem antes provar mais um do outro. Temo chegar a um ponto que eu não consiga parar sem antes atingir o meu desejo. Aproveito que abandona a minha boca para voltar a se concentrar no meu pescoço para interromper aquela aventura insana. 

—Michael... —Suspiro incapaz de controlar os meus sentimentos. Ele geme entre a minha pele, massageia o meu couro cabeludo com os dedos. 
—Você é tão cheirosa. —Ele resiste, não dar ouvidos para o meu chamado inconveniente de interrupção. —Seu cheiro me enlouquece. Eu quero tanto você, Claire. 

Olho para o seu corpo abaixando as vistas. Ao perceber o quanto me quer enlouqueço. Nunca estive diante de um homem tão imponente quanto ele. Na verdade, nunca estive tão próxima de um homem assim, Michael é o primeiro que chego tão longe, e isso é bem sério. 

—Precisamos ir embora... —Minha voz custa sair, ainda mais pela mordia sensual que recebo no queixo.
—Eu não vou deixa você ir embora assim. —Recebo beijos no meu rosto que me imobiliza completamente. 

Realmente não era o que eu queria, queria ficar e ficar com ele. 
Olho para os seus olhos, eles estavam encantados por mim, aquele sentimento terno que o envolvia era todo meu. Mal posso explicar a satisfação que sinto por dentro.

—Aqui não é o lugar. —Tento miseravelmente resistir àquela tentação. Acredite, é bem difícil. 
—Ok, ok. —É compreensivo, mesmo não querendo me obedecer. —Vamos embora. Vou levá-la pra casa. 

Sinto uma pontada enjoada no peito, uma sensação de ter estragado tudo. Será que fui uma falsa puritana chata e medrosa? Será que eu teria outra oportunidade em me redimir? 
Suspiro chateada quando vejo Michael destravar as portas automáticas e caminhar para o banco do motorista. Abro a porta e me sento no banco confortável ao seu lado. 

—Olha, desculpa. É que...
—Tudo bem, Claire. Eu tenho paciência. —É resoluto, me fazendo sentir mais tranquila. 

Michael dá partida no carro e em poucos segundos estamos pegando a via principal para a casa de Graham. Devo dizer que meu coração trinca ao pensar que tenho que ir para àquela casa, se eu pudesse iria embora e nunca mais voltar, se pelo menos eu tivesse alguma escolha. 

—Vem, deita aqui no meu ombro. —Ainda vou morrer com essas demonstração de afeto que Michael tem para comigo. Me sinto tão amada que de repente não tenho a sensação de deslocamento. 

Faço o que manda. Seu ombro é confortável, não dá vontade de nunca mais sair dali. Sua mão esquerda no volante é maravilhosa. As veias salientes do dorso é incrivelmente sensual. A direita vai para o cambio, mas de vez enquanto pousa nos meus joelhos, acarinhando sorrateiramente, me arrancando desse mundo. 
Ele vira o pescoço para me olhar. Aquela boca é tão atraente que sinto vontade de beijá-lo.

—Me beija. —Ele ordena. Não olha para mais a estrada, dirige as cegas, completamente insano. —E bem longo, de tirar o fôlego. 

Olho pelo para-brisa, o carro está em zigue-zaque. 

—Michael, olha pra frente. —Sinto um frio reverberar o meu ventre, me agarro do lado e do outro da poltrona. 
—Não, primeiro me beija como eu disse, depois conversamos a respeito. —A estrada estava escura, iluminada apenas onde os faróis alcançavam, e mesmo assim um espaço curto. Eu não fazia ideia do que tinha pela frente. 

Os pneus deslizam na pista, é como estar sem motorista. Há um tronco no meio da estrada, só me dou conta depois que o carro passa por cima dele dando pulos altos.

—Michael! —Grito com os olhos fechados. A adrenalina é bem excitante. —Olha para estrada, por favor! —Estou gargalhando de nervoso, e ele se diverte com a situação. 
—Obedeça, então. —Ele gira o volante com tanta força que o carro falta sair da estrada, mas volta de novo tomando a pista quase toda. 

Estou sem reação, não quero pagar para ver, e se tudo der errado e sua brincadeira se tornar algo mais sério? Puxo a cabeça de Michael para mim, cobrindo sua boca em um beijo forte e desesperado. Me contém segurando com delicadeza o meu rosto com a esquerda. Presumo que a direita guia o volante às cegas. 

O beijo vai ficando mais calmo, incrivelmente sinto entre as minhas pernas sensível, aquilo me excita de uma forma incomum. Michael pisa no freio bruscamente, preciso me segurar para não ir para frente. Destrava o meu cinto de segurança e me puxa para o seu colo, vou de bom grado louca para me atirar em cima dele. 

—Venha cá, Claire. Não me aguento de tesão por você. —Ele domina a minha boca preciso lutar para conseguir me acostumar ao ritmo desenfreado.

Nosso beijo é selvagem. Bem diferente do que já demos até hoje. As mãos do meu enlouquecido amante, entram dentro do meu vestido, acariciando as minhas coxas, pairando na minha bunda. Sinto meu clitóris trêmulo, inchado e dolorido de tesão. O som que sai da sua garganta é animalesco, está furioso de tesão assim como eu. Seus lábios descem para o meu colo, suas mãos me apertam, me descobrem. Não controlo os gemidos, não tem como. Sinto um susto ao lembrar que estamos em plena estrada deserta e escura, me lembro do cara de galochas na hora. 

—Michael! —Imediatamente ele para tudo que está fazendo, acho sua atitude digna. Ele não pensa somente nos seus desejos. —Essa rua é deserta. Está à noite. O homem de galochas. —Ele balança a cabeça, em um gesto tranquilizado. 
—Não há ninguém aqui, estamos longe da fazenda Wood. —Dou uma olhada ao redor. Há algo mais importante e está diante de mim, louco para me amar e eu o mesmo. —Além do mais, eu te protejo. 
Ele segura o meu queixo com delicadeza e eu me derreto toda. 
—Vamos para o banco de trás? Ficaremos mais confortáveis. 

Não penso duas vezes, não quero dar uma de chata novamente e estragar aquele clima. Eu o quero e não faz nenhum sentido me privar daquele momento. 

Em minutos estou sentada no colo de Michael no banco traseiro, sentindo suas mãos percorrerem todo meu corpo. Esfrego a minha intimidade no tecido duro da calça jeans, mas sei bem que a rigidez não é só por causa do pano. Meus cabelos é jogados para o lado enquanto mordisca o meu pescoço. Estou evolvida, entorpecida de desejo. E sei que só aumentaria. 

Levo as minhas mãos a barra do seu suéter, preciso conhecê-lo intimamente. Michael me ajuda a despi-lo tão rápido que logo estou de cara com aqueles músculos definidos do seu abdômen e peito. Os pelinhos no colo são sensuais, mas os visíveis no umbigo fazendo um caminho delicioso até a entrada da calça, são perfeitos. Mal vejo a hora de saber onde vai dar. 

As mãos dele estão por cima dos meus seios, por cima do tecido do vestido. Aquele toque me arrepia, fico inquieta. Não sei lidar com aquela situação, estou nervosa, o suor escorrer no meu corpo. A temperatura parece subir de uma hora para outra. 

—Eu sou virgem, Michael. —Disparo de uma só vez, eu precisava informá-lo. Melhor do que parecer uma idiota perdida na hora do sexo. O que ele pensaria de mim? Que sou frígida? 

A reação de Michael abala as minhas estruturas, ele joga a cabeça para trás e começa a rir muitíssimo, mas é de pura satisfação. Seus olhos estão brilhantes e o jeito que morde os lábios me mostra que adorou saber da notícia. 

—Minha nossa, Claire! Você é toda minha. É toda minha, meu amor. —Para de rir e me encara profundamente. —Eu não tinha dúvidas que foi feita pra mim. Isso me dar ainda mais tesão, sabia disso? —Captura o meu lábio com o dente, revindica a minha boca em seguida. 

Não há como ficar mais feliz do que isso. Me sinto tranquila, sei que estou fazendo a coisa certo. Iria me entregar para o homem que amo verdadeiramente. 

O beijo é mais calmo, mas não abandona sua intensidade costumeira. Meu vestido começa a ser levantado bem devagar, me sinto nervosa, mas muito, muito tranquila. Fico apenas de calcinha diante de Michael, com os seus olhos famintos voltados para os meus seios. Fico envergonhada, mas pela satisfação dos seus olhos. Sinto vontade de projetá-los para frente, os exibindo mais e mais. Seus lábios estão em cima deles agora, fechos os olhos sentindo o prazer da sua boca experimentando uma parte tão erógena do meu corpo. Sua mão acaricia o outro com a mesma envolvência. Estou a ponto de bala, bastante molhada entre as pernas. 

—Então consuma de vez este predicado. —Rapidamente sou posta deitada atravessada na banco. Vejo Michael abrindo os cintos da sua calça com tanta presa que sorrio com a necessidade que ele tem. 

Os zíper da calça é abaixado, daqui vejo a boxer cinza que usa. Estou explodindo em expectativas. Ele fica somente de cuecas enquanto se posiciona entre as minhas pernas. O espaço é pequeno, mas ele dá um jeito. Meu ventre é atacado por sua boca, sua língua percorre a minha pele desde entre os seios atá a virilha, me contorço. Minha calcinha de renda branca é delicadamente retirada do meu corpo. Mais uma vez me envergonho ao me ver exposta diante do meu namorado. 

—Você é absurdamente linda, Claire. Tão pequena e gostosa que me faz ter pensamentos loucos do que quero fazer quando estiver dentro de você. —Sua voz rouca e profunda proferindo estas palavras causa-me um reboliço tremendo na minha intimidade. Estou sentindo com Michael, algo que nunca senti com mais ninguém. 
Não consigo falar nada, só consigo sentir, e tudo que sinto é como um turbilhão de muitas coisas juntas. Não consigo raciocinar. 

Sua cabeça está dentre as minhas pernas, ele me aspira como aspirasse uma flor recém colhida no jardim. É sensual, bem erótico. Me coloca na boca, me beija com profundidade, sinto sua língua me umedecer mais do que já estou úmida. 

—Michael... —Suspiro sem fôlego algum. 

Ele me suga, como se sugasse o final da bebida no canudinho. Seus olhos estão em cima de mim, há malícia ali, satisfação. Pendo minha cabeça para trás quando mordisca os pequenos lábios, é delicioso. Como os dedos, Michael separar os pequenos lábios, começa a arremeter sua língua em cima do meu clitóris por diversas vezes. A sensação que dá que vou perder a cabeça a qualquer momento. Nunca pensei que uma simples língua pudesse dar tanto prazer. O que seria de mim quando me possuir de vez? Meus dedos das mãos e dos pés estão retorcidos. Meus quadris remexem em direção a sua língua, estou chegando lá tão rápido que é difícil controlar. Meus gemidos são ininterruptos. O prazer vem todo de uma vez, se instalando no meu núcleo, basta a última sugada de Michael no centro, para que eu exploda de prazer. 

—Oh, minha nossa! 

Enquanto me recupero daquele orgasmo magnífico, Michael se livra da cueca. Ele é uma visão. Seu pênis imponente ereto, desperta em mim o tesão recém saciado. Não consigo parar de apreciar as veias saltadas ao longo dele, até a glande alterada. Fico impactada, louca para tê-lo, mas com receio de me machucar.

—Eu vou comer você, Claire, bem devagarinho, mas somente até momento em que tirar a sua virgindade. Depois eu vou fodê-la forte, possuindo o que é meu de direito. —Me tremo inteira, sua promessa é enfática e me atinge feito um tiro. Mal posso esperar. 

Ele debruça sobre o meu corpo, deitando em cima de mim. Sua mão suspende a minha perna, abrindo-a bem para que ele se acomodasse. Ele esfrega a glande molhada na minha entrada bem de leve, me provocando, arrancando-me suspiros. Aos poucos vai entrando, movimentando os seus quadris, buscando espaço. Pendo a minha cabeça para trás, enquanto ele beija o meu pescoço. Ele estoca uma vez, com força, nada de delicadeza como avisou que seria. Sinto um pouco de dor, mas não me queixo. 

Recebo outra estocada, meu corpo chacoalha. Forçando sua entrada, me sinto invadia quando meu hímen se rompe e Michael entra livre dentro de mim. Minhas unhas cravam em suas costas duras, enquanto ele sussurra palavras insanas no meu ouvido. Perco a virgindade dentro de um Strada vermelho no meio de uma estrada vazia e escura, porém como o homem que amo, lindo e nu em cima de mim, me comendo. 

—Caralho, Claire, é tão gostoso! 

Os movimentos dele são incisivos. Minhas costas esfrega no couro do banco, está grudento e suado. Levo as minhas mãos em sua bunda. Aperto contra mim, o mantendo o máximo que posso. 

Sou tocada em pontos sensíveis, que me levam a beira do orgasmo. Isso é bem melhor do que meus minutos solitários no chuveiro ou na minha cama durante à noite. É bem melhor do que imaginei. Michael está no fundo, arremetendo sem parar, meus olhos fecham e abrem freneticamente. Sou dele! Completamente dele. Me desfaço em um orgasmo profundo e intenso embaixo do homem que amo. Minha cabeça entra em parafuso, com o descontrole que é. Não consigo parar de sentir a sensação, parece que aumenta a cada estocada e cada vez fica melhor. 

Os músculos de Michael estão rígidos, sua cabeça pende para trás, sua língua circula seus próprios lábios, ele está quase lá também. Soltando um urro, Michael me abandona desesperadamente, saindo de dentro de mim, gozando em descontrole no carpete do carro. Fico impressionada com a cena mais sensual da minha vida. 








Capítulo 11 
Segredos à prova




O corpo prodigioso de Michael estava sobre o meu, minhas pernas cobriam suas nádegas para mantê-lo colado a mim. Seus lábios carnudos e febris salpicam beijinhos nos meus, repetidas vezes. Alternando um olhar apaixonado, enquanto sua mão acarinhavam os meus cabelos. Era uma posição desconfortável, não posso negar, mas só de estar ali com ele, sentindo o seu corpo quente e nu em cima de mim, já levava todo o desconforto para bem longe. 

—Eu quero ficar com você está noite. Preciso que durma comigo, Claire. E fique ao meu lado até o dia amanhecer. 

Seu pedido de suplica não me permite recusas, mas como recusar se é tudo que quero também? Não podia simplesmente voltar para àquela casa e tentar pegar no sono depois do momento incrível que tivemos. Eu queria mais é que durasse o tempo que fosse. Enxergo com clareza a carência de Michael, a sua necessidade implacável em estar com alguém. O desespero em seu pedido, me mostra que mesmo depois de anos, a solidão não foi acostumada por ele. Me sinto no dever de estar ao seu lado, tentar de todas as formas curar a sua ferida, cicatrizá-la até que viesse a cura, e de quebra encontrar a minha própria satisfação. 

Levo meus dedos ao seu rosto, ajeito os fios revoltos da costeleta, acaricio algumas vezes atrás da sua orelha, e desço até a sua nuca a ranhando as embaixo das minhas unhas em sua pele. Aqueles olhos negros que parecem mais escuros por causa da noite estão em cima de mim. Seus lábios são tão convidativos que é difícil resistir. Se pudesse ficaria o tempo inteiro beijando-os. 

—Irei onde você quiser, Michael. Estou em suas mãos. 

Aquelas palavras de entrega total a ele, o faz sorrir com satisfação. Ele sabe o quanto eu o amo, mas sabe ainda mais o quanto preciso ser para ele o que ninguém mais pôde ser. Talvez isso o encoraja, o deixa seguro. Michael pode parecer uma barra de concreto algumas vezes, em relação à outras pessoas, mas comigo, ele se abre completamente, abrindo a caixinha de surpresas e revelando tudo que existe lá dentro. 

Ele me beija com tanta força, com tanta necessidade que a sensação é de ser sugada pelo cano da pia. Só é a forma de me dizer que as minhas suspeitas estavam certas. 

—Isso é maravilhoso. —Choraminga e eu me derreto toda. 
—Além do mais, não quero ter que voltar para casa do Graham. Não suporto mais olhar pra ele, tendo suspeitas. Minha mãe está lá, me sinto péssima por deixá-la. 
—Você deveria ficar comigo, na minha casa, Claire, eu já disse. Mas não se preocupe com a sua mãe, ela está bem. 
—Como pode ter tanta certeza? 
—Eu sei. —Seus olhos se aprofundaram ao responder. É como se ele estivesse convicto em sua afirmação. —Agora vamos, quero ficar mais algumas horas dentro de você. 

Me arrepio inteira, acho que não vou me acostumar com esta forma despachada que Michael trata o sexo, mas também nem quero mesmo. É maravilhoso sentir essa emoção, todo esse impacto que causa em mim ao falar de um jeito tão sexy. 

Michael dá a volta, pegando o outro lado da estrada. O caminho até o povoado é um pouco longo, Michael mora em uma área bem movimentada da cidade, estou louca para conhecer o seu apartamento. Mas meu coração está um pouco conturbado de preocupação com a minha mãe. Tento acreditar nele quando diz que ela vai ficar bem. Ele não a ajudaria por nada, e se tudo que vi em seu porão fora apenas mal entendido? Não tenho certeza de nada, tanto negativa como afirmativa. 

A visão do prédio onde Michael mora, me faz esquecer as questões anteriores de repente. Estou cheia de expectativas, louca para conhecer o seu canto reservado, o lugar onde tem segurança. Onde pode ser quem realmente é. 

O prédio tem aparência simples, por ser interiorana, mas posso dizer que é mais bonito em visto aos outros ao redor. Um prédio de três andares, as partilhas de cerâmica eram em preto e branco e vidros fumê. Era um prédio comercial. Embaixo há lojas, como lanchonetes e restaurante e em cima a residência. Ele estaciona o Strada em uma garagem subterrânea. Pegamos o elevador e seguimos para o terceiro andar.

Me impressiono e muito ao dar de cara com o seu apartamento. Quando Michael acende as luzes tenho uma visão privilegiada de cada canto da sala. É um apartamento consideravelmente grande. Nada tão chique, mas muito, muito organizado. Os móveis são novinhos, ou estão muito limpos. Não vejo nada fora do lugar. O sofá cinza está posto um do lado do outro fechando o circulo no canto da sala em frente a TV de LCD. Há alguns estantes com livros todos em ordem alfabética. Consigo ver as plaquinhas com as letras. Ao lado da janela escura, cuja a cortina branca está entre aberta, há uma mesa redonda com uma decoração singela no centro. Um vaso em cone, com duas tulipas brancas dentro. Eu nunca vi um apartamento tão bem organizado, na verdade sempre há algo fora do lugar, na casa de Michael não. Posso ver o meu rosto refletido no porcelanato negro, ao inclinar a minha cabeça para o chão.

Ele fecha a porta atrás de nós, ainda estou observando todo o espaço, admirada. 

—Você tem empregada? —Se tiver uma, ela tem que ser bem disciplinada para manter tudo na aparência maravilhosa que está. 
—Não, sou só eu. —Contenho um sorriso. É bom saber que homens também se preocupam com limpeza, é bom saber que ele se preocupa. —Quer beber alguma coisa? —Balanço a cabeça. —Então vem cá. 

Enlaça os braços na minha cintura me puxando para um beijo. Michael me leva até um móvel onde impressa o meu corpo e o inclina para trás só para sugar o meu pescoço. 

—Estou ansioso para este feriado, você não faz ideia. 
—Pensei que somente os alunos ficam ansioso para este dia, enquanto os professores se deleitam passando trabalhos e mais trabalhos, só para infernizar as nossas vidas. —Ele vez um mais ou menos com a cabeça. 
—Em outros tempos eu faria mesmo, encheria os pobres coitados de um monte de trabalhos quase impossíveis de se resolver. Não os daria nenhum tempo para diversões. Mas não tem paciência para planejar nada agora, só penso em ir às montanhas com você. Ficar com você. Acho que é uma heroína agora, salvou a pele de todos. —Dou uma risada. 
—E a minha própria também. Mas, o que tem nesta montanha, Michael? Por que está tão ansioso? 
—É o meu refúgio, onde relaxo e descanso. Com você lá não será assim, mas vou sair um pouco da rotina o que é maravilhoso. 
—Não vamos descansar? —Ele balança a cabeça. 
—De jeito nenhum. Temos coisas interessantes a se fazer. 

E sexo é mencionado mais uma vez mesmo que seja indiretamente. Fico insegura um pouco, achando que o único objetivo de Michael é me comer e me comer. Me afasto um pouco dele, caminhando pela casa, ele percebe o meu desconforto. 

—Você sabe que quero ficar com você, que eu gosto de você e me entreguei. Por favor, não me magoe. —Sinto um nó na garganta. 
—Não vem com essa, sabe que eu também quero ficar com você, e muito. O fato de querer transar com você não altera em nada os meus sentimentos, muito pelo contrário. —Ele dar dois passos mais próximo de mim, é o suficiente para segurar em meu rosto. —Eu desejo você, e sei que também me deseja, é o mesmo, e não muda nada só porque sou homem e você é uma mulher. 

Sei, é muita ignorância da minha parte pensar sobre isso, e acredite, não é pelo fato de ser homem, e lhe despejar toda a canalhice do sexo oposto machista e pervertido. Michael é o cara mais introvertido que eu já conheci, a maioria das pessoas naquela cidade não vão com a cara dele, e é bem recíproco. É mal educado com todo mundo, até comigo já foi um dia. Pessoas ao qual o conhece mais tempo, garante o quanto é babaca. É normal eu me sentir insegura, às vezes os conflitos me perturbam. 

—Eu nem conheço você direito. Não sei o que estou fazendo, Michael. Tudo está acontecendo tão rápido, eu fico confusa. —Ele agarra a minha boca e depois solta. É como um pedido silencioso para mim não me preocupar. 
—Eu gosto de você, Claire. Eu já disse o quanto eu preciso de você, vai ter que confiar em mim agora. Vai ter que acreditar na importância que tem na minha vida, e na alegria que você trouxe para mim depois desses últimos anos. —Suas palavras me tranquilizam, mas ainda posso sentir algo doer no meu peito. Não sei, é diferente. 
—E eu te amo. —Sinto vontade de chorar. —É esse o meu medo. 

Ele beija a minha boca de novo, dessa vez mais longo, acalmando o meu espírito. Relaxo em seus braços, me deleito nas sensações prazerosas que me faz sentir naquele momento. Michael é tão perfeito que não quero nunca ter que dizer adeus, eu não suportaria. 

Ele retira o meu vestido do meu corpo, volto a ficar nua diante dele. Me pega pelo colo, não paramos de nos beijar, sou levada para o seu quarto, deitada em sua cama. Aquele quarto e ainda mais limpo do que o resto da casa, os lençóis dispostos não tem nenhuma ruga, nem um só relevo. Não sei como faz isso, mas percebo o quanto se dedica. O closet fica em frente a cama, um banheiro conjugado ao lado. Percebo que há uma TV de plasma menor que a da sala suspensa na parede. 

—Tenho até medo de bagunçar a cama. —Comento quando se acomoda entre as minhas pernas. 
—Tem toda a permissão do mundo de bagunçar tudo nessa casa. Se já bagunçou a minha vida, o que é amassar alguns lençóis? Acho até que será divertido. —Gargalho. 
—Você não tem jeito mesmo. 
—Me faz ter jeito então? 

Fico hipnotizada com a forma que me olha. Aquele homem é tão sedutor que nem sei o que fazer direito quando me olha daquela forma. Michael um dia desses iria acabar comigo somente por me olhar assim. Sua boca vai parar entre os meus seios, sou devorada por inteira, nenhuma parte do meu corpo se livra dos seus beijos. Minha mão em seus cabelos incita a continuar. 

—Caralho você é tão cheirosa! Fico de pau duro só sentindo esse cheiro. —Sorrio de leve com os olhos fechados apenas absorvendo as sensações. 
—E eu com vontade de fazer um monte de coisas. —Para o que está fazendo e me olhar de repente, todo curioso. 
—Por exemplo? 

Penso sobre aquele boquete que fez em mim dentro do carro, o quanto foi maravilhoso sentir. Sinto vontade em fazer nele também, testar as possibilidades, conhecer os meus limites e explorar os nossos desejos. 

—Senta-se aqui. —Bato com a mão na beirada da cama. Seus movimentos são cautelosos, mas eu sei que está em expectativas.

Faz o que eu peço de bom grado. Me levanto da cama, e fico em pé diante dele. Levo as minhas mãos em seu suéter o retiro com sua ajuda. Michael não tira seus olhos desejosos de cima de mim, observa cada ação minha. Estou um pouco nervosa, mas nada que irá me impedir de prosseguir. Agacho diante dele e começo a percorrer minha boca em seu peito cheiroso, com sabor delicioso. As pontas do meu dedo percorrem seus músculos enquanto eu sugo o seu mamilo. O gemido que Michael solta me faz vitoriosa. Levo as mãos ao zíper de sua calça. Ele não colocou de volta o cinto. Me ajuda a retirar a peça junto com a cueca. Agora está gloriosamente grande e grosso diante de mim. A cabeça do pau dele grita por um toque, mas tenho coisa melhor que isso. 

—Eu não sei se vai te agradar e nem se vou fazer direito, só peço que me ajude, e que me diga se eu fizer errado. —É normal a minha insegurança, eu nunca tinha feito na vida, apenas lido algumas coisas eróticas morrendo de vontade de fazer algum dia, com quem eu realmente gostava. Acho que chegou a minha oportunidade. 
—É impossível. —Resfólega todo tenso. —Impossível me chupar errado, Claire. Vai em frente. —Me arrepio toda com sua voz rouca incentivando a minha ideia insana. 

Me ajoelho diante dele, suas mãos acarinham os meus seios com uma delicadeza fora do comum, me excitando da mesma forma que ele. Inclino minha cabeça diante dele e o abocanho. As costas de Michael arqueiam pelo contado, ouço um gemido de prazer sair da sua boca. Ele está muito sensível, louco de tesão. O gosto é diferente, não me agrada no começo, mas não desisto. Sugo a glande de levinho, fazendo Michael se contorcer. Sua expressão de prazer me inspira a movimentar cada vez mais. 

—Hum, assim! Me chupa forte, baby. 

Meus dedos vão até suas bolas acariciando enquanto minha boca vai e vem na base até a ponta. Urros estridentes são ouvidos. Posso senti-lo pulsar dentro da minha boca, consigo sentir o gosto do líquido pré-ejaculatório. Não consigo aguentar mais, estou super excitada, necessito apertar as minhas coxas uma na outra afim de me dar prazer. As mãos de Michael estão agora na minha cabeça incitando os movimentos rapidamente. Minha cabeça mexe tanto de encontro ao seu pau que sinto uma pontada na nuca. Os quadris de Michael vão de encontro a mim, como se transasse com a minha boca. Não suporto de tesão, estou enlouquecida. Seus gemidos manhosos, ficam mais fortes, consequentemente o choque de seus quadris também. Sinto o líquido escorrer em minha boca, é tanto que a sensação é de afogamento. 

Ele puxa os meus cabelos, inclinando a minha cabeça para trás, me afastando dele. 

—Você tem uma boquinha tão gostosa. —Me tremo toda. 

Michael me coloca na cama, deito de uma só vez, ele pega algo dentro da gaveta do criado mudo ao lado e monta em cima de mim. Meus braços estão abertos na altura da cabeça, só esperando que me possua. Ele rasga o pacote da camisinha, inclina o corpo para trás dando espaço para que se vista. É a visão mais linda que já vi. Retira a minha calcinha do meu corpo. Estou mais uma vez exposta, sedenta por ele. Sou invadida forte, e fundo. Meu corpo arqueia e um gemido sai da minha garganta. Michael está com o rosto colado no meu, metendo com força dentro de mim. Não consigo suportar a sensação incrível de prazer. Ele me possui de uma forma intensa, me fazendo dele. 

Beijo a sua boca, puxo os seus cabelos, enquanto a cama range em protesto ao nossos movimentos violentos. Ele morde o meu queixo, lambe a minha orelha. 

—Você agora é minha, Claire. Somente eu tenho o direito de estar dentro de você, entendeu? —Envolvo minhas pernas em sua corpo, enfio as minhas unhas nas suas costas duras. Sinto uma pressão deliciosa no meu anus que me leva a beira do orgasmo. 
—Não tenho pretensão nenhuma de revogar o seu direito, Michael. —Ele solta um gemido de agrado. Minhas mãos descem para a sua bunda em um toque ousado e prazeroso. 
—Eu te amo muito. Não tem ideia do quanto, você me faz sentir coisas que quero para sempre, Claire. Por favor, quando eu digo que preciso de você não estou mentindo. —Estou sem fôlego, meu corpo inteiro queima. 
—Eu sei. Eu também amo você. Não sou capaz de sentir isso por mais ninguém. —Ele gosta do que falo, o seu sorriso de satisfação me faz pensar que Michael detesta competição, ele me quer para ele, é como se eu fosse algo raro que somente ele tem o privilégio de possuir. 
—Isso é ótimo, Claire. Porque não vou suportar me abandonando e ficar com outra pessoa. Eu teria que me mudar de cidade, seria destrutivo. —Ele arremete com força, meus olhos reviram, mas ainda consigo imaginar o quanto a ex namorada de Michael o magoou muito. Ela deve ter o abandonado e ficado com outra pessoa. Para ter tanto medo assim, só pode ser isso. 
—Eu iria com você. Ficaria ao seu lado. 

Suas arremetidas vão ficando frenéticas, estamos quase lá. Não sinto mais os meus dedos, eles estão contorcidos demais para que eu sinta. Gemo forte, alto, estou desfalecendo em seus braços, perdendo a força. O orgasmo me atinge como uma bomba, é tão bom que meus olhos piscam em descontrole, sozinhos. É como um frio na barriga, mas muito melhor, pois é bem mas prolongado e intenso. Aperto o seu corpo contra o meu, Michael goza em seguida, com a boca entre aberta e de olhos fechados. Nunca me senti tão feliz como naquele momento. 

Seu corpo desaba sobre o meu logo após descartar a camisinha. Protejo sua cabeça com os braços. Estamos recuperando o nosso fôlego. O ar que Michael emite em meu pescoço é quente. É sua ofegância dizendo que se esforçou demais. 

—Hum, isso foi tão bom! —Ele sai do meu corpo e deita ao meu lado, me aconchego em seu peito.
—Acho que vou me viciar nisso mais rápido do que pensei. —Ele dá uma risada. 
—Será um prazer satisfazer o seu vício. —Abre os braços. —Sou todo seu. —Deposito um beijo em cima do seu mamilo. Estou como uma concha aninhada ao seu corpo. 
—Não tenho dúvidas disso. Você repete o tempo todo que me quer, e que não suportaria me perder. Mas e eu, Michael? Eu também não suportaria que fosse embora, ou me trocasse por outra. —Estala a língua no dente. 
—Isso nunca vai acontecer, pode acreditar. Não quero saber de ninguém mais. Você é bem mais interessante pra mim. —Não sei se me sinto orgulhosa ou preocupada. Prefiro espantar a preocupação e só me sentir orgulhosa. 
—Isso é bom, pelo menos não tenho que me preocupar com competições. —Ele beija a minha testa enquanto eu sorrio. Me esfrego em seu corpo, me sentindo confortável. 
Não sei direito quando pego no sono, só sei que meu corpo todo está relaxado, e a sensação de leveza me domina. Eu acho que nunca dormi tão bem assim. Dormi sentindo o cheiro masculino de Michael, misturado com o cheiro de sexo que nos envolvia. 

Quando acordei, eu estava um pouco incomodada. Entre as minhas pernas está dolorido, ainda podia sentir o pau dele arremetendo contra mim. Ao abrir os olhos, meu namorado me admirava dormir. Apoiou o cotovelo na cama, segurando a cabeça com a mão. Aquele olhar em cima de mim, me arrepia inteira.

Michael está ainda completamente nu, seu corpo glorioso está à minha disposição e eu sabia disso, ele disponibilizou para mim e percebo pela forma em que seu pau está duro. Meu corpo está nu também, havíamos dormindo sem roupa e acredite, é libertador. 

—Faz tempo que está acordado me olhando? —Ele balança a cabeça em positivo. 
—Eu precisava admirar a minha mulher dormindo do meu lado. —O pronome possessivo me atinge como um raio no meio do meu ventre. É agradável ouvir, sentir e saber que é real, mais ainda. 

Beijo a sua boca com vontade, quero senti-lo, ter o seu corpo bem próximo de mim. Sua mão vai para as minhas nádegas, é uma massagem deliciosa que acaba despertando a minha vontade dele. Tudo vai se intensificando, me excito novamente. Me lembro que fui para casa de Michael sem avisar a minha mãe, provavelmente ela estaria preocupada comigo. Aquele pensamento fora de hora me faz o repelir. 

—Eu tenho que ir pra casa! Minha mãe deve está achando que aconteceu alguma coisa. —Me sento na cama, tendo que lidar com a expressão chateada dele. 
—Sua mãe logo vai saber o quanto foi bem tratada na minha casa. —Oh se fui! Tão bem tratada que com certeza quero voltar. 
—É sério. Eu não avisei que viria, com toda as loucuras que andam acontecendo por aqui, ela deve está mandando o Graham ir atrás de mim. É melhor eu ir. — Michael suspira, se levanta e senta na beira da cama. Meus olhos não desgrudam do seu corpo desde suas costas definidas quanto da sua bunda durinha quando se levanta da cama. 

O meio das minhas pernas pulsa quando ele se vira, me dando uma visão linda daquele pênis de fora. 

—Esse apartamento é bem seguro, diz isso a ela. É muito melhor do que naquele meio do mato em que vocês estavam e o lugar que estão agora. —Ele caminha até o banheiro, o ouço fazer xixi, é tão íntimo que sinto uma sensação gostosa. Realmente somos um do outro.
—O que você quer que eu faça? Não está no meu controle. —Saio da cama, pego a minha calcinha no chão e me visto. Encontro uma camisa de Michael em cima de uma poltrona e me visto. O cheiro do seu perfume me acalma. 

Caminho até o banheiro, Michael está lavando o rosto, jogando água no seu cabelo também. Ele é ainda mais lindo de manhã. 

—Pode usar a minha escova de dente se quiser. —Me oferece a escova azul que estava no suporte dentro do espelho.
—Já estamos dividindo escovas de dentes? A coisa está mesmo séria. —Ele sorri, passa por mim para voltar para o quarto, mas antes me dá um tapa na bunda. 
—E você ainda tem dúvidas? —Fico sozinha no banheiro. Coloco um pouco de creme dental na escova e começo a escovar os meus dentes. 

Logo depois sinto o braços dele me envolverem por trás e sua boca beijar a minha nuca com luxuria, me derreto toda. 

—Quem mandou você vestir a minha roupa? —Termino de enxaguar a boca e o olho de cenho franzido, por causa do tom de censura. 
—Encontrei em cima da poltrona, não sabia que não podia usar. 
—A questão não é se você pode usar ou não, e sim, que preciso de você nua, e não vestida. —Sua crítica faz todo o sentido agora. 
—Na verdade eu tinha que vestir as minhas roupas, daqui a pouco tem aula, já esqueceu? Você é o professor. Não seria adequado professor e aluna faltando no mesmo dia. —Faço menção de sair do banheiro, quando me captura pela braço, me erguendo do chão, e me colocando sentada em cima da pia de mármore. 
—Que se dane! Quero que todos saibam que você é minha. A universidade, seus amigos, todo mundo! —Ele enterra sua cabeça entre os meus seios no vão da camisa, abraço o seu pescoço sentindo o prazer aquele beijo. 
—Não é mais proibido relacionamento íntimo de professor e aluno? 
—Não que eu sabia. Se eles me demitirem não terá nenhum outro, com as mesmas habilidades que eu. Acho que não arriscariam. 
—Convencido! —Chacoalho o seu corpo. Ele sorri para mim, aqueles dentes branquinhos sorrindo daquele jeito é tão lindo. 
—Nem um pouco. Realista... é bem diferente. 
—Ah sim, claro. Michael Jackson e seu sincericídio. —Seus dentes puxa os meus lábios e sua mão migram para o meio das minhas pernas me incitando. Solto um gemido. 
—Está tão quente. Parece que tem alguém querendo meu pau. 
—Michael! — O repreendo, mas morrendo de saber que é verdade. 
—O quê? Eu também quero a sua boceta. 
—Michael. —Começo a gargalhar ao mesmo tempo que o repreendo. —Ai meu Deus, você é mesmo louco. 
Retira a minha calcinha tão rápido quanto retira a sua cueca. Me invade de uma só vez, que nem tenho chance de me preparar. Afundo a minha cabeça em seu pescoço enquanto arremete contra mim. 
—Minha nossa, isso é tão bom. 
—Estou viciado. Não consigo nem ficar alguns metros de você e já fico todo duro. Você acabou comigo. —Seus quadris sobem e descem, acompanhando o ritmo daquela transa frenética que fazemos. 
—Olha quem fala. Até parece que esse pau maravilhoso não me afeta em nada. —Ele solta um gemido alto, estocando-me com força. 
—Caralho, Claire! Não fala assim, me faz gozar sabia? —Ele segura a minha bunda, e caminha comigo em seu colo, sem parar de remexer a minha bunda de encontro ao seu quadril. Sou posta em cima de um móvel, quando Michael me fode sem interrupções. É tão rápido que minha cabeça entra em parafuso, fico fora de mim por alguns instantes até gozar profundamente. 
—Minha nossa!! —Ele grunhi. Os espasmos me dominam, enquanto ele goza fora de mim. Michael tem o maior cuidado do mundo em nos proteger e amo isso nele. 
Ele descansa sua cabeça no meu peito, resfolegando.
—Vamos para a universidade. —Sussurro recuperando o meu fôlego, e ele balança a cabeça. 



—Claire, meu Deus, menina! Aonde é que você se meteu? Tem ideia do quanto fiquei preocupada? Graham rodou essa cidade de ponta à cabeça trás de você. 

Arregalo os olhos assustada com o jeito que mamãe fala. O exagero dela me impressiona. Mas antes de tudo, fico feliz por ver que estava bem e que nada havia acontecido de mal. 

—Eu estou aqui, cheguei bem, e estou inteira. —Entro dentro de casa, caminhando para o quarto. Mamãe está no meu encalço, reclamando sem parar. 
—Onde passou a noite? Disse que jantaria com o seu namorado e agora... Pera aí! —Ouço um suspiro de choque, se dando conta do que provavelmente possa ter acontecido. Quando olho para ela, está com uma expressão bem pasma. Ela analisa as minhas roupas, nota o meu cabelo solto. 
—Sim, mamãe, eu dormi com o Michael. —Ela leva um sustinho, mas começa a rir. Fica ainda mais alarmada que antes, mas tudo no bom sentindo, eu diria que está toda empolgada. 
—Ai meu Deus! Achei que esse dia nunca chegaria, Claire. —Ótimo, definitivamente me senti uma frígida e caretona alguns dias atrás. —Anda, senta aqui. Me conte tudo. —Ela senta na cama toda animada, como uma velhinha fofoqueira. Começo a gargalhar. Faço o que ela me pede. Estou doida para me livrar do meu vestido e dos sapatos, mas ela não permite. 
—Ah! O que eu posso dizer? —Ao relembrar, sinto toda aquela emoção que senti naquele momento, me reacendo e uma paz me invade. —Ele foi perfeito, mamãe. Foi selvagem, mas... eu não sei, eu... —Mordo o meu lábio. —Ele me deixou sem fôlego. —Mamãe teve uma reação tão diferente, foi como contar a minha primeira vez para uma amiga, e não para um mãe. Ela estava toda orgulhosa de mim, e emocionada. 
—Uau! Sem fôlego é bom, significa que ele foi maravilhoso. —Fico toda vermelha, não é um assunto que se conta a uma mãe. —Minha primeira vez foi esquisita, o cara entrou e gozou. Foi tão rápido que me senti péssima. É decepcionante. —Ela fez cara de nojo e eu ri mais. —Usaram camisinha, não é? 
—Sim, sim, claro. O Michael foi muito cuidadoso. —Ela sorri toda amigável. Eu adoro ver a felicidade no rosto da minha mãe, mesmo depois de tudo que passamos, é como um bálsamo para mim. 
—Peça para ele vir jantar conosco, preciso conhecê-lo. Se ele pensa que vai namorar a minha filhinha e levá-la pra cama, sem pedir permissão está muito enganado. —Faz uma cara de brava só por charme. Balanço a cabeça, não crendo em sua atitude, mas acho graça. 
—Eu disse a ele, mamãe. Michael vem, apesar de não suportar o Graham. 
—O que? Ainda essa picuinha? — Sacudo os ombros.
—Vai saber. Ele não me disse nada a respeito. —Para falar a verdade, Michael nunca me diz nada com clareza sobre qualquer coisa mesmo. —Acho que aconteceu algo entre eles no passado. Sério, eu não sei o que é. 
—Percebi quando Jack falou daquele jeito. —Ela fica pensativa. —O que será, hein? —Percebo que ela fica curiosa, assim como fico boa parte do tempo. 
—Mas eu vou descobrir. Pode ter certeza. —Falo mais para mim do que para ela. Uma determinação que aflora dentro de mim. —Ah, vou passar o feriado nas montanhas com o Michael. Ele faz questão que eu vá. Tem uma cabana, que gostaria muito que eu conhecesse. Parece ser bacana, estou animada. —Abro um sorriso largo. 
—Hum, pode ir. Mas antes preciso conhecê-lo. Vou dizer ao Jack que você já está em casa. —Assinto.
—E eu vou tomar um banho para ir a faculdade. —Começamos a procurar cada uma, o nosso rumo.
—Tudo bem, querida, boa aula. E ah! — Ela para na minha frente, para me mandar um recado: —Não se distrai muito com o professor, estude. 
—Pode deixar, mamãe. Sabe que sua filha é CDF, e o professor me adora. —Pisco para ela. 
—Um ponto ao seu favor! Eu sei, você é uma boa menina. —Dá dois tapinhas no meu rosto e sai do quarto. 

Me arrumo rápido para ir a faculdade, estava bastante atrasada. Só uso uma camiseta de cetim branca, que cobrem todo os meus braços. Calça jeans apertada, coloco um sobretudo por cima. Botas até a metade da canela e prendo os cabelos em um coque bagunçado. 

Ao caminhar para a saída do quarto passo por um espelho. Me dá uma vontade de me olhar. Estou diferente, meu semblante está mais sereno. Tenho mais vida no olhar apagado e enorme. Meus lábios estão rubros, mas talvez seja por causa do frio, meus lábios sempre ficam rubros no frio. Encontro a pequena maleta de maquiagens da minha mãe. Decido abri-la e procurar um lápis de olho, talvez rímel. Meus lábios precisam também de brilhar um pouco mais. Acho que nunca havia me ligado em usar maquiagem antes. Eu nunca achei que precisasse, para mim estava bom do jeito que estava. Resolvo trocar de roupa também. Vasculho nas minhas coisas e encontro um suéter florido bem feminino, colado no corpo. Aquele suéter eu não o via há anos. Acho que na confusão de guardar as coisas para a mudança, ela acabou aparecendo. 

Troco a minha calça Jeans de lavagem clara e coloco outra azul bem escura. Solto os meus cabelos e "bagunço" eles para a frente. Volto ao espelho, me sinto linda! Nunca pensei que eu pudesse ficar tão feminina do jeito que fiquei. Me lembro da noite em que estive com Michael. Fora bem diferente do que imaginei, mas não deixou de ser muito bom. As coisas que me falou sobre precisar de mim também batuca na minha mente. Eu não faço ideia até onde Michael precisa de mim, nem sei quais suas intenções reais. Porém este momento, tudo que queria era embarcar nesta aventura. Já estava mais do que na hora de ser feliz. 

Tomo uma lufada de ar, pego as minhas coisas e parto para Pacific University. Mas antes encontro mamãe dando a notícia para Graham, pelo telefone, de que eu estava bem e em casa. Graças a Deus que já estava no trabalho e eu nem precisei dar de cara com ele. Morar naquela casa estava sendo um saco. Belo "recomeço", não era o que mamãe sempre dizia? Deposito um beijo no rosto de mamãe, sussurrando um: "Vou convidar o Michael pra jantar hoje à noite" Ela assente toda animada. Já vejo que irá preparar um banquete. Sorrio ao pensar sobre isso. 
Quando chego, encontro Julia e Patrick do lado de fora, provavelmente a minha espera, pois quando avistam o meu carro, caminham quase saltitando em minha direção. 

—Nossa, até que em fim! Pensei que teríamos que procurá-la na floresta para ver se o homem de galochas não havia sequestrado você. —Sorrio alto pelo comentário inapropriado de Julia. —Onde você se meteu? 
—Já sei! Estudando muito para as provas que o professor nem marcou. Ou lendo até as vistas ficarem cansadas? —Patrick estreita os olhos ao me encarar, torcendo para que acerte uma das opções. Nego com a cabeça. 
—Em falar em estudar para as provas, Claire. O feriado está chegando, podíamos colocar em prática o nosso acordo. Queria aprender tudo logo, antes que fique em cima da hora. Aquele assunto todo da guerra fria me deixou toda confusa. —Contenho uma gargalhada, para não dar muito na cara que estou caçoando dela. 
—Segunda guerra mundial. —A corrijo educadamente. 
—E não é a mesma coisa? 
—Não. —Não consigo controlar o meu riso. 
—Huf. Viu só? Nem sei porque estou nessa faculdade, sou uma negação. —Dou dois passos de encontro a ela e seguro em seu ombro. 
—Calma, vamos chegar lá. Eu vou ajudar vocês dois. —Olho para Julia e depois para Patrick. —Mas não poderá ser neste ferido. Tenho planos. —Os dois me olham como se eu falasse uma coisa extraordinária. Aliás, me olham como se eu não fosse desse planeta. 
—Olha só quem agora tem planos. —Patrick debocha. —Parece que está se virando bem sem nós, não é Woodie? 
—Ah qual é? Sinto falta dos meus dois maluquinhos. —Faço um abraço grupal, mas vejo no rosto de Julia que quer saber quais eram os tais planos. 
—Não me diga que seus planos tem a ver com um certo tipão, sério, esquisito. Na maioria das vezes antipático, mas que é gostoso pra caramba? Ah. —Levanta as mãos em rendição. —Com todo o respeito. —Se defende tão depressa quanto a minha vontade de negar, mas decido não fazê-lo. 

Alguém chama Patrick do outro lado da rua, ele se despede de nós e vai ao encontro da pessoa. É um cara fumando um baseado. É bem de se esperar porque se desligou tão depressa da nossa conversa.

—É, é sim. —Fico toda sem jeito. —Michael me convidou para ir as montanhas com ele. Vamos passar o ferido todo. 
—Uau! —Está em choque, vejo desagrado em sua expressão, um pouco de inveja talvez. Ela me olha de cima embaixo. Ajeito a alça da minha bolsa, somente para conter o mal jeito. —Pelo visto a coisa está bem séria. 
—E está mesmo. —Coço a minha testa. — A gente se gosta.
—Acredita mesmo nisso, Claire? Qual é, ele só quer comer você. —Fico toda irritada, seguro muito para não ser grossa. Na verdade estou um pouco magoada, ainda mais por ter pensado sobre esta possibilidade várias vezes. Acho que ouvir alguém dizer assim, na minha cara, é como me acordar para a vida. 
—Muitas meninas se jogaram aos pés dele, eu sei, eu fui uma delas. Ele não as quiseram, por algum motivo Michael escolheu você, mas não quer dizer que está apaixonado. Falo isso pelo seu bem. 
—Tudo bem, obrigada por se preocupar. —Dou alguns passos a frente querendo sair dali, daquela conversa o mais rápido possível. 
—Claire, não fique chateada. —Desisto de caminhar para ouvir o final da sua frase. Na verdade, não quero demonstrar que estou brava, saindo com um bico do tamanho do mundo. Não consigo demonstrar quando algo me afeta para quem me magoa. —Você é uma garota legal, mas é ingênua demais. Homens como o Michael se aproveitam disso. Eles nos fazem sentir especiais, mas somente para conseguir o que quer. Espero que eu esteja errada, mas se for mesmo isso, você vai reconhecer os sinais. Cuidado com o Michael! —Avisa de novo, sinto um arrepio diferente me dominar. —Ele pode ser uma cobra pronta para dar o bote. —Me empertigo toda, ajeitando o meu fichário e o meu casaco longo vermelho. 
—Não se preocupe comigo, Julia. Eu sei me cuidar. —Dou o meu recado, logo buscando o meu rumo.


Aquelas recomendações me perturbam a todo momento. Eu não consigo assistir a aula direito, tendo que encarar o Michael e fazer aquela pergunta interior, massante que tortura. "O que ele realmente quer de mim?" Talvez eu deva parar de ter dúvidas, e acreditar nele. Michael gosta de mim, ele confirmou isso. Vejo em seus olhos o quanto gosta, o tom da sua voz é sincero e enfático. Também tem aquela forma de dizer o quanto precisa de mim. Tudo bem, estou sendo uma adolescente boba, cheia de ilusões e questões internas, porém não posso fazer nada a respeito quando se existem homens como Michael. Que odeia todo mundo, mas precisa incondicionalmente de uma única pessoa, que por um acaso sou eu. A podre menina de Phoenix, Arizona, cuja a mãe comprou uma casa onde é alvo do assassino mais temido da cidade. Suspiro fundo, tentando me concentrar na aula. 

***


Assim que entro na biblioteca, Michael agarra a minha cintura e me puxa para o seu corpo duro e aconchegante. Devo ressaltar que aquela camisa social verde água com aquele colete preto por cima, e sua calça social costumeira, o deixou ainda mais lindo. Sem contar com aqueles cabelos cheios e soltos, cada vez mais bem cuidado, emoldurando o seu lindo rosto delicado de expressão dura. 

—Eu estava esperando por você. Sabia que viria. —Minhas costas encostam em uma parede, enquanto Michael está todo cheio de chamego para cima de mim. Não posso dizer que isso não me agrada, eu estaria mentindo miseravelmente. Posso até sentir entre as minhas pernas clamar por ele. Acho que estou ficando bem pervertida. 
—E eu perderia a oportunidade de espinhar o que o meu namorado anda fazendo por aí? Eu não seria uma namorada normal se não viesse apenas para vigiá-lo. —A ruga que forma em sua testa, mostra o quanto ele ficou surpreso por causa da minha resposta.
—Sente ciúmes de mim? 
—E quem não sentiria? Um homem todo bonitão, cheio de mulheres caindo aos seus pés. —Lembro brevemente do que Julia cuspiu na minha cara. 
—Elas não me interessam. Você sim. —Fico séria, sinto uma pontada chata no peito. Só agora percebo o quão sou insegura ao relação a ele, a nós. 
—Minha mãe vai preparar um jantar pra você lá em casa. —Decido mudar de assunto. Não quero me entregar. —Ela quer conhecer você, saber quais são suas intenções. —brinco.
—Na casa do Graham, você quer dizer. —Ele solta a minha cintura, e se afasta de mim. —Acho que não seria uma boa ideia. 
—Na minha casa, Michael. Agora estamos lá. Vá por mim, pela minha mãe, esquece o Graham e essa briga, seja lá qual for a bronca que vocês dois têm. —Ele faz aquela cara que tanto me deixa louca da vida para saber o que está pensando. Michael é cruel na forma em que olha quando algo não lhe agrada. Machuca e causa agonia. —Michael pelo amor de Deus, me fala o que está pensando? —Ele bufa, irritado, eu estou tão irritada quanto. 
—Está bem. Eu vou na "super e acolhedora casa do Graham, onde as donzelas em perigo buscam abrigo" Ah, ele é o merda do xerife da cidade, não é mesmo? Será que tem algum segredo? Sim, ele tem. Um monte de fotografias na porra do porão de pessoas mortas e mutiladas. Mas a casa dele é um ótimo lugar, porque ele come a mãe da minha namorada. —Desfiro um tapa na cara dele, tão rápido que nem vejo a hora que faço. Michael fica pasmo, eu por outro lado estou com vontade de chorar. 
—Você é mesmo um filho da mãe babaca, Michael Jackson . —Quero sair correndo, mas tudo que faço é caminhar para saída. 
—Claire, espera aí! —Sou pega pela cintura, e erguida no colo, ele só me solta quando estou diante dele.
—Me desculpa, tá bom? Eu falei sem pensar, não queria ofendê-la. Na verdade eu nem queria falar assim. Eu estou irritado, droga! Era para você estar comigo, no entanto está com aquele idiota. Eu fico louco da vida. 
—Não fala assim da minha mãe, nunca mais! —Coloco o dedo na cara dele. —Você pode tratar essas vadias que estão loucas para abrir as pernas pra você, mas com a minha mãe não. —Ele cola a testa na minha.
—Desculpa, desculpa, desculpa. —Nunca imaginei ver Michael implorar desta forma, choramingando no processo. —Não era pra ofendê-la. Por favor, acredite em mim. Eu quero ficar numa boa, Claire. A nossa noite foi maravilhosa, e eu não paro de pensar sobre a nossa viagem. Só quero poder me mandar daqui ao seu lado, nem que seja por alguns dias. —Umedece os lábios com a língua e depois salpica beijinhos no meu rosto. Michael é um cara difícil de lidar, nem sei por onde começo, mas eu sei o quanto Graham o irrita. Ele irrita até mesmo a mim. 
—E vamos, Michael. Mas, por favor, tome cuidado com as suas palavras, porque elas magoam profundamente. Se sente algo por mim, entenda isso. 
—Eu sei, eu sei. Me desculpa. Vamos almoçar juntos? Preciso ficar um tempo com você. Quero que aconteça agora mesmo. —As mãos que ele segura o meu rosto para me manter perto dele, estão trêmulas. Michael está tão nervoso por ter me magoado que o afeta fisicamente. Não sei o que pensar. Não consigo entendê-lo por mais que eu tente. 

Às vezes, eu sinto que o entendo mais do que qualquer um, e que o conheço há anos. Há momentos que acho que me acostumei com suas atitudes explosivas, mas aí no outro tudo que julguei ter certeza, se torna uma absurda batalha confusa e estressante. 

—Michael, eu nem avisei a minha mãe que não almoçaria em casa. —Acontece que estava chateada demais para sair com ele agora. Talvez mais tarde as coisas entre nós pudessem se resolver. 
—Você não precisa avisá-la. Pelo amor de Deus, Claire, você é maior de idade! —Fecho os olhos com força contando mais um vacilo seu. 
—Eu devo satisfação. Pode parecer careta e bem inapropriado, mas ainda gosto de manter o respeito com os pais. 

Quando Michael se mexe sem parar eu sei o quanto está farto de tudo aquilo. Ele estressa rápido, mas eu também estou bem no meu limite. 

—Tá, tudo bem. Liga pra ela e vamos dar uma volta. Por favor, Claire, faça isso? —Ele me pede direito, com doçura. Percebo o quanto quer ficar numa boa. Eu também quero ficar numa boa, não havia motivos para brigas desnecessárias. 

Olho para a minha direita com os olhos perdidos, só era uma forma de pensar com cuidado sobre o seu convite. 

—Ok, vamos. Eu vou almoçar com você. —Ele faz uma linha larga nos lábios ao sorrir, suspira fundo, como se estivesse aliviado. Recebo um beijo na minha boca, bem rápido. 

Saímos da faculdade de mãos dadas, depois de avisar mamãe. Ela disse que estava me esperando, mas ficou feliz por eu estar com o Michael, e principalmente por ter avisado. Fui criada dando satisfações aos meus pais. Eu nunca iria na esquina sem avisá-los, não por pressão, ou por ser obediente demais, era uma questão de não deixar ninguém preocupado comigo. Depois de toda essa confusão sobre o assassino, deixá-la preocupada era o que eu menos queria, já bastava no dia que dormi na casa de Michael sem dizer nada. 

Ele escolheu um restaurante simples no povoado. As mesas estavam dispostas nas calçadas, ao ar livre. Adorei aquela sensação de liberdade para uma simples refeição. Lembro que em Phoenix papai nos obrigava a almoçar todos os domingos no quintal de casa. Nossas conversas, a suas piadas sem graças. Sinto tanta falta dele.

—Você está linda. —Michael repara em mim, me analisa e eu tenho certeza que notou a minha maquiagem e roupas que não estou acostumada a usar. 
—Obrigada. —Dou uma colherada no meu risoto de camarão. 
—Vi você mais cedo conversando com a Julia e com o Patrick. Não sei como anda com aqueles dois malucos. Eles não são uma boa companhia pra você. 
—Eles são os meus amigos, eu gosto deles. Em falar nisso, eu estava pensando. Já que o feriado é na quinta e teremos quatro dias livres, porque não dividimos? Vamos às montanhas no sábado e voltamos no domingo. Preciso estudar com eles e pensei em ficar com a Sexta e Quinta.
—Nem pensar! —Protestou furioso. —Eu preciso dos quatro dias. Precisamos viajar até Florence, e aproveitar o máximo que pudermos. Eu não vou dividir isso com aquela dupla de maconheiros. —Bufo impaciente. 
—Você é mesmo egoísta, não é? A nossa relação vai ser assim agora? Você ditando o que devo fazer, ou que não devo? Com quem conversar e quem não conversar? Vai ser um saco, fica sabendo disso. —Aponto a colher para ele. Michael é tão cínico que sorrir com tranquilidade. 
—Talvez eu mande no que deva comer também. —Olha para o meu prato com desdém. —Risoto de camarão, sério isso? —Eu tento segurar o riso, mas é impossível. Ele não dá nenhuma trégua. —Mas é sério, Claire. —Ele encosta a sua cadeira perto da minha, me abraça pela cintura ficando bem juntinho a mim. —Vai ser divertido. Quero ficar a sós com você, aproveitar o tempo que for. Amar você, fazê-la saber que não sou totalmente um babaca. —Seguro o seu rosto com a mão que estava segurando a colher. 
—Eu sei que você não é totalmente babaca. Quando dorme até parece um anjinho. Acho que o problema é quando acorda, fica um pé no saco, vira um demônio enjoado. —Faço careta enojada e ele começa a rir. 

O analiso por um instante, Michael é difícil eu sei, mas eu o amo, e quero estar com ele apesar de tudo. Não sei, é algo que há nele que me puxa, e eu simplesmente não consigo me afastar. 

—Está bem, Michael. Ficaremos os quatros dias nesta tal montanha. Mas porque faz tenta questão assim? —Levanto as vistas, o encarando com desconfiança. —Por um acaso vai me sequestrar? —Precisa jogar a cabeça para trás para gargalhar. Eu adoro fazê-lo sorrir desta forma, parece que estou libertando dele mesmo, é bem surreal. 
—Não sei, quem sabe? Pode ser que te levo para outra cidade e nunca mais a trago de volta. Estou morrendo de vontade de fazer isso mesmo. —Ele fala tão sério que acabo acreditando. Quando Michael decide enrugar aquela testa e não esboçar nenhuma reação se quer, me deixa louca, eu não sei direito o que está sentindo, mas quando ele começa a rir do nada, fico aliviada. —Você precisava ver a sua cara. 
—Para com isso! —Dou tapas no peito dele. —Não fica sério desse jeito, me assusta, sabia? 
—A última coisa que quero fazer é assustar você. Eu gosto de você, Claire e é bem verdade. 
—Então prova. Eu quero que prove. —Ajeito uma mexa do seu cabelo que cai no rosto. O vento desmancha o seu penteado levemente. 
—Quando eu provar será bem impactante, você não terá mais a mínima dúvida do que sinto. E vai me amar desesperadamente. —Como se fosse possível amá-lo mais. 

Suas mãos acarinham o meu rosto com delicadeza, fecho os olhos para sentir aquela sensação única de prazer. Michael também tem este poder sobre mim, me deixa completamente rendida quando tudo que quero é socá-lo. Me deixa fora de mim em apenas um toque. Acho que suas mãos, seus lábios e seu corpo foram feitos especialmente para me seduzir. É um tormento, mas um tormento perigosamente bom. Sua boca encosta na minha com suavidade, a agarro com a minha, aprofundando o beijo urgente que necessitamos. Sua língua é gostosa e macia, ele adora envolve-la na minha em um ritmo indiscutivelmente gostoso. Fico entorpecida, totalmente viciada em seu sabor, no desejo que ele me transmite. Não posso ficar longe de Michael nem se eu quisesse. Na verdade, eu não quero. 










Capítulo 12 
Um passo à frente, mais de dez para trás



Acho que minha mãe estava mais animada do que eu para aquele jantar. Ela preparou um banquete que acho que duraria por semanas, alegando que não sabia do que Michael gosta. Nem eu, que sou namorada dele, não tive tempo de saber qual é o seu gosto. Isso me faz lembrar que quando estivermos nas montanhas iremos nos conhecer melhor. Como meu namorado é todo exigente, preparar algo como uma ceia de natal, estava valendo e muito.

O melhor de tudo é olhar aquela mesa toda linda e arrumada, o sorriso de mamãe também é o meu favorito. É tudo a minha primeira vez, então ela queria dar uma de mãe super empolgada por ver algo importante acontecendo na vida de um filho. Acho que nem as minhas notas altas não a deixou tão entusiasmada.

O bom de tudo é que Graham não estava em casa. Ele estava em plantão e provavelmente chegaria quando o jantar já estivesse acabado. Não queria ter de enfrentar aquele incômodo desagradável entre os dois. Ainda mais quando ele me disse pra não trazer o Michael. Teria que ser tudo escondido e eu detesto isso.

Já estou pronta! Visto um vestido azul em tecido de seda. Ele é todo fechado na frente, mas fazia um decote bonito atrás. A saia rodada era bem delicada, nada de alto padrão, algo simples que me deixou bem bonita. Solto os meus cabelos castanhos e volto a usar maquiagem. Mamãe também está de vestido preto, todo elegante e saltos alto. A maquiagem que ela usou deixou seu rosto jovial ainda mais belo, e seus olhos bem azuis vibrantes.

—Oh minha, filhinha! É tão bom vê-la feliz desse jeito!

—Eu estou, mamãe. Muito mesmo. O Michael vai parecer frio no início, um pouco deslocado e cara fechada. Mas acredite, conhecendo-o melhor... —Dou uma pausa, ao lembrar que mesmo conhecendo melhor é aí que você fica ainda mais perturbada com a mudança de humor repentina dele, mas não menciono. —Vai... gostando, vai ver.

—Eu já gosto muito dele. Confio muito no seu julgamento das pessoas, você sempre foi assim. Sempre soube distinguir o lado bom e ruim de cada um. Não tenho que me preocupar.

Olho pela janela e percebo que o carro de Michael acabou de chegar.

—Chegou! Vou lá recepcioná-lo.

—Tudo bem, já está tudo pronto. —Olho para a mesa toda bonita, e decorada. Certo que a sala de jantar de Graham é bem pequena quase apertada, mas mamãe tem um dom de transformar algo simples em grande coisa.

—Obrigada, mamãe. —Meu agradecimento inclui tudo. Agradeço por ser minha mãe, por me amar tanto. Agradeço por fazer aquela coisa maravilhosa e me apoiar muito.

Ela sorri para mim.

Vou toda sorridente recepcionar o cara que estou completamente apaixonada, todo bonitão na minha frente. Michael está ainda mais elegante do que mais cedo. A camisa e a calça que está vestido é preta, o colete também é, mas a gravata é um verde água muito bonito que verbaliza sua sofisticação natural. Eu nunca vi um homem tão bem apessoado quanto Michael. Ele me causa arrepios.

Á noite está menos fria do que as anteriores. O céu está repleto de estrelas brilhantes e o vento que bate no rosto é fresco e agradável. Arrepio de vez enquanto a pele, mas não o suficiente para me obrigar a colocar um casaco e estragar a minha produção.

—Pensei que não vinha. —Falo só para brincar com a cara dele. Michael me abraça pela cintura. Minha nossa!! Aquele perfume masculino que usa, causa-me uma agitação deliciosa no meu ventre.

—Cogitei a possibilidade, não vou negar. Mas vim, não podia perder a oportunidade de levá-la às montanhas. —Fecho a cara para ele, quando começa a rir da minha cara. Dou um tapa no seu peito pela bricandeira.

—Não faz isso. Você não é tão desinteressado assim. —Ele olha para casa com desanimo.

—Levando em conta que seja a toca do xerife bunda mole, pode ser que há um pouco de desinteresse sim.

—Só que minha mãe está aí, e eu, claro. Além do mais Graham nem está. —O desanimado anterior torna mais maleável. E ele beija a minha boca, uma, duas vezes. Meu corpo todo fica impregnado com o seu perfume, com sua áurea e com o seu carinho.

—Tem toda razão. —Ele segura nas minhas mãos e entramos em casa.

Quando abro a porta, sinto a mão de Michael apertar a minha com força. Sinais de desconforto. Entro primeiro que ele, mamãe já está com um sorriso amplo no rosto.

—Minha nossa! Você que é o famoso, Michael? —Ela está encantada provavelmente o acha um gato assim como eu.

—Bom. —Ele dá uma risadinha. —Acho que sim.

—Essa é Monica Connon, minha mãe. —Os apresento cordialmente, que apertam as mãos.

—Muito prazer. Claire me falou sobre você. Anda entre, e sente-se.

Primeiramente caminhamos até a sala de estar, sei que seria uma conversa longa onde minha mãe perguntaria tudo a ele. Eu sei como ela é, fazia isso até com os possíveis namorados que arranjava para mim em Phoenix, claro, nenhum que tivesse gostado.

Michael e eu sentamos juntos no sofá enquanto ela em uma poltrona. Se estivéssemos na Fazenda Wood, teríamos mais espaço em um único sofá.

Sabe aquelas expressão de quando você não conhece a pessoa, mas mesmo assim é obrigado a conversar com ela e se socializar? Eu não sabia por onde começar a conversa, Michael estava na dele, nem fazia questão em abrir a boca, e mamãe toda constrangida, provavelmente pensando em um assunto para começar a conversa.

Olho para ele algumas vezes, está sério, olhando ao nada, parece que nem está lá. Tento cutucá-lo, já que enlaço o meu braço dentro do seu, mas não funciona. Sua perna direita batuca no assoalho, e suas mãos juntas bate uma na outra sem emitir som algum.

—Então, Michael... —Ela eleva a voz com um sorriso todo sem graça no rosto. Tenho certeza o quanto fora difícil para ela. —É professor, não é? —Ele responde somente com um aceno de cabeça, e um sorriso forçado.

Minha mãe desfaz o sorriso. Ela está em uma posição ruim, e me compadeço dela. Mas logo dou um jeito de salvá-la.

—Ah, mamãe! Michael nasceu aqui em Forest Grove, estudou Relações Internacionais na Inglaterra. —Cutuco ele com mais força. —Conte a ela. —Ele meio que desperta do transe, e começa a falar.

—É verdade, mas não deu muito certo.

—Quis voltar as raízes, não é? Eu sei como é isso. Quando deixei a minha cidade no Oeste do Arizona, também fiquei louca para voltar. Mas sabe como é? A gente casa, tem filhos, e precisamos ficar onde nossos maridos estão.

Meus olhos sobem para cima e para baixo em um desconforto nítido. Não é aquele tipo de conversa que era para termos, mas Michael também não ajuda. Está em uma evidente expressão de tédio, encarando a minha mãe com intimidação. Dou um beliscão no braço dele, que o faz dar um pequeno pulo, mas fora o suficiente para fazer a ficha dele cair.

—Bem, eu quando me casar também quero que minha mulher venha comigo, para onde eu vá, então acho que é bem normal. —Arregalo os olhos diante da sua insinuação evidente. Aquele jeito de falar doce que assumiu de uma hora para outra e o olhar carinhoso que lançou para mim, é um convite mais que expresso.

—Oh! Então pretende se casar? Com quem, com a Claire?

—Mamãe! —A repreendo no ato. Michael desce a minha mão, que estava segura em seu antebraço e entrelaça nossos dedos um no outro.

—Se este for o desejo dela, não vejo o porque do "não". —Sorrio toda sem graça, não me agradando em nada daquele assunto.

—Acho que está cedo demais para começarmos este papo, não acham? É melhor irmos jantar, senão vai esfriar. —Me levanto do sofá mais rápido possível. Estou sem fôlego. Nunca imaginei que uma conversa entre minha mãe e meu namorado pudesse ser tão estranha e desconfortável. No entanto julgando por Michael é bem normal.

Sentamos na pequena mesa da sala de jantar. Michael senta-se ao meu lado e mamãe em nossa frente. Nos servimos de um cordeiro ao molho de cereja que por sinal estava deliciosíssimo. A comida estava ótima, não tem que reclamar, mamãe cozinha bem, mas aquele clima, de três estranhos fazendo uma refeição na mesma mesa, era um pesadelo sem fim. Por que será que Michael não consegue ser agradável com as pessoas? Acho que é um bloqueio patológico, ou um distúrbio de personalidade, não sei bem o que é.

—Então, Michael. Acho que farei aquela velha pergunta clichê. Me responda, quais são suas intenções com a minha filha? —Michael pigarreia, depois de beber um gole do seu vinho branco que estava guardado na estante de bebidas de Graham.

—As melhores possíveis. Inclusive, pretendo levá-la comigo daqui. Sei que Claire ficará segura na minha casa do que na casa de um porco sem escrúpulos, como o Graham. —Sinto meu coração trincar, como um osso sofrendo um trauma. A expressão que vejo na face de mamãe é pasma, e eu lhe dou razão. Michael não tem papas na língua, estou muito furiosa com ele.

—Como é? —Mamãe não tenta mais esconder seu desagrado, assume uma voz irritada e a expressão desdenhosa. Minha nossa! Eu queria morrer agora.

—É exatamente o que eu falei, senhora Connon.

Ouço a porta de entrada se abrir, olho a minha esquerda e meu corpo todo gela ao contemplar a figura de Graham adentrando a casa. Tenho vontade de sair correndo e esconder Michael no armário, da mesma forma quando o namorado está no quarto da namorada fazendo besteiras e os pais chegam, mas não posso é tarde demais, Graham está de cara com Michael agora.

—O que esse desgraçado está fazendo aqui? —O semblante de Michael muda, está com um sorriso contido, mas aquele olhar, aquele costumeiro que está pronto para voar no pescoço de alguém tinge seus olhos sombrios. Começo a me tremer toda. —Eu não permiti a sua entrada aqui! —Me levanto da cadeira em um pulo, me colocando em frente de Graham, para impedir que chegasse perto de Michael.

—Só estávamos jantando, ele veio conhecer a minha mãe, Graham, nada demais.

—Esta ainda é a minha casa, e entra somente quem eu quiser. —Aquele tom autoritário de xerife mandão me irrita.

—Pois é, xerife. Estou na sua casa, comendo da sua comida. Quem diria. —mamãe vira-se para Michael rapidamente, está assustada com a atitude dele, enojada eu diria. Tenho vontade de chorar, de que tudo aquilo tenha sido somente um pesadelo, mas não é. A situação toda é bem real.

—Ora seu desgraçado! —Graham avança para cima de Michael, mas eu o seguro no ato.

—Ei, ei, pelo amor de Deus, briga aqui não. Me desculpa Graham, eu pensei que podia trazer o meu namorado aqui, já que moramos sob o mesmo teto. Estava enganada.

—Sim, Claire estava enganada. Este marginalzinho aí, não vale nem o chão que está pisando. É um miserável!

—O que houve, Graham! —Mamãe grita toda apavorada. —O que você tem contra ele?

—É Graham! O que você tem contra mim? Fala ? —Michael o desafia. Eu estou tremendo, não sei direito o que fazer.

—Você é doente. Sempre aqui ou ali. Na espreita parecendo um predador. Acha mesmo que não andei observando você? Suas escapadas, suas aparições sempre em um momento crucial. —Estou com falta de ar diante de todas estas acusações. Meu estômago embrulha, tenho vontade de vomitar.

—Até onde eu saiba, Oregon é um estado livre. Posso caminhar por onde eu quiser pelas redondezas. Mas o xerife, a grande excelência por aqui, me proíbe de alguma forma. O que falar do que esconde no seu porão, xerife. Hein? —Meus pulmões fecham de uma vez só, estou em um estado de emergência. Busco a face de mamãe e ela está em pedaços, tão horrorizada quanto eu. Não acredito que Michael fez isso! —Aquelas fotos das pessoas mortas da fazenda Wood? Acho que existe alguém mais doente do que eu, por colecionar fotos como aquelas.

—Do que ele está falando, Jack! Que fotos são essas?

—Ah é... ele não contou. São fotos de pessoas mutiladas, senhora Connon. As vítimas do assassino de galochas. O xerife coleciona essas fotos, não sei direito para que fim, mas há os motivos das mortes e uma foice, é só procurar. —As lágrimas escorrem do meu rosto, estou com raiva de Michael. Tenho vontade de socá-lo por fazer isso.

—Você sabia disso, Claire? —A decepção no olhar de minha mãe fora a pior sensação que senti em toda a minha vida. —responda! —Não tenho mais forças para lutar, ou responder nada. Saio correndo da casa buscando um pouco de ar lá fora. Meu choro sai com tudo, de um modo que não consigo aguentar.

Coloco as minhas mãos no joelho meio agachada, na tentativa de fazer o ar circular pelos meus pulmões.

—Claire, Claire, me escuta. —Michael vem atrás de mim. Ele toca no meu braço, mas eu o repilo o mais grossa que pude ser.

—Não toca em mim! —Berro, me afastando dele. —Como você pôde fazer isso? Você não tinha o direito de estragar tudo!

—Eu estragar tudo? Tem certeza? Aquele filho da puta começa a falar um bando de asneiras, o que você queria que eu fizesse? —está com raiva sem razão alguma, estou tão chateada que pretendo não vê-lo por um bom tempo.

—Ela não poderia saber desta forma, não era assim. Minha mãe gosta dele, Michael. Será que os sentimentos das pessoas vão continuar sendo nada pra você? Vai continuar se importando consigo mesmo? Você foi um babaca a noite toda, e continua sendo.

—Eu não quero você com esse cara! —determina tão furioso que começa a cuspir.

—Eu também não me agrado em estar aqui, estou por causa dela. Mamãe não deveria saber que provavelmente Graham é o homem de galochas desta forma. —Michael dá uma risada nervosa.

—Ele não é. —Franzo o cenho, noto uma certeza em seu tom de voz.

—Eu vi as coisas dele, você mesmo acabou de dizer. Os sinais indicam que Graham é o suspeito. É por isso que eu precisava conversar com a minha mãe com calma, prepará-la e não daquela forma, na frente dele. Você acabou de nos colocar em risco.

—Ele não é o assassino, porra! —Ele gritou. Mas do que notar, tenho certeza de que Michael sabe alguma coisa. Semicerro os olhos ao encará-lo, o analisando, prescrutando a sua resposta.

—Você sabe quem é, não sabe? —Ele fica todo inquieto, morde dos cantos na boca, em sinal de desconforto. —Como pode ter tanta certeza?

—Eu sei! —É preciso ao proferir estas palavras, nem precisa gritar para que eu tenha certeza.

—Me fala quem é.

—Não importa. —Michael vai saindo no rumo do seu carro, eu vou atrás.

—Michael! —Seu nome sai abafado da minha boca. —Esse cara matou várias pessoas. Me atacou, atacou a minha mãe. Matou a minha amiga! E você diz que não importa?

—É por isso que quero levá-la daqui. Você ficaria segura comigo, nós seríamos felizes. —Outra lágrima escorre dos meus olhos, se me contassem eu não acreditava.

—Como eu ficaria segura com um homem cheio de segredos e um passado atormentado como seu? Michael, eu não sei nada sobre você. Eu nem ao menos sei o que você quer de mim. Todas as pessoas que te conhecem dizem o quanto você é estranho e que eu deveria ficar longe.

Meu choro já estava audível. Meu coração retumba no peito, a sensação era de parada cardíaca. Só Deus sabe o quanto machucava dizer aquelas coisas.

Ele me abraça, esconde o meu rosto no seu peito, tudo que quero é ficar longe, mas as minhas pernas não obedecem.

—Você precisa confiar em mim. —berro em seu peito, molhando a sua camisa, eu estava de saco cheio, apavorada. Porém por mais louca que possa ser, o jeito que ele me abraça e me acalenta, começa a me acalmar. Eu sentia lá no fundo que poderia confiar sim nele.

Mas um hora a ficha sempre cai, a realidade desaba sobre você e tudo que quer é não conviver mais com aquilo. Por mais que eu goste de Michael eu não sei se posso mesmo confiar nele.

—Eu preciso de um tempo. —me afasto do corpo dele, mas Michael me segura.

—Claire. —O empurro com mais força e ele não tenta me pegar de novo.

—Eu preciso ficar sozinha, Michael. Por favor, se você gosta de mim, me respeita. Já foi demais por hoje. —Seu maxilar trava, sei que está lutando com força bruta para não obedecer aos meus pedidos. Sei que tudo que Michael quer é impor ordens como sempre faz, mas ele sabe que se fizer me perderá de vez, ainda mais naquela situação toda.

—Muito bem. Irei pra casa, te deixarei sozinha nesta noite, mas amanhã eu vou ligar e a gente vai conversar.

—Não sei se vai ser bem assim, Michael. Com licença. —Dou dois passos passando por ele para ir pra casa quando ele segura a minha mão tão suave que é como acalmar toda a nebulosidade interior.

—Promete que iremos conversar amanhã? —Olho nos seus olhos. É incrível como Michael tem várias caras ao mesmo tempo. Comigo sempre é esta, de cão sem dono, louco para encontrar um lar. Balanço a cabeça algumas vezes.

—Está bem, eu prometo. —Ele solta a minha mão que despenca suavemente, me deixando partir.

Caminho para dentro de casa com uma vontade imensa de chorar até doer a cabeça. Fico me questionando o tempo todo sobre a felicidade. Pelo jeito ela nunca chegará até mim, se viria momentos de tensão como estas, ou só pioraria. Aquele noite fora um desastre cruel.










Capítulo 13 
Desculpas não consertam mágoas.


Entro em casa feito um furacão, nem os protestos de minha mãe, para que eu explicasse pelo o por que de Michael ter dito aquilo, não foram capazes de me parar. Muito pelo contrário, eles que incitaram a minha entrada para o quarto mais depressa, e o meu choro vir com força bruta. Me joguei na cama, em posição fetal. Nada seria capaz de aplacar o que estava sentindo por dentro.

Eu estava completamente perdida, não sabia o que fazer. Porém eu tinha a certeza absoluta de que Michael e eu não daríamos mais certo. Não podia continuar com uma pessoa que esconde segredos de mim, que brinca com os meus sentimentos e que não se importa com nada.

Quando mamãe entra no quarto, finjo que estou dormindo. O choro fez a minha cabeça explodir de dor, tenho certeza que quando acordar no dia seguinte, meus olhos estariam inchados, isso se não já estiverem. Posso senti-los doloridos.

—Claire, amanhã voltaremos à Fazenda Wood. —É tudo que escuto antes de pegar no sono profundo.





Acordo mais cedo do que o normal. Mas ainda assim já ouço mamãe mexendo em coisas na sala. Se o que escutei fora mesmo real, eu estou muito feliz em voltar para casa. Wood pode ser o pior de nossos pesadelos, mas falando sério, estava melhor do que ficar ali.

Me olho no espelho, meus olhos, como previ estão vermelhos, e ainda dolorosos. Não tenho expressão alguma na face, ela está tão nula quanto o sol no clima que fez lá fora. Não posso ficar o dia todo trancada no quarto, porém depois da minha higiene matinal e de dar um jeito nas minhas olheiras com maquiagem, encaro a vida.

—Que bom que acordou. —Mamãe está preparando algo na cozinha, talvez seja o café da manhã. —Pensei que ficaria o dia todo lá. —Me sento na mesa, e dou de ombros pelo o que fala. —Claire, não precisa ficar com raiva de mim. Eu não tenho culpa se seu namorado é um mal educado arrogante.

Sinto vontade de chorar de novo, mas engulo o choro. Ninguém precisa ficar me dizendo o que Michael é, ou deixa de ser, eu sei bem como é o gênio dele e isso me magoa.

—Jack me explicou o que há no porão, me disse o proposito daquelas coisas, e sinceramente, eu acredito nele. —Depois da afirmação de Michael dizendo que tem certeza que Graham não é o assassino, até eu começo a acreditar. Ser taxada como idiota é o que me incomoda. E eu nunca vou perdoar Michael por isso.

—Então porque estamos voltando pra fazenda? Se está tudo bem entre vocês, não consigo entender o motivo. —Ela coloca em cima da mesa uma xícara de café fumegante para que eu beba. Agradeço bem baixo.

—Eu sei o quanto está desconfortável aqui, eu entendo, Claire. Não é a sua casa. Sei que o clima entre você e o Jack não está sendo dos melhores ultimamente, eu não quero ficar em uma briga constante. —Bebo um gole do café, maneando a cabeça.

—Eu pensei que ele fosse o assassino, mamãe. —Minha voz é branda, bastante constrangida. —Eu queria muito que você soubesse, mas não da forma que foi. —Ela senta-se ao meu lado, seus olhos verdes estão bem mais claros, e sua pele tem um bronze bonito, apesar da sua cor bem branca.

—Ele não é o assassino, Claire. Jack não poderia ser, ele é bom demais pra isso. —Levanto as minhas vistas para cima, na tentativa de não olhá-la nos olhos. —Ele suspeita do Michael, sabia disso? —Mostro que estou ciente com um aceno de cabeça.

—Não é ele. —Afirmo cegamente. —Michael pode ser o cara mais idiota e babaca que alguém poderia conhecer, mas ele não é assassino. —Minha voz embarga, eu não quero acreditar nisso, não dá para acreditar.

—Até termos certeza não quero vê-la com ele. Esse cara é desagradável, aquele olhar... Minha nossa! Só de lembrar me arrepio. —Fecho os olhos com força, sinto vontade de chorar de novo. Não é possível que somente eu sinta carinho por Michael e o aceite do jeito que é.

Às vezes não queremos enxergar o que está diante de nós, porque nos afeta. O que sinto por Michael, me faz entender suas reações em relação às pessoas. O que sinto por ele, é capaz de fechar os olhos e tentar justificar tudo que ele faça. Porém não mais, ele pisou na bola e muito feio. Se esconde de mim quem é o assassino, imagina o que não poderia esconder mais? Não sei se realmente posso confiar.

—Não se preocupe, mamãe. Não voltarei a vê-lo.

—Que bom, minha filha. É a melhor coisa que você faz. —Suspiro fundo. Não sei se é a melhor coisa, porém a que preciso nesse momento.

Arrumei minhas coisas para volta à fazenda bem mais rápido do que quando sai de Phoenix. E olha que hoje tenho conhecimento do psicopata de galochas. Minha vida está tão confusa que nem sei mais qual é o meu melhor lugar, estou perdida como uma criança no supermercado, depois que seus pais se distraíram por um momento.

Lar doce lar! 

Será que realmente é doce? Contudo àquela casa enorme ao qual me deparo agora, ainda é o meu favorito. Não sei como seria os dias que seguiriam, mas pela primeira vez na vida não tenho medo. Não sei, é um sensação que tudo daria certo, uma confiança plena de que o homem de galochas não nos atacaria, e nem é por causa da segurança que Graham disponibilizou novamente para nós. Ele já fez, e mesmo assim mamãe fora ataca, portanto nenhuma de nós fomos mortas no ataque. Me baseio nisso para que meu interesse de descobrir o mistério daquele caso o mais rápido possível.

—Posso falar com você um minuto, Claire? —Ouço a voz de Graham, quando estava saindo de casa para ir à faculdade.

Sinceramente, não estava muito afim de tocar no assunto que sei que ele tocaria, mas eu sou assim. Não gosto de dar fora nas pessoas, por mais que elas mereçam, ou não. Ainda não sei bem onde Graham se encaixa na pirâmide de pessoas que eu devo ignorar.

—Claro, vamos caminhando pela rodovia, preciso caminhar um pouco.

—Caminhar? —Bufa uma risada. —Tudo bem, vamos caminhar.

Eu queria sentir o ar fresco da estrada, aquele cheiro arborizado e folhas recém arrancadas dos galhos das árvores. Às vezes caminhar um pouco é bom para a mente. É uma ótima maneira de você pensar sobre suas decisões, mas também para martirizar o que estamos passando de desagradável no momento, e pode ter certeza que estou neste momento.

A estrada estava um pouco molhada, pela chuva fina que acabara de cair. Os bosques ao fundo, me inspiravam, se ficasse contemplando-o tempo suficiente.

—Eu quero me desculpar pela forma que tratei o seu namorado ontem à noite. Me desculpa, eu não deveria ter falado daquela forma. Vocês estavam na minha casa, e eu fiz com que se sentisse uma intrusas. —Viro a minha cabeça para o meu lado, encarando os olhos azuis do xerife.

Eu queria saber quando ele usaria uma roupa normal que não fosse só as fardas de trabalho, mas lembro que Graham está em serviço quase vinte e quatro horas por dia.

—Foi por isso que mamãe decidiu voltar à fazenda? Por que ela se sentiu como uma intrusa? —Ele ergueu os dois ombros. Sua expressão pesarosa me indica o quanto ele sabe que pisou na bola.

—Não por ele, Monica não foi com a cara de Michael e isso não tem nada a ver comigo. Ele se encarregou de estragar tudo sozinho, sem precisar de ajuda. É um dom. —Solta uma riso sem humor. —Mas ela se preocupa com você, sabe que não esteve à vontade lá, e ainda tem o porão, com aquelas coisas. Você sabe?

Volto a olhar a estrada e o caminho que iríamos prosseguir à pé. Graham é uma boa pessoa, lá no fundo eu reconheço isso.

—Cheguei a pensar que você fosse o assassino, xerife. Tem noção disso? Eu não sei pra que manter um espaço só daquelas coisas horríveis. Pessoas normais colecionam camisetas de banda, itens de seus ídolos. Até molho de chaves algumas pessoas colecionam, mas figuras de pessoas mortas e artefatos usados no crime? Não era exatamente o que eu gostaria de ter encontrado.

—Olha eu entendo o que parece ser, mas confia em mim. É somente uma investigação. —Até quando as pessoas vão continuar me pedindo confiança, se em coisa tão simples não conseguem ser honestas. Xerife Graham começa a sussurrar como se não quisesse que ninguém ouvisse, mesmo estando somente nós dois caminhando pela estrada: —Eu descobri tanta coisa, Claire. O assassino morou na Fazenda Wood, é por isso essa obsessão do lugar. Pelo que tudo indica é que o assassino "preserva" suas lembranças infantis. A psicopatia dele é tamanha, que se alguém ao menos rondar a área estariam "manchando" a memórias de seus pais mortos.

—Minha nossa! —A coisa ainda era pior do que eu pensava. —Minha mãe sabe disso? Você disse a ela? —Ele balançou a cabeça em negativo.

—Eu não tive coragem.

—Graham! —Sibilo repreensiva. 

—Eu não tenho certeza de nada, são apenas suposições por conta dos bilhetes deixados nos corpos. Além daquele escrito "Se meteu no que não devia" há um bem raro, que em apenas um dos assassinatos que encontrei dizia: " deixe a minha família em paz" Eu já tentei de tudo, Claire. Investiguei o passado de meia duzia de moradores de Forest Grove, ninguém nessas redondezas já morou na fazenda.

—E você acha que Michael é o assassino baseado em quais suposições? Pelo que eu saiba o sobrenome dele é Jackson e não Wood. —Xerife me parece mais perdido do que todos ali, e olha que ele é o responsável pela ordem e a lei da cidade, no entanto não sabe direito nem o que está fazendo.

—Eu não consegui encontrar nenhum registro dele nos últimos vinte anos, quando ele alega ser natural da cidade. Michael Jackson não passa em nenhuma pesquisa. Nem os orfanatos que ele havia passado, não há nenhum Michael Jackson internado em nenhuma delas. —Preciso controla o meu corpo por conta da chacoalhada tremenda que sofreu no momento daquela notícia. Fora tão forte que precisei respirar fundo para conter o impacto.

—Não pode ser! Talvez não procurou direito. Não é incomum alguém errar nas pesquisas. Talvez os orfanatos tenha limpado o registro dele já que o expulsou de lá. Alguém não queria ser responsável por uma criança sem os pais. Não sei, há várias maneiras, não há?

Tivemos que parar de caminhar depois de tudo que ouvi. Eu não conseguia nem dar mais nenhum passo. O olhar que Graham me lança de pena, acaba de estragar o meu dia. É como se todos visse algo que eu ainda não sou capaz de enxergar, e odiei ter que enfrentar tal coisa.

—Há sim, Claire. Não há certeza. Não encontramos nada que aponde Mathew como criminoso. A polícia trabalha com fatos, amostras de DNA, pistas e vestígios. Algo concreto que prove a ligação direta com os assassinatos, mas não há. Tudo que existe, são pessoas mutiladas jogadas por aí como se não fossem nada. —Abaixo as minhas vistas, tenho vontade de chorar, mas seguro ao máximo.

Apontar Michael como o assassino seria precipitado demais. Tudo bem que a personalidade dele não o favorece, mas não significa que justifica.

Olho para de trás do xerife, bem ao longe, no tronco e uma árvore. Há algo amarrado, com cordas por toda sua extensão. Olhando bem, era um:

—Xerife Graham, olha! —Aponto em sua direção. Jogo o meu fichário no chão pelo choque. —Um corpo!

—Droga! — Graham coloca a mão na cabeça em sinal de desespero. Caminha devagar para perto do corpo amarrado. Não tenho mais coragem de olhá-lo, não me sinto bem, estou com vontade de vomitar.

—Há um corpo amarrado em uma árvore. Tragam a viatura. —Ele avisa através de um rádio. —Claire, vai pra faculdade, cuidaremos disso aqui. Não precisa ter que ver isso.

E eu não queria mesmo ver, na verdade eu não queria nem que aquilo estivesse acontecendo. Olho para trás, o caminho já percorrido por mim e pelo xerife. Estamos perto da fazenda! Mas que motivos teriam que matá-lo se está do outro lado da rodovia? Não consigo entender, não dá para entender.

Graham está com um bilhete na mão. Corro em sua direção para saber do que se trata.

—É um aviso?

—Sim. —Ele abre o papel ao encostar do meu lado com intuito de mostrá-lo.

—" Você será a última pessoa que eu matarei". —Olho para o xerife com uma pontada de esperança. Não sei se fico triste pelo homem, ou se me alegro por finalmente aquele tormento ter chegado ao fim. —Será que é verdade?

—Não sei, Claire. O que podemos esperar de um assassino? Vai pra faculdade. Resolverei tudo por aqui. —Assinto com cautela.

Olho mais uma vez para o corpo, não sei direito explicar o que sinto, na verdade torço para àquelas palavras no bilhete ser verdadeiras, caso contrário, mamãe e eu seremos os alvos mais uma vez, e não sei se escaparíamos.
***

Acabo chegando atrasada na aula. Michael Está ministrando a aula, quando interrompo tudo com a minha presença. Todos me olham como se eu cometesse um crime. Realmente me sinto uma criminosa. O olhar que Michael me lança é de pesar, mas eu sei que não é por causa do meu atraso. Ele precisa falar alguma coisa comigo. Preciso ignorá-lo.

Me sento no meu costumeiro lugar, já recebo um bilhetinho de Julia, me perguntando o motivo de minha cara parecer que eu vi um fantasma.
É uma longa história, depois eu explico.

Devolvo o papelzinho respondido.

Enquanto ela escreve mais algumas perguntas, abro o meu fichário. O livro, abro na página indicada na lousa.
Michael perguntou por você, para mim. Acredite se quiser, PRA MIM! Ele pareceu todo perturbado. E olha que o já vi mais loucão do que isso. Aconteceu alguma coisa? 

Recebo mais um bilhete com interrogatório.

Mas me alegro muito por saber que Michael quebrou as barreiras da sua própria resistência para perguntar de mim para Julia. Trato de escrever uma resposta.
Nós terminamos. Parece que terá a sua ajuda no feriado, já que não vou às montanhas. =/

Entrego de volta para Julia e espero para ver sua reação. É necessário colocar a mão na boca para reprimi um grito, por conta da notícia, o mais depressa possível. Como um ansiedade incontrolável, ela torna a escrever no papel.
Eu nunca imaginaria! Michael está sofrendo, Claire, eu tenho certeza. Ele esfregou a mão no rosto pelo menos umas quatro vezes, dizendo que precisava falar com você.

Dou uma olhada para ele sentado na mesa. Ele sabe manter o profissionalismo, está tão tranquilo que diria que era exagero de Julia, mas por conhecê-lo e levar em conta tudo que me disse, até que pode ser verdade. Faço uma careta desdenhosa, ao me certificar que ele não estava vendo isso, e escrevo mais uma resposta.
Problema é dele, ninguém manda ser tão idiota. Agora eu preciso estudar, depois conversamos.

Devolvo o bilhete para ela, e assim que ler, dá uma piscadela em confirmando o fim da conversa.

Meu ego está contente por saber que Michael está tão afetado por minha causa. É uma satisfação feminina esplendorosa. Eu fui capaz de fazer Michael Jackson ficar perturbado! Sorrio feito uma boba, apesar de está bastante triste por causa de tudo.

O tempo passa tão rápido que nem vejo a hora que a aula acabou. Queria muito conversar com o xerife Graham e perguntar tudo que sabe até o momento. Porém tudo que consigo é ver Michael indo atrás de mim na saída do campus, implorando que eu falasse com ele.

—Só me dê um minuto! —Ele está ofegante, a camisa está torta, com dois botões abertos. Está suando no meio daquela temperatura baixa. —Você prometeu.

—Tudo bem, Michael, fala. —Ele segura nos meus dois ombros.

Encará-lo depois das coisas que ele disse para mim é como ofender a mim mesma. Sinto meu estômago se agitar, mas não é de raiva, é de mágoa e ressentimento.

—Me desculpa pelo o que eu falei. Me desculpa pelas minhas atitudes, porque eu sei que magoa. Você não é a pessoa que eu queria magoar, Claire, nunca foi. —Seu olhos negros estão dilatados, e lacrimejados. A sensação que dá é que Michael faria de tudo para que eu o desculpasse, até se ajoelhar se fosse necessário.

—Desculpas, desculpas, desculpas! —Repito fadigada daquele assunto. —Desculpas são só mais uma forma de sempre fazermos o que é errado, esperando que a outra pessoa lhe entregue a permissão para magoá-la novamente. Essa palavrinha não muda em nada as coisas que você disse pra mim, Michael. E nem o fato de você estar me escondendo um monte de coisas. —Faço menção de sair, mas ele me interrompe.

—Claire! —Ele esfrega a mão no rosto, assim como Julia disse. Fecha os olhos com força. Um pingo de suor escorrem pela sua testa. —Por favor, por favor, eu sei que posso fazer melhor. Eu posso me controlar, posso... sei lá... eu posso pensar antes de agir, eu prometo. —Já que ele estava aberto a reconsiderações...

—Então me diga quem é o assassino, Michael. Você deixou bem claro que sabia, não foi? Se quer mesmo que eu volte a confiar em você, é melhor ir abrindo a boca. —Juro que vejo a cor de Michael mudar de repente, ele fica mais branco do que a neve no inferno mais rigoroso. Seus olhos dilatados, pulsam com mais força, e posso jurar que seus lábios estão tremendo.

—Eu não posso dizer.

—Por que não?

—Por que eu não posso! —Ele berra de uma forma rude. Ele não tem remédio, e nunca terá.

—É melhor eu ir, estou perdendo o meu tempo. —Faço menção de ir embora novamente, mas de novo me interrompe.

—Escuta. Só não me abandone, por favor. —Foi uma suplica, e meu coração se quebrou em pedacinhos. —Não quero mais ficar sozinho. —Senti uma vontade grande de abraçá-lo, mas isso o incentivaria me magoar de novo em um futuro bem próximo.

—Você fica sozinho porque você quer. É você que afasta as pessoas e não eu. —Percebo uma gota escorrer de seus olhos, mas não é de suor desta vez. É como uma faca cortando o meu coração invés de ser quebrado. É uma dor lenta e cruel.

Vou embora sem olhar para trás, mas desta vez ele não me interrompe. Ele sabe que estou certa, Michael tem consciência plena dos seus atos, ele é inteligente o bastante. Haviam outras questões que eu precisava resolver, e Michael precisa aprender.

Acho que se passaram quase uma semana e meia que eu não vi mais Michael fora da faculdade. Nem assuntos do conteúdo, usando como desculpa para trocarmos alguma palavra não deu certo. Ele não insistiu também, e nem foi atrás de mim. Para falar a verdade eu estava começando sentir falta dele. Do seu beijo, do seu toque, da sua voz grave me dizendo que precisa de mim. Também estava morrendo de saudade do toque da sua pele na minha. Não imaginava o quanto seria difícil ter que abrir mão do único cara que já amei, mas diante de tanto segredo, de tanta grosseria com as pessoas à minha volta. Sem contar que todas elas me aconselharam sobre a personalidade enojada de Michael. Eu estava sozinha em tudo aquilo, só tínhamos apenas nós dois. Eu precisava muito saber qual lado eu ficaria. Se ao lado dele com toda carga que carregava, ou se escolheria o caminho mais fácil e viraria a página. De qualquer forma, os dois caminhos me trariam lágrimas, porém só um dos dois me deixaria com a consciência tranquila.








Capítulo 14 
Natureza exuberante



Uma semana sem conversar com Michael Jackson, estava sendo incrivelmente sem graça para mim. Aquele sentimento que perturba quando você precisa muito falar com a pessoa, mas não pode, porque simplesmente há uma barreira que lhe impede, uma barreira doída e indesejada que chama-se: orgulho. E esse orgulho parece diminuir cada vez mais, diante do tamanho da falta que ele me faz.

O feriado é amanhã, e eu deveria estar arrumando as minhas malas neste momento para ir às montanhas com ele, porém estou estudando no meu solitário celeiro, e provavelmente se seguiria até a próxima segunda-feira. O bom disso tudo é que estarei com Patrick e Julia, para me fazer rir um pouco. Uma distração nessas horas é bem vália. Eles aprenderiam algo e eu me beneficio também.

Em outros tempos, estar sozinha no celeiro, era sinônimo de encrenca na certa. Eu estaria morrendo de medo do assassino de galochas, porém ele soube cumprir bem o prometido. Em uma semana não se ouviu, e nem se viu falar de nenhum assassinato nas redondezas. Mamãe e eu estávamos tão bem quanto um dia ensolarado, que aliás está fazendo lá fora.

Até tarde da noite dávamos ao luxo de ficar fora de casa acendendo uma fogueira, e assando marshmallow. Ouvindo as músicas interioranas bregas de Graham. E sendo obrigadas a ouvi-lo cantar em desafino. Sim, nossa relação melhorou e muito depois de tudo. Soube até que ele havia desfeito tudo que estava dentro do porão. Mamãe estava cada vez mais apaixonada e até pensavam em casamento. Mas eu sabia que era só brincadeiras de gente velha. Não sei se ela teria coragem de se casar de novo, como ela mesma disse: "Namorar é mais delicioso do que ter que ficar olhando para a cara do sujeito todas as manhãs. E o que aconteceria depois de alguns anos? Você não suportaria ter que ficar olhando a barriga gorda dele, e sua cara amassada de tanto dormir a manhã inteira."

Disse que já passou por isso uma vez e que agora só quer aproveitar a vida como uma adolescente. Chega uma hora que pessoas mais velhas precisam de um pouco de liberdade. Ela está feliz, é só o que importa para mim.

Para falar a verdade, eu não me importaria ter que lidar com a barriga saliente de Michael depois de alguns anos. Ele ainda seria o homem que eu amo. O jeito que ele acorda? Aqueles cabelos lisos bagunçados era a coisa mais linda que já vi.

Lá estou eu pensando em Michael pela milésima vez, enquanto tento ler as páginas do livro. Só queria saber ao menos como está passando. Ou qualquer notícia que fosse.

O som de sapatos batendo no assoalho me despertou do devaneio. Quase tão alto do que da última vez. Fazia tempo que não sentia mais aquela sensação ruim de invasão, e tampouco sentir os meus dedos dos pés congelarem como se eu tivesse os enfiado na geladeira. Será que o assassino só deu um tempo para depois atacar quando estivéssemos distraídos?

Me levanto da cadeira o mais rápido possível. Ainda bem que ainda estava claro e pude saber quem se trata logo quando começou a subir as escadas. Aquele moreno lindo, trajado de camisa preta, onde seus bíceps ficavam a mostra, e aquela calça jeans apertada, fazendo sua silhueta ainda mais desejável. Era aquele homem que tanto senti falta, que ao terminar de subir as escadas, fica tão próximo de mim que sinto meu coração sair pela boca de tanto que acelerou. Aqueles olhos em cima de mim mais uma vez.

—Tudo bem com você? —Minha voz soa baixa e bem despreocupada. Não quero mostrar por fora o que senti por dentro. Viro de costas e fecho os livros em cima da mesa de centro. —Entrou sem avisar, me assustou. —Ouço uma risadinha baixa.

—O assassino não está mais atacando. Foi o que o prefeito anunciou pelas ruas de Forest Grove. Pensei que soubesse.

—É, eu soube. Aliás eu presenciei um dos meios que usou para dar o recado. Pessoas impalhadas? Bem original. —Lembrar daquele corpo todo amarrado em um tronco de uma árvore fez meu estômago revirar.

—Você não deveria presenciar essas coisas, Claire. Não é coisa que se veja.

—Ah é, e o que posso fazer, se esses corpos aparecem do nada, sempre nos lugares que estou? —A expressão de Michael é de chateação, lamento talvez.

—Já acabou. — Sua voz é baixa, de consolo. Assinto analisando-o. Ainda não sei o que ele faz no meu celeiro.

—O que quer, Michael? Veio fazer o que aqui? —Ele respira fundo antes de dizer. Vejo o quão tenso estar, mas bem firme e decidido.

—Eu sei que você não quer mais olhar na minha cara, pelo que disse no jantar. Causei má impressão na sua mãe e provavelmente ela me odeie muito por isso. Mas eu não posso e nem quero desistir de algo que me faz feliz. Mais do que eu pude imaginar. Eu sou um babaca, Claire, eu até entendo, mas eu preferia mil vezes deixar de ser um, a ficar longe de você.

Não posso negar o quão suas palavras me tocam, é bem mais sinceras do que quando veio todo perturbado me pedir desculpas. Seu olhar é bem intenso, não desvia dos meus nem por um só segundo. Sinto falta daquela boca me beijar, do cheiro bom de homem no seu corpo. Seu abraço. Nem me importaria de ser o mundo de Michael assim como ele sempre quis que eu fosse, deixando tudo para ir com ele, tamanho é o meu amor e a falta que sinto. Porém há coisas que me impedem.

—Eu não posso ficar com uma pessoa que esconde as coisas. E eu nem estou pedindo pra confiar em mim. Acho que no mínimo eu quem deveria confiar primeiro, Michael. Como posso fazer isso se existe tanta coisa de que ainda não tenho conhecimento ao seu respeito? —Ele fica nervoso, caminha algumas vezes, mas depois despera:

—Você acha mesmo que eu sou o assassino? Graham convenceu você disso, não é?

—Não! —Brado convicta. —Posso pensar qualquer coisa de você, mas isso não. —Lembro de tantas vezes que ele fora carinhoso comigo, o jeito como sabe tanto da vida e a forma que sofreu. Ele não faria uma coisa dessas. —Nunca passou pela minha cabeça essa possibilidade. Sim, Graham tentou me dizer, mas nem por um minuto cogitei essa possibilidade. Deus queira que eu tenha razão.

—Se tem dúvidas é porque não acredita. E porque acreditaria? Sou um sociopata esquisitão que afasto as pessoas. Pensa que não sei o que dizem de mim? Os bochichos que sussurram ao meu respeito em cada esquina que me enfio? Mas não tem problema. Eu poderia ir embora agora, e não estar nem aí sobre o que você pensa de mim. Só que acontece que o que pensa sobre mim me interessa, Claire. Quando eu digo que preciso de você eu realmente preciso. —Ele fecha os olhos, aspirando o ar como quem aspira o perfume de rosas recém colhidas na primavera. —Sinto falta do seu cheiro, do seu beijo e do sabor que ele tem. Tudo que penso antes de dormir, é se ainda pensa em mim, ou se ainda me ama, se algum dia daremos certo como quero. Daria tudo pra estar em seus braços novamente e não é somente de sexo que falo. É porque somente neles me encontro de verdade. É nele que toda a tempestade dentro de mim se acalma. Busco a minha paz e a acho. Como um peregrino ao voltar à sua terra natal depois de peregrinar noite e dia, debaixo de chuva e sol. É quando sei quem sou.

Com certeza estava olhando para Michael toda abobalhada. Posso jurar que baba estariam escorrendo nos cantos da minha boca.

—Eu também senti sua falta. —Finalmente caio em mim, e confesso com toda força que há no meu peito. —Senti uma vontade imensa em estar com você de novo. De dizer que pode ficar ao meu lado porque eu adoro esse papel de ser tudo que você precisa. Michael, eu não ligo se você é esquisto ou que afaste as pessoas ao seu redor. Permitindo que eu esteja ao seu lado, para mim é o suficiente. É disso que se trata um relacionamento, não é? Aceitar as fraquezas dos outros, saber lidar com as diferenças?

—Minha nossa, Claire, eu te amo tanto! —Seus olhos estão brilhando.

Nos abraçamos com força. Me joguei em seus braços, sentindo a calmaria voltar de novo no meu coração. Como é bom senti-lo de novo! Ouvir as batidas do seu coração contra a minha orelha. O som da sua respiração alíviado por ter o que quer. Eu sou o que Michael quer, e nunca me senti tão sortuda.

Ele cobre sua boca na minha, o beijo cheia de saudade, desfrutando daquela língua como uma fonte de água cristalina em um momento de sede. O gosto é suave, me faz flutuar. Os ritmos de um lado para o outro aumenta a profundidade, eleva nossa necessidade e cada vez mais fica melhor. Meus dedos acariciam sua nuca, enquanto suas mãos apertam a minha cintura. Preciso do corpo dele, de matar a saudade, quero fazer amor com Michael naquele momento.

—Eu quero que vá comigo a Florence. Preciso desses quatros dias longe de tudo isso, e quero ir com você. Não vou sem você, Claire. —Ele alisa meus ombros devagar, encosta a testa na minha. Adoro quando suga os meus lábios por diversas vezes, uma forma de me convencer de algo que eu já estou convencida. —Juro que será os quatros dias mais felizes que você passará. Que irá me conhecer melhor e vai gostar muito do que vai ver. Não será fingimento, eu só vou ser para você alguém que sempre quis, mas nunca tive a chance de ser.

Seria muita babaquice começar a fazer as malas neste instante, o mais rápido possível? Talvez sim, mas é o que eu gostaria de fazer. Arrumar tudo e ir com ele para qualquer lugar que quisesse, sem reclamar, ou questionar.

—Eu irei a Florence com você, Michael.

O sorriso amplo que abre, a forma que solta o ar no momento em que ouve as minhas palavras, é genuíno. É resposta para a minha pergunta, quando a faço ao pensar porque o meu lugar realmente é ao seu lado. Eu adoro fazê-lo feliz, adoro que se sinta amado mesmo que essa pessoa seja eu. A namorada cheia de dúvidas, mas que tem a certeza que me afastando dele eu nunca as sanaria.

Seus lábios migram para a pele do meu ombro, depositando beijinhos e caricias. Me agarra em seu corpo, percorro minhas mãos pela suas costas rígidas. Como é bom estar em seus braços de novo! Poder sentir seu corpo contra o meu, o seu cheiro de volta às minhas narinas. É o suficiente para Michael intensificar os seus beijos. Sou "arrastada" para cima da mesa em que estudava alguns minutos. Minhas pernas abertas envolvem na cintura dele. Sua boca experimenta a minha, com sugadas fortes. Sua língua me embreaga. Sou movida por sensações inesgotáveis. Prendo o seu rosto da palma da minha mão, e observo Michael beijá-la pouco a pouco. Aquele sentimento de amor que nos rodeia, é como estar em paz pela primeira vez em meses.

—Eu amo você. —Desparo sem medir as conscequências, na verdade não me importo com elas.

Sua mão espalmada pousa na minha coxa, estou de saia, e facilita seu toque ousada na minha pele, que sobe para a minha virilha. O meio das minhas pernas pulsa em agonia. Agarro a boca dele na tentativa de saná-la, é inútil, pois a sensação gostosa aumenta cada vez mais. Sua língua embola na minha, com maestria. A fome do gosto um do outro nos empulsina ao toque urgênte. Sua mão escorrega para dentro da minha calcinha, ele me esfrega ao ritmo daquele beijo: depressa e delicioso. Estou gemendo entre a sua boca, preciso de Michael dentro de mim, como um camelo precisa de água no deserto. Preciso senti-lo mais uma vez e de todas as formas possíveis. Me torno uma insana quando estou em seus braços, não sei quem sou, apenas o quero com todas as minhas forças.

—Eu também amo você. —Ouço sua voz susurrante ao pé do ouvido. O seu toque dentro de mim não cessa, muito pelo contrário, fica cada vez melhor, mais delicioso. —Você não faz ideia o quanto eu quero você, Claire. Sinto falta do seu corpo. —Ele afunda o meu pescoço. —Falta do seu corpo nu em cima de mim. —Perpassa a língua no meu colo. Meu gemido aumenta, estou sensível até demais. Ele suspira, seus olhos estão fechados tão enlouquecido quanto eu. Ouço Michael resfolegar, enquanto os meus quadris remexem de encontro aos seus dedos. Deus, eu estava tão excitada que meu gozo seria bem prolongado e deliciosamente arrebatador.

—Michael. —Chamo o seu nome, estou quase chegando.

—Mas só depois que chegarmos a Florence. —Seus dedos me abandonam miseravelmente. Ainda consigo sentir o espaço vazio pulsar em lamúrias por não ter sido totalmente suprido.

—Mas... —estou impressionada com aquele homem malvado na minha frente sorrindo enquanto sofro por querê-lo tanto. —Você é um idiota! —Dou tapas no ombro dele, enquanto sorrir da sua própria maldade.

Michael me abraça de novo, fungando mais uma vez no meu pescoço.

—Eu vou lhe dar tudo quando ficarmos a sós, Claire. Faremos amor de todas as formas e jeitos, durante os cinco dias em que ficarmos. —A promessa é tentadora estou louca para que o dia amanheça e eu estar a sós com Michael em um lugar maravilhoso e distante. Mas espera um momento...

—Pensei que fossem quatro, não iremos amanhã?

—E acha mesmo que eu disperdissaria um dia que seja? Iremos hoje mesmo, ainda dá tempo de chegarmos por volta das sete horas. A estrada não é tão perigosa assim. —Me agito em ansiedade, quero muito ir o mais rápido possível.

—Então tá. —Sorrio feito uma boba, sem saber direito por onde começar. Se corro para arrumar as minhas malas, ou se continuo olhando para ele, como uma boba apaixonada. Ainda tenho que comunicar a mamãe, que com certeza daria o maior chilique. Mas eu não me importo, tudo que quero agora é ficar com o Michael.

—Anda, vá arrumar suas malas. Estarei em frente à fazenda exatamente às cinco. Sem atrasos, por favor. —É exigente, mesmo quando é somente um charme. Michael tem esse poder de impor tudo que quer. É o jeito dele de mostrar que não aceita que nada dê errado.

—Sim senhor. —Bato continência com a mão na têmpora, em sinal de ordem cumprida, e seu sorriso lindo aparece para mim.

Sou envolvida pelos seus braços, e beijada com carinho nos lábios, muito carinho mesmo.

***





—Como é que é? De jeito nenhum, Claire. Ficou maluca? Eu não vou permitir que faça essa viagem com esse cara, de jeito nenhum, pode esquecer!

A reação de mamãe não fora nem um pouco diferente do que imaginei. Ela nunca aceitaria tão fácil uma viagem com um cara que demonstrou ser o cara mais arrogante e antipático, em um jantar que ela havia preparado com o maior carinho. Ou pior, um cara que o seu namorado suspeita ser o assassino da cidade. Mamãe está exagerando no seu protesto ridículo, já sou maior de idade e já cansei dessa coisa de se meter nas minhas decisões.

—Relaxa, mamãe, são só cinco dias. — Nem me dou ao trabalho de parar de arrumar as minhas malas para ouvi-la. —O Michael não vai me matar durante esse tempo. —Recebo um tapa na ombro, em forma de repreenção pelo que falei.

—Não diga bobagens! Se esse moleque fizer algo com você eu nem sei o que eu faço. —Reviro os olhos ao perceber sua voz chorosa. Ela é mesmo dramática!

—O Michael não vai fazer nada. —Jogo a última peça de qualquer jeito na mala meio cheia. Até parece que vou me mudar com a quantidade de roupas, e pelo tamanho dela. —São só coisas que o Graham coloca na sua cabeça. Ele também não sabe de nada. Não há povas. O Michael pode ser um chato às vezes, mas ele é uma boa pessoa.

Ao falar de mim, como ele é comigo em especial, sim, ele é uma ótima pessoa. É romântico, suave e muito, muito normal. Dá para entender a posição dela.

—Já ouviu aquele ditado, querida: Onde há fumaça, há fogo? Pelo que estou sabendo, você também não conhece nada sobre o seu namorado. —Penso sobre isso, meu peito contrai. Tudo que sei de Michael é que ele me esconde as coisas.

—Sei o suficiente. —Falo mais para mim mesma do que para ela. —Ah mamãe, chega! Eu vou há esta viagem, e vou chegar sã e salva, eu prometo. —Fecho a mala com um esforço enorme.

Eu não aguento olhar para ela e ver uma comoção enjoada em sua expressão. Ela está de coração partido, não gosto de vê-la se preocupar comigo, tampouco quero fazer as vontades dela. É o meu namoro, é o homem que eu amo, não dá para boicotar isso.

—Sabe? —Caminho próxima a ela, olhando em seus olhos. —Quando você olha para o xerife, eu vejo o quanto vocês se gostam. Não sei, ele te faz bem de alguma forma. Não fica o tempo todo do lado de vocês para saber como é, mas quando estamos juntos, eu sei que Graham é o homem que você realmente ama depois de anos. É a mesma coisa comigo e com o Michael, mamãe. —Ela relaxa os ombros em desanimo por saber que eu tenho razão. —Eu o amo, amo muito. —Sinto os meus olhos queimarem. Lágrimas encherem os meus olhos, ao pensar sobre o que sinto por aquele homem infesado. —Aconteceu muito rápido, eu sei. Assim como aconteceu rápido com você e o xerife, e foi uma paixão tão forte que eu não posso ficar um minuto sequer longe dele. Eu sinto que precisamos ficar juntos, que eu pertenço a ele de alguma forma. Eu sei que você me entende porque é exatamente assim que sente pelo Graham. Por favor, me deixa ser feliz?

Mamãe, engole o choro de uma forma elegante e sutil. Eu sei que ela me entende, e sei que compartilhamos do mesmo sentimento.

Ela acariciam a lateral do meu braço, uma forma de expressão o quanto me ama e me entende. Eu sei, eu a conheço muito bem.

—Só quero que seja feliz, Claire. É tudo que importa pra mim. Que esteja protegida e segura. Você é a minha filha e eu me preocupo.

—Eu estarei, mamãe. O Michael vai cuidar de mim. —Ela balança a cabeça rigidamente. Está fazendo um esforço danado para aceitar. Me sinto mal por estar a obrigando a isto, mas é uma coisa que eu não posso controlar.

—Espero que cuide, minha filha. Espero realmente que cuide. —Abaixo a cabeça pelo jeito nada convincente como fala. É uma pena.

—Vejo você no domingo. Se cuide. Qualquer coisa me liga, vou levar o celular. Eu volto correndo.

—Digo o mesmo pra você. Volte correndo. —Sorrio pela sua falta de fé.

Pego minha mala pesada de cima da cama, e colo-a no chão. Ela é de rodinha iria me poupar esforços.

—Tchau, mamãe. —Deposito um beijo em sua testa, ela apenas afaga a minha cabeça.

Quando saio do lado de fora, Michael já está a minha espera encostado em seu Strada de braços cruzados. Ele usa um casaco de cashmere por cima da camisa social e gravata. Está impecável com sua calça Slim cinza. Eu sei que ainda morreria com o visual sofisticado que sempre adotou. Parece como uma pessoa bem comportada e de boas maneiras deveria ser. Ele é lindo, chique e moderno.

—Vamos? —A forma como franze a testa revelando aquele monte de relevos, e o olhar sexy que me lança, me deixa toda agitada.

—Só se for agora. —Caminho depressa em sua direção.

Michael coloca a minha mala dentro do porta-malas onde se encontra uma pequena maleta dele. Vejo que não está levando tanta coisa, como eu, mas algo me diz que não é só isso.

O caminho para Florence é divertido, meu namorado coloca uma música barulhenta para perturbar os meus ouvidos. Era Heavy Metal, algo que os cantores começam a gritar palavras que nem sempre sabemos o que quer dizer. O barulho é tanto que não há quem fique no ambiente.

—Pelo amor de Deus, Michael, é disso que você gosta? —Ele sorri, balançando a cabeça no ritmo da música para confirmar a minha pergunta.

—Claro. Heavy Metal é poesia. Diz tudo que está sentindo no momento. Ouvimos quando estamos felizes, para balançarmos a cabeça e se entregar ao ritmo. Mas também ouvimos quando estamos tristes, como uma forma de dizer: Que se dane! Minha alma está tão barulhenta quanto esta música. Não há salvação para mim"

Olho para ele de um jeito contemplativo. Adoro quando Michael abre a boca e analisa tudo ao seu redor. Parece que enxerga o mundo como os poetas, cada analise uma poesia.

—Hum, entendo. Mas prefiro outra coisa. —Vou mudar de estação, mas ele me impede. Insisto, mas ele atrapalha a minha mão. Não paramos de rir com esta brincadeira boba de impedir o que o outro está ouvindo.

Finalmente consigo, e está tocando Coldplay. Minha música favorita toca, me deixando toda empolgada.

—Viu só? É disso que eu estava falando. —Michael gargalha todo debochado.

— O que é isso? Música de mulherzinha? Pelo amor de Deus, coldplay estava com dor de barriga quando gravou isso. —Faço cara feia pra ele.

—Não fala assim de Fix you. Eu adoro! —Ele balança a cabeça e aperta os lábios em completa chateação. Adoro a cara de birra que ele faz.

—Vocês mulheres adoram músicas melosas que não dizem nada, é impressionante!




—Para de falar e canta comigo. Vamos lá : When you try your best, but you don't succeed. When you get what you want, but not what you need. — Michael estava sério, sem vontade de me acompanhar. —Anda, Michael, cante? —Ele resiste muito. Parece até uma velha rabugenta, mas logo faz o falsete hilário do Chris Martin, vocalista da banda.

— Stuck in reverse. —Começo a rir da cara dele, para falar a verdade do seu desafino além da conta, mas não paro de cantar.

—Olha, você sabe cantar! E ainda diz que odeia. —Ele assente e ergue os ombros como se não estivesse nem aí. Desta vez cantamos juntos a próxima estrofe.

— And the tears come streaming down your face. When you lose something you can't replace. When you love someone, but it goes to waste.

Nos olhamos por um instante, tudo havia mudado dentro de mim em um só momento. Sinto uma paz incomum, algo bom me invadir.

—Could it be worse? —Encostamos nossas cabeças, como se fizesse um número com um grande público. —Lights will guide to home and ignite your bones and I will try... — Nos olhamos nos olhos para a última frase. — ... To fix you. —Ele abre um sorriso lindo, e eu retribuo.

Encosto a minha cabeça no ombro dele, dá para ver as árvores correndo em desespero através da janela do carro veloz. Tudo que quero é ficar aqui em seus braços e não ser capaz de nunca mais sair. Estou em paz pela primeira vez na minha vida.

—Sabe? —Começo a falar. A música serve de trilha sonora de fundo para marcar aquele momento. —Você parece normal quando faz algo que realmente está a fim. Seu sorriso é sincero, não parece que quer dar patada no mundo inteiro. —Ele joga a cabeça para trás em uma gargalhada irônica.

—Então eu não pareço normal na maioria do tempo? —Ergo o meu ombro direito, demonstrando desinteresse pelo assunto.

—Parece normal pra mim. —Ele encosta sua cabeça na minha, beija em cima dos meus cabelos, enquanto dirige com apenas uma mão, pois a outra está em cima da minha coxa me acalentando. É confortável.

—Então é tudo que importa. —Aquelas palavras me acalmam, me aconchego ainda mais em seu corpo, sentindo o seu carinho. Sei que passaremos momentos perfeito naquelas montanhas. Pois estaremos juntos.
***



O Strada para ao lado de um morro tão bonito que é preciso olhar para cima acompanhando até onde ele termina. É uma montanha esculpida por Deus. É tudo tão lindo que sinto uma sensação maravilhosa. Olhar assim, você tende a imaginar como a natureza tem seus mistérios. São capazes de construir algo tão belo e tão alto a partir de pequenas rochas e relevos na terra.

Michael sai de dentro do carro, me chama para acompanhá-lo, mas estou impressionada demais para desviar o olhar.

—Vai gostar ainda mais do que tem lá em cima. —Minha mente reproduz imagens do que provavelmente teria e eu fico toda ansiosa.

—Vamos subir? —Acho que é aventura demais para um dia só.

—Claro, ficaremos lá em cima por alguns dias a partir de agora. —Estou tão contente que posso jurar que minha boca está aberto, mas não posso fazer nada, pois é incapaz de me obedecer. —Vem, vamos.

Finalmente desço do carro. Faço um giro envolta de mim observando as árvores ao pé da montanha. Me sinto como um verme tão pequena diante de tudo aquilo. Deve ser daquela forma que Deus olha para os humanos na terra. Me arrepio toda.

—Eu sabia que iria gostar.

—Gostar? Eu amei, é incrível, Michael.

Ele me estende a suas mãos e eu as seguro. Caminhamos em direção à montanha da frente. Acho que havia chovido em Florence, pois percebo o chão todo lameado. Nas escoras há uma pequena fonte rolando.

—Temos que subir? —Ele assente.

—Não precisa sujar os pés, suba aqui. —Indica suas costas e eu começo a rir.

—E se você derrubar nós dois? Iríamos rolar morro a baixo, não acha? —Michael semicerra os olhos ao me encarar.

—Para de ser boba, suba, ande? Depois eu pego as malas.

Michael inclina para frente como se fosse agachar no chão. Acho graça em subir montando em suas costas, mas até que acho divertido. Preparo um impulso e pulo apoiando a minha mão em seus ombros. Ele agarra as minhas pernas pela frente as segurando para que eu não caísse.

Subimos o morro sem que eu parasse de contemplar aquela vista. É espetacular, tudo. É tão tranquilo e revigorante que às vezes da vontade de chorar.

Olho para o chão, o barro na sola de sapato do Michael fica escorregadio, por causa da lama molhada onde ele pisa. Havia chovido a pouco tempo e eu morria de medo dele escorregar comigo montada em suas costas.

—Deve ter caído uma tempestade hoje mais cedo. Vai devagar senão vamos escorregar.

—Não se preocupe, já estou acostumado a caminhar por aqui em tempos assim. —Nossa subida ficava cada vez mais inclinada. Eu estava com medo do meu peso desequilibrá-lo e cairmos ao chão. Seria uma queda feia, levando em conta o tanto que já subimos. Agarro o pescoço de Michael com mais força. —Está com medo? —Ele debocha de mim.

—Não, nem um pouco. Só estou morrendo de pavor da altura, nada demais. —É o prato cheio para Michael. Ele "desequilibra" fazendo um som, só para me assustar, simulando uma quase queda. O Agarro seu corpo ainda mais.

—Michael! — Dou tapas no ombro dele. Parece que eu o divirto, pois não para de rir.

Após alguns minutos me deparo com uma linda cabana solitária em cima da montanha. Ela é feita de toras de madeira, empilhada uma na outra, formando uma linda e charmosa casinha de sape. Me sinto uma criança finalmente enfrente à casinha da vovó da chapeuzinho vermelho.

—Eu sabia que iria gostar. —Michael me coloca no chão, em cima das pedrinhas de granito, longe da lama.

—É maravilhosa! —Acho que fico admirando por alguns segundos. A vista de lá de cima é tão perfeita. É como completar uma pintura nos quadros dos grandes artistas de paisagens.

—Vem, vamos entrar.

Ele abre a pequena portinha, que range , e até mesmo esse som me remete coisa boa. Sigo Michael para dentro da casa, e uau! Está tudo muito lindo e organizado. Por dentro nem parece que é uma casa no meio do nada e sim como que se encontra em cidade urbanizadas. A beleza é a mesma. Os móveis são chiques. O sofá cinza aveludado formam um circulo no meio da sala. Há um abajur na mesinha ao lado perto da TV. O tapete branco felpudo ao chão dá até medo de pisar para não sujar. A casa por dentro não tem nada a ver como é por fora. Penso que estão em um apartamento de luxo.

—Acho que sempre vou ter essa sensação de temer em bagunçar onde quer que você more. —Ele me abraça por trás me guindo para dentro de casa, depois de ter tirado os sapatos. Recebo beijinhos no pescoço.

—Já disse que pode bagunçar à vontade. —Me sinto toda.

Me solto do corpo de Michael e paro no centro da sala, perto do sofá. O cheiro daquela casa é tão bom, tem cheiro de lar, de aconchego. Deve ser por isso que insistiu tanto para que eu viesse. Realmente adorei tudo. Sinto paz, vontade de ficar para sempre. Começo a rodopiar pela o espaço, tamanha é a euforia que sinto.

—Acho que estava certo, Sr Jackson. Amei mesmo. —Ele segura na minha cintura, me puxando para bem perto do seu corpo. Preciso olhar para cima para poder encarar os seus olhos. Tenho uma vontade enorme de beijar a sua boca, mas Michael passa na minha frente, beijando os meus lábios, saboreado a minha língua, de um jeito que bambeia as minhas pernas.

—Dá até para você se mudar de vez para cá. Eu ia adorar. —Apoio o meu braço em seu ombro e com os dedos acaricio sua barba.

—Então isso aqui é um sequestro?

—Hum, se você ficar louca para ficar, não é. O que eu tenho certeza que vai acontecer. — É incrível esta mania de me fazer ficar com ele, mas pensando bem, olhando ao redor, tudo faz sentido. Michael esta tendo tudo que sempre quis a vida toda, um lar. Ele não está mais sozinho, o que deve ser um alívio entanto.

—Vamos ver o que acontece durante estes cinco dias. —Rapidamente me lembro de Patrick e Julia. —Minha nossa! Esqueci de avisar a Patrick e Julia que decidi vir. Eles não vão me perdoar. —Michael faz um som de descontentamento.

—Não acredito que está preocupada com esse caras. —cruzo os braços em cima do peito como uma menina birrenta.

—E eu não acredito que ainda implica com os meus amigos. Eu preciso ligar pra eles e pra minha mãe também.

—Tá, liga aí. Eu vou pegar as malas. Está com fome? —Assinto. —Certo, quando eu voltar eu preparo alguma coisa. —Fico toda animada.

—Vai cozinhar pra mim?

—Mas é claro. Farei de tudo para mantê-la ao meu lado. Já volto. —Fico sorrindo feito uma boba quando ele sai.

Olho ao redor bastante feliz por estar aqui. Percebo que sempre quando está somente Michael e eu, posso me sentir assim, tranquila e em paz. Caminho pelo local, vou até o quarto, há somente um quarto ao lado, pois do outro lado é a cozinha. Cozinha! Aquela cabana é a bem mais equipada que já vi. Se eu tivesse tido um conforto assim quando acampava com os meus pais ficaria feliz da vida.

Me sento na cama, olhando para o teto. Bem que eu poderia ficar aqui com Michael e viver esse sonho pelo resto da vida. Mas infelizmente a realidade não é tão fácil assim.

Pego o celular no meu bolso, preciso dizer a minha mãe que estou bem, que chegamos bem, que tudo está perfeito. Me livro da minha calça, enquanto o telefone começa a chamar. Ela está apertada e necessito ficar à vontade.

Ela está aliviada ao telefone, disse que Graham está com ela para não ficar sozinha na fazenda. Pedi que avisasse a Julia sobre a minha viagem, não queria ter que explicar diretamente para minha amiga que os deixei na mão para ficar com o meu namorado antipático, como ela mesmo chama. Não demoro muito na ligação, pois logo Michael volta com as duas malas nas mão e sem camisa nenhuma.

Seus músculos ficam em evidência por causa do esforço físico que faz, e eu babo com todas àquelas marcas definidas do eu abdômen e braços. Vontade que tenho é de tocá-las, beijá-las, acariciá-las. Olho para Michael com outros olhos. Olhos luxuriosos que tenho certeza que já havia olhado-o daquela forma, mas que agora faço de proposito. Sinto o meu corpo queimar por conta da beleza masculina, mal vejo a hora de me embolar com ele naquela cama. Sou completamente dominada por aqueles músculos. Estou com tanta saudade do seu corpo que mal consigo piscar quando olho. Michael coloca as malas no canto sobe o poder do meu olhar. Preciso mudar minhas pernas de posição para conter a excitação no meio delas, diante da agachada que ele dá na minha frente, ao qual sua bunda empina de uma forma sensual.

—Pronto, estou de volta. —Ele caminha bem próximo de mim, parando em minha frente entre as minhas pernas. —Começou a chover e dou uma molhada na minha camisa. —Aqueles mamilos rosados me causa euforia.

—E aí você achou por bem tirá-la e me encher de tentação? —Ele morde o lábio bem devagar, me enlouquecendo. Enfia suas mãos embaixo dos meus cabelos apertando a minha nuca. Meu corpo inclina apara trás preciso apoiar as minhas duas mãos para não cair deitada. O joelho de Michael vai para cima da cama entre as minhas pernas

—Não sei, tá funcionando? —Mordo meu lábio, completamente rendida. Ergo os ombros em despretensão.

—Vai depender, se esta for a intenção.

—Você também tirou a calça. Posso considerar que está tentando me seduzir também? —Sorrio com malícia.

—Aham.

Levo a minha mão em seu peito, aperto sentindo a textura das sua pele quente. Desço pelo seu abdômen bem devagar. Michael está de olhos fechados aproveitando o meu toque. Paro no seu umbigo, esfregando a minha mão bem ali, ameaçando descer para dentro da sua calça. Minha mão está tremendo, sinto o meu corpo quente. Necessito beijá-lo. Seguro sua cintura de cada lado, me aproximo o suficiente me permitindo que minha boca encosta na sua barriga. Beijo a sua pele como se estivesse saboreado uma deliciosa fruta fresca. É delicioso poder ouvir os gemidos de Michael em aprovação. É a minha chance de lhe dar prazer e não desperdiçaria. Desço a boca até a entrada da sua calça, levanto as minhas vistas a fim de contemplar as suas reações faciais. Michael está de olhos fechados, todo suado na testa. Minha mão vai para o botão de sua calça, quero despi-lo, deixá-lo a mercê de mim.

—Como você é sacana! Mal posso me mexer. —Abaixo a calça junto com a cueca. Já posso olhar para o seu pênis ereto bem diante dos meus olhos. —Olha o que faz comigo, Claire.

Coloco-o na boca, ouvindo o seu urro de prazer. Michael pende a cabeça para trás, está completamente entregue a mim. Já sei como funciona, fiz uma vez, não me sinto mais intimidada. Meus movimentos são fortes, o sugo uma sucessão de vezes. Ele agarra os meus cabelos arremetendo seus quadris de encontro a minha boca. Estou tão excitada que mal vejo a hora de sentir sua performance dentro de mim.

—Isso é algum tipo de "castigo" por ter deixado você na vontade, naquela hora no celeiro? Quer me torturar ao máximo? —Acaricio suas bolas com as pontas dos dedos. —Não, não responda, continua do jeito que está. —Eu não havia pensando em nada maldoso para me vingar, porém diante da sua lembrança decido ser o motivo dos gemidos de lamúrias de Michael neste fim de tarde.

Ele está molhado, bem quente e pulsante. Seguro em sua bunda aumentando os meus movimentos, dentro e fora, dentro e fora. Ouço o seu grunhido, ele aperta com força a minha nuca rebolando, perseguindo seu orgasmo. Suga a ponta da glande, com intenção de abandoná-lo a seguir. Me afasto, deixando Michael completamente confuso.

—Quem mandou me dar a ideia? —Michael semicerra os olhos, fazendo questão de mostrar sua infelicidade pela minha atitude.

—Vem cá. —Sou empurrada, caindo deitada em cima da cama, enquanto ele sobe em cima de mim me dominando completamente. —Agora é a minha vez de brincar.

Michael segura minha coxa, colocando a minha perna em cima da sua bunda. O ajudo tirando a minha blusa, ficando nua na parte de cima. Seus dedos afasta a minha calcinha, sou penetrada fundo de um jeito que mal consigo respirar. É inesperado e muito, muito gostoso. Às vezes Michael me lembra que eu não devo brincar como um homem prestes a gozar, é buscar "encrenca" com suas próprias mãos.

Seu corpo está por cima do meu, tão quente que me queima. Estou entregue a ele, assim como ele a mim. Suas estocadas eram initerruptas, rápidas e intensas.

—Sua mãe não te ensinou a não brincar com fogo, Claire?

Ele beija a minha boca, estou contorcendo embaixo dele. Não aguento mais de prazer, Michael suga o meu pecosço. Meus quadris remexem, apenas as minhas pernas envolta dele. Ele é grande, viril. Sabe usar o seu corpo como arma naquele sexo.

—Ela me ensinou como fazer aos homens como você. —Giro o meu corpo por cima dele. Michael está agora embaixo, enquanto estou por cima.

—Uau! —Sua gargalhada de satisfação é uma confirmação de que o que fiz o agradou muito.

Rebolo em cima do seu pênis, pulo para cima e para baixo. É como se estivéssimos dançando.

—É isso que quer? Estar no controle? —Ele segura firme a minha bunda, guiando as reboladas como o dançarino guia a cintura da sua parceira.

—Se isso me permitir gozar, é tudo que quero com certeza. —Esfrego os meus seios no seu rosto. Michael suga meus mamilos e solta.

—Está tão soltinha, Claire, estou gostando de ver.

Coloco as minhas mãos juntas em seu peito a fim de pegar impulso. O prazer cada vez mais reverberava pelo meu ventre ameaçando ser liberado com fúria.

—Você ainda não viu nada, Michael. —Impulsiono o meu sexo para frente e o aperto com força bem naquele ponto maravilhoso.

—Oh caramba! —O corpo dele enrijecesse, está com a boca aberta soltando um gemido exprimido. Eu por outro lado, sinto meu corpo mole, não tenho forças para lidar com aquele orgasmo intenso que me pega de surpresa. Minha cabeça entra em parafuso, o prazer é como uma bomba pronta para me devastar inteira. Me esfrego mais um pouco em Michael e aquilo só faz aumentar.

—Oh Michael! —Seu gozo me preenche, estou perdida em sensações diversas. Ainda estou presa nele e não quero me soltar. Desabo sobre o seu corpo, e ele me protege em seus braços.

Michael está suado, bastante molhado. Ainda dentro de mim continua pulsando. É maravilhosa aquela sensação. Deito a minha cabeça em seu peito, sentindo os seus lábios beijarem a minha testa.

—Acho que vou precisar disso pelo menos umas cinco vezes por dia em comemoração dos cinco dias que ficaremos aqui. —Gargalho diante da disposição do meu namorado.

—Você não presta mesmo. —Bato em seu peito algumas vezes. Michael resfólega soltando o ar pelos dentes, mostrando o quanto estava cansado. Me aninho em seu peito na tentativa de descansar também.
***

A água que Michael preparou para o nosso banho estava tão maravilhosa que dava vontade de dormir ali bem abraçadinha com ele. O jeito que me envolvia por trás e me beijava a boca com carinho, me arrebatava. Eram toques e mais toques, de tirar o fôlego. Michael para mim era como um artigo de luxo, ao qual eu poderia desfrutar sempre que quisesse, estava à minha disposição.

Ele beija o meu rosto com tanta suavidade que é como estar nas nuvens. Sua mão acarinha a minhas coxas como se procurasse um lugar para se instalar. A barba de Michael roça no meu rosto enquanto esfrego meus lábios no canto da sua boca. Cravo as minhas unhas nas costas dele quando prende a minha língua dentro da sua. Gemo forte quando, o seu dedo do meio, enfia dentro de mim.

—Oh Michael! —Sussurro entre seus lábios. —Isso é muito bom. —Dou beijinhos em seu queixo me preparado para outro gemido, quando movimenta dentro de mim com mais rapidez.

Coloco a minha mão em cima da dele conduzindo seus movimentos.

Mordiscadas e sugadas foram dadas na minha nuca, me entorpecendo. Prazer aumentava cada vez mais. Eu sou do Michael e ele fazia questão de mostrar isso.

Me sento em cima do seu pênis ereto, começamos a fazer amor dentro da banheira naquela noite fria. 







A comidinha que ele estava preparando estava com um cheiro tão bom que só aumentava a minha fome. Admirá-lo sentada na mesa enquanto remexe a colher nas panelas é tão íntimo que suspiro. Michael é lindo! Não paro de olhar para suas costas largas nuas e nem para a sua bunda empinada dentro da cueca samba canção cinza, risca de giz. Mas há algo que me incomoda desde a nossa primeira transa naquela cabana. Nós não havíamos usado camisinha e Michael gozou duas vezes dentro de mim.

—Experimenta um pouco. Vê o que acha. —Ele me oferece uma colher de pau mergulhada no molho que havia preparado.

—Hum! —O gosto estava maravilhoso. Bem temperado e na medida certa. —Nossa, cozinha melhor que minha mãe. E olha que nunca imaginei encontrar alguém que cozinhasse melhor que ela.

Basta dizer essas palavras para conhecer o lado convencido de Michael, ele fica todo cheio, com o ego todo inflado.

—Viu só? Não vai passar fome ao meu lado. —Inclina o corpo sobre a mesa, aproximando o seu rosto do meu. —Vai ter uma comida, casa, e muito, muito carinho. —Sinto o seu toque carinhoso no meu rosto.

Fico toda sem jeito, tudo que Michael quer é que eu fique na cabana com ele, mas há outras questões que não envolvem somente o meu querer.

—Depois vemos isso. Tem outro assunto que preciso dizer. —Ele fica sério de repente e volta a sua atenção para as panelas.

—Ah é, e o que é? —Ouço o tilintar de uma colher de aço que usa agora, bater contra as panelas. Michael também está todo tenso, parece até que sabe o que vou dizer.

—É que... —Esfrego a minha mão na nuca, remexo um pouco no banco. Ele enche o prato com comida e coloca na mesa para mim. Acho fofo o jeito que me serve. Enche o prato dele e senta na minha frente, esperando que eu fale. —Nós transamos duas vezes sem camisinha, e... bem.

—Oh, é isso. —A expressão serena de Michael fica conturbada, como se eu tivesse falado alguma besteira. Fico incomodada achando que sou culpada de alguma coisa. —Há um comércio pelas redondezas, amanhã compro uma pílula do dia seguinte pra você usar.

Enfia uma colher generosa de ensopado e coloca na boca. Estranhamente meu coração fica pesado. É algo no olhar dele que me perturba. Talvez seja a ideia de ser pai que não o agrada em nada, mesmo ele tendo falado com muita tranquilidade sobre a pílula. Bom, é claro que não quero ser mãe agora, há outras prioridades, mas eu aprendi uma coisa na convivencia com Michael. Tudo que lhe causa desconforto é porque não faz parte dos planos dele.

—Obrigada. —Levo uma colher de ensopado à boca, mas não me desce e não é por causa do sabor, porque está maravilhoso, é por causa do silêncio repentino que se instalou.

—Não tem problema. Preciso comprar camisinhas também, não podemos vacilar nem por um só segundo, está bem? —Ele acaba confessando a minha desconfiança.

—Não quer ser pai, não é? —Ele olha para mim tão depressa que parece que um raio me atingiu.

—Acho que não é o momento disso, não acha? —Ele remexe o prato, parece não ter vontade de comer. —Você ainda está estudando e eu não tenho muita cabeça pra isso no momento. —Sua resposta é certa, porém sua reação é que me enlouquece.

Michael tem o poder de me perturbar somente com aquele olhar. Eu acho que já disse isso, mas vale a pena ressaltar.

—Um dia quem sabe? —Estou a fim de confrontá-lo, mas digo como se fosse algo natural de se pensar. —daqui a alguns anos? —Ele remexe a colher, sem afundá-la no prato. Ouço seus pés balançarem. —Seria maravilhoso, não é? —Ele joga a colher fazendo um barulho no prato que levo um susto.

—É melhor dormirmos, estou morrendo de sono. —Sinto vontade de chorar. Meu coração afunda no peito, e acelera.

—Não vai comer? —Ele levanta da mesa e joga a comida fora.

—Estou sem fome. —Sorri forçado. —Prefiro ir pra cama. —Jogo a colher forte, da mesma forma que ele fez.

—Eu odeio quando faz isso, sabia? Fica inventando desculpas para se safar. Por que a ideia de um filho te deixa tão apavorado? Eu sei que não é o momento de pensarmos nisso, eu não sou idiota. Estamos começando e já é tão complicado assim, imagina depois. Mas não vejo o motivo de me tratar dessa forma.

—Eu não estou tratando você de forma nenhuma, Claire. Eu não disse nada, pra falar a verdade. Só disse que irei comprar pílulas pra você. Estou tentando evitar uma gravidez aqui. É o que quer? Engravidar? —Me levanto da cadeira e saio para o quarto toda chateada. É isso que Michael sempre me faz sentir. —Claire, venha cá!

Ele vai atrás de mim, não estou chorando, não deixo nenhuma lágrimas rolar dos meus olhos. Na verdade estou com vontade de estapeá-lo.

—O que eu fiz dessa vez? Me diga? Só fala, tá bom? —Ele senta ao meu lado na cama. Eu sei que peguei pesado. Talvez as reações dele acabam me confundindo e faço julgamentos sem pensar. Não posso fazer nada se Michael é tão complicado.

Ele segura no meu rosto, me faz olhá-lo. Aquela cara de chachorro pidão me amolece inteira.

—Eu não estou querendo engravidar. Eu só avisei que corro esse risco, devida a falta de proteção. A culpa não é minha.

—Eu sei que não é. Me desculpa se agi como se fosse. Eu não sei lidar com essa situação. Você é a única pessoa que importa pra mim, eu não quero mais nada e nem ninguém. —Sorrio com ironia.

—Com o ninguém, você quer dizer um filho? —Me levanto da cama, o encarando toda furiosa esperando por respostas. —E se eu engravidar, Michael, o que acontece? Vai me abandonar? Vai me largar por aí com um filho na barriga? —Sinto os meus olhos queimarem, e é inevitável não chorar.

—Nã... não, não. —Ele me abraça com força, me protegendo em seu peito. —Claro que não. Claire não é bem assim. —Ele segura no meu rosto para que eu pudesse olhá-lo. —Amor, eu te amo. Eu te amo, mas ainda não é hora pra isso.

Michael não está preparado para ser pai, o que me coloca em uma posição bem ruim. Havíamos transado duas vezes sem proteção. Estou vulnerável à última coisa que ele quer na vida. Se as pílulas não funcionarem, eu estaria obrigando ele a ficar comigo, ou senão o tiraria da minha vida sem nenhum esforço. Não posso dizer que não me magoa, mas eu não o culpo.

—E se eu engravidar? —Minha voz embarga. Eu nunca havia passado por isso na vida. Medo de ficar grávida, mas é um tanto tarde para arrependimentos.

—Não vai. As pílulas vão resolver, não se preocupe.

"Resolver" como se fosse um problema. Pelo visto é realmente um grande problema.

—Vamos dormir? Amanhã quero levá-la para um lugar e tem que ser bem cedo.

Deito na cama sem falar mais nada. Michael desliga as luzes da casa e deita ao meu lado. Na verdade ele agarra o meu corpo por trás como uma coxinha. Eu amo aquele homem mais confuso e complicado que já vi na vida. Gosto de estar ao lado dele, na maioria das vezes sou feliz quando estamos juntos, porém existem essas horas ao qual não sei o que ele é, e, nem como ele reage à coisas normais, que para a maioria das pessoas são uma benção. Talvez para ele possa se tornar um pesadelo sem fim. 











Capítulo 15 
Prometo te amar


Me espreguiço ao acordar, sento na cama. Estou sozinha naquele quarto. Há alguns raios de sol entrando pela janela, mas são fracos e sem vida alguma. Bem diferente do clima costumeiro. Sinto falta dele ensolarado em Phoenix, às vezes um pouco de calor não faz mal a saúde, apesar de, por um lado, começar a me acostumar com Forest Grove. Há assassinatos e coisas estranhas acontecendo, mas tem Michael o homem que escolhi amar. Acho que neste momento da minha vida não voltaria para Phoenix, acho que Forest Grove se tornara o lugar que escolhi para viver. Não por opção, mas sim por conveniência.

Michael entra pela porta com uma bandeja de café da manhã em mãos. Percebo o quanto está disposto aparentemente. Bom, ainda não havia encarado seu rosto, não consigo parar de reparar que está usando apenas uma calça de malha azul marinho, cuja os cordões estão soltos, se movendo conforme o seu caminhado. Caminhado este que é elegante e sedutor. Os pelinhos do seu peito é tão sensual... tenho vontade de devorá-lo inteiro.

Descansa a bandeja em meu colo, sem dizer nenhuma palavra ainda.

Há alguns pãezinhos, suco de laranja e bolinhos. Me interesso pelos ovos mexidos com bacon e gelatina de limão. Michael trouxe tanta coisa. Vai além do que suporto comer, mas significa que se preocupa comigo. Ao lado há uma capsula de comprimido, julgo ser a tal pílula do dia seguinte.

—Vai funcionar? — Olho para Michael esperando que falasse alguma coisa.

—Espero que sim. —Balanço a cabeça e capturo o comprimido na mão e enfio dentro da boca o mais rápido possível.

—Eu também espero. Assim não terá que se preocupar com dores de cabeça futuras. —Ouço um suspiro de chateação. Ele senta na cama, atrás de mim. Envolve seus braços por trás, me abraçando.

—Pare com isso, por favor. Não quis mostrar que repudio um filho, eu só não os quero no momento. Eu sei que você também não quer, então não se faça de ofendida. —Viro o meu pescoço para olhá-lo. Ele é tão cínico com aquele sorriso sacana nos lábios, tenho vontade de estapeá-lo e depois beijá-lo até o ar faltar.

—Não estou ofendida, Michael, é só que... —Respiro fundo pelo cansaço de estar sempre discutindo com ele. —Não quero me preocupar com você indo embora se minha barriga começar a crescer. É questão de defesa.

—Olha pra mim? —Ele puxa o meu braço me fazendo olhá-lo. Seus olhos verdes estão mais escuros. —Esse moleque não seria empecilho algum. Eu não deixaria você por nada desse mundo, nem por ele, e nem por ninguém.

E de novo aquela dúvida cruel de que não sei se fico feliz ou desesperada pela resposta azeda do Michael em relação a uma criança.

—Ah que legal, obrigada! Me sinto muito melhor agora! —Ele puxa o meu braço de novo quando deixo de olhá-lo. Acho que ele adora quando estou me fazendo de birrenta.

—Ei, é sério. Eu vacilei, eu sei, não vai mais acontecer. Tomarei cuidado para não engravidar você, mas... se vier, não tem problema algum. Não quero que se sinta culpada por isso. Não tem nada a ver com você e eu jamais lhe culparia. —Meu coração consegue se acalmar pelas suas palavras. Fico toda derretida. Eu sei, qualquer coisa que Michael fale ou faça, por menor que seja o afeto, é de grande valia para mim. —A gente deveria estar transando ao invés de discutir sobre isso. —Começo a rir, batendo no peito nu dele.

—Tem vezes que dá vontade de te bater, Michael Jackson, mas aí tem várias outras que sinto que se não te abraçar, te beijar, vou enlouquecer de tesão. —Ele me aperta contra o seu peito, sinto seu membro roçar nas minhas costas.

—Então não vamos deixá-la morrer de tesão, não é mesmo? —Sorrio com ternura observando Michael tomar os meus lábios e me beijar com doçura.

Parece que tudo dentro de mim se renova novamente. Aquele incômodo chato sai do meu coração, é como retirar um peso das minhas costas. Preciso ter momentos felizes com Michael e não algo indesejado ou estranho, como na maioria das vezes é. Só queria ficar em paz, naquele lugar maravilhoso.

—Ande, toma o seu café, daqui a pouco vou levá-la a um lugar que tenho certeza que vai adorar.

—Ah é? Que lugar é esse? —Ele dá tapas na lateral das minhas pernas e levanta da cama.

—Você vai ver. Não demore, lembra que eu...

—...Não gosta de atrasos. Eu sei. —Reviro os olhos morrendo de tédio. Michael suga a minha boca. Ele adora sim quando fico toda emburrada por causa dele.

—Minha marrentinha, linda. Agora come.

Faço careta, enquanto se afasta cada vez mais do quarto. Fuzilo com os olhos quando sorrir daquele jeito sacana e fecha a porta.

O café da manhã está uma delícia. Como praticamente tudo que está na bandeja e olha que achei demais quando Michael a trouxe para mim. Deve ter sido o remédio que abriu a minha apetite, de qualquer forma, me levanto da cama e me visto. Michael não deu nenhuma pista sobre o lugar que íamos, por isso vesti qualquer roupa que encontrei mais fácil na mala. Ainda não tive chance de desfazê-la.

Fomos até a floresta, nos embrenhamos pelos matos. O maluco do meu namorado insistia em me fazer surpresas. Boa coisa não deveria ser, vinda dele. Sorrio com este pensamento de falta de fé em Michael. Não tenho culpa se sinto que está aprontando algo.

Ouço som de cachoeira, a queda d'água desaguando sobre as pedras eram um ruído agradável. Michael continua me puxando me levando cada vez mais para dentro da mata fechada. Ele para em um determinado ponto e tudo que me deparo, é com uma das maravilhas da natureza.

—E aí está!

Fico sem palavras. Não consigo dizer mais nada, estou embasbacada com tamanha beleza.

—Michael, mas... é maravilhoso! —A gargalhada de satisfação dele e enche de orgulho. Talvez seja porque ele também está orgulhoso por eu ter gostado.

—Anda, vamos entrar! —Ele começa a retirar a camisa. Caminha para dentro o rio, e eu fico lá parada achando o meu namorado o mais louco do mundo.

—O quê? Michael essa água deve está congelada! Ficou doido? —Ele não liga, retira calça e fica apenas de sunga. É, ele havia vestido uma roupa de banho sem ter me avisado nada.

—Às vezes fazer coisas doidas, é a melhor forma de ser sensato, Claire. Não perca tempo, vamos nos divertir? —Michael mergulha no rio como se fosse dias ensolarado, fico impressionada.

Só por tirar as calças, ficando apenas de camiseta, já sinto um frio absurdo, quem dirá entrar naquela água? Caminho nas pontas dos pés até ele, meus pés congelam, me esperneio toda.

—Ai, tá gelada! —Faço que vou fugir, mas Michael me puxa pela cintura.

—Não vai não. —Ele me aperta contra o seu peito. A água está na metade do meu corpo, e o peito dele está frio pra cacete! —É só me abraçar, que podemos nos aquecer.

Envolvo os meus braços em seu pescoço, mas tudo que sinto é o meu coração parar por conta da temperatura baixa.

—Eu vou morrer, Michael. —Ele ri de mim.

—Não vai não, minha linda. Eu jamais faria algo assim com você. Me beija. Vamos nos aquecer assim.

A boca de Michael está quente, bem quente mesmo. Posso notar a temperatura elevada por conta do frio no resto do meu corpo. É gostoso, de verdade. Sentir a saliva de Michael enquanto nossos corpos estão colados e molhados é como tomar sorvete com calda de chocolate quente. Enrolo os meus dedos nos cabelos dele para aprofundar o beijo. Uma forma de me manter ali grudada em seu corpo e não soltar mais. Terminamos o beijo com sugadas nos lábios um do outro. Afundo a minha cabeça na curvatura do seu pescoço e o abraço mais, bem mais forte.

—É isso que faz quando vem pra cá? Entra nessa água congelante e está tudo bem? Eu mal posso respirar. Aposto que vou pegar um resfriado.

—Quando venho para cá, eu faço tudo que tenho vontade de fazer, inclusive vir até a cachoeira. Mas é sempre solitário, fico pensando em outras coisas. Usando a água gelada para me torturar... —Ele suspira, me afasto do seu corpo para olhá-lo nos olhos.

Minha nossa! Os problemas de Michael parecem ser piores do que eu pensava.

—Você está me dizendo que ficava dentro da água por horas tentando se matar? —Ele tira meus braços do seu pescoço e caminha para o outro lado.

—Claire, eu não quero falar disso. Quero que seja diferente os momentos em que passarmos juntos. Nada de melancolias. —Balanço a minha cabeça, procurando entendê-lo por hora. Talvez seja uma parte da sua vida que não valha mesmo a pena ficar mexendo.

—Tudo bem. —Sorrio para ele e volto a ter o seu abraço como uma recompensa.

Ele está mais quente agora. Seus braços é delicioso, parece que foram feitos exclusivamente para mim. É como se me protegesse, assim como eu também o protejo. Estamos envolvidos em uma bolha, a bolha do amor.

—Acho melhor nadarmos um pouco para movimentar o corpo. Desse jeito vamos congelar. —Sugiro começando a nadar naquela água. Céus! Não duvido que morreria.

Michael vem atrás de mim, nadamos juntos naquela cachoeira linda. A água era tão azul que é possível contemplar o fundo. As pedrinhas no fundo faziam um colorido excepcional.

Michael me puxa pelo short, e me prende em seus braços novamente. Aquele olhar de que está morrendo de tesão me acende toda. Pelo visto nadar não passava nem perto dos seus planos.

—Vê esta natureza? —Ele olha para cima, com as mãos na minha lombar.

As árvores são altas, uma mata fechada como um ninho protegendo os filhotes de passarinho. Estão protegendo o nosso ninho de amor.

—Uma bela forma de nos entregarmos ao que Deus fez. Com esta beleza de testemunha do nosso amor.

Ele mal espera que eu responda qualquer coisa, sou tomada pela sua boca. Beijada com fugacidade. Mal consigo me equilibrar nas próprias pernas. Estranhamente sinto calor no meu corpo e sei que é mais causa daquela atmosfera excitante que emanava entre nós. Aperto as costas e Michael, deixando ser beijada com intensidade por ele. Tenho vontade de tocá-lo, senti-lo mais uma vez.

Ele retira a minha camisa molhada, levanto os braços para facilitar. Michael joga a minha camisa nas pedras, volta para mim e agarra os meus seios. Fazer amor com ele sempre fora uma forma de aproximação entre nós. É quanto somos íntimos, quando toda a sensação de pertencer a ele se torna real.

Eu mesma tiro o meu short, enquanto ele o seu. Sou penetrada em seguida, sendo completamente invadida por ele. O homem da minha vida está me possuindo, me amando naquele rio congelado que se tornara um frescor para mim. Nossos corpos se envolviam a cada beijo, a cada toque. Os movimentos são sutis, mas muito prazeroso. Estamos nos amando, com os nossos sexos e com os nossos beijos. Nunca pensei que sexo calmo pudesse ser tão maravilhoso como fora. Sinto os batimentos dele acelerando, posso sentir o amor que nos envolver renascendo cada vez mais. Não sou capaz de interromper, não há como. Eu ficaria assim para sempre.

Ele agarra o meu cabelo molhado, intensifica o beijo conforme o ritmo fosse aumentando. O prazer vinha como ondas altas no meu ventre, e qualquer momento sucumbia ao orgasmo. Aperto sua bunda em toques ousados e íntimos. Michael é meu o suficiente para tocá-lo como quisesse. Assim como ele na entrada do meu anus. Resfólego entre sua boca, estou sem ar, completamente em êxtase. É muito bom sentir seu pau arremeter contra mim. Adoro quando faz isso com rapidez, perseguindo o seu orgasmo, buscando a nossa libertação.

—Michael... —Suspiro sem ser capaz de dizer mais nada.

Ele continua arremetendo, soltando urros fortes ao pé do meu ouvido. Estou tão perto, que passo a beliscar as suas costas. Provavelmente ficaria as marcas vermelhas. Enlouqueço com o orgasmo me atingindo de surpresa. Gozo com fúria e só aumentava. Eu estava fraca em seus braços, me deixando levar pelas sensações.

—Eu amo você, Claire. —Ele diz ao pé do meu ouvindo, sendo consumido pelo orgasmo igual a mim.

Estou tão apaixonada que não cabe no meu peito. Meu amor pelo Michael cresce a cada dia mais. É como um bebê recém nascido atinge, com rapidez, o seus seis anos de idade. Mal posso esperar quando atingir a sua maioridade e se tornar maduro, onde nada e nem ninguém poderia destruí-lo. É uma emoção tão grande que dá vontade de chorar. Eu não sei explicar, só sentir.

—Eu também te amo, meu amor. —Abraço a sua cabeça sentindo-o me beijar no meu rosto, pescoço, e todo lugar que quisesse. Sou erguida no colo e abraçada com força. Michael consegue me fazer senti-se amada o tempo todo.

***

Enquanto Michael prepara os cobertores para nos aquecer, e a lareira na sala, corro para o quarto a procura da pílula, para tomar mais uma. Estamos esquecendo a camisinha com frequência, e para evitar qualquer tipo de constrangimento faço logo o que tenho que fazer. Não sei nem se estou tomando corretamente, não sei nada sobre isso.

Visto um moletom dele, depois de um banho quente, ele me cobre com um cobertor grosso e nos sentamos em frente a lareira. Ele me aquece sem pedir nada em troca. Sou embalada por seus braços de um jeito lindo e romântico. Esta viagem serviu para conhecê-lo melhor, saber que Michael não é apenas o cara durão que finge odiar todo mundo. Ele também pode ser agradável e romântico. O amo profundamente.

Nossa tarde fora cheia de descontrações. Michael possuía umas cartas dentro de um baú antigo, onde guardava bagunças. Ficamos o dia todo jogando poker. Por incrível que pareça ganhei várias vezes. Michael conseguiu vencer uma vez, mas tenho certeza que roubou, mesmo insistindo que não. Pude conhecer outro Michael, aquele que sorrir de verdade. Aquele que estava escondido em algum lugar dentro dele. Queria que minha mãe o conhecesse desta forma também, mas ele nunca permitiria. Queria que todos o visse da forma que vejo, às vezes dói, por saber que é julgado por quem não o conhece. Mas quer saber? Eu o conheço e somente isso que vale.

Fizemos trilha por aí. Michael fez questão de me mostrar a floresta. Fauna e flora dava um espetáculo de cores e formas. Tudo era vivo, uma vida esplendida e rara, que só pode ser admirada quando estar em lugares como este. O lugar que Michael havia me levado. Ele disse que a natureza é bem mais sincera do que o ser humano. O que nós chamamos de selvagem, na verdade é muito mais civilizado do que nossa raça. Concordo, somos seres capazes de pensar, no entanto somos os causadores de tamanha desgraça.

À noite decidimos assistir a um filme, Michael dorme poucos minutos de começar. Estava exausto. Pega no sono deitado embaixo de mim, enquanto estou com a cabeça em seu peito. Puxo o cobertor para nos cobrir melhor, protejo sua cabeça com os meus braços. Ele parece um anjinho quando dorme. Um bebê que necessita de cuidados. Acaricio os seus cabelos. Dou beijinhos em seu rosto, ele não acorda. Meus dedos esfregam com suavidade a sua barba. Não consigo parar de olhar para ele. Eu sei que há tantas coisas a serem esclarecidas sobre ele, muitas coisas que não sei explicar. Porém o que sinto vai além de tudo isso. É como uma força sobrenatural muito maior que eu.

Ele se mexe um pouco quando beijo os seus lábios, mas me abraça como se quisesse me manter colada ao seu corpo para sempre. Uma autodefesa. Sou como um escudo que o afasta de toda a obscuridade da sua vida. Durmo aninha em seu corpo.

Acordo assustada, toda desconfortável naquele sofá. Michael está olhando para mim, ainda é noite, madrugada provavelmente. Seu rosto esfrega no meu, quando percebe que acordei. Afago o seu rosto, sentindo seus lábios febris beijar o meu rosto. É bom, suave, tranquilizante.

—Acabamos dormindo no sofá. Minhas costas estão me matando. Vamos pra cama? —Peço morrendo de vontade de dormir.

—Tudo bem.

Levanto do seu corpo, Michael me segue. Pego o cobertor e levo para o quarto. Mal consigo chegar na cama, quando ele puxa o meu braço com força, me arremessando contra a parede e atacando a minha boca. Gemo por conta do susto, mas acho bom quando me dou conta do que ele quer.

—Deixa eu me enterrar em você, Claire? Eu quero comer você todinha. —Fico impressionada com a apetite sexual desse homem. Mas quem disse que eu também não adoro me aproveitar do seu corpo?

Nem espera que eu diga nada, arranca as minhas roupas com uma rapidez de se chocar. É assim com as dele também.

Sou pega por trás, sinto o pau de Michael ir fundo de mim com uma velocidade impressionante. Eu mal consigo equilibrar nas pontas dos pés direito. O móvel do canto do quarto me ajuda a ter instabilidade. As arremetidas dele são precisas. Meu corpo está inteiro suado, meus cabelos estão pingando água. Não conseguimos resistir um ao outro. Começamos a transar por ali mesmo, sem reservas.

Seu dedo se instalou entre as minhas pernas. Meu clitóris eram esfregados sucessivamente. Eu não aguento mais de tanto tesão. Já ouvi dizer que sexo anal é horrível, e muito incômodo. Não conheceram Michael e sua forma intensa, mas ao mesmo tempo suave de transar. Que bom que não conheceram, pois ele é somente meu e de mais ninguém.

Minhas costas foram mordiscadas, ele rebola dentro de mim bem devagar, depois aumentava o ritmo freneticamente. Minhas pernas estavam bambas. Chamo o seu nome, gemo, rujo, aquilo está me enlouquecendo. Espalmo as mãos na parede sendo arremetida de novo. Sucumbo a um orgasmo junto com Michael. Ele goza sem parar dentro da minha bunda. O sorriso não sai dos meus lábios, a sensação é maravilhosa. Estamos exaustos, mal sinto as minhas pernas. Minhas nádegas estão vermelhas e doloridas. Porém adorei a experiência.

Ouço a porta bater lá fora e uma voz masculina chamar por Michael. Fico toda tensa de olhos arregalados, como uma pergunta estampada na minha cara. Michael muda seu semblante tão rápido que nem sei como explicar.

—Ah qual é, Michael, abra logo a porta. Estou congelando. —O cara começa a sorrir. Parece que está bêbado.

—Droga! —Ele esbraveja irritado. —Vista-se, eu já volto.

Michael recolhe sua calça jogada pelo chão e veste com tanta rapidez que falta cair no chão quando erra o lugar certo de enfiar a perna.

Visto uma camisa, e minha calcinha por baixo. Eu é que não ficaria no quarto esperando ele chegar. Eu queria muito saber quem era. Vou até o umbral da porta do quarto. Michael abre a porta da entrada, e uma figura distinta aparace. É um cara por volta dos seus quarenta e cinco anos. Cabelos grandes até pescoço. Usava roupas sujas e bem surradas. Seu corpo era magro e bem alto. Usa óculos de sol no rosto em plena madrugada.

—Olha só quem está aí? Eu sabia que encontraria você aqui, Michael Jackson. Quanto tempo não acha?

Michael está soltando fogo pelas ventas. Está tão irritado que posso jurar que vai expulsar o homem a ponta pés. Sinto um arrepio no corpo só de olhar. Será que esse é o cara de galochas que Michael deu a entender que sabe quem é? Minhas pernas tremem tanto que quase não consigo ficar em pé, e desta vez não é por causa da transa de poucos minutos, é por puro medo. 









Capítulo 16
O homem de galochas 


—Dê o fora! Não era para você estar aqui.

Michael é ríspido com o homem, é como se ele quisesse se ver livre do cara o mais rápido possível.

—Como é que é? Ah, qual é, Michael! Estou perambulando pela cidade há dias. Estou sem comer e nem beber. Quer mesmo que o seu melhor amigo morra por aí?

—Isso não me interessa, Max! Sabe muito bem que não quero ver suas fuças nunca mais. —Me aproximo um pouco mais dos dois.

Dá para perceber que se conhecem algum tempo e que tiveram algum tipo de briga. Michael está irritado, não quer vê-lo nem pintado de ouro.

—E por qual motivo isso? Pelo que me lembro bem, sempre me hospedo na cabana quando estou de viagem. Você nunca está aqui, a proposito. Eu tenho que cuidar de tudo.

—Hoje não! —Michael range os dentes parecendo um cão bravo. Olha para os lados como se referisse a minha pessoa.

Agora os motivos pelo qual,  não deixa aquele cara entrar, pelo que percebo, sou eu. Michael não quer que o tal Max esquisitão entre na cabana porque estou aqui. Ele é bem incisivo quando diz "hoje não" com uma fúria impressionante.

—Hoje não, hoje não. O que é? Vai me deixar por aí agora? Desde quando permite que seu melhor amigo passe fome?

Melhor amigo. Michael tem um melhor amigo? Desde quando? Estou tão aturdida que acabo me deixando aparecer. Saio do canto da porta e aparece no meio dela. Os olhos do homem vão direto até mim, como se minha presença o atraiu na mesma hora.

—Ah, então é isso! —Ele gargalha parecendo um bêbado. Seu sotaque é bem enjoativo, é como os drogados e traficantes se portavam. —Está com uma gatinha e não quer que eu a conheça. —Michael olha para trás rapidamente. Me lança um olhar intimidador, me culpando por eu ter aparecido somente vestida com a camisa dele e a calcinha por baixo.

Me aproximo dos dois toda sem jeito, com as mãos cruzadas para frente e passos cautelosos.

—Uau! Quem essa gracinha, Michael? Não me disse nada sobre ela. Que belo amigo você é.

—Não é da sua conta, Max. —Michael esfrega a mão na cabeça, olha para cima algumas vezes, como se fosse a pior coisa que já lhe aconteceu.

—Me chamo Claire, muito prazer. —Abro um sorriso simpático. Bem diferente do meu namorado, eu ainda sou educada.

Não acho que o cara seja o assassino de galochas. Michael não seria amigo de alguém assim. Estendo a mão para Max e ele beija o dorso em um olhar sacana. Sinto repulsa, ele está fedendo a bebida. Suas roupas surradas estão  muito sujas.

—Fica longe dela! —Michael o empurra para longe de mim a tempo.

O homem começa a rir, todo lunático. Ele está surpreso pela reação de Michael, é como se ele ainda não conhecesse esta atitude.

—Pra deixar o Jackson assim, você deve ser muito importante. Ele não costuma a agir de "não me toques" com pessoas normais. —Oh se eu sei! Michael revira os olhos, como se estivesse cansado de ouvir aquele mesmo discurso sempre.

—Não tem espaço pra você aqui. Se hospeda em qualquer hotel no povoado. Soube que tem comida de graça. —Meu namorado pega o homem pelo braço, mas Max desvia a tempo, achando uma ofensa.

—Ei, ei, ei pera aí! Você arruma uma mina e chuta seus amigos? Que espécie de cara você é? Não estou reconhecendo, Michael. Tantas coisas que passamos juntos, tanta encrenca que eu te livrei. —Balança a cabeça incrédulo. —É inacreditável.

Estou curiosa. Eu nunca conheci alguém tão próximo assim dele quanto Max parecia ser. Ele sabe de coisas, conhece muito bem a vida conturbada dele. Ou até mesmo aqueles assuntos, sobre o assassino de Forest Grove, ao qual estou ávida por respostas já tem vários dias.

—Você pode ficar! —Elevo a minha voz, acabando com aquela discussão chata. Michael me encara depressa. Seus olhos estão arregalados para mim, como se eu fiz algo absurdo de se acreditar. —Temos comida, você pode tomar um banho.

Max sorri com gratidão. Acha a minha atitude digna, só por eu ter passado pelas ordens do meu namorado para aprovar a sua permanência.

—Já gostei dessa gata. É uma mulher de fibra. —Se vira para o Michael que está furioso. —Viu só? Ainda existem pessoas de bom coração. —Joga sua mochila suja em cima do sofá, como se estivesse em casa. —Eu me ajeito na sala mesmo, não se preocupem comigo. —O cara é folgado, bem esperto e não liga para o Michael. Não me agrado dele, porém ele tem o que eu quero: Informações sobre o Michael.

Ouço o suspiro fundo de Michael, um gemido de desagrado. 

—Está bem. Mas amanhã já sabe, quero acordar e não ver nem o seu cheiro fedorento.

—Nem precisa pedir duas vezes. —Dá um tapa no ar como se as reclamações do Michael não fossem nada. —Nem vão se lembrar que estive aqui. —E parabéns, bro. Essa gata é perfeita pra você. —Michael me olha sério, e depois para ele. Dá uma risada sem humor e me puxa para dentro do quarto.

Ele tranca a porta como se estivéssemos em perigo. Essa atitude dele é bem estranha, e me deixa mal por eu ter me metido em seus assuntos.

—Você não disse que tinha um amigo. —O contesto assim que faz menção de deitar na cama.

—Max é só um encosto na minha vida. E você não deveria ter se metido nisso. Eu trouxe você aqui para ficarmos a sós, Claire. Não era para ter mais ninguém.

—Foi por isso que o tratou daquele jeito? Por que essa obsessão em ficar comigo, só comigo? Caramba, Michael, o cara está com fome, e sujo. Precisa de um banho. Você não se importa mesmo, não é? —Ele me olha com uma cara feia de repreensão.

—Agora eu sou a pior pessoa do mundo só porque quero tranquilidade? Você não conhece o Max, não sabe o quão repugnante ele é. Durante aqueles minutos que estivemos conversando, ele olhou pra suas pernas de fora umas dez vezes. Aliás, quem mandou aparecer só de camisa na sala? Ficou maluca? —Toca o dedo na têmpora apertando com força, deixando bem claro o quão maluca sou.

Estou chocada. Michael é um idiota de marca maior. Um completo babaca.

—Agora a culpa é minha? Não acha que está exagerando?

—Tudo pra você se trata de um exagero meu, mas saiba de uma coisa, Claire, eu sempre estou certo. —Ele senta na cama e passa a mão na cabeça. Está tão perturbado que a sensação que dá é que vai explodir a qualquer momento. É como se entrasse em surto.

—Não era pra gente está brigando, sabia? —Sento ao seu lado e segura na sua mão gelada e masculina. Entrelaço os meus dedos nos seus, como forma de dizer que estou do seu lado. A textura da sua mão é reconfortante. —A sensação que dá é que damos um passo a frente e uns dez pra trás. Não é assim que deveria ser.

Ele me olha de testa franzida, não consigo derreter aquela pedra de gelo que ele se transforma em segundos. Os lábios dele estão tremendo de raiva. Suspiro me sentindo derrotada. Lidar com Michael é como andar em círculos, sempre parando no mesmo lugar.

—Eu quero que você fica longe do Max. E por favor, vista uma roupa descente amanhã. Não quero ter que ficar vigiando você o tempo todo. —Agora sou eu quem estou morrendo de raiva dele. O jeito que fala sobre as minhas roupas descente me coloca como uma qualquer, que necessito chamar atenção com as minhas roupas "indecentes" não reconheço a pessoa que ele descreve, e me irrito com razão.

—Como se eu fosse uma puta, não é? Você estava me comendo, Michael. Eu vesti a roupa que encontrei por aí. —Me levanto da cama toda chateada. —Não precisa me vigiar, eu sei cuidar de mim.

Vou para cama, engatinho em cima dela até acabar no meu lado. Pego o cobertor e me cubro até a cabeça, virado para o outro lado.

Tudo que ouço é um suspiro de chateação. Sinto a mão dele tocar a minha bunda, fazendo uma massagem apaziguadora. Ele quer uma trégua, mas meu peito está apertado e não consigo reconsiderar.

—É, eu fiz de novo. Acabei ofendendo você mais uma vez. Eu sempre faço isso, mesmo não querendo. Eu me preocupo com você, Claire, e toda essa tensão faz com que eu enlouqueça. Eu não sou o cara mais perfeito do mundo, mas eu amo você. Não suporto ver ninguém ameaçando essa bolha que formamos envolta de nós. —Descubro a cabeça e me sento na cama, no meu lugar, e olho para ele.

—Seu ciúmes exagerado me espanta às vezes. Acha mesmo que eu trocaria você por aquele cara? Qual é Michael, sejamos coerentes. —Faço ele rir pela primeira vez naquele momento. Ele balança a cabeça concordando .

—Sou mais bonito que ele, né? —Faz piada, luto para não rir, mas acabo fazendo. —Não é você, é ele. Eu conheço o Max, eu sei o quão safado é. Viu os apelidinhos? Ele não vai parar e isso que me deixa furioso.

Vou pra próximo dele, abraço o meu namorado por trás, envolvendo minhas pernas em seu corpo, prendendo os meus pés na frente da sua barriga.

—Ele vai embora logo de manhã. O que poderá acontecer? Fique calmo, meu amor. —Ele esfrega a minha perna. Não resisto a vontade de beijar sua nuca, sentir o seu cheirinho tão acostumado pelos meus sentidos.

—Está certo. Você tem razão como sempre. —Me afasto do seu corpo, afim de ir me deitar. Já está tarde e o sono começa a me pegar.

Michael deita ao meu lado e eu o abraço, bem aconchegada em seu corpo.

—Há quanto tempo conhece o Max? Tem muito tempo? —Sinto sua mão acarinhando a minha em cima do seu peito nu, bem em cima do coração.

—Tem sim. Fomos criados praticamente juntos no orfanato. Nos metemos em muitas furadas, compartilhamos as poucas alegrias e nos ferramos juntos também. —Fico imaginando o Michael Jackson como uma criança normal. Aprontando, se divertindo e se encrencando. É divertido imaginar.

—E agora? Como está a relação de vocês? Não sei se estava com raiva dele por causa de mim ou se de fato aconteceu alguma coisa. —Ele está olhando para o teto, como se relembrasse, dou alguns beijinhos no seu peito esperando que respondesse.

—Eu não vejo o Max há muito tempo. A última vez que o vi tivemos uma briga feia. E agora ele aparece como se nada tivesse acontecido. Com certeza precisa de grana.

A relação dos dois ainda está confusa para mim, preciso esclarecer algumas coisas, mas não quero ficar sendo intrometida o tempo todo. Entretanto, uma última pergunta eu faria.

—Ele é o assassino de galochas?

—O qu..? —Michael começa a rir com vontade. —Não. Ele não é nenhum assassino. Ele está mais para um bêbado drogado que vive atrás de um rabo de saia, do que qualquer outra coisa. Matar alguém, não. Isso não. —Sua última afirmação vem em um tom profundo, é como se houvesse outras coisas que Max faria, do que matar. Me alivio mesmo assim, por ele não ser o cara de galochas. Me aninho mais em seu peito por estar satisfeita.

—Tem uma coisa que eu queria dizer depois que terminamos a nossa transa, mas fomos interrompidos. —Levanto a cabeça para olhar em seus olhos diante da importância da conversa. Seus olhos negros estão em cima de mim. —Eu sei que é cedo. Mas eu acho que é a melhor forma de mantê-la ao meu lado, e Claire, eu faria qualquer coisa pra isso acontecer.

Sinto meu peito contrair, pela forma que fala. Estou um pouco ansiosa e muito, muito nervosa.

—Pensei sobre isso o dia inteiro, e sei o quanto pertencemos um ao outro. Eu sinto o quanto nos queremos, e não posso ficar um minuto se quer longe de você. sabe disso, eu já disse muitas vezes. Você me pediu uma prova, acho que já tenho esta prova.

Ele solta a minha mão, estica a dele até o criado mudo ao lado da cama. Abre a gaveta e pega algo de dentro. Ele segura o objeto entre as pontas dos dedos, mostrando para mim. É um anel de prata, com um diamante bem no centro. As lágrimas escorrem dos meus olhos me pegando de surpresa. Mas não tão quanto aquele provável pedido de casamento. Estou afoita, nem sei o que dizer direito. Minha boca seca.

—Casa comigo? —O Ar que estava preso nos meus pulmões é liberado de uma vez. Parece até que estou sonhando, ou algo parecido com isso, menos a realidade. Não parece ser real.

—Michael eu... —Limpo a minha garganta, pois minha voz sai rouca e falha. —Você tem certeza disso? É mesmo o que quer?

—Nunca tive certeza de nada em minha vida. Porém me casar com você parece ser a coisa mais certa que já fiz em toda ela. Quando a bíblia fala que Adão e Eva se tornou um só, eu vejo que não é mentira. Sinto que nós dois somos uma única pessoa e eu não seria doido de perder tal oportunidade.

Levanto a minha mão, oferecendo o meu dedo para que ele colocasse o anel no anelar. É o que faz, todo feliz, como se eu tivesse o feito bem naquele momento.

—Neste caso, Michael Jackson. Eu aceito me casar com você. —Entrelaço os meus dedos nos seus e aperto a sua mão. —Pode ser que estou cometendo um grande erro da minha vida, mas quem disse que precisamos estar certo de alguma coisa? —Ele gargalha.

—Nossa, ótimo! Valeu, por essa! —Acompanho o seu riso, me sentindo satisfeita.

—Eu te amo. —Admito apertando a pele da sua bochecha com os lábios.

—E você ainda tem dúvida que eu te amo? —Balanço a cabeça em meio aos risos.

—Não, de jeito nenhum. —Beijo Michael na boca, sentindo aquele amor nos envolver. Sentindo aquele momento de felicidade se concretizando.

Era finalmente a confirmação da nossa trégua, ou talvez, o começo de tudo.

***

Michael está se mexendo muito ao meu lado, chega a ser insistente. Meu sono é leve, qualquer coisinha, estou eu acordada, me dando conta do que está acontecendo ao meu redor. Ele se contorce, parecendo que está sentindo uma dor horrível. Geme um pouco também. Me levanto, ficando sentada só para olhar para ter certeza o que há, mas sei que Michael está no meio de um pesadelo. Sua expressão contorcida não nega.

Está suando, se contorcendo, falando palavras que não entendo nenhuma vírgula. Não preciso saber do que se trata para saber que está sofrendo naquele pesadelo.

—Michael. —O chamo balançando o seu corpo. —Acorde.

Ele continua se contorcer, gemer de dor, de agonia. É perturbador vê-lo naquela situação.

—Michael! —Grito para tentar acordá-lo de vez, mas não acontece.

Sua cabeça começa a mexer de um lado para o outro freneticamente. Estou apavorada. Meu coração se aperta com cena.

—Michael! —Brado mais alto. Ele se levanta de uma vez, como se tivesse sido arrancado daquele tormento.

—O quê? —Está ofegante, suado e a boca está seca.

Me jogo em seus braços, estou louca para acalma-lo. Seu coração está acelerado, o suor é frio. Sinto vontade de chorar. Ver Michael daquele jeito é como se fosse comigo. Eu não quero que ele sofra mais, não é justo. Ele precisa estar bem, e quero que ele fique bem ao meu lado.

—Só foi um pesadelo, eu estou aqui. —Começo a beijar a sua testa repetida vezes. Ele me abraça, e o aperto, com intuito de conter toda a tribulação dentro dele.

—Minha nossa! Foi horrível. —Ele me puxa para o seu colo. Me sento ali, de frente para ele, sem me largar do seu abraço. —Graças a Deus você está aqui comigo, Claire. Graças a Deus que eu tenho você. —Ele me aperta tão forte, que sensação que dá é que nunca vai me deixar ir. É como uma tábua de salvação. Seu pilar, chão, para percorrer o seu caminho de volta à luz.

—Fica calmo, já passou. —Beijo os seus lábios inúmeras vezes. Ele acaricia as minhas costas, depois aperta. Ainda está ofegante, seu coração ainda acelera. —Vou pegar um copo d'água pra você. —Faço menção de ir, mas ele me agarra, não deixa que eu vá.

—Não. Esquece a água. Fica aqui? Por favor, fica assim. —Prendo as minhas pernas envolta da sua cintura, e afundo minha cabeça na curvatura do seu pescoço. Estou agoniada com o jeito que respira, parece que não vai se acalmar nunca.

—Você precisa beber água, Michael. Eu só vou na cozinha e já volto. Não vou demorar nada. Precisa se acalmar.

—E você acha que vou me acalma com água? É você que eu preciso. —Me solto do seu corpo. Não vou escutá-lo.

—Já volto. —Desço do seu colo e depois da cama.

Dispenso os chinelos, caminhando para a cozinha descalça. Michael suspira chateado quando eu destranco a porta, mas não me importo. Ao sair fecho a porta de novo.

A cozinha está uma bagunça, há pratos sujos e comidas por todo o lado da pia. Caminho mais um pouco e vejo Max deitado no chão em um amontoado de cobertores. Ele havia feito uma sujeira, que tenho certeza que Michael iria surtar, já que liga tanto para limpeza. Ando bem devagar para não acordar o homem, mas é tarde demais.

—Olha só quem está aqui! —Travo toda, não consigo mais andar. —Aconteceu alguma coisa? Ouvi gritos. —Volto a mim, me destravo e finalmente chego até a pia.

—O Michael teve um pesadelo, só isso. Vou levar um copo de água.

—Pesadelo? —Bufa um riso sem humor. —Isso não é novidade, Michael sempre tem pesadelos. Um mais horrível que o outro. Vai se acostumar. —Franzo o cenho. Eu nunca vi Michael ter pesadelos. —Uma vez ele ficou tão louco que começou a quebrar as coisas. —A curiosidade me pega em cheio. Preciso saber mais.

—E... você sabe com o que ele sonha? —Ele nega com a cabeça, arrumando sua forma de deitar no amontoado.

Encho o copo com água e seguro no meu peito, como se quisesse protege-lo.

—Canta uma música pra ele que logo se acalma. Ele fazia isso direito, depois virava para o outro lado e dormia como anjo.

Música, pesadelos frequentes? O que mais eu não sei sobre o Michael? Parece que a lista de coisas sobre o Michael que não conheço só sabe crescer.

—Tudo bem, eu vou cantar. —Estou atormentada com tudo aquilo. Nem sinto mais o meu corpo, estou anestesiada. Porém tudo que quero agora é proteger Michael.

Volto para o quarto e tranco a porta. Michael está mais calmo, sentado com as costas na cabeceira da cama. Estendo o copo para ele. Somente bebe dois goles e coloca o copo de lado, me puxando para o seu colo. Me sento entre suas pernas, de costa para ele. Michael me abraça, se aconchegando em mim. Deito minha cabeça de lado no seu ombro, para olhá-lo no olho.

Vejo que seus batimentos estão calmos. E não está tão ofegante mais.

—Max disse pra eu cantar uma música. Que te acalma. —Ele me encara sem esboçar nenhuma expressão.

—Mande Max se foder. —Ele fala tão engraçado que começo a rir.

—Ele é seu amigo, deve saber muita coisa sobre você. Coisas que nem mesmo eu sei. —Ele suspira fadigado. Odeio ter que ficar jogando indiretas para que meu namorado me contasse algo de sua vida. Odeio ter que ser assim.

—Você sabe o que importa, Claire. Sabe que eu te amo. Sabe que minha vida não seria a mesma se não estivesse ao meu lado. Sabe que quero me casar com você. E também sabe que é a única que leva embora tudo que me destrói. Coisas do meu passado não importa. Tenta focar no nosso futuro, o quanto pode ser bom e melhor daqui pra frente. Eu não paro de pensar nisso nem um só segundo. Você também deveria. —Ele tem razão. Ele é mais importante do que tudo isso.

Ajeito a cabeça em seu ombro e olho para o teto refletindo. Michael leva sua mão para o meu seio, acaricia-os de jeito um tanto suave. Me entrego ao seu toque. Viro a minha cabeça para o lado só para olhá-lo. Aqueles olhos verdes que tanto amo já estão me encarando, observando as minhas reações. Beijo a sua boca. Eu o amo tanto que chega doer. Eu o amo e ao mesmo tempo que me faz feliz me entristece. É uma sensação ruim e boa ao mesmo tempo. Eu nunca tinha experimentado um sentimento desse jeito. É tudo tão forte e tão intenso que às vezes penso que vou sufocar.

—Michael... você quer fazer amor, é isso? —Ele enfia a mão dentro da camisa, e acaricia os meus seios. Fecho os meus olhos aproveitando aquele toque gostoso.

—Não fico bem até ter certeza que estamos próximos o suficiente, Claire. Quero o seu amor. —Sua língua invade a minha boca. Aproveito aquele beijo com a maior satisfação do mundo. —Quero sentir você e saber que está tudo bem entre a gente.

Troco de posição, ficando de frente para ele agora. Seguro sua cabeça, e beijo os seus lábios.

—Tudo está bem entre a gente. Vamos até nos casar. —Ele levanta a minha camisa e abaixa a minha calcinha quando me levanto minimamente. Com uma mão ele coloca o pênis para fora da calça, me sento em cima dele. —Ah! —Suspiro quando entra fundo dentro de mim.

—Quero muito o seu corpo, Claire. —Ele começa a se mover dentro de mim, remexendo os quadris na minha direção. —Sinto que não posso ficar muito tempo longe dele. —Enfio os meus braços embaixo dos seus. Segura com as pontas dos dedos no seu ombro. Mexo os meus quadris com o intuito de fazê-lo entrar e sair. —Ele é todo meu.

Beijo a sua boca, espalmo minhas mãos em suas costas e aberto bem devagar. Michael resfólega no meu ouvido. Sugo o seu pescoço, lambo, sugo. Faço uma bagunça nos seus cabelos, quando migro minhas mãos para lá. Ele segura na minha bunda, me aperta, arremete contra mim. Estou fora de mim. Entorpecida pela forma em que nos beijamos. Michael é incisivo em suas investidas, sua boca me domina, não consigo me largar, estou grudada em seu corpo. O tesão amenta conforme ele também aumenta as estocadas. O prazer é intenso, contorço os meus pés. O suor escorre pelo meu corpo. Michael chupa o meu mamilo, mordisca o bico várias vezes. Cravo as minhas unhas quando o orgasmo ameaça a vir. Me sinto alargada, consumida de tesão. Mordo os ombros dele. Seu pênis é tão grande e grosso, mais do que posso suportar. Ele é indiscutivelmente viril, e me enlouquece.

Agarro suas bolas, fazendo uma massagem excitante. Observo as reações de Michael e elas são positivas, bem do jeito que eu queria. Ele está gemendo, revirando os olhos. Subo e desço em ondulações. Continuo massageando as suas bolas. Michael me puxa, aperta a minha bunda, mete com força. Ele não está afim de lentidões. Sou arrancada desse mundo, ao sentir seu orgasmo me invadir. Os gemidos de Michael é feroz, seus músculos travam, e ele não para de gozar.

—Oh, Claire. —Subo e desço freneticamente agora, não consigo parar, preciso me saciar. Gozo toda para o homem que eu amo, contraindo os meus músculos. Inclinando o meu corpo para trás, toda desfalecida. Ele me puxa de volta, me aninho em seu corpo quente e suado.

***

Acordo com o corpo de Michael por cima do meu, ele está em um sono profundo. Ele me abraça com força, é como se não quisesse me soltar. Lembro que Max está na cabana. Não deveria, já que Michael o mandou ir embora antes que acordasse. Torço para que ainda esteja, preciso conversar com ele. Esta busca incessante por resposta me atormenta.

Tira o braço de Michael de cima de mim com cuidado, ele nem reage. Me remexo até poder sair debaixo dele. Desta vez reage, virando para o outro lado, mas não acorda. Dou graças a Deus.

Levanto da cama, olhando para ele por alguns segundos. Aquele homem parecido com um anjo dormindo todo nu naquela cama, nem dá pra desconfiar que sua vida é cheia de problemas. Calço os chinelos e vou para o banheiro. Tomo um banho rápido depois de fazer a higiene matinal. Michael ainda dorme quando volto para o quarto. Visto uma calça jeans apertada e uma camiseta de crochê, com uma blusa de alça por baixo. Penteio os meus cabelos e vou para a sala.

Encontro Max lavando as louças e arrumando tudo na cozinha. Fico olhando aquele homem de touca cinza e casaco sujo por alguns instantes. Fico tentando imaginar como um cara como ele pode ser amigo do Michael, um cara tão polido e intelectual. E não é só por causa da sua isenção de preconceito, Michael é seletivo, e aquele homem não demonstra em nada que faz parte do seu circulo de amizades.

—Olha só quem está aí. —Ele me nota, me tirando dos devaneios. Abro um sorriso tímido pra ele. Estou ainda sem jeito, um pouco desconfiada. —Vem aqui, gata, chega mais. —Caminho em sua direção, me aproximo o suficiente.

—Bom dia.

—Bom dia. Ótimo dia aliás. —Ele me encara de um jeito impertinente. Fico toda incomodada. —O Sr. Chato, não acordou? —Balancei a cabeça negando.

—Michael precisa descansar. Ele está passando por momentos difíceis.

—Não vejo que está tão mal assim. —E de novo aquela olhada que me incomoda. Dessa vez ele não disfarça, encara os meus seios por alguns instantes. Coloco as minhas mãos na frente, no intuito de fazê-lo parar. Ele solta uma gargalhada.

—Michael é assim desde criança. Sempre teve problemas. Já estou acostumado. —Ele enxágua o prato ensaboado.

—De onde conhece o Michael?

—Do orfanato, eu era colega de quarto dele. —Franzo o cenho. Max não parece ter a idade de Michael, ele parece bem mais velho para ser colega de quarto.

—Tá vendo a minha cara aqui? —Ele aponta com o dedo sujo de espuma. —São drogas, elas envelhece mais cedo, não se meta com elas. É linda demais para se acabar. —Aperto os lábios confirmando.

—Você deve saber muitas coisas sobre ele, não sabe? —Não escondo a minha curiosidade, nem por um só segundo.

— O bastante. Fomos como irmãos e agora me trata desse jeito, como se eu fosse um intruso. Isso devo a você. Michael está morrendo de ciúmes, ele não consegue negar. —Solto uma risada sem humor.

—Pelo visto ele tem ciúmes de todo mundo.

—Ah, isso ele tem sim. Michael é possessivo além da conta. Deve ser por causa do lance com os pais. Ele não superou até hoje. Às veze ele surtava no quarto, chamava por eles, em sonhos, como aqueles que você mencionou ontem à noite. Começava a ficar violento. Mas aí... começava a cantar umas músicas e tudo ficava bem de novo. O garoto é estranho, mas já me acostumei. —Há um nó na minha cabeça. Estou sem reação e invadida por um choque desnecessário. Eu não sei nada de Michael, não o que importa, que é sua vida, seus problemas. Eu tinha o direito de saber.

—Ele não contou nada pra você? Nunca presenciou esses lances? —Nego. Ele balança a cabeça e sorrir. —Você deve ser mesmo especial. Michael deve se sentir seguro ao seu lado. O que você tem, hein gata? Estou curioso. —De novo aquele olhar, fico irritada, mas preciso continuar perguntando.

Me preparo para fazer a última pergunta, quando ouço a porta se abrir, e Michael aparece pela sala de calça de moletom.

—Ainda está aqui? Eu não mandei você ir embora? —Michael caminha na direção de Max furiosamente. —O que está fazendo aqui, Claire? Vá já pra dentro.

Puta merda! Por que Michael insiste em me tratar como se eu fosse uma criança, obedecendo suas ordens.

—Calma, cara. A gatinha só estava curiosa. —Praguejo Max por ter me entregado. —Muito feio da sua parte não contar suas esquisitices pra ela.

—Não interessa, cai fora.

—Deixa pelo menos terminar aqui? —Michael olha feio para ele, bem intimidador. —Tá bom, tá bom. Já vou indo. —Ele deixa tudo por lá, pega suas poucas coisas no chão e caminha para fora da cabana.

—Fica de olho nesse cara, você e linda demais pra suportar isso. —Ele dá o recado e cai fora.

Queria saber quando as pessoas iriam parar de aparecer do nada e me avisar sobre o Michael. Dentro de mim está uma bagunça, tudo que quero é chorar.

—Eu disse pra você ficar longe dele, qual é o seu problema?

—Qual é o seu! —berro já farta desse assunto. —Que merda, Michael! Você não me conta nada, eu não sei nada da sua vida. Quem estiver disposto a me contar eu vou ouvir. —Ele me toca, mas eu o repilo rispidamente.

—Quer saber o que eu sou? Que tal saber o que não sou? Estou tentar te proteger, droga! Você conhece o Max? Sabe alguma coisa desse desgraçado? Ele é um estuprador nojento, Claire. Ele come as mulheres sem o seu consentimento, sabia disso? Tem alguma ideia do que ele faz com as pessoas?

Arregalo os olhos, minha cabeça gira com a informação repentina e cruel. Começo a chorar descontroladamente, por conta do despejo de lixo podre que ele joga no meu colo. Estou trêmula, a imagem do homem olhando para mim daquele jeito me arrepia toda. Michael se dar conta do meu desespero e me abraça, me acalenta em seus braços. Agarro o seu pescoço, permitindo com que me abraçasse. Estou com tanto medo que não posso me separar dele.

—Não vou deixar que nada aconteça com você, meu amor. —Ele beija a minha cabeça.

—Por que você não me disse antes? Por que, Michael?

—Eu não queria assustar você. Por isso tranquei a porta.

—Você é amigo dele. Como pode ser amigo de uma pessoa assim? —Me afasto do seu abraço. Os meus protestos o incomoda.

—Eu não sou. —Ele passa a mão na cabeça, sem saber o que dizer. —É tudo bem mais complicado que isso, Claire. —Aí é que está! Tudo é complicado com o Michael.

Olho para lareira, está muito frio e o fogo havia apagado. Decido acabar com aquela conversa de uma vez.

—Eu vou pegar mais lenha. Vai vestir uma roupa senão vai congelar. —Ele assente.

Busco um casaco mais grosso para vestir. O tempo estava nublado lá fora, posso ver assim que saio da cabana. A neblina embaça as minhas vistas naquelas montanhas. Mas ainda assim dava para contemplar o pico delas apontando como se fosse uma agulha entrando dentro de um tecido fofo. Caminho para detrás da cabana, onde há lenhas já cortadas. As toras estão um pouco úmidas, não sei se servirá para a lareira. Procuro as toras mais escondidas, estas sim estavam secas.

—Ora, ora! O coelhinho está desprotegido. —O susto me pega de surpresa. Minhas pernas amolecem de medo e eu tenho a plena certeza que a Fazenda Wood não é tão assustadora agora.

Olho para trás, a expressão risonha debochada de Max me causa náusea.

—Michael está vindo. Daqui a pouco ele aparece. —É uma forma que uso para intimidá-lo, mas não funciona.

—Michael não pode protegê-la, Claire. Não há como fazer isso. —Dou dois passos para frente tentando ir embora, mas ele me captura segurando pela minha cintura, me erguendo. Fecho os olhos com força. Estou com medo assustada.

—Me solta! —As toras que eu segurava caem no chão. Max é bem forte, por mais que eu debato, o empurro com as mãos,  não sou capaz de me soltar.

—Tudo que Michael possui é meu, gatinha. Sempre foi assim, desde meias fedorentas até, vaginas de mulheres promiscuas e sujas. Não seria nada mal pegar uma toda cheirosinha e inocente.

—Não, por favor! —Começo a chorar. —Michael!! —Grito o meu namorado, mas minha voz parece que não é o suficiente. É como quando estamos em um pesadelo, onde tentamos fugir de algo ou alguém, mas quanto mais gritamos ou corremos, parece que não é o bastante.

—Não faça isso comigo. —Suplico.

—Cala a boca, vadia! —Ele me joga no chão, minhas costas batem com tudo. Tento me afasta, mas ele puxa as minhas pernas. —Não tenha medo. Vai ser tão bom quanto é com o Michael.

—Nunca! —Chuto sua cara, mas só serve para que ele me dê um soco na minha boca.

—Vadia desgraçada! —Acabo incitando-o a continuar com aquilo. Ele desabotoa os botões da minha calça. Se posiciona entre as minhas pernas, colocando a pênis sujo para fora.

Estou desesperada, não tenho força para me livrar, ele é forte demais. Monstro demais. Tento me debater, o manter o máximo longe possível, mas não funciona.

—Michael, me ajuda. —Suplico entre o choro, me debatendo. Mas sai tão baixo que nem mesmo eu escuto.

—Desgraçado! —Max sai de cima de mim. Me sinto livre e não pressa como antes. Um alívio momentâneo me pega de surpresa, é calmo reconfortante. Abro os meus olhos e me dou conta, do porque Max não está mais me apertando.  Um puxão que Michael dá, que faz o homem voar longe.

Me afasto dos dois, me arrastando de costas até bater em uma árvore.

—Filho da puta! —Michael desfere um soco na cara dele. O homem está com sangue no rosto.

—Ah qual é, Jackson! Por que não divide ela comigo? Parece ser tão gostosinha. —É o suficiente para que recebesse um soco no estômago. Ele se contorce de dor. Michael aperta as mãos dele para trás e o arremessa em uma grade de proteção. Bate o corpo dele algumas vezes no arame.

—Você fez uma coisa suja, Max. Mexeu com o que não devia. Não tem noção no que se meteu e as consequências do que acabou de colher na sua vida. —Michael arremessa de novo sua cabeça contra a grade. O homem não tem como se mover. Estou aliviada, Michael estava dando um jeito e por mais que esteja morrendo por causa daquela tensão estou muito agradecida. —Você acaba de assinar sua sentença de morte. Foi como um adeus nessa sua vida de merda que você vive! Você sabe quem eu sou, conhece o que sou capaz, não é mesmo? Por que fez isso, Max, me diga!

O olhar do Michael está sinistro. Sua cabeça treme de pura ira. Tudo está ficando mais sério do que eu imaginei.

—Por favor, Michael me solta. Me desculpa, eu vou embora você nunca mais vai me ver. —Max chora pateticamente, mas Michael não está convencido, ele não deixaria aquele homem ir embora.

Michael o joga no chão, está em cima dele. Ele está determinado, percebo que as coisas não vão acabar bem.

—Não é assim tão fácil. Você aparece na minha cabana, come da minha comida, dorme no meu chão e ainda acha que pode pegar a minha mulher? Você cometeu um erro grave. Se meteu com o que não deveria. Havia regras e você as infligiu. —Sinto o meu corpo chacoalhar por conta do baque da sua última frase. Parece que tudo em mim se desliga, e eu me foco naquela palavra atormentante que ouvi por várias vezes.

—Você precisa pagar. Você VAI pagar!

—Michael, por favor, me deixe ir?

Michael não o escuta, invés disso começa a socá-lo cegamente. Michael está fora de si desferindo vários socos sem parar, sem descanso. O sangue espirra por todo lado, o rosto de Max está inchado. Está indefeso, não tem como fugir. Por mais que mereça aquilo, vejo que é demais. Eu não consigo fazer nada, estou presa ao chão, sem ser capaz de me mover. Acho que aquela cena me apavora tanto que me deixar sem ação. Começo a chorar em desespero. Não quero ver aquela cena. O sangue dele está jorrando agora, para todo canto, até no rosto de Michael há respingos. Ele não vai parar, está determinado a isto.

—Michael, pare! —Peço, mas ele não escuta, ou não faz questão de escutar. Ele está fora de si. Seus olhos obscuros estão focados, há uma obscuridade fora do comum, ainda bem mais intenso das vezes que presenciei. Michael está possuído pela ira. Consumido pelo desejo de vingança.  — Por favor, Michael!  — Meu choro não é mais ouvido, está encubado, preso dentro de mim. Minha cabeça gira, parece um pesadelo ao qual eu não posso me livrar. 

Max se contorce algumas vezes, mas depois tudo fica parado, tudo fica em um completo silêncio. Michael, finalmente para de socá-lo, mas ainda não terminou. Há uma pedra grande e pesada logo perto dos dois. Michael a captura com uma fome voraz de acabar com ele. A pedra grande e pesada é lançada bem em cima da cabeça de Max, por várias, várias e várias vezes. O esmagando, o rasgando, com toda a ira que o meu namorado está sentindo por dentro. É aterrorizante.

—Michael!! —Berro apavorada, meu choro dói a minha garganta. Tento esconder o meu rosto, mas não funciona.

Ele não para de arremessar a pedra no rosto ensopado de sangue do Max, o desfigurando completamente.

—Michael, para, para pelo amor de Deus. Minha nossa! —Levo a mão na cabeça, estou em um filme de terror com o meu namorado de vilão da história. O Jason X, Fredy Krueger, ou qualquer um dessas figuras clássicas do cinema. Ele é um assassino frio, totalmente fora de si.

Consigo me levantar, finalmente tenho forças nas pernas. Caminho até ele.

—Para com isso, porra! —Meu grito é tão alto e tão forte que arranco Michael do seu transe. Ele paralisa, aos poucos larga a pedra e me olha lentamento, tão perplexo quanto eu.

Sinto o meu interior explodir, é como uma bomba detonando tudo. Minha cabeça está virada, estou ficando louca.

—Ele tentou estuprar você. —Michael vem para cima de mim ensopado de sangue. Me afasto a tempo, e este ato o faz muito mal. É como se eu tivesse o ferido gravemente como ele fizera a pouco tempo com aquele homem. —Claire, por favor.

—Você é o homem de galochas, não é? —Aquelas palavras me doem de uma forma absurda. Choro como uma louca ao dizê-la. Está claro para mim que é. É desesperado, estou vivendo um pesadelo cruel. Parece que tudo faz sentido. Todos àqueles assassinatos, todos aqueles avisos. Tudo me liga ao Michael. Suas reações, a forma com trata todo mundo. O jeito que sempre aparece nos momentos cruciais. Meu Deus, Lucy! Minha mãe!  Não sei como demorei tanto para perceber isso. O amor que sinto por ele me cegou vergonhosamente.

—Não! Eu não sou! —Brada todo furioso. —Eu tentei salvar a porra da sua honra. Será que você pode por um minuto entender isso? —Ele nega bem na minha cara, não quero discutir. Não vou deixá-lo me convencer de novo.

Começo a correr por qualquer lugar que eu encontre. Só quero ficar longe de Michael.

—Claire, volte aqui! 

Desço a montanha as pressas, não tenho medo de escorregar e sair rolando. Michael está atrás de mim, mas continuo a correr. Eu só quero ir pra casa. Estou mais segura lá do que aqui. Me embrenho na floresta e me escondo no meio dos matos.

Michael continua me chamando. Ele não sabe onde me meti. Fico quietinha como um bicho morrendo de medo da caça.

—Claire, eu não sou o assassino. Me escuta, meu amor. Eu nunca machucaria você. —Eu não consigo acreditar nele, está doendo muito. Há muitas mentiras, o que eu presenciei é a resposta de tudo que vim procurando.

Michael precisa de ajuda, ele é um psicopata sem controle algum. Se sente dono de tudo que acha que é seu e não tem bom senso.

—Eu vou responder todas as suas perguntas, mas saia daí, vamos conversar. —Seu nervosismo me enlouquece. Ele ainda continua sendo o homem que eu amo. Não há como deixar de amá-lo de repente. —Claire! —Ele berra sofrido naquela vasta floresta. Até os pássaros se assustam. —Vamos nos casar. Eu ainda sou aquele Michael dos seus braços.

Não paro de chorar. Como aquilo dói, meu Deus! Encarar o fato que o Michael dos meus braços pode ser um assassino perigoso.

—Você pediu uma prova do meu amor, lembra? Eu matei um homem pra te proteger. Eu te amo mais do que tudo nessa vida. Por favor, não faça isso.

Saio do meio do mato, Me levantando daquele arbusto e me revelo para ele. Estou encarando Michael. Aquele olhar sombrio de psicopata de alguns instantes, agora é do meu Michael, que se porta como um cãozinho abandonado ao implorar por mim. Preciso fazer alguma coisa, e não conseguiria mostrando a ele que estou contra. Preciso mostrar a Michael que acredito nele, assim ganho tempo, saio dali e depois vejo o que faço.

—Eu acredito. —Minha voz sai falha, mas é o suficiente para que Michael se alegre. Ele se joga em meus braços quando corre até mim. Me sinto distante dele, parece que é uma barreira que não havia sentido antes, mesmo eles estando colado como se quisesse me sufocar. É tão apavorante sentir esse distanciamento que começo a chorar de novo. Parece um pesadelo, ou algo ainda pior, pois é a realidade.

—Não fica assim. Ei. —Ele afaga a minha cabeça. —Aquele verme não vale nada.

Meus lábios estão tremendo, assim como resto do meu corpo. Eu estava diante de um perigo enorme, mas este mesmo perigo é tudo que quero para mim. Quando digo que Michael me faz feliz e triste ao mesmo tempo, eu reafirmo este fato. Ele é um monstro, mas ao mesmo tempo  é tudo que amo e quero na minha vida inteira.








Capítulo 17

Redenção  





Caminho com Michael  para cabana. Ele está convencido de que eu confio nele. Não me contesta e muito menos toca no assunto. Eu por outro lado, mal consigo caminhar, as minhas pernas estão mais pesadas do que me lembro. Pareço uma morta-viva, com uma vontade enorme de chora, mas não posso.

—O que você vai fazer com o corpo? —Até a minha voz não me obedece muito. Ela sai falha e oscilante.

—Vou abrir um buraco e colocar dentro. Depois lavo o sangue, ninguém vai saber o que aconteceu aqui. Ninguém aparece por essas bandas mesmo. —A sua tranquilidade me espanta. Eu não o conheço mais. Parece que ele fala de um bicho qualquer, morto no meio da estrada. Acho que nem um cão seria tão indiferente assim.

Penso na minha mãe. Ele o atacou! Tudo que Graham disse é verdade. Eu estive contra todas as pessoas do mundo para ficar ao lado daquele homem. O homem frio, que eu não conseguia parar de amar.

Foi exatamente o que Michael  fez, e eu assisti tudo. Ele abriu um buraco de sete palmos ao chão. Enrolou o corpo de Max com lonas molhadas da chuva, que cobria um pequeno cerco, ao lado da cabana, e o jogou lá dentro. Eu não sei como tive tanto estômago para olhar aquilo. No entanto, meus olhos estavam vidradas, mal pude piscar.

Michael  limpa o suor com as mãos sujas de terra e sangue. Está ofegante, fez o trabalho praticamente sozinho, e com naturalidade. Ele não tinha remoço, parece até que estava preparando a terra para o plantio. 

Quando finalmente voltamos para cabana, Michael  tomou um banho, limpou tudo por horas a fio. Usou alguns produtos removedor de sangue para disfarçar. Era por isso que ninguém ligava os assassinatos a ele. Michael  é esperto o suficiente.

—Eu quero ir embora, Michael . —Consigo falar em fim, meus olhos estão cheio de lágrimas, mas não choro. —Por favor?

—Ainda temos dois dias. —Responde sério, o meu pedido não o alegra nenhum pouco.

—Acha mesmo que vou continuar aqui? Eu quero ir embora! —reforço o meu desejo. —Ele suspira vencido, completamente irritado. Vejo que está indo contra sua própria necessidade para atender a minha.

—Tudo bem, nós vamos. Arruma suas coisas, chegamos em Forest Grove ainda hoje.

É o que eu faço. Arrumo tudo depressa, tão drepressa que em poucos minutos estou pronta. Michael  também.

O caminho de volta é silencioso, viro o meu rosto para janela e não abro a boca. Nossa ida às montanhas fora animada e feliz. Cantamos uma música que eu amo, me sentia bem ao lado dele. Mas agora nem sei quem é a pessoa do meu lado. É um estranho, completamente desconhecido.

—Não fica assim, vai ficar tudo bem. —Eu não respondo, não há o que responder. Ele fala como se não fosse nada. Para ele não é nada mesmo. —Claire olha pra mim? —Ele pede, mas eu resisto.

Sua mão migra para minha coxa e me acaricia.

—Por favor, olha pra mim? —Ele pede com educação. Afasto sua mão de mim, tão forte que o assusta. —É assim que vai ser? Vai ficar com raiva de mim? —Ele freia o carro de repente. Os pneus deslizam no asfalto, emitindo um som irritante. —Olha pra mim, Claire. —Ele suplica, rompendo um choro angustiado. Eu não resisto diante daquilo, começo a chorar junto com ele. —Olha pra mim, por favor. —Choraminga feito um menino. —Não faz isso comigo, não você. É mais do que eu posso suportar, Claire. —Eu prendo o meu choro, mas é inútil Michael  está acabado ao meu lado. Suplicando por mim, pela minha atenção. Talvez até pelo meu perdão e eu simplesmente não posso perdoá-lo. Não há como perdoá-lo.

Ele é só um homem magoado, um homem frágil que tem sérios problemas.

Olho para ele em fim, seus olhos me dizem tudo, quebra o meu coração. O nó que sinto na garganta é tamanho que mal consigo respirar. Eu o abraço, com toda a complexidade do mundo, eu o amparo em meus braços. Ele chora com tudo com a cabeça deitada no meu ombro. Nossos corpos estão chacoalhando, por conta do tremor.

—Eu não quero perder você. —Seu choro é espremido, desesperado. —Eu não posso, Claire. Fica comigo, por favor? —Afago os seus cabelos. Eu não sei o  que fazer. Na verdade, eu não sei o que estava fazendo. Estou em uma labirinto onde não encontro a saída. —Seguro em seu rosto, o fazendo olhar para mim. Seus belos Olhos negros estão opacos, não tem nenhuma instabilidade.

—Eu preciso que me diga, Michael . Preciso que seja sincero. —Ele sabe que eu não acreditei nele. Está diante de seus olhos que ele não tem mais como negar. —Você é o assassino de Galochas?

Ele desvia o olhar de mim, seus olhos piscam sem parar, funga, afasta de mim. Parece um lunático.

—Michael . —Chamo sua atenção, mas ele não olha mais. —Michael . —Viro seu rosto para minha direção de novo. Seus olhos estão negros e profundos agora. —Eu não vou julgar você. Só quero entender. Conversa comigo? — Ele funga novamente, limpa os seus olhos das lágrimas, liga o carro de novo e vamos embora dali. Sem ele dizer uma única palavra.

Ele não iria confessar. Como se dissesse que eu sei da verdade, então não há o que dizer. Ele não é capaz de confirmar, não quer que eu tenha certeza.

O caminho até a minha casa é longo e incômodo, mas finalmente chega. Desço do carro de Mat assim que estaciona em frente a fazenda. Ele me entrega a mala e vai embora. Não falamos nada um com o outro nesse tempo.

Invado a minha casa louca para abraçar a minha mãe. Preciso encontrar nos braços dela o que não vou poder encontrar nos braços de Michael  por razões óbvias. Preciso sanar a minha necessidade, aplacar o que tanto me perturba.

Entro em casa chamando por ela, mas ninguém me responde. Grito seu nome várias vezes e não obtenho resposta.

Há um bilhete no painel de bilhetes quando vou procurar lá. Tem um recado dela dizendo que viajou para o Texas de carro com Graham e que iriam ficar por lá o final de semana todo. Deixou o bilhete caso eu chegasse primeiro que ela. Mal sabe ela o motivo de eu ter chegado tão cedo.

Vou para o meu quarto, me jogo por lá e volto a chorar. A angustia é intensa, derradeira. Me devasta como um furacão no meio dos campos. Não há como me esconder. Mas não deixo me abater. Levanto rapidamente e vou atrás do meu computador. Eu sabia que não encontraria nada, mas iria investigar sobre a vida de Michael . Pelo menos eu começaria pelo seu sobrenome. "Wood" foi isso que Graham disse, o assassino se chama Wood, assim como o nome da fazenda. Ele disse que os pais do assassino morreu naquela casa. O desgraçado do Max mencionou que Michael  se sente culpado pelo assassinato. Tudo estava ligado.

Digito o nome "Fazenda Wood" no site buscar. Encontro uma foto da nossa casa, na sua aparência moderna e antiga. A antiga é alegre, há cores vivas e um belo jardim. O tempo está ensolarado naquelas fotos, bem diferente do tempo ruim que estou acostumada. Não encontro nada de interessante. Coloco Michael  Wood. Tudo que encontro são garotinhos propagandas pousando para marca de sabonete famoso.

—Droga!

Eu realmente tinha que obter informações da boca de Michael  e não ali. É o que faço. Me levanto da cama no intuito de ir até a casa dele e implorar por informações se assim fosse possível. Pego o carro e logo estou lá, batendo em sua porta compulsivamente.

Michael  atende a porta como um bicho assustado. Ele me encara com dor no olhar. Posso ver sua casa de onde estou e está tudo revirado. Está bem longe do ambiente organizado de sempre.

—Posso entrar? —Ele me dá espaço para entrar sem dizer nada.

Olho ao redor embasbacada com o que ele fez ali. Ele destruiu tudo em um ataque de fúria talvez. Ou um ato de desespero. Uma forma de colocar para fora o que sentia por dentro. A bagunça no seu apartamento reflete o que provavelmente há em sua alma.

—O que veio fazer aqui, Claire? Pensei que nunca mais nos veríamos. —Caminho próximo a ele. Seus cabelos bagunçados estão tão lindos. Michael  ainda é o homem que eu amo.

—E você aceitaria tão fácil? —Tudo que fez foi negar com a cabeça.

—É por isso que iria embora, pra nunca mais voltar. Eu não posso fazer mal a você. — Ele não olha no meu olho. Toco em seu rosto, fazendo-o me encarar.

—Você faria? —Nega com a cabeça de novo.

—Eu me mataria antes se ao menos passasse pela minha cabeça.

Entendo finalmente o motivo que levou Michael  a recusar me atacar no celeiro. Ainda não havia passado pela sua cabeça me matar. Por alguma razão ele não pôde fazer isso.

—Mas a minha mãe...

—Eu só queria assustá-la! —Se defende. —Você disse que ela não queria ir embora, dei um jeito de fazer alguma coisa.

—Por que você tem que fazer alguma coisa, Michael ? Por que tudo isso? —Ele se afasta de mim, fazendo um som de chateação. —Por que tem que dar um jeito nas pessoas que estão na fazenda? O que aconteceu lá? —As lágrimas nos meus olhos escorrem rápido.

—Você não entende.

—Não, eu não entendo mesmo, e graças a Deus. Michael  você mata pessoas, qualquer uma que aparecer naquela maldita fazenda, por quê? Só posso te ajudar se conhecer o motivo.

—Ela morreu por minha causa! —Berra com fúria. —Aquela casa era nossa. Todas as nossas lembranças, tudo que sobrou de nós, estava ali. —Fala coisas sem sentido, me deixando confusa.

—Você matou a sua mãe? —Pergunto incrédula.

—De certa forma sim. Ela tentou me salvar, mas foi eu quem começou tudo. —Ele me olha com tenura. —Ela era tudo pra mim, Claire. Toda a minha existência, eu só tinha seis anos. Eu nem sabia o que era o mundo direito quando ela foi arrancada de mim.

—E aí você decidiu matar as pessoas?

—Eles se meteram com que não deveria. —aquela frase de novo. —Era a minha casa. Minha mãe amava aquele lugar. Meu pai ganhou pra ela em um leilão. O terreno, melhor falando. Eles construíram juntos. Eles se amavam, como almas gêmeas. Meu pai disse que teriam que matá-lo antes de tirá-nos dali. Ver todas àquelas pessoas felizes possuindo o que é nosso, é como vê-los morrendo todos os dias de novo. —Estou em choque com aqueles relatos. Michael  tem problemas sérios, ele precisa de ajuda com urgência.

—Não justifica matar. Por que não comprou aquela maldita casa? Você teria direito de possuí-la. —Ele esfrega o rosto com agonia.

-Não é tão simples! Eu não poderia conviver ali, e também não poderia deixar ninguém viver lá. —Estou confusa, tentar entender o que se passa na cabeça de Michael  é como enlouquecer junto com ele.

—Por que as galochas, Michael ? —Mudo de assunto, e ele se acalma.

—Elas são descartáveis. Não deixa marcas de sapato nas pegadas, e eu posso jogá-las fora de novo. A máscara é óbvio.

—Você é um assassino. Sabe disso, não é? É um monstro. —Ele começo a mexer na cabeça, esfrega as mãos, bate algumas vezes.

—Não me olha assim. Não fala isso. Claire, eu suporto de qualquer um, menos de você. —Sua dor é a minha dor. Eu também estou afetada com tudo aquilo. Eu não suporto dizer aquilo. É como magoar a mim mesma. De qualquer forma estou ligada a ele, de um jeito que não sei explicar. Eu nunca senti isso antes, nunca amei alguém assim.

—Você precisa de ajuda. De um médico. —Ele assente, mas não é em concordância.

—Está me julgando, não é? Não confia em mim. Acha que eu vou matar voce. Claire, você é o meu médico. Eu fiquei meses sem fazer nada por sua causa. Nunca mais tive pensamentos homicidas desde que você me deixou entrar na sua vida. Você não entende, é a única pessoa que leva embora todo esse podre de mim. Minha parte boa, aquela que eu quero, que eu preciso ter, só consigo quando estou ao seu lado. Eu não sei o que acontece, mas de alguma forma quero ser melhor. Quero fazer direito, recomeçar. —Aquelas palavras não me toca, pelo contrário, me perturba ainda mais.

—Não me responsabilize, Michael , por favor.

—Você já é responsável! —Grita e eu me assusto. —Você se tornou um vício para mim tanto quanto matar. —Arregalo os olhos chocada, diante daquele papel na vida dele que me colocou. Eu não quero este papel, eu me recuso.

Tudo que imaginei um dia, que aquela história de precisar de mim, fosse por que sou uma figura de lar para ele. O amor e afeto que ele nunca teve. Mas não era bem assim, era tudo mentira. O meu papel na vida dele é algo sombrio, pérfido e terrível. Sou sua obsessão, seu objeto reposto. Quando algo não lhe é permitido mais, é substituído.

—Não me peça para fazer parte disso. Não joga em mim esse tipo de responsabilidade, por favor.

—Vai embora, Claire. Me deixe sozinho. Eu não posso ficar perto de você, com a raiva que eu estou sentido.

Ele é totalmente indefeso quando está frágio. Quando é dominado por sentimentos. Só agora me dou conta do que significo para ele. É muito mais do que acreditei ser.

—Eu amo você, Michael . —Disparo a chorar. Aquele dor toda machuca, fere, massacra. —E isso eu não posso evitar. Por que você fez isso comigo? Por quê? Por que deixou que eu me apaixonasse. Por que não foi grosso o suficiente para me expulsar da sua vida de uma vez por todas? —Ele me abraça tão forte que eu que enfraqueço.

Estou nos braços do homem que eu amo, e é só isso que penso nesse momento. São nos momentos que estivemos juntos, somente os bons que me baseio. Se eu pudesse escolher, olhando por esta situação, eu jamais queria saber quem era o homem de galochas. Queria apagar esse momento da minha cabeça e só pensar que Michael  era só um órfão que precisava de amor. Mas agora, ele é um órfão que precisar de amor, e um assassino que precisa de ajuda. E eu quero fazer de tudo para que Michael  obtenha isto. Não posso me ver envolvida em tudo e depois fugir. Me sinto responsável, eu não posso deixá-lo sofrer como sofre. Mas também não posso e nunca faria, era denunciá-lo para polícia.

—Eu não queria magoar você. Eu não tinha nada planejado, tudo aconteceu tão de repente que saiu do meu controle. Claire, o jeito que você olhou para mim naquele momento. Como se eu fosse uma coisa. Eu não vou suportar. Eu nunca senti uma dor assim, mas também não posso obrigá-la a conviver com isso.

—Você não pode me obrigar mesmo. Tem que entender que é demais pra mim.

Ele me olha nos olhos. Posso enxergar o seu sofrimento, sei que para ele também é difícil, posso sentir. Talvez se Michael  pudesse apagar o seu passado, eu tenho certeza que faria.

—Não me abandone. —Foi um pedido apenas, sem suplicas, sem estresse, e nem desespero. Sua expressão é serena agora, tranquila e paciente.

Não digo nada, não sou capaz de confirmar, ou de negar. Estou confusa, não sei o que fazer. Minha cabeça parece que vai explodir, estou enlouquecendo.

—Me beija? —Ele quer saber se eu ainda o desejo, se nada mudou entre nós, se continuo amando. Mas tudo mudou sim, estou travada, não consigo me chegar a ele, há uma barreira impenetrável que me impede de me mover até os seus lábios. Talvez seja barreira do bom senso. O que me trava é não ser capaz de continuar amando um homem como ele. Eu não posso continuar amando um homem como ele.

Michael  inclina sua boca na minha direção, não tiro os meus olhos daqueles lábios carnudos e convidativos. Aquela barba ao redor deles é charmosa. Ele é tão lindo, porém tão perigoso. Desvio o rosto faltando milímetros para que nossos lábios se encostassem. Suspiro fundo, é como uma faca cortando o meu coração. Michael  me solta, e se afasta, tudo de uma vez. Fica de costas para mim. Ele não olha mais para o meu rosto, está um silêncio aterrorizante entre nós.

—Michael  eu...

—Vá embora. —Sinto meu peito palpitar, fico sem respirar por alguns instantes.

Seco as lágrimas teimosas que insistem em rolar dos meus olhos e vou embora.

***

Volto para casa toda atordoado, nem sei como consegui chegar até aqui. Ainda estou atolada em agustia, nem sinto as minhas pernas direito. A enxaqueca é perturbadora, nem com uns quatro comprimidos não resolveria. Acho que preciso cair em um sono profundo para conseguir anestesiar aquela dor. Mas dormir não estava em questão, provavelmente aquele tormento viria para me aterrorizar em meios de pesadelos.

Me jogo na minha cama, e fico contemplando o teto, não sinto fome e nem sede. Nem parece que meu corpo necessita disso para sobreviver, na verdade eu não queria estar viva agora. As lágrimas escorrem sem que eu ao menos sinta, não tenho mais expressão. Sinto que meu rosto está pálido.

Ouço barulhos vindo de baixo, reconheço a gargalhada da minha mãe. Ela é tudo que eu preciso nesse momento, não perco tempo. Me levanto da cama e saio correndo ao seu encontro. Desça as escadas e ela já está se preparando para subir.

—Mamãe!

—Claire? Você está aqui, querida. —Me jogo em seus braços assim que me aproximo o suficiente. A vontade de chorar se renova com força bruta. —Pensei que  chegaria amanhã à noite, ou segunda de manhã.

—Cheguei mais cedo. —Ela me olha toda preocupada, sabe que eu estive chorando.

—O Michael  fez alguma coisa com você? —Nego com a cabeça, várias vezes.

—Só voltamos mais cedo, ele precisou resolver uns assuntos. —Ela me analisa bem, não está convencida. Sabe que estou mentindo.

—Não acredito em você. Fala de uma vez o que o Michael  fez, Claire.

—Ele não fez nada, mamãe. Ele não faria nada comigo... comigo não. Não se preocupe com isso. —Eu a abraço mais uma vez, com força. —Senti saudades. —Finalmente encontro paz nos braços dela. É onde eu sempre estive quando tinha pesadelos, quando tinha medo. Eu estava com muito medo agora.

—Eu estou aqui, meu amor. —Ela afaga os meus cabelos. —Vai ficar tudo bem. —Eu não consigo mais segurar o choro, não importo se ela está desconfiando. Ela já sabe que algo está acontecendo.

Me desprendo dos seus braços e volto para o meu quarto. Mamãe vai atrás de mim, ela é insistente quer saber.

—Você descobriu que o Michael  não é boa coisa. Por isso está tão nervosa. —Olho para ela assustada. Eu não queria falar nada e muito menos preocupá-la. —Este é o único motivo para chegar assim antes da hora e ainda por cima neste estado. Ele magoou você, Claire, a que ponto? Me conta, por favor? —Ela suplica em desespero. Eu preciso desabafar, as palavras estão presas na garganta e sinto que vão me sufocar. —Graham diz que está tudo ligado, que Michael  é o menininho que perdeu os pais nesta casa. Ele sofre de problemas psicológicos e resolveu surtar, não é? Me diz que não presenciou isso, por favor. —Disparo a chorar, não posso mais esconder, o choro não consegue mais ficar preso. Vou morrer se o deixasse preso.

—Um cara tentou me estuprar, mamãe. Michael  viu e o matou, bem ali na minha frente. Ele desferiu uma pedra várias e várias vezes na cabeça dele. Eu não pude fazer nada. —Meu corpo está tremendo ao me lembrar, parece que vou desmaiar.

—Minha nossa! —Ela grita apavorada. Se joga nos meus braços e começa a chorar junto comigo. —Você está bem? Ele conseguiu o que queria? —Ela me examina compulsivamente, como se procurasse algo. Nego repetidas vezes.

—O Michael  não deixou, ele me defendeu. Ele matou o cara pra me defender. Foi horrível. Então eu percebi que Michael  é um assassino. Estava tudo lá diante dos meus olhos.

—Eu avisei, eu sabia que aquele desgraçado não era boa pessoa. O Graham estava certo. Meu Deus. Eu deixei você viajar com um psicopata, que tipo de mãe eu sou! —Ela está tremendo, toda nervosa.

—Eu não vou desistir dele, mamãe. —Cai a ficha do que queria. Analisando o que mamãe e Graham sempre quiseram,  me afastar de Michael , talvez esse seja um erro gravíssimo. Deixá-lo sozinho só iria piorar as coisas. —Eu vou estar ao seu lado até o último momento.

—Não, você não vai! —Altera a voz determinada. —Nem que eu tiver que levá-la embora daqui, você não vai se aproximar dele de novo. Vou contar ao Graham, ele vai cuidar de Michael .

—Não! —grito. —Você não vai fazer isso. O Michael  é assunto meu e você não vai se meter. Se você me ama de verdade, não o denuncie. É tudo que eu te peço. —A cara que ela me olha, me sinto uma louca. —Eu preciso ganhar tempo, eu tenho que fazer alguma coisa.

—Você está insana, Claire. Você acha mesmo que pode controlar a mente de um assassino, a que preço, a que proposito? Acorda, minha filha! Ele pode matá-la também.

—Ele não vai fazer isso. —Lembro dos momentos que me disse que sou importante, que precisa de mim e que sou a única pessoa que o faz feliz e o mantem longe desses pensamentos —Ele não vai. —Suspiro fundo, estou soluçando. —Lembra quando eu era criança, quando você dizia para mim que quando estivéssemos diante de um obstaculo na vida, quando tudo que você tentar, por mais persistência que tivermos, se ainda assim não for o suficiente. Devemos tentar mais, até que a última gota de suor escorrer em nossas testas. E que mesmo assim, ainda ser inútil... só o fato de você ter batalhado e nunca desistir, já teria valido a pena. Eu não vou desistir do Michael , mamãe, não importa que você me diga.

Desço as escadas rapidamente com o intuito de dizer isso a ele, pessoalmente. Eu precisava contar ao Michael  que eu o amo e que nós fugiríamos se fosse possível. Mamãe não deixara barato, ela contaria ao Graham e com certeza Michael  estaria preso pela manhã. Eu não deixaria que isso acontecesse.

Passo por Graham assim que estou fora de casa, ele fala comigo, mas eu não respondo.

—Não deixa essa louca ir, Jack. Ela vai atrás dele. Aquele assassino!! Ele já confessou tudo. —Para de correr, olho para ela sentindo uma dor me correr. Ela havia feito tudo que eu pedi para não fazer. Eu sei que está tentando me proteger, mas eu também iria protegê-lo.

—Isso é verdade, Claire? —Graham se dirige a mim, mas não dou bola.

Uma lágrima pinga no chão, a imagem de mamãe é a única coisa que grava na minha memória. Ela é linda, a mulher que esteve ao meu lado por todas esses anos, mas que agora vira as costas para mim por motivos compreensíveis. Viro o meu corpo, entro no carro, arrancando pela estrada, a tempo de chegar no apartamento de Michael .

A porta do seu apartamento está entre aberta, continua tudo revirado. Não há sinal dele em nenhum lugar. Me desespero, pois eu precisava chegar nele primeiro do que Graham.

Há um bilhete pregado na maçaneta da porta e ele está destinado a mim. O pego nas minhas mãos trêmulas, com medo de ler o que possa estar escrito ali. Tomo uma lufada de ar, tomo coragem e me ponho a ler.

" Não suporto viver sem você, também não sei conviver com aqueles olhos lindos e castanhos, que me olhavam com pureza e amor, me olhar com medo e pavor. Sou covarde demais para acabar comigo, e não posso ir muito longe com a polícia inteira atrás de mim. Há essas alturas, sei que Graham estaria me caçando até a última pedra posta em Forest Grove. Por isso me torno um homem de verdade, pela primeira vez na vida. Me entrego com a esperança de que finalmente possa pagar pelos meus pecados. Se você ainda me ama, é só o que importa no momento"

O choro sai com tudo. Coloco as mãos na minha cabeça. Se Michael  se entregou a polícia ele nunca mais sairia dali. Com certeza pegaria pena de morte pelos seus crimes, é a lei do Oregon. Não suporto essa ideia, é demais para mim.

Não perco tempo, vou atrás dele, o mais rápido que eu puder para tentar impedi-lo. Pego um táxi na rua e o peço para ir o mais rápido necessário. Desço em frente a delegacia. Há algumas policiais na porta, mas passo feito um furacão que nem os olho direito. Procuro Michael  por todo o lugar que os meus olhos alcançasse. Viro para um lado, há somente policias em um escritório jogando conversa fora. Olho para o outro, é uma sala vazia sem nenhuma utilidade. Quando olho para frente, reconheço a silhueta de Michael  levantando de uma cadeira. Um policial se poe detrás dele. Ele tem algo nas mãos, são algemas. Pede para que Michael  coloque as mãos para trás e ele faz. O homem que eu amo está sendo algemado diante de mim e eu não posso fazer nada. Não há nenhum argumento que possa convencê-los a soltá-lo. Eles estão fazendo o seu trabalho, Michael  é o assassino de galochas e estava pagando pelos seus erros.

O amor da minha vida me nota naquela delegacia fria e agoniante. Ele parece um bichinho assustado. Me ver ali, é demais para ele. Percebo seus olhos entristecidos, eles gritam "Desculpa" o tempo todo. Desculpa pelo que fiz, desculpa por te decepcionar. Balbucio um "Por que você fez isso?" mas ele não escuta. O policial o leva para outro lugar, Michael  caminha sem parar de me olhar. Nossos olhares estão grudados como um imã. Acho que imaginar o destino dele de agora em diante é o que me enlouquece. É desesperador. Os dois caminhando juntos até sumirem da minha vista, e com isso o meu corpo sofre os efeitos daquela cena.

Sim, o homem que eu amo estava sendo preso por ser um assassino frio. Ele seria condenado há várias anos de cadeia por ter matado a sangue frio tantas pessoas. Talvez até a pena de morte, seria o preço do seu pecado. Porém aquele homem, eu o amo completamente. Eu me apaixonei por ele, e sinto que se não estiver ao seu lado ele não aguentaria por muito tempo. Sim, eu me apaixonei pelo homem de galochas. 



FIM
































109 comentários:

  1. Meu Deus!!! .. PARA TUDOOOOO !!! Você vai postar aqui também e o Michael vai ser um dos personagens *-------------* assim meu coração num guenta muie *--------*
    FELIZ DEMAIS :D

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  2. Aiiiiiiiiin que bom que vcs estão aqui \o
    Obrigada por tudooooooooo
    Vamos lá com mais uma história minha *-*

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  3. Misterioso esse lugar.
    Continua, por favor.

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  4. Chegueeeeeeeeiii \o
    Obbrigada por estarei aqui, suas lindas
    Vamos lá com mais <3

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  5. continua pelo amor de deus to morta de curiosidade

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  6. continua pelo amor de deus to morta de curiosidade

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  7. Amei,continua...Quais seus dias de postagens?

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  8. Amei esse capitulo :3 e esse professor aeee aah Senhor *---* louca para ler o próximo capitulo ... continua Tay !!!

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  9. Chegueeeeeeeeeeeeeeeei \o
    Obrigada pelos coments *-*

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  10. Que história misteriosa!!
    Continua,por favor!

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  11. Suspeitando seriamente de Michael..Continua

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  12. Caramba :O continua Tay estou amando *---*

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  13. CHEGUEEEEEEEEEEEEEEEEEI
    Tá tenso, né? Vai ficar mais
    Vamos lá com mais caps.

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  14. Muito bom! Eles estão se conhecendo e está pintando um clima.
    Continua.

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  15. Cheguei, amores
    Vou postar mais um pouco <3

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  16. Que bom q estão se conhecendo melhor!!! Continua

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  17. Michael é um completo maluco, muito bipolar, agora q pensei q as coisas andariam entre eles, ela vai e me apronta essa...Continuaaa

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  18. Michel é ciumento. Nossa é muito mistério! Eu sou muito curiosa!
    Continua!!

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  19. Aeeee chegueeeeeeei
    Desculpa pela demora, eu fiquei uns 4 dias atarefada.
    Mas estou de volta.
    Capítulo cheio de emoção a seguir.
    Obrigada pelos coments :3

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  20. Nossa que beijo é esse deles!!Vc passou tanta emoção, Tay, que senti o que os personagens estavam sentindo. Muito boa a fanfic! Mistérios e romance!
    Parabéns e continue, por favor !

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  21. Vim postar mais um pouco \o
    Obrigada, Maria pelo post. Que bom que vc está gostando, fico feliz demais <3

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  22. OMG!!! E eu boba suspeitando do Michael, quem diria q seria logo o cherife!!! E agora? Oq vai acontecer com Claire? Continuaaa

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  23. Eu estava com medo que fosse o Michael. Será que é o xerife? E o que vai acontecer com a Claire se for ele? Tantas perguntas... infelizmente tenho que esperar e pedir que continua.

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  24. Genteeeee desculpa pela demora. Essa semana foi corrida pra mim, e meu avô morreu.
    Mas estou de volta aqui. Obrigada pelos coments <3

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  25. Continua! Estou amando a história <3

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  26. Oh, que fofos! Tomara que ela vá para casa do Michael.
    Continua.

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  27. Meus sentimentos. Mas termina de postar logo, é ruim ficar lendo o livro pelas metades.

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  28. Ansiosa!! Continua amor, tá incrível. bjs

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  29. Oii gente cheguei.
    Claro que eu vou postar, é pq eu ando ocupada escrevendo outros livros e isso toma o meu tempo. Mas eu sempre volto pra postar mais um pouco aqui. Tenham um pouco de paciência. Vamos lá *-*

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  30. Poxa, Tay! Valeu a espera. Muito bom esse capitulo e esse Michael...
    Continua, por favor!!

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  31. Muito bom esse capítulo! Continua, ok? Beijos!

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  32. Volteeeeeei \o
    Obrigada pelos coments <3

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  33. Linda esta fic você consegue envolver a gente parabéns vc é uma ótima escritora. Bjs Nani Jackson.

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  34. Muito bom! O que será que aconteceu entre MJ e Jack? Estou curiosa.
    Continua, por favor.

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  35. Estou super viciada nessa fanfic, continua por favor!! A curiosidade está a mil aqui... Beijos <3

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  36. Volteeeeeii! Ai, suas lindas, que lindo ler isso, viu? Obrigada mesmo
    Vamos lá com mais um cap emocionante de MEFG <3

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  37. Agora minha cabeça deu voltas! Estava desconfiando do MJ no começo. Respirei aliviada quando achei que o assassino fosse o xerife e depois de ler esse capítulo voltei a desconfiar de Michael novamente. E agora? Só esperando os próximos capítulos...
    Continua, pelo amor de Deus!!

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  38. mas eu acho que ñ é o mike porque os assassinato acontece em 1977, mas ai tem uma parte que fala que ele tem 35 anos, entao esse assassinato aconteceu 3 anos antes do mike nascer! ou sei lá é minha logica, mas continua está ótima ! mas ainda tenho minhas duvidas kkk

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  39. Demorei para ler essa fic achando que era de terror, terror...é ter duvidas do Mike...kkk. Sera que pode ser o xerife? Oh duvida cruel, continua por favor.

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  40. Não acho que o assassino seja o Michael, acredito que seja alguém próximo a ele e que ele queira "proteger" essa pessoa. Mas sei la né, essa fanfic já teve tantas reviravoltas kkkkkkkk Continua por favor!! Tá tudo perfeito, sério. Beijos

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  41. Nossa!!! quanta polêmica Michael causou KKKKKKKKK bem esse livro é todo misterioso como diz o título. Mas vamos simbora pq muitas coisas ainda vão rolar, e muita reviravoltas tbm <3 Lembrando que este é o primeiro livro :3 Obrigada pelos coments

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  42. Ah,Tadinho do Michael!
    Ele também não colabora.Nossa que homem complicado!
    Estou torcendo pelos dois.
    Continua, por favor

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  43. Este comentário foi removido pelo autor.

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  44. Estou adorando essa fic, quais são os dias de postagens. Bjs Nani Jackson.

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  45. Tô amando tudo, continua ta? <3 Beijos

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  46. Posta mais capitulos por favor, Claire tem que fazer as pazes com Mike, ela esta disconfiada eu tbm estou mas o amor deles estava tão bonito pra chegar a esse ponto tão rapido, pq Mike não se abre com ela? Ja que diz que a ama, então vamos resolver essa historia dos dois...rsrs Continua Flor to amando.

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  47. Olá, amores!! Quantos comentários lindos!!! Gostei de ver \o/ <3 <3

    Mais um cap de MEFG postado. Sabe esse vídeo que coloquei? Então sugiro que leia o trecho ouvindo-o, faria um grande favor. Bem, Mistério em Forest Grove está chegando ao seus finalmentes em exatos 2 capítulos a frente. Ele termina no capítulo 16. Muitas emoções estão por vir, muitas revelações e muitas coisas acontecerão nas montanhas.

    Logo em seguido venho com A conturbada História em Forest Grove, é um livro bem mais "dark" e muita psicologia envolvida. Conheceremos a vida na visão Michael, como foi sua infância, adolescência e outras porções de coisas bem legais sobre o nosso maluquinho Michael. Vamos entender o que fez dele ser tão recluso com as pessoas e PRINCIPALMENTE entender o porque de "Precisar" tanto da Claire. Tenho certeza que vão se emocionar demais.

    Espero que continuem comigo no final desse, e no começo do segundo, e até o final do terceiro. Muito obrigada de verdade <3

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  48. Que capítulo fofo! Maravilhoso! Estou torcendo que Michael se liberte dos fantasmas do passado e seja feliz com Claire.
    Continua, por favor.

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  49. Este comentário foi removido pelo autor.

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  50. Posta mais por favor! Um cap mais perfeito que o outro

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  51. Cade você?? continua! está perfeita,continuaaaa

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  52. Continuaaa tá perfeita

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  53. Abandonou a fic? e nos deixou na curiosidade...que pena uma fic tão linda.
    Meus pesares!

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  54. Não vai mais postar? Que pena! Parecia interessante.

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  55. Não vai mais postar? Que pena! Parecia interessante.

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  56. Gente, eu não desisti da fic não. Eu disse que eu estava demorando pra postar por estar lançando um livro e tô cheia de coisa pra fazer nele. Além disso, tô escrevendo outro livro que suga meu tempo todo. Eu falei que vou postar os 3 livros e vou. Só tenham um pouco de paciência.
    Obrigada pelos coments <3

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  57. Está ótimo essa fanfic! E agora será que é esse o assassino?
    Continua, por favor que está demais!!

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  58. Eu amo essa fic mds <333 continuaaa prfvr ta mto prft *---*

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  59. Cheguei!!!!!!!!! <3 <3
    Vamos lá com mais.
    Obrigada pelos coments, suas lindas!!!

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  60. Uawwwww simplesmente perfeito esse cap aliás essa fic é mais que perfeita, ela prende a atenção é tão intensa! Parabéns você escreve super bem! Continua👏👏👏

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  61. Uawwwww simplesmente perfeito esse cap aliás essa fic é mais que perfeita, ela prende a atenção é tão intensa! Parabéns você escreve super bem! Continua👏👏👏

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  62. Esta perfeita!!ai!!! será que o Michael é mesmo o homem de galochas? muito tensa, continua logo.

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  63. Nossa esse capítulo foi tenso! Muito tenso. Sinto uma dor no coração ao imaginar o meu amado Michael, mesmo que seja uma ficção, como um assassino. E agora? Ele é realmente o homem da galocha? É um assassino, vai ser preso? Fiquei triste!
    Continua, por favor.

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  64. Ah, se tudo isso fosse apenas um pesadelo de Claire!!

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  65. Amada, essa é uma história de ficção. Todos nós sabemos que o Michael não é assim. Essa história, na verdade, é um livro que eu escrevi com outros personagens para o Wattpad. Como as meninas me pediram pra colocar com o Michael eu coloquei. Mas desde o início sabíamos que era uma história de suspense onde tudo pode acontecer. Vc tem a sua opção de não ler mais. Porém vai perder o desfecho, e grande surpresas. Fique à vontade.

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    1. Eu sei que é ficção, mas eu o amo tanto que fica difícil não sentir nada. Desculpa! Não é pq quero sentir. Vou tentar ler até o final.

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  66. Como fica agora? esse volume acaba aqui? ou continua em outro volume.?

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  67. Continua,estou muito ansiosa!não judia da gente com essa demora.

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  68. Como vai ser o volume II, vai demorar para começar a ser postado, tomara que não demore bjs Nani Jackson.

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  69. Espero que não seja um pesadelo de Claire, e que mj não seja o monstro de galochas...rsrs
    Quando começara o proximo volume?

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  70. Olá!! Desculpa a demora!1 Ainda falta o último cap para o fim do primeiro volume que será postado agora.
    bem, o segundo livro vai ser meio dark, como eu havia falado. Se alguém não sentir bem lendo coisas assim com o Michael, podem falar e eu não posto mais. Vamos passear pela infância dele e adolescência, e os momentos na prisão. Mas tbm vamos ver ele se redimindo, enfrentando a si mesmo. lembrando que essa história é um livro que escrevi, transformei em fanfic pq alguns fãs do Michael pediram. Não foi pensando no Michael que criei. Então, sintam-se à vontade para opinar. Obrigada a todas que estiveram comigo desde o início até aqui :3

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  71. Que capítulo tenso! que pena que é o Michael,mais pelos meus cálculos se ele tem 35 anos em 2000 quando começou a matar estava com 12 anos?ou entendi errado?não vejo a hora do 2 livro.

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  72. Amei desde o início até o final ! E continua pelo amor de Deus a segunda parte do livro ( da fic ) ... Você está de parabéns *...* Estarei aguardado a outra parte ansiosamente .

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  73. Já estou abstraindo que não é o nosso MJ. Está certo se entregar,tem que pagar pelo que fez e construir uma nova vida. O chato é que ele vai morrer na prisão. E Claire? Como será?E se ele estiver protegendo alguém?
    Ah, fiquei curiosa e quero saber como vc resolverá isso.
    Por conta disso, quero vê o 2ºlivro.
    Continua...

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  74. Muito ruim. Pra não dizer ridículo. Não faço questão que o próximo volume chegue. Sem pé nem cabeça.

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    Respostas
    1. Pq monamour? Só pq não acabou como vc queria? Sinto muito, mas eu escrevo pra mim e não pra vc. Se estou feliz com o a história é o que importa. Não leia, não vai fazer nenhuma falta por aqui. Vou continuar postando pra quem realmente quer ler :* beijos de luz.

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    2. Pois eu estou muito ansiosa que o segundo volume chegar. Só por causa disso, vou antecipar ainda mais a estreia. Valeu <3

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    3. Primeiro, se você posta a história não é só pra você, é para terceiros também. A pessoa tem total direito de gostar ou desgostar da sua história, que realmente tem partes que não faz muito sentido,como ''abraçar com fulgor'', já que fulgor significa luz, apesar da ideia ser bacana. Se você quer continuar trabalhando com um público, precisa sim saber lidar com as criticas, não se trata um leitor assim. Quer dizer que os livros que você lê são só para as autoras e não para os leitores?

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    4. Há uma grande diferença entre critica construtiva e ofensa. Vc me ofendeu. Desmereceu uma história que dá trabalho pra escrever. Vc nem deve saber oq é isso, já que recebe a história prontinha pra ler e ter opinião do jeito e da forma que vc acha por bem ter.

      Significado de Fulgor >>> Significado de fulgor. O que é fulgor: sm.brilho intenso:cintilante e esplendor. No auge, o ponto mais alto que alguma coisa pode atingir:ápice, apogeu. ' NO AUGE, O PONTO MAIS ALTO QUE ALGUMA COISA PODE ATINGIR. ÁPICE, APOGEU.
      Quer fazer uma crítica, me chama no chat, fala o que tá pegando, pq vc não tá gostando, tenho certeza que seria bem mais construtivo e aproveitoso do que um "Muito ruim. Pra não dizer que é ridículo" mas não nem coragem pra mostrar quem vc é, vc não tem. Faça-me o favor, meu bem. Posto sim, para o público, posto pra quem quer ler PRA QUEM QUER LER. Até pq é bem óbvio o motivo. Não apareça apenas, falta não vai ter. Ofender e opinar são duas coisas diferentes. Não seja ignorante. Há, e dá uma lida melhor no dicionário ;)

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  75. Uaw perfeito !
    Na espera da continuação!
    Parabéns vc escreve super bem!

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  76. Continue Tay.. a história é incrível..
    Não ligue pra "anônimo" que não sabe a diferença entre ofender e fazer crítica negativa..
    Como maioria pode concordar, vc escreve super bem..

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  77. Uau nosso Michael ja foi de tudo nessas histórias ficticias mas um assassino frio fiquei impressionada...!!!! Historia contagiante adorei!!! Mikisses.

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  78. Meu Deus , essa historia é perfeita eu amei Tay , cada capitulo ... E esse final ? Não paro de chorar ... Realmente você esta de Parabéns ... Nunca imaginei ler uma fanfic a qual o Michael é um assassino e mais uma vez vc me surpreendeu... Bom, não tenho nem palavras para descrever essa fanfic ... Simplesmente perfeita ❤

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